As Aventuras de Rin Casaco Marrom escrita por Sem Nome


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 18 :D
No último cap, eu me esqueci de agradecer a Sokane Limiku e Fujisaki Nina pela recomendação ;-;
Mil perdões, você me fez muito feliz!!!



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Capítulo 18

Aquele com Gumi, a especialista no mundo.

Os dias se passaram lentamente. Meiko disse que conhecia alguém que poderia saber alguma coisa sobre o rei escorpião, em um lugar chamado Distrito 19. Entretanto, era um lugar distante, no topo de uma baixa montanha, e eles teriam que andar e acampar bastante.

Os dias se passaram lentamente, sim.

Mas não foram dias ociosos.

Os treinos de Meiko tornaram-se cada vez mais reais (violentos) e, mesmo que na maioria das vezes não conseguisse vencê-la, Rin conseguia suportar várias horas seguidas de lutas sem parar. E soube que a professora a estava preparando para compates com espadas quando, em uma pequena vila providenciou dois bastões da madeira, mais pesados que as lâminas normais.

Mesmo que as armas não pudessem lhe causar nenhum dano sério, os golpes eram dolorosos e a morena não era nem um pouco gentil. Além do mais, para deixá-la preparada para luta em qualquer circunstância, Meiko, de vez em quando,acordava Rin várias vezes na mesma noite, com o objetivo de treinar cansada e sonolenta.

No meio de todos aqueles dias, o ano chegou ao final, trazendo o décimo sétimo aniversário de Rin. E ela não percebeu até que viu as árvores de troncos brancos terem suas folhas verdes serem pintadas de vermelho, sinalizando o começo do ano.

Os treinos pesados, a passagem do tempo, as refeições leves e rápidas, e as caminhadas intermináveis a deixaram mais magra ainda, e mesmo que o rosto estivesse mais fino e definido, ainda havia uma caracteristica infantil que Rin achava que nunca perderia, mesmo não sabendo o que era exatamente.

Também se sentia mais alta, não que tivesse crescido, mas a constante correção da sua postura por parte de Meiko a deixou mais ereta e aparentemente maior, mesmo que ainda fosse muito menor do que a maioria das pessoas.

Miku e Kaito, que insistiram em ingressar no grupo, por motivos ainda não bem explicados, traziam, toda vez que passavam por uma cidade, comida de verdade (provavelmente roubada, mas não se podia exigir muito deles).

Len orgulhosamente já conseguia ler e entender textos simples, e Rin achava que logo seria hora de ensiná-lo a escrever. Os momentos que passava com eles eram os mais relaxantes, sem caminhadas ou lutas intermináveis. O rapaz também aprendeu a fazer a barba (sem mutilar o rosto) com Kaito.

– Pelo palácio, coloque luvas! – pediu a esverdeada – Estou ficando com as mãos dormentes só de olhar para você!

– Adoraria, mas não as tenho – justificou Rin – Comprei botas novas para mim e para Len, mas esqueci completamente das luvas!

Já estavam na metade da escalada da montanha. A menina podia até entender a razão militar do Distrito 19 estar localizada em uma montanha (no meio havia uma passagem tão estreita que só se podia passar uma pessoa de cada vez, o que permitia uma defesa sem igual), mas o país estava em paz há mais de cem anos, e em termos economicos a localização era um verdadeiro desastre. Por que a população não migrou para outra área, era um mistério.

– Aqui, estas são minhas – Miku lhe entregou dois pares de luvas, depois de vasculhar uma sacola. O outro par possívelmente pertencia a Kaito – E leve as outras para Len, seria trágico ter que ver alguém perder as mãos.

Rin emitiu um rápido “obrigada” e correu o mais rápido possível até Len. A neve rangia e afundava debaixo de suas botas, e teve a impressão de que, se fosse mais rápido, iria escorregar e despencar morro a baixo.

Até mesmo Len, que nunca havia visto neve antes e no começo estava empolgadíssimo em tocá-la com as mãos desprotegidas, pareceu agradecido ao receber as luvas. As de Miku ficaram um tanto grandes nas mãos de Rin, mas o calor que proporcionavam era mais importante.

