Flashback E Ecos escrita por Melanie


Capítulo 3
Capítulo Dois


Notas iniciais do capítulo

The Lumineers - Ho Hey



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/385323/chapter/3

“Eu pertenço a você, você pertence a mim. Você é minha doce amada. Eu pertenço a você, você pertence a mim. Você é minha doce amada.”

x-x

Uma semana antes do acidente – Los Angeles, Califórnia

            Quinn massageava as têmporas com irritação. Havia acabado de ter mais um encontro com a cantora que o estúdio produzia e a mulher tinha solicitado algumas mudanças no vídeo clipe já finalizado. Levou muito tempo e esforço para fazê-la desconsiderar a ideia e agora a loira estava completamente esgotada.

            Só queria voltar para casa, se enrolar em um cobertor e ler um livro enquanto desfrutava uma boa taça de vinho. Sentia uma falta terrível de Rachel e não encontrava ânimo nem para sair com as amigas, que já cobravam a sua ausência nos jantares que faziam.

“Um beijo pelos seus pensamentos!” Uma voz suave quebrou o silêncio da sala fazendo Quinn abrir os olhos avelã e levantar a cabeça em direção ao som. Rachel estava casualmente escorada no batente da porta e abriu um pequeno sorriso para a loira ainda atônita, cobrindo o pequeno espaço que as separava em poucas passadas. “E então, vai querer seu beijo?”

“Não vai querer saber meus pensamentos?” Quinn sorriu arqueando a sobrancelha bem feita e abriu espaço para que Rachel sentasse em seu colo.

“Hum.” A morena coçou o queixo fingindo pensar, para logo em seguida abrir um sorriso malicioso. “Na verdade era só uma desculpa para ganhar um beijo.”

            Tão logo terminou de falar, sentiu os lábios serem tomados com saudade pelos da noiva. Rachel sorriu no beijo, apreciando a forma como Quinn se entregava a carícia suave e relaxava em sua presença. Sempre achou fascinante o modo como a loira agia quando sentia a sua aproximação – a entrega apaixonada, o carinho desenfreado, a doçura inigualável.

            Quinn sempre fora uma pessoa carinhosa com quem sentia apreço, mas esse cuidado estava potencializado toda vez que Rachel era esse alguém. Como se ela reagisse sem registrar o que fazia, num ato completamente involuntário de cuidado.

            A loira foi a primeira a romper o contato e encostar sua testa a da noiva. “Eu senti sua falta, sabia?”

“Eu sei.” Rachel suspirou aconchegando-se ao calor da outra. “Senti a sua também. Pode ter sido só uma semana, mas pareceu eterna longe de você.”

“O que vamos fazer hoje a noite?”

“Não sei.” A morena responde. “Você tinha algum plano?”

“Na verdade eu ia ficar em casa lendo algum livro e aproveitando a solidão.” Quinn admite rindo. “Mas se você tiver alguma ideia melhor, estou aberta a sugestões.”

            Sua sobrancelha arqueia maliciosamente, fazendo Rachel golpear seu ombro de brincadeira. “Eu passo uma semana fora e quando volto sua mente vai direto pra calha, Quinn Fabray?”

            A loira levanta as mãos em rendição, rindo mais ainda.

“Mas eu sinto que hoje deve ser uma noite de filmes e carinho.” A morena sentencia sabiamente e Quinn finge um muxoxo contrariado, antes de ganhar um beliscão de Rachel.

“Só filmes e carinhos?” Quinn faz beicinho esfregando o lugar onde a morena havia beliscado, já vendo a marca leve que começa a despontar em sua pele pálida. “Vou precisar de muito carinho depois dessa violência com a minha pessoa. E eu escolho o filme.”

            Rachel afagava levemente a contusão na pele clara, mas levanta os olhos e deixa um sorriso brincar nos lábios. “Fechado.”

-x—x-

“Me diz de novo porque deixei você escolher o filme?”

            É a vigésima vez que Rachel reclama do que passava na imensa televisão da sala. Tinha se arrependido de deixar a escolha nas mãos da loira no instante que pisaram no apartamento e um brilho maligno apareceu nas feições bem desenhadas dela.

            Era a pequena vingança de Quinn.

“Porque as minhas escolhas são melhores que as suas.” A loira deu de ombros e pegou uma um pouco de pipoca.

“Desde quando escolher um filme onde uma pessoa mata as outras com uma serra é a melhor escolha?” Rachel a encara incrédula, se perguntando o quão sã a loira estava.

