The Hardest Part escrita por mahribbs


Capítulo 3
Grande Conquista




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Voltei pra casa e o sorriso não saía do meu rosto nunca.

Era estranho esse tipo de coisa. Eu definitivamente não sou do tipo que sorri.

As pessoas costumavam achar que eu era brava quando mais nova. Depois que descobri isso, tentei não ficar de “cara amarrada” o tempo todo, afinal, esse era um dos motivos pra eu não ter amigos: as pessoas tinham medo de se aproximar de mim e levar uma patada ou algo do tipo, então comecei a sorrir mais. Mas isso só depois de grandes esforços. Claro, com o passar do tempo, meu sorriso se tornou mais natural, mas nunca aquele tipo de sorriso aberto, receptivo como o sorriso de Luke. Ou o de Tom, que dava aquela sensação boa, que fazia as pessoas sorrirem também.

Meu sorriso era mais do tipo contido. Do tipo que as pessoas dão quando estão no meio de uma briga e, de repente, o oponente diz algo engraçado. Então as pessoas abrem aquele meio sorriso, que parece ser um pouquinho forçado e que diz claramente: “Foi engraçado, mas esse sorrisinho é tudo o que você vai tirar de mim”.

Então imagine a minha surpresa quando, caminhando até meu prédio naquele finalzinho de manhã, passei pela vitrine de uma loja e vi uma pessoa muito parecida comigo, mas que tinha um sorriso enorme no rosto?

E, só pra confirmar, ao chegar em casa olhei-me no espelho e lá estava ele: aquele sorriso que eu não sabia possuir e que os garotos me mostraram que eu tinha.

Com certeza não era tão bonito como o de Luke ou tão contagiante como o de Tom, mas definitivamente era um sorriso de verdade, normal. E era meu.

xx

Eu queria pedir que o tempo passasse rápido. Queria admitir que estava louca pro tempo passar mais rápido, mas eu não pedia pro relógio se apressar. Era meio ridículo querer que o dia acabasse apenas porque, no outro, tinha combinado que o veria de novo. Os veria de novo. Mas mesmo achando isso ridículo, eu não conseguia arrancar dos meus pensamentos aqueles olhos castanhos tão sinceros.

E isso também era ridículo, porque eu definitivamente estava em uma fase da minha vida na qual eu não queria nada com ninguém, era muito injusto que exatamente quando eu decidi que cuidaria de mim e faria tudo o que fosse possível pra tirar da minha mãe o que eu tanto queria, me aparecesse uns olhos como os dele, tão incríveis e lindos e... penetrantes ou o que quer que fossem.

E por que diabos eu tinha que ficar pensando nos olhos logo do Thomas? Os do Luke eram muito mais bonitos, sinceramente...! Eu deveria ao menos tentar parar de pensar naqueles olhos castanhos. E foi isso o que eu fiz a tarde inteira, migrando do sofá para a minha cama, e da minha cama para o sofá. Começando a ler vários livros, mas não continuando com nenhum. Tentando me concentrar em algo na internet, em alguma conversa no msn, sem sucesso. Porque no meio disso, eu tentava convencer a mim mesma que só queria vê-los porque eles me fizeram bem. E no fundo, isso fazia sentido. E, como que para me atormentar, a noite passou tão devagar quanto seria possível.

Assim que minha mãe voltou do trabalho, me tranquei no quarto, com medo de que ela me perguntasse o motivo de toda aquela agitação e, principalmente, daquele sorriso que ainda aparecia no meu rosto sem permissão.


Pensei que acordaria disposta no outro dia. Ou mais cedo do que o normal, mas, para a minha surpresa, acordei atrasada e parecendo um zumbi.

Sete horas, eu já deveria estar na praia!

Como uma doida, saí pulando pelo quarto, juntando meus shorts, uma blusa qualquer, meias, calcinha e meus chinelos e, com tudo isso, corri para o banheiro. Tomei um banho que pareceu durar apenas dois minutos, mas assim que saí do banheiro constatei: sete e quinze. Será que eles já estavam lá?

Ainda parecendo meio louca, penteei meu cabelo de qualquer jeito e prendi em um rabo de cavalo. Não teria o tempo que queria para deixá-lo bonito.

Mas, afinal, por que eu queria deixá-lo bonito? Era apenas uma ida à praia, o que tinha de diferente?

Revirei os olhos para meus pensamentos e entrei na cozinha meio pulando, meio correndo. Abri o pote de bolachas salgadas e pesquei algumas. Abri a geladeira e tomei o suco de laranja da caixinha mesmo.

– Julia? - ouvi e, no susto, bati minha cabeça no teto da geladeira.

Saí de lá xingando, mas parei ao ver a expressão no rosto de minha mãe.

– Mãe...? - chamei, receosa - O que foi?

