Olhos De Vidro escrita por Jane Viesseli


Capítulo 10
Anjo de Neve




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/384082/chapter/10

Nos dias que se seguiram Embry retornou com Andy para La Push diversas vezes, queria fazê-la conhecer o ambiente em que vivia e coisas de que gostava. Em cada visita programou uma atividade diferente: houve um passeio pela floresta, outro pela praia, a montagem de um boneco de neve, conto das histórias e lendas quileutes, entre outras ideias vindas de sua cabeça lupina apaixonada... Ele realmente estava se esforçando para conquistá-la, mas os olhos azulados ainda permaneciam em completo mistério, não dando sequer uma dica se estava atingindo seu objetivo ou não.

Em seu íntimo Andy sentia algo diferente, talvez desde o primeiro momento ela sentira, mas não quisera admitir. Era estranho pensar naquilo, na forma com que ela abaixara sua guarda tão rapidamente para ele, aproximando-se e o deixando se aproximar também.

― O que posso fazer se ele me inspira confiança? – pensa ela todas as vezes que se lembra do assunto.

Quantas pessoas já se aproximaram dela de maneira pouco receptiva, muitas vezes humilhando-a diante dos outros como se não fosse capaz de fazer as coisas sozinhas. Mas com Embry era diferente, ele a induzia a fazer coisas que nunca tinha feito antes, sem questioná-la se conseguiria ou não. Ele a amava.

Amar. Andy nunca imaginou poder ouvir tal palavra de um garoto, ainda mais se referindo a ela... Sinceramente, a ruiva imaginava que envelheceria sozinha, deixada às traças sem que nunca ninguém a notasse, mas então ele apareceu e achou seus olhos bonitos, achou que ela não deveria se esconder, que era legal e a fez sentir-se especial.

Embry parecia não perceber o que incomodava a tantas pessoas, mas ela não o culpava, passara tantos anos tentando esconder aquilo e arriscando parecer uma garota normal, que acabou tornando-se convincente no que fazia, e somente as pessoas que a conheciam a longa data não podiam ser ludibriadas.

― Você está bem? – pergunta Embry, puxando-a de volta a realidade. – Ainda não me respondeu: o que gostaria de fazer hoje?

Andy coça o queixo enquanto pensava. O prazo do lobo estava chegando ao fim, faltavam apenas dois dias, talvez devesse escolher algo especial.

― Anjo de neve – responde finalmente.

― O quê?

― Vamos fazer um anjo de neve.

― Está falando sério?

― Sim. – Baixa a cabeça envergonhada, tudo o que menos queria era que ele achasse a sua ideia imbecil.

Andy crescera sem os pais, sua avó era idosa e nunca teve muita disposição para certas brincadeiras. Todos os dias ela ouvia as crianças pedindo aos familiares para fazerem anjos de neve, para que não ficasse aquela costumeira marquinha de mão na hora de levantar-se, mas ela nunca tinha a quem pedir. Aquela brincadeira tão boba e infantil acabou tornando-se o seu grande sonho...

― Está bem! – concorda o lobo, mais uma vez a puxando para a realidade. – Façamos um anjo de neve então... Sabe que eu nunca consegui fazer um desses sem deixar a marca da minha mão, na hora de levantar? – diz ele, olhando para o céu enquanto caçava as lembranças em sua memória.

― Podemos tentar fazer isso, eu ajudo você e você me ajuda – cogita Andy, insistindo na ideia.

O lobo concorda, e, agarrando as mãos da menina, a guia para um lugar onde a neve acumulada colaboraria para seu jogo. Ele gostava de estar no comando do passeio e Andy parecia não se importar com isso, sempre o seguia para onde quisesse.

Meia hora depois, eles chegavam ao local ideal, uma pequena abertura em meio à floresta que lembrava a clareira onde o bando costumava se encontrar. A neve estava bastante acumulada ali, branca, intacta e imaculada desde o dia em que caíra. Nem mesmo o bando parecia ter passado por aquela parte da floresta, pois não havia sinais de patas gigantes ali.

Andy mirava os pés com um sorriso zombeteiro nos lábios, pisava forte no chão para analisar a profundidade da neve no local e, de repente, deixa seu corpo tombar no chão esbranquiçado, sentindo-o afundar na neve e um calafrio ultrapassar a barreira de seu grosso casaco.

Embry ri e assiste a ruiva subir e descer os braços, abrir e fechar as pernas, desenhando lentamente o anjo de neve que sempre ansiou fazer. Ele a observava admirado, tudo o que fazia era lindo aos seus olhos, até mesmo o ar infantil que adotara para aquele momento era encantador.

― Agora vem a parte difícil – diz Andy, com o rosto mirado para o céu. – Eu lhe dou as mãos e você me puxa! – sugere se sentando.