– Meiko, qual era mesmo o nome desse seu amigo que sabe sobre o escorpião? – foi para perto da morena, que andava na frente.

– Já disse que Kiyoteru não é meu amigo, e que nem tenho certeza se sabe sobre o escorpião – corrigiu – Ele é só um homem que gosta de ler sobre tudo, e que me deve um favor por ter salvo sua maldita pele de ser levada para a cadeia. Coisa que, aliás, me arrependo.

– Tem alguém de mal humor – comentou a menina – Vamos, quando chegarmos ao distrito 19, vamos comer a melhor carne apimentada do mundo. Conheço um ótimo lugar.

– Você já esteve no Distrito – não foi uma pergunta, mas mesmo assim Rin balançou a cabeça em afirmação. Meiko olhou para trás por cima do ombro – Ah, pelos deuses! Peça para os dois fora-da-lei que acelerem o passo, ou ficarão totalmente enterrados na neve quando a noite cair!

Ela fez o que lhe foi pedido, e o resto da caminhada se resumiu em Miku tentando ensiná-la a bater carteiras (não que pretendesse roubar, mas considerava qualquer tipo de aprendizagem algo positivo). Ninguém falava nada, como se com medo de que o som da voz fosse provocar uma avalanche ou algo do gênero.

Quando Rin começava a ter dúvidas se realmente conseguiriam chegar ao distrito antes de o sol se pôr, avistou a passagem estreita que estava procurando. A passagem fazia o papel de um portão principal, podendo ser fechada em caso de ataques.

A loura se ofereceu para ir na frente, e os outros a seguiram de longe. As únicas coisas que haviam mudado na passagem eram as novas inscrições e marcas, feitas pelas pessoas que passavam por lá. A pedra cinza podia facilmente ser riscada por rochas do mesmo material, encontrados no chão, debaixo da neve.

Quase no final da trilha, Rin deteve-se em um ponto, e tirou a poeira da parede fria. Lá no meio de tantas outras, estava a marca que havia deixado alguns anos atrás. Tinha o formato da própria mão, e as letras R, C e M. Riu com a lembrança, comparou o tamanho da palma antiga com a nova e descobriu que não mudara muito, só que agora os dedos estavam mais longos.

Só voltou a andar porque os outros a estavam quase alcançando e não queria obstruir a passagem. Depois de atravessar a estreita entrada, não era difícil chegar ao distrito. O caminho ficava relativamente plano e sem obstáculos.

O Distrito 19, pela falta de árvores ao redor, basicamente era feito de casas de metal. Entretanto, com a neve quase constante, era normal que enferrujassem, dando ao lugar uma aparência envelhecida. Havia várias maneiras de impedir a oxidação, mas eram um tanto caras, e a maioria da população não as colocavam em prática.

Na parte mais rica, lembrava Rin, as pessoas construíam suas casas com ouro, que não sofria com os efeitos do tempo e da água. Era algo belo e chamativo. Quanto mais puro era o ouro, mais rico era o dono.

Aproximaram-se dos limites da cidade. Rin queria comprar algo para comer, mas Meiko disse que era melhor que se separassem para procurar Kiyoteru antes que fosse tarde demais para visitá-lo.

A menina, contrariada, concordou e, com Len logo ao lado, pôs-se a questionar as pessoas sobre o paradeiro do sábio. A maioria nunca ouviu falar em tal nome, e os que talvez pudessem dar uma informação útil pediam caracteristicas físicas dele, coisa que Rin nem fazia ideia.

Passaram por bairros pobres e ricos, grandes e pequenos. A maioria das pessoas tinha uma dicção estranha, e um modo característico de pronunciar certas palavras. Pelo o menos estranho para Rin.

Cansada de atrapalhar a vida das pessoas e com pena de Len, cujo estômago não parava de roncar, foi até uma barraca de comidas no espeto. Havia toda sorte de insetos e passaros à venda. O topo de uma montanha, por mais baixa que fosse, não era exatamente um local farto em alimento, e só os mais ricos criavam carneiros para comer ou vender, então o resto da população comia o que podia.