“Desde o momento que você concordou que eu deveria escolher o filme.” Quinn responde sabiamente.

            Um suspiro alto é ouvido.

“Tudo bem, vamos voltar a assistir o maldito filme.” Rachel resmunga aborrecida e a loira sacode a cabeça antes de puxar o corpo pequeno contra o seu.

            As horas correm rapidamente com as duas envolvidas nas histórias que passavam na tela. Quinn tinha se vingado com o primeiro filme, e deixou a escolha do próximo para a morena, que abriu um sorriso gigante e colocou em uma animação antiga que as duas adoravam assistir durante a faculdade.

            Muitas pessoas achariam bobo o fato dela gostar de desenhos animados, ainda mais pela idade que tinha, mas Quinn pensava que isso fazia parte da personalidade borbulhante da morena e eram um traço único que ela possuía. Havia se apaixonado pela morena que gostava de desenhos animados e não trocaria sua pequena por ninguém no mundo inteiro.

            Quinn despertou com os créditos do último filme correndo na tela e percebeu que Rachel dormia profundamente enrolada ao seu lado. Sua expressão estava serena e a respiração saia levemente pelos lábios entreabertos. A loira levantou cuidadosamente e pegou a outra no colo, antes de fazer o curto trajeto até o quarto do casal e depositar a morena com cuidado na imensa cama.

            Voltou para a sala e desligou a televisão, conferindo novamente se a porta do apartamento estava devidamente trancada. Só então voltou para o quarto e deitou ao lado do corpo adormecido da morena. Um pequeno e terno sorriso brilhou em sua face enquanto olhava para Rachel – tão serena e em paz. Linda.

“Boa noite, meu amor.” Puxou o corpo da menor cuidadosamente contra o seu e beijou carinhosamente sua testa coberta pelos cabelos castanhos rebeldes. “Eu amo você.”

            E se deixou puxar para o mundo dos sonhos, onde sabia que tornaria a encontrar a bela mulher que ressonava tranquila em seus braços.

-x—x-

            Rachel corria de um lado para o outro na cozinha do apartamento, tentando deixar tudo em ordem para o jantar daquela noite. Já havia verificado a mesa inúmeras vezes e seu constante movimento estava deixando Quinn desnorteada.

            A loira sabia da importância do jantar, mas a certeza de que tudo ocorreria bem não a deixava com os nervos tão a flor da pele. Completamente o oposto da morena, que já estava quase arrancando os cabelos de ansiedade.

“Rachel.” Quinn segurou a morena de forma exasperada. “Você precisa se acalmar. São só os nossos pais, não a inquisição espanhola.”

“É perto o bastante.” Ela retrucou sacudindo o corpo e se livrando das mãos da outra.

            Quinn a seguiu até a sala. “Baby, vai dar tudo certo.”

“E se não der?”

“Pequena, o que pode acontecer de ruim?” A loira segurou o rosto de Rachel entre as mãos, sustentando seu olhar no dela. “Eu não vou deixar de casar com você, mesmo se nossos pais acharem que somos novas demais para esse passo. Eles não sabem como o nosso relacionamento funciona e não podem medir o tamanho do que sentimos. Isso só interessa a você e eu, e só nós duas podemos decidir quando é o tempo certo para esse passo.” Terminou o pequeno discurso dando um leve beijo nos lábios cheios da noiva e secando uma lágrima que havia escorrido pelos olhos maquiados. “Tudo bem?”

            Com um suspiro, Rachel concordou. “Tudo bem.”

            Foi esse o momento que a campainha tocou. A morena respirou fundo uma vez e com um aceno fez Quinn a soltar, garantindo que estava tudo em ordem. As duas foram de mãos dadas até a porta e encontraram os pais da morena as esperando.

            Hiram e Shelby traziam sorrisos gigantes nos rostos e nas mãos do homens uma garrafa de vinho. Antes de entrarem, abraçaram carinhosamente as garotas e agradeceram o convite para o jantar.

            Shelby tinha aquele olhar de quem sabia das coisas, e deu uma piscadinha para Quinn ao passar por ela.

“Parecem séculos desde a última vez que vi vocês duas.” A mãe de Rachel comentou jogando as mãos no ar e fazendo a cena soar dramática. Ao seu lado Hiram revirou os olhos e quando Shelby percebeu, o olhou feio. “Hiram, você não pode me criticar, já que vê as duas praticamente todo dia.”

“Não é minha culpa se nossa filha trabalha comigo e a Quinn trabalha no andar de baixo.” O homem se defendeu mostrando a língua e a loira riu da interação dos dois.