– Precisamos conversar - ela disse apenas e, largando a sua maleta de escritório na cozinha e tirando seus sapatos, ela se dirigiu até a sala.

Ah, por favor, hoje não!

Mas, como eu disse, sorte não era algo que eu costumava ter.


– O que foi? – perguntei, assim que chegamos à sala.

– Este fim de semana...

– Este fim de semana eu vou pra casa do meu pai! – alertei, antes que ela inventasse qualquer coisa pra me impedir de ir.

– Você não pode ir neste fim de semana – ela disse, calmamente. – Vou precisar de você aqui pra me ajudar com a reunião.

Revirei os olhos.
– Não é problema meu se dessa vez a reunião dos seus coleguinhas de trabalho será aqui. – repliquei, sem me abalar.

– Julia, custa me fazer um favor?

– Custa, Miranda. Custa a chance de ver meu pai!

– Você poderá vê-lo no próximo fim de semana, filha. E já disse que você não tem que me chamar de Miranda. Eu sou sua mãe.

– Tudo bem, mãe – eu disse, como se “mãe” fosse a pior palavra que encontrei – Eu não vou ficar aqui neste fim de semana e pronto!

Vi que Miranda se empertigou toda, como se estivesse ofendida por minha fala.

– Sou sua mãe, Julia, e enquanto você estiver vivendo sob o meu teto, terá de me obedecer.

– Eu não quero ficar aqui, se você ainda não percebeu. – resmunguei, mesmo sabendo que não adiantaria nada – Se é tão difícil me ter por perto, deixe-me morar com meu pai!

Miranda me ignorou, como se meus resmungos não fossem importantes. Como se eu não fosse importante.

– Eu não ligo para o que você pensa – exclamei, já sem saber se queria que ela concedesse o que eu vinha pedindo há tempos ou se só queria irritá-la mesmo. – Eu não quero viver com você!

– Ótimo! – minha mãe, finalmente, elevou o tom de voz, parecendo estar extremamente irritada – Vá morar com seu pai! Vá viver com ele! Mas esse fim de semana você vai ficar aqui, e terá de obedecer isso!

Ela saiu batendo a porta, e eu me senti um pouco mal por perceber que, embora gritasse e tivesse ficado vermelha de raiva, ela tinha se magoado. Mas se minha mãe cumprisse com sua palavra, eu poderia ir morar com meu pai.

Perder um fim de semana não significaria nada se a recompensa fosse essa.

xx

Caminhei calmamente até a praia, quase saltitando de felicidade. Tinha trazido meu iPod e The Kooks estava tocando, enquanto eu dava passos ritmados até o local onde encontraria Tom.

Mas logo que avistei o lugar, um pouquinho da minha felicidade por saber que voltaria a morar com meu pai se apagou. Tom não estava lá. Nem ele nem Lucas.

Mesmo assim, me sentei na areia e passei o tempo como sempre fazia. Só que dessa vez, diferente de tentar não pensar, eu estava pensando e muito.

Vários planos já haviam se arquitetado em minha cabeça sobre a mudança. Assim que voltasse pra casa, ligaria pro meu pai e daria a ele as boas notícias.

Desde que ele e minha mãe haviam se separado, eu só morava com ela porque ele pediu que eu o fizesse. Minha mãe vinha de uma família muito pequena e, por parte dela, eu tinha apenas uma tia e meus avós já haviam morrido. Como meu pai tinha uma infinidade de irmãos, sobrinhos, primos e etc., ficar completamente sozinho não seria algo que aconteceria a ele. Mas eu não suportava morar com minha mãe. Nós brigávamos o tempo todo e eu não me lembrava quando nossa última conversa civilizada havia acontecido.

Já com meu pai, as coisas eram diferentes. Ele era o tipo de homem que qualquer pessoa admira e se dá bem, quer agradar. Se um dia eu me casasse com alguém, torcia pra que esse alguém fosse como meu pai.

Pensei em todas as minhas primas e no tanto de coisa que eu perdi estando esses dois anos morando em uma cidade diferente da delas. Eu, finalmente, poderia recuperar todas as horas de gargalhadas e felicidades que passava ao lado delas.

Àquela hora, com aquele sol, eu sabia que nada era perfeito, mas as coisas pareciam finalmente estar se encaminhando pra algo parecido com isso. Claro, eu com certeza teria preferido passar o dia com Tom e Luke à ficar, como todos os outros dias antes de conhecê-los, fazendo nada ali. Mas logo que pensei nisso percebi que era melhor mesmo que eles não tivessem vindo. Quando eu me mudasse pra casa de meu pai, as possibilidades de vê-los seriam mínimas.

E no meio da minha alegria, eu não duvidei que encontraria muitos outros garotos com sorrisos contagiantes e olhos castanhos extremamente calorosos na minha futura nova cidade.


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