Assim que a porta se abriu, eu quase não acreditei no que estava vendo. Poderia ser um sonho dentro desse enorme pesadelo ? Mas não, não era um sonho, era realidade, então sim, era um sonho pra mim.

Atrás daquela porta havia uma sala, totalmente diferente do resto do mausoléu. Tudo era iluminado, sem escuridão, sem nada sombrio. Apenas um lugar aconchegante, um refúgio, o verdadeiro eu de minha mãe. Ela deveria ser assim por dentro antes de arrancar seu coração. Meu peito se apertou, ela arrancou e eu o coloquei de volta para então ela dar seu último suspiro. Mas ao ver essa sala, eu senti uma esperança, ela morreu assim, sem escuridão, com o seu interior brilhando.

Então logo na entrada havia um vestido vermelho, lindo por sinal. E do lado dele um bilhete escrito por minha mãe, eu sabia que era dela, eu reconheci a sua letra. Então comecei a ler:

"Demorei tanto para conseguir esse vestido. Meu pai, um pobre moleiro, alcoólatra, jamais poderia me dar algo melhor, mas eu não me importava. Ele sempre levou uma vida difícil, eu cresci sem a minha mãe para nos ajudar. Mesmo assim ele me criou com amor, com o pouco que ele entendia desse sentimento, mas foi o bastante para mim entender o real significado de amar. Eu o amava, mais do que amei esse vestido, afinal foi ele que me deu a vida que eu tenho hoje. A primeira vez que o usei foi naquele baile. Uma plebeia em festa de reis, isso me constrangia, eu apenas estava lá por diversão, pela comida, mas meu coração vagava em meu pai, que naquele dia não havia bebido, ele apenas saiu cedo. Ele sabia que o que eu mais queria era ir ao baile, então voltou todo sorridente e me entregou esse lindo vestido vermelho. 'É pra você minha filha, você merece.' Foi só o que ele disse. Me emociono ao lembrar de como ele batalhou para conseguir me dar esse presente. Por isso eu guardo esse vestido com tanto carinho. Naquela noite do baile eu vi tantos príncipes, reis e rainhas e isso me serviu para apenas uma coisa, ter a certeza de que independente de status, o maior rei da minha vida sempre seria ele, meu pai. Que saudades eu sinto dele."

Ao terminar de ler, eu chorava mais ainda. Ela nunca havia me contado nada sobre o meu avô, e mais ainda, eu nunca havia a escutado dizer que amava alguém com tanta intensidade. Meu coração se apertou mais e mais, que saudades eu já sentia dela.