Olhos De Vidro escrita por Jane Viesseli


Capítulo 9
Tiffany, a Mãe




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O encontro de início de inverno certamente ficaria na memória do garoto quileute para sempre. Acordar sentindo as carícias de Andy em seus cabelos fora a melhor coisa que poderia lhe acontecer, e saber que sua presença doce era um calmante natural para seus problemas apenas complementava o quanto ela lhe fazia bem.

Nos dois dias que se sucederam o bando o procurou, pedindo que retornasse a ativa e que participasse da reunião que teriam dentro de poucos dias. Nenhum pedido de perdão foi ouvido por parte dos alfas, mas, assim como a ruiva cogitara, Paul e Quill se desculparam mais de uma vez pelo transtorno que ajudaram a causar, pedindo humildemente por remissão... O Call os perdoou, no fim das contas, e, mesmo sentindo que sua amizade não seria mais como antes, estava feliz por tê-los novamente ao seu lado.

O tempo passou mais rápido do que Embry gostaria. Uma semana se ocorrera e ele não conseguira fazer nada para que Andy o notasse. Precisava urgentemente se esquecer do acontecido com os lobos quileutes ou perderia o prazo que ele mesmo estipulara.

― Não estamos andando muito hoje para chegar a um simples tronco? – pergunta Andy certa tarde, agarrada ao braço direito do lobo e tropeçando como sempre em seus próprios pés.

― Já estamos bem longe de nossa amiga árvore morta. – Ri. – Porém, estamos bem perto da reserva!

― Reserva? – pergunta surpresa.

― Sim, viramos aqui e... – Pausa, esperando o momento certo para continuar. – Chegamos ao meu lar!

O lobo sorri vitorioso, com olhos brilhantes e visivelmente empolgados com a ideia de levá-la para conhecer sua casa, esperando que, se a ruiva conhecesse suas raízes, talvez entendesse mais sobre ele. Embry encara o rosto feminino com expectativa, mas Andy não parecia tão empolgada, muito pelo contrário, parecia tensa.

― Embry, eu... – Engole saliva, buscando as palavras corretas. – Eu não...

― Já sei – corta ele –, você não pode se sentir surpresa, pois já viu tudo pelas fotos, não é?

― Sim – responde prontamente, sentindo a tensão desaparecer –, é isso mesmo! Desculpe-me, você estava tão empolgado.

Andy morde o lábio inferior tentando dar mais ênfase a sua expressão de arrependimento e acaba fisgando a atenção do quileute que, nem se ele quisesse, se lembraria de ficar chateado. Embry morde o próprio lábio tentando conter o impulso de beijá-la... Ah, se ela soubesse o quanto aquilo mexia com seu imprinting!

― Hoje quero apresentá-la a minha mãe – sussurra ele, tentando controlar-se.

― Me apresentar a quem? – pergunta ela enrijecendo.

― A minha mãe – repete, tentando conter a gargalhada com a expressão incrédula de Andy.

― Acho que isso não é uma boa ideia.

Ela sente seu corpo se arrepiar em protesto, aquilo realmente não era bom. Muitas coisas novas ao mesmo tempo a assustavam, já não era o suficiente levá-la para conhecer a reserva de La Push? Tinha de conhecer a mãe dele também?

Mesmo sem uma resposta final, Embry segura a mão esquerda de Andy e a conduz pela estradinha de terra rumo a sua casa. Por um tempo ela permaneceu inerte, olhando para o vazio como se estivesse totalmente em outro planeta e, de repente, agarrou o braço do lobo, escondendo o rosto no braço de seu casaco enquanto deixava-se ser guiada por ele... Ela finalmente parecia ter voltado a si.

― Relaxe, Andy – brinca Embry, achando graça em suas atitudes. – Minha mãe não é nenhuma bruxa. Ela está ansiosa para conhecê-la – deixa escapar.

― Você contou a ela sobre mim? – pergunta ainda com o rosto escondido e fazendo sua voz soar abafada, se ele não tivesse audição aguçada, com certeza, não entenderia suas palavras.

― É claro! Acha mesmo que não contaria a segunda pessoa mais importante da minha vida, sobre a primeira pessoa mais importante da minha vida?

Fez-se silêncio!

Em seu braço, Embry podia sentir o resultado de suas palavras. A ruiva lhe apertava o casaco com tanta força que os nós de seus dedos tornavam-se brancos. Foi então que o quileute atreveu-se a um gesto até então inusitado, aproximando-se da cabeça feminina e depositando ali um longo e caloroso beijo.

Andy sentiu seu rosto queimar com as palavras de Embry e não ousava se erguer, pois sabia que ele notaria seu constrangimento. Mas aquele gesto estava além de sua imaginação para àquele dia, ela pôde sentir o calor incandescente dos lábios dele e, quando se deu conta de que se tratava de um beijo, largou seu braço de repente, impulsionando o corpo para trás.

Seu rosto parecia um pimentão vermelho, seus pés recuavam de forma desengonçada e vacilaram ao se encontrarem com algumas pedras. Seria um tombo e tanto, se Embry não fosse tão ágil e não a tivesse pegado... Num momento Andy sentia seu corpo se desequilibrar e cair, e, no outro, sentia-se amparada pelos braços fortes dele.