Trocou as meias não usadas que ganhou na Cidade dos Marinheiros por um espeto de larvas gigantes (“gigantes”, pouco maiores que um polegar) para si e um de mini-dodô para Len, que precisava de mais que insetos para ficar farto.

Não era um banquete de carne apimentada (coisa que Rin estava desejando desde que Meiko sugerira que fossem para o Distrito 19) mas era um lanche agradável. Sentaram-se nos banquinhos de plástico desconfortáveis perto da lojinha, que só estavam ali para dar um ar menos vagabundo para a barraca.

– Muito bem – engoliu mais um pedaço – Depois desta pausa, temos que continuar nossa busca por Kiyoteru.

Naquele momento, o dono da barraca, quase completamente careca e com a face corada por passar tantos anos na frente de um forno quente, levantou a cabeça.

– Kiyoteru? – repetiu – Você disse Kiyoteru?

– Você conhece?

– Por que, com mil demônios, vocês estão a sua procura? – o gordo homem respondeu com outra pergunta, mas nem deu a oportunidade de Rin dar explicações – Bem, perderam seu tempo. Ele não está mais aqui. Teve problemas com a lei e finalmente percebeu que se não fosse embora logo seria preso de verdade.

– O que ele fez de tão ruim?

– Ele roubou, criança – o homem voltou sua atenção para a comida que estava queimando – Roubou muito. Matou muita gente de fome e frio. As pessoas não sabem muito sobre ele porque o maldito usou vários nomes. Mas eu, eu o conheci pessoalmente. Ele me roubou pessoalmente. Eu era rico, podre de rico!

Rin nem prestou atenção no resto da biografia triste do cozinheiro. Praguejou ela mesma e chutou um punhado de neve no chão.

– Maldição! Essa viagem não valeu nada!

– Então é melhor achar Meiko e os outros – Len devorou o último pedaço do aperitivo, com sua calma e despreocupação usuais –, antes que eles percam seu tempo também.

Rin expeliu o ar, engoliu o resto da comida e puxou Len pela mão. Andaram o que pareceu ser toda a cidade mais uma vez, passando pelas mesma ruas e becos. Achar Meiko não foi difícil, mas os outros dois pareciam mestres em se esconder nas sombras.

A morena não recebeu bem a notícia do exílio de Kiyoteru, disse que o porco traidor fugira apenas para não retribuir o favor, e que iria caçá-lo mesmo que tivesse se refugiado no inferno.

Em uma rua menos movimentada, iniciaram uma longa discussão sobre o que fariam agora. Não faziam ideia do que era o Rei Escorpião, e não havia ninguém que tivesse alguma ideia também. Perguntaram para todos na cidade, tal como fizeram com todas as pessoas com as quais se encontraram até aquele momento (na estrada, nas cidades, nas feiras...).

– Escutem – Kaito coçou o pescoço, quando viu que os esforços eram inúteis – Já é tarde para sair do distrito. Se o faremos, temos que esperar a manhã. Sugiro que procuremos um lugar para passar a noite. Depois podemos nos dirigir até a Grande Biblioteca de Vidro. Lá com certeza acharemos algo sobre esse escorpião, ainda que demore mais.

Rin, pessoalmente, ficou impressionada com a demonstração de liderança e confiança do azulado.

Talvez fosse pela decepção da viagem perdida, talvez fosse pelo cansaço, mas ninguém discordou. Achar um hotel com quartos disponíveis não foi difícil. Achar um hotel que não oferecesse risco de deixá-los com tétano, era outra história.

Até que acidentalmente encontraram uma instalagem relativamente nova. Ainda não muito enferrujada. Havia uma estátua de um bode da montanha gigante, símbolo da cidade, na frente do estabelecimento, coisa que Rin achou que estragava a beleza do hotél.

– Vão na frente – disse, dando meia volta – eu pergunto para a recepcionista em que quarto estão e os encontro lá.

