"Você seria o suficiente." Essas palavras ainda ecoavam em minha mente. O que será que minha mãe queria dizer com isso ? Ela me olhou de uma maneira tão diferente, seus olhos brilhavam como nunca e pela primeira vez eu a tinha visto sorrir. Meu peito se explodia em dor ao me lembrar dela morta em meus braços, e doía mais ainda ao pensar que talvez aqueles poucos segundos tivessem sido os únicos em que ela realmente me amou.

Eu não queria pensar em ninguém, nem em vingança, nem em ódio, nem em nada. Nesse momento eu só queria chorar, chorar pela sua morte, chorar pela mãe que eu não tive. Me deixei pela primeira vez chorar por coisas que um dia me fizeram sofrer, mas que eu não tive coragem de chorar. Era como se eu fosse uma criança vulnerável nesse momento, querendo apenas a proteção dos pais. Pais que eu não tenho mais, pai que eu matei, mãe que eu nunca tive. E isso era o que mais me doía. Saber que ela se foi e que agora mais do que nunca, eu jamais iria saber como era sentir um amor de mãe.

Mesmo assim eu queria me lembrar dela, dos nossos momentos bons, que eram raros, quase inexistentes, então fui até o seu antigo mausoléu. Vi algumas de suas coisas, seu vestido roxo, suas caixas que por certo continham corações. A cada nova descoberta eu chorava mais e a dor aumentava como se o meu peito fosse arrancar a qualquer momento.

Aquele era um lugar tão negro. Sem luz alguma, sem carinho, sem amor. Apenas um lugar "vazio", frio, ruim de estar, triste. E me doía, pois era assim que eu me lembrava dela. Vazia, fria, ruim, triste.

Caminhei por todo o mausoléu, eu me culpei por querer me lembrar dela, pois era aquele lugar que me trazia as suas lembranças, lembranças que eu queria esquecer, mas ao mesmo tempo não. Eu queria me lembrar dela, mas de uma maneira que eu sabia que jamais ela foi, de uma maneira que não existia.

Foi quando ao fundo, eu vi uma porta, uma porta negra, diferente de todas as que eu já tinha visto. Não me lembrava de tê-la visto ali antes. Me aproximei dela, tinham desenhos nela, grandes voltas como se fosse magia e no meio dessa suposta magia, havia um pequeno, quase imperceptível coração. Meu peito se apertou, eu senti medo do que poderia estar atrás daquela porta, senti medo de descobrir coisas piores ainda. Me virei para ir embora, mas meu coração bateu mais forte, não importava o que eu encontraria, era apenas sair correndo. Eu poderia mesmo esperar tudo dela, então me voltei de novo para aquela porta no escuro e então, sem saber o que me esperava, girei a sua maçaneta.