Com uma mão ele dava apoio para suas costas, enquanto a outra segurava sua cabeça e se entrelaçava em seus cabelos de maneira sedutora. Embry nunca poderia imaginar que um simples beijo no alto da cabeça poderia terminar em algo assim, numa pose parecida com a dos filmes antigos, onde o mocinho inclinava a mocinha e a beijava.

O mesmo pensamento passa pela mente de Andy, que podia sentir a respiração quente do garoto tocar-lhe a face, será que ele tentaria alguma coisa? Ela não pôde evitar o rubor com tal pensamento – pensamento este que, de certa forma, a agradava.

Embry mantinha seus olhos fixos nos dela, mas sentia dificuldade em decifrar aqueles orbes de oceano. Quantos mistérios eles carregavam! Ele se aproxima alguns centímetros, roçando seu nariz no dela e fazendo-a fechar os olhos involuntariamente. O quileute podia ouvir as marteladas de seu coração.

E num piscar de olhos o lobo se levanta, colocando a menina em pé novamente e induzindo-a a um estranho sentimento de frustração. Embry sugere que continuassem a caminhada e encara, pelo canto dos olhos, os lobos que, escondidos, bisbilhotavam e estragavam seu momento romântico.

― Preciso me lembrar de chutar o traseiro deles mais tarde! – rosna em pensamento.

Tudo o que seu lobo interior desejava era aquele contato de lábios e os enxeridos fizeram questão de estragar tudo. Agora Andy estava ali, caminhando com o rosto afogado em seu casaco, tentando esconder suas bochechas lindamente avermelhadas. Ah, como ele adorava aquele rostinho corado, essa era a única parte do rosto dela que denunciava alguma emoção, já que sua boca e seus olhos se negavam a fazer tal coisa.

― Chegamos! – anuncia ele depois de mais alguns minutos de caminhada.

Andy estremece e afrouxa seu aperto no braço de Embry assim que o sente subir os degraus da varanda. Um longo suspiro escapa dos lábios dela quando termina de subir o último degrau, suas mãos tremiam e uma imensa vontade de se agarrar no braço dele a toma, porque, de alguma forma, ele lhe passava segurança!

O lobo abre a porta anunciando sua chegada e atraindo a atenção da moradora como um ímã.

― Embry Call, eu pedi para que lavasse a louça antes de sair – diz a mulher entrando na sala –, por que você não... Uma visita! – grita de repente, interrompendo o que dizia a princípio.

Embry se afasta alguns centímetros, porque instintivamente Andy se escondera atrás de seu corpo largo e ele precisava abrir passagem para que sua mãe pudesse vê-la.

― Seja bem-vinda, você deve ser a famosa Andy! – exulta a progenitora do lobo.

― Sim, sou a Andy – responde tensa, esfregando as mãos uma na outra –, mas não creio ser tão famosa quanto a senhora diz...

― Oh, querida, você é mais célebre do que imagina, não se fala em outra coisa nessa casa. – Ri, e, num lapso de memória, continua: – Que indelicadeza a minha, nem sequer me apresentei... Sou Tiffany, a mãe do garotão que está fissurado por você.

Embry faz uma cara feia para a mãe, por revelar o que não devia, mas ela dá de ombros e mostra a língua. Era a dona daquela casa, dizia o que queria, na hora que queria e não seria o filho a impedi-la.

― É um prazer conhecê-la – responde a ruiva rapidamente.

Andy estende a mão antes mesmo que Tiffany pensasse em fazer tal coisa, sua cabeça permanecia baixa, os cabelos caiam como uma cortina ao redor de seu rosto, tampando-lhe a expressão e os olhos que o quileute tanto gostava.

A Sra. Call aperta a mão que lhe era oferecida e abre ainda mais seu sorriso, achando graça no acanhamento da menina. Ela coloca o dedo indicador no queixo de sua convidada e suspende seu rosto, afastando seus cabelos alaranjados com a mão livre. Sua intenção era vê-la melhor e apreciar a fisionomia tão elogiada pelo lobo, contudo, Tiffany não deixou de franzir a testa levemente ao encontrar o semblante temeroso que ela carregava, como se sentisse medo de “ser descoberta”.

― Tão linda como me disseste – diz por fim, fazendo o filho sorrir.

― Eu lhe disse! – sussurra ele.

Tiffany convida o filho a ajudá-la com a preparação do lanche, pedindo gentilmente que Andy se acomodasse e se sentisse a vontade. Embry é o primeiro a sumir de vista, seguindo para o outro cômodo e sendo escoltado lentamente pela Sra. Call, que ainda ousara parar e voltar seus olhos para a menina, percebendo que havia algo errado.

A tarde fora maravilhosa, mas bastante fora do normal. O lobo não entendia o nervosismo excessivo de Andy, porém, notava que ela se sentia menos tensa quando estava ao seu lado. Por fim, quando o entardecer ameaçava terminar, Embry retornou com a garota para a praia e assistiu, mais uma vez, a sua partida, desejando em seu íntimo que chegasse logo o dia em que ela nunca mais precisasse partir.

E quando retornou para sua casa, encheu a mãe de perguntas, ansiando receber a aprovação de sua progenitora sobre a escolhida para completá-lo. Tiffany sentiu-se tonta com tantos questionamentos, mas respondeu a todos com a devida atenção, cuidando apenas para não revelar aquilo que achara tão esquisito, já que Embry parecia não notar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ^^
Curiosidade: o nome da mãe de Embry foi revelado no livro "Crepúsculo: Guia Oficial Ilustrado da Série". Ela realmente se chama Tiffany Call.