– Aonde você vai? – Meiko quis saber.

– Trazer comida! – sorriu. Pediria para Len acompanhá-la, mas ele estava claramente cansado, pois foi o responsável por ficar de vigia noturna na noite passada.

Antes que Meiko pudesse falar mais alguma coisa, Rin já estava de novo no meio da multidão.

A solidão e a falta de objetivos na cidade trouxeram um sentimento de nostalgia para a menina. A sensação era a mesma de quando não havia encontrado o não livro ainda. Sensação que não sentia havia muito tempo.

Passou os olhos pela cidade marrom e branca, devido a neve na calçada e telhados. As casas eram mal distribuídas nas ruas, comumente invadindo a estrada ou ficando próximas demais umas das outras. Postes de luz enferrujados lançavam luzes pelo distrito. Mas o que realmente iluminava as ruas de pedra eram as casas, com lareiras acesas dentro delas.

Rin caminhava lentamente, sem preocupações. Só agora percebia que estava mais feliz do que deveria pelo plano de achar o sábio ter fracassado. Só agora percebia o quanto estava cansada. Cansada de ter sempre que buscar alguma coisa, cansada de correr, pular, lutar, sangrar, cansada de treinar, fracassar, temer.

Caminhou até achar um restaurante enferrujado, com uma grande janela de vidro mostrando seu interior, com cadeiras de couro preto e mesas surpreendentemente feitas de madeira. Sorriu ao reconhecer o lugar, com os mesmos garçons e com o mesmo cozinheiro, que conversava com os clientes mais do que cozinhava.

Estava quase entrando no velho restaurante, quando sentiu alguém puxar seu braço com força. Seu primeiro instinto foi tentar se desvecilhar do aperto, para depois lutar ou correr (muito provavelmente correr), mas quando a luz bateu no rosto da pessoa, percebeu que, em vez de estar lidando com um inimigo em potencial, estava cara a cara com uma moça, não mais velha que Meiko, de cabelos verdes.

Não parecia ameaçadora. Na verdade parecia mais uma artista de rua que veio pedir esmola mas não sabia como abordar as pessoas de modo delicado.

– Você está procurando Kiyoteru – não foi uma pergunta.

– Como você...

– Você tem perguntas a serem respondidas, e achava que ele teria as respostas – dessa vez Rin nem tentou questionar – Bem, tenho uma ótima notícia para você. Eu sei mais do que aquele desgraçado jamais saberá.

A menina arqueou uma sobrancelha, duvidando.

– Não seja tola – recomendou a moça de cabelos verdes – É só pedir, que eu a ajudarei.

– O que quer em troca? – Rin se libertou do aperto, pensando se deveria ter perguntado ou não – Ou vai me dizer que é de graça?

– Nada que é bom é de graça, Rin – depois de um livro saber seu nome, não a surpreendia que uma pessoa normal também soubesse – Você tem algo valioso, eu sei disso.

– Como assim algo valioso? – instintivamente pensou no não livro, mas a resposta da moça foi diferente do esperado.

– Não sei, talvez um colar de ouro, uma pedra preciosa... – fez uma pausa, e voltou a falar mais lentamente – ...um anel.

A menina suprimiu outro “mas como você...”, e manteve a expressão séria, quase raivosa. Não gostava de ser espionada, e não gostava quando estranhos sabiam demais sobre ela.

– Que tipo de anel?

– Um do tipo muito especial. Preto fosco, com uma gema translúcida.

– Que pena – soltou um falso lamento – Preciso dele. Se fosse qualquer outra coisa...

– Você não vai achar outra pessoa na face da Terra que sabe sobre o Rei Escorpião. E se souber, serão informações errôneas – mais uma pausa – Quero dizer, talvez seus inimigos saibam, e não acho que eles lhe contarão...

Rin estreitou os olhos e xingou por entre os dentes. A moça sorriu e fez um sinal para que a menina a seguisse. Sabia que havia vencido.

– Ah, e meu nome é Gumi, a sábia.

. . .