            Rachel encarava os pais divertida. Sentira falta desses momentos depois da morte de seu outro pai – um simpático homem chamado Leroy –, já que Hiram e Shelby haviam reagido mal a perda do marido e do melhor amigo. Foram meses de muita tristeza na família, e a morena não sabia dizer se teria aguentado o baque da notícia sem o carinho de Quinn, mas agora, quase quatro anos após o trágico momento, sua pequena e disfuncional família já voltava ao trilhos.

            A campainha volta a tocar, e dessa vez são os pais de Quinn que as aguardam – Russel e Judy Fabray. A mulher loira trazia algum tipo de sobremesa e entregou para a filha, que rapidamente levou o recipiente a cozinha. Enquanto isso, aproveitaram para cumprimentar a morena e seus pais.

            Judy ainda lembrava da cara estranha que seu marido havia feito ao encontrar pela primeira vez a família de Rachel – ela tinha dois pais e uma mãe, afinal de contas. Aquilo causava estranheza a primeira vista. Ironicamente foi a morte de Leroy que os aproximou, e desde então, todos formavam uma grande e estranha família.

“Certo, já que estamos todos aqui,” Quinn pigarreou chamando a atenção para si. “Acho que podemos nos servir.”

“Quem cozinhou?” Russel pergunta desconfiado e ganha uma cotovelada de uma Judy horrorizada, para logo em seguida ser ouvida a risada de Hiram e Shelby.

“A Rachel cozinhou, pai.” Quinn responde corada.

“Isso quer dizer que a comida vai ser boa.” Ele comenta puxando a cadeira para que Judy sente e se acomodando ao seu lado. “Só nós sabemos que você não consegue cozinhar o suficiente para sobreviver.”

            A mesa irrompe em gargalhadas e Quinn o encara levemente ofendida. Era certo o fato de não saber cozinhar – todas as vezes que tentara, a cozinha terminou praticamente carbonizada, mas seu pai não precisava fazer piadas do fato. Rachel já a lembrava todas as vezes que a loira tentava ajudar e mais bagunçava que cozinhava.

            O jantar ocorreu normalmente, com conversas entusiasmadas entre todos e piadinhas que os pais faziam das filhas para as envergonharem. Rachel foi relaxando conforme o tempo passava e ao final já nem lembrava qual o motivo do ataque de pânico de mais cedo.

            É só quando todos se acomodam na sala com uma taça de vinho que as garotas resolvem contar a novidade aos pais. Rachel estava confortavelmente sentada entre as pernas da loira em umas das poltronas claras e foi a que interrompeu uma fala de sua mãe.

“Pais.” Sua fala foi seguida do silêncio e de quatro pares de olhos encarando as duas com curiosidade. “Eu e Quinn temos uma notícia para dar a vocês.”

            Shelby e Judy praticamente quicavam em seus lugares, já prevendo o assunto que se seguiria.

“Nós sabemos que muitas pessoas vão achar que somos muito novas para esse passo, e que devemos pensar melhor.” Ela recomeçou e sentiu Quinn afagar levemente sua mão. “Mas nós duas concordamos que estamos prontas para isso.”

“Nós vamos nos casar.” A loira soltou de supetão, não aguentando o suspense que a morena fazia.

            As expressões nos rostos de seus pais foram as mais diversas. Judy as encarava sonhadora, Shelby era a imagem perfeita da felicidade, Russel estava chocado e mesmo assim tinha um sorriso pequeno brincando em seu rosto. E Hiram as olhava levemente desapontado.

“Papai, porque você está nos olhando assim?”

            Ele respirou fundo uma vez. “Pensei que vocês nos dariam netinhos.” E depois começou a rir. “Mas um casamento é bom do mesmo jeito.”

            E foi o primeiro a abraçar as agora surpresas garotas.

            Elas juravam que o primeiro pensamento a passar em suas cabeças tinha sido o fato dele estar decepcionado com o casamento, e nunca imaginariam que ele havia imaginado que as duas lhe dariam netinhos.

            As alegrava saber que não era o caso, e que ele estava feliz com suas escolhas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? Não deixem de comentar. Seus comentários sobre a história me motivam a escrever e fazer uma história cada vez melhor. E se quiserem conversar comigo, me mandar alguma indicação de música ou algo assim, podem deixar nos comentários ou me encontrar no ask.fm/singalullaby ;)

Obrigada pela leitura :D



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Flashback E Ecos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.