Gumi acendeu várias velas espalhadas por toda a sua cabana de metal. Não tinha energia elétrica porque a luz forte incomodava alguns pequeninos moradores da casa.

Rin nunca havia visto um lugar tão desorganizado quanto aquele cômodo. Havia tecidos novos e velhos espalhados por todo o lugar. Papéis velhos e amarelados jaziam no chão. Animais empelhados observavam com seus olhinhos de vidro.

Seus sentidos estavam preparados, e os punhos estavam cerrados. O corpo estava pronto para correr.

– Minha nossa, relaxe, eu não sou um monstro de sete cabeças – Gumi se ofendeu – Bem, até que posso ser, mas com certeza não sou agora.

A menina não se convenceu, e esperou a moça de cabelos verdes sentar-se antes de ela fazê-lo. A cadeira era de couro, e a mesa na frente, de carvalho escuro, que a loura tinha certeza de que não havia sido feita no Distrito 19

– Muito bem – suspirou a moça. Rin quase não conseguiu achar a cadeira que lhe era destinada, escondida por baixo de várias roupas e objetos velhos – Dê-me o anel, e faça suas perguntas.

– Nem pensar – retrucou – Farei as perguntas primeiro e, se estiver satisfeita com as respostas, darei o anel. Agora, promete que falará apenas a verdade?

– Prometo – Gumi colocou uma chaleira para ferver – Promete que pagará pelas respostas?

– Prometo.

As duas se acomodaram nas cadeiras, um pouco mais tranquilas. Palavra dada era palavra cumprida.

– Então – começou – Como você sabe de tudo sobre mim?

– Eu tenho vários olhos, Rin. E vários ouvidos também – olhou de relance para um gato de pelo dourado e orelhas pretas, dormindo em uma cesta velha. Rin achou que estava empalhado, mas agora pôde ver a barriguinha subir e descer – Bastou uma conversa entre você e seu grupo para descobrir que tinha o que eu queria.

– Isso é invasão do espaço pessoal das pessoas! – exclamou a menina.

– Quando você conversa bem no meio de uma rua pública deveria esperar que alguma informação escape! – defendeu-se Gumi.

– Ouvir sem querer é diferente de espionar!

– Pois é melhor que se acostume, pois há várias pessoas que a irão espionar e roubar informações para benefício próprio. Fadas fazem isso o tempo todo!

Rin recostou-se no assento, braços cruzados, testa franzida. Percebeu que não havia motivo em continuar no mesmo tópico.

– Para quê você quer o anel?

– Não fique achando que é a única com... digamos... conhecidos pouco amigáveis por aí, está bem?

– Você não é minha inimiga, é?

– No momento, não. No futuro quem sabe?

Ficou satisfeita com a resposta, mesmo que vaga. A próxima pergunta de Rin tinha a ver com o não livro, mas conseguiu morder a língua antes que o questionamento escapasse. Seria terrível se mais alguém soubesse de sua posse concorrida.

A chaleira apitou e Gumi colocou o chá em duas xícaras na mesa de madeira velha. Na borda do pires, deixou dois biscoitinhos.

Quando Rin deu o primeiro gole, um sorriso sábio se formou em seus lábios.

– Se eu usar minha imaginação, posso imaginar que é o melhor chá do mundo, e que os biscoitos são do mais fino chocolate, não é?

– Não – brincou a moça, apesar de que iria dar o mesmo discurso que a loura havia acabado de resumir – Eu sou pobre, só isso.

A menina bebericou um pouco mais, pensativa.

– Sabe me dizer alguma coisa sobre uma espécie de humanóide com chifres, garras e presas afiadas?

– Exitem muitos humanóides que se encaixam nessa descrição – salientou – Precisará ser mais clara.

– Falam pouco, cheiram tudo, rápidos e fortes, alguma coisa neles lembram ursos – tentou lembrar de mais alguma característica de Len – Ronronam um pouco.

– Você está falando do rapaz de rabo de cavalo – lembrou-se Gumi – Sim, sei o que ele é. Raça notável, devo acrescentar. Mas são muitas informações para dar de uma só vez, está ficando tarde, e você ainda precisará comprar comida para seus companheiros famintos. Antes de ir, lhe darei o nome bom manual, o qual você pode ler e reler até satisfazer suas dúvidas. Vamos, faça logo a pergunta principal.

Mordeu os lábios.

– O que você sabe sobre o Rei Escorpião?

– Ah, mas que boa pergunta, não estava esperando por essa! – atuou, entrelaçando os dedos e apoiando o queixo neles – Deve estar pensando que é um escorpião normal não? Não responda, sei que está. Sinto muito em destruir seus sonhos e esperanças, mas não é tão simples quanto pensa.

Se acomodou mais uma vez na cadeira, como se estivesse bastante feliz em dividir a informação com alguém.

– O escorpião rei, na verdade, é uma espécie de deus para toda uma comunidade que vive nos Desertos Gelados – abriu um mapa e apontou para o grande e conhecido deserto – Todo o mês, na noite sem lua, eles sacrificam uma pessoa para o Rei Escorpião, ao qual eles chamam de “Nosso Imperador” ou “O grande Rei”. “Como ninguém nunca ouviu falar nessas pessoa?” você pensa. Primeiro, os rituais são bem escondidos na Caverna da Serpente, e são feitos tarde da noite, quando a temperatura cai quase que insuportavelmente. Segundo, bem, os adeptos não são amigáveis com estranhos.

– E o Rei Escorpião aparece para buscar seu sacrifício? – Rin se empolgou, estava chegando a algum lugar.

– É evidente que sim – Gumi fechou o mapa – Ou você acha que ele tem escravos que façam isso por ele? Bem, talvez ele até tenha escravos, mas qual seria a graça de um sacrifício se não é você quem vai buscá-lo?

Rin levantou-se, quase derrubando a cadeira.

– Mas se estar pensando em ir até lá jogar confetes e soltar fogos de artifício, ou seja lá o que pensa em fazer, bem no meio do ritual, sugiro que tenha cuidado – avisou Gumi – Ou você acha que ninguém sabe nada sobre eles porque nunca acharam o lugar?

A menina somente assentiu, e jogou o anel na direção de Gumi, que velozmente o pegou no ar. Olhou parao objeto em suas mãos como um esfomeado olha para um pedaço de pão quentinho.

Gumi rabiscou alguma coisa em um papel velho que aparentava ter caído na água várias vezes ao longo dos anos. Entregou para a loura o nome do livro que deveria procurar. Simples, até, “O Grande Manual dos Humanóides e Parentes”. Procuraria quando tivesse chance.

– SeeU a levará de volta para a instalagem – a moça não desviava os olhos do artefato valioso.

Rin estava prestes a perguntar quem era SeeU, quando o gato (que agora se revelou ser gata) dourado levantou-se preguiçosamente e a fitou com olhos azuis claros.

– Vá, pode confiar nela – garantiu Gumi, ainda examinando o anel.

A menina observou o bichano sair da casa, mas antes de fechar a porta, questionou:

– Gumi, como sabe de tudo isso?

– Se está perguntando sobre o Rei Escorpião, saiba que já participei de alguns rituais. Fui a primeira e a única a desistir e sair viva. E pobre deles se tentarem me desafiar mais uma vez – levantou os olhos – Sobre todo o resto; tenho idade para ser sua mais velha ancestral. Seria vergonhoso se soubesse menos que você ou qualquer outra pessoa ao meu redor. Vivi e vi muita coisa, e se não respondo a alguma pergunta, não é porque não sei, é porque não quero que você saiba.

A menina assentiu lentamente e, sem dizer nem mesmo um “adeus”, fechou a porta atrás de si, seguindo SeeU pelas ruas cobertas de neve, que agora caía em flocos delicados.

– Ainda vamos nos ver, Rin Casaco Marrom – sorriu no meio-escuro – Eu sei que vamos.


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Notas finais do capítulo

A Gumi está sempre certa U-U
Rin está crescendo :) e gosta de carne apimentada...