E assim ele o faz, segurando as mãos de Andy com força para que não escorregassem das luvas e puxando-a com facilidade para cima. Por alguns segundos ela sentiu-se voando, seu corpo fora retirado do chão e a touca quase saltara de sua cabeça por causa dos cabelos esvoaçantes. E quando toca o solo, ri descontroladamente.

Ainda segurando as mãos do lobo, ela se coloca a frente do desenho, agacha-se e alisa delicadamente a base do anjo, onde outrora estavam os seus pés a se moverem.

― O que acha?

― Está aceitável – provoca o lobo.

― Faria melhor, Sr. Call?

― Mas é claro que sim, eu sou um artista da neve.

Andy levanta-se rapidamente cruzando os braços e enfatizando seu desafio. O lobo gira 180º e se joga por cima do desenho da ruiva, fazendo um perfeito “o” se formar nos lábios rosados. Ele ri e depois de copiar os movimentos que ela fizera alguns segundos antes, anuncia:

― Terminei! Agora se vire para me tirar daqui sem estragar meu querubim – dizia se sentando.

― Querubim? – Segura as mãos do quileute, erguendo uma sobrancelha. – O que aconteceu com o anjo?

― Anjo é coisa de menina, eu sou homem, o meu é um querubim.

Ela ri e tenta com todas as forças levantar o garoto, como ele havia feito. Contudo, seus esforços eram em vão, pois ele não se movia. Seus pés patinam na neve enquanto ela tentava puxá-lo pelas mãos, mas tudo o que conseguiu foi arrancar suas luvas e cair com de bunda no chão, fazendo o quileute revirar os olhos.

― Precisa comer mais arroz e feijão – cutuca Embry.

― Você é que precisa emagrecer – bufa. – Agora se tornou uma questão de honra!

Andy engatinha em direção a ele e quando toca seus sapatos, fica de pé num salto e tenta içá-lo novamente. O lobo até pensa em ajudá-la, pois sabia que era bastante pesado para qualquer humano comum, mas acaba se surpreendendo quando, com um solavanco, ela consegue fazê-lo sair do chão.

― Vamos Embry saia logo daí, você é muito pesado – retruca jogando a cabeça para trás, tentando não deixá-lo cair.

Seu corpo se elevara no máximo uns vinte centímetros do chão, mas Embry não parecia querer colaborar, em vez disso, inclinou o tronco para trás, caindo novamente e puxando Andy com ele. Ela solta um grito surpreso e cai por cima do quileute, espalmando as mãos sobre seu tronco.

― Fraca! – caçoa ele.

― Gordo – rebate rindo.

― Eu não sou gordo – finge-se ofendido.

Andy solta uma gargalhada que faz o coração do lobo saltar de alegria. Ele gira o corpo, deitando a menina sobre a neve e colocando-se por cima, fazendo-a parar de rir no mesmo instante. Aquele clima estava aparecendo de novo, o mesmo que surgira quando visitara a Sra. Call.

Embry podia sentir a respiração da humana tornar-se ofegante e ela podia sentir a dele tocar-lhe o rosto. O frio da neve parecia não a atingir devido ao calor que estava sobre seu corpo. Tê-lo assim, tão colado, mexia com sua razão mais do que poderia imaginar.

― Eu te amo – sussurra ele para si próprio, mas fazendo-se ouvir.

― Eu também te amo – sussurra Andy em resposta, sentindo a face queimar.

O lobo tranca a respiração, não acreditando no que seus ouvidos captavam. Seu prazo ainda não havia acabado e, mesmo assim, estava a receber a resposta que tanto ansiava. Embry parecia ter se esquecido de como respirar, enquanto seus intensos olhos castanhos se perdiam no oceano misterioso no rosto da humana.

― Está vivo ainda ou eu o matei com minha resposta? – sussurra, arriscando uma brincadeira.

Ainda imóvel, o quileute puxa uma enorme quantidade de ar, fechando os olhos e tentando manter o controle sobre o próprio corpo. Eram inacreditáveis as influências que ela exercia sobre ele. Embry sequer desconfiou da mudança em seus sentimentos e agora ela estava ali, declarando amá-lo.

Mãos quentes e pequenas lhe tocam as bochechas, fazendo-o despertar de seu transe e abrir os olhos. Era Andy que diminuía a distância entre eles e fazia o mundo do quileute girar, beijando seus lábios incandescentes com ternura.

O beijo não fora como o lobo imaginara, no fim das contas, fora ainda melhor. Um simples toque de lábios que logo se tornou mais profundo, fazendo Embry embriagar-se com o sabor dos lábios de sua Andy. Ela, por sua vez, sentia o calor daquela boca incendiar seu rosto e entorpecer sua mente, deixando-a totalmente a mercê dos lábios masculinos que pareciam não querer se separar.

Embry parecia, de certa forma, urgente, como se ansiasse por aquilo há um bom tempo – o que realmente era verdade. Ele somente interrompeu o toque dos lábios quando ela ofegou em busca de oxigênio, entretanto, não conteve o impulso de deslizar o braço por suas costas e abraçá-la num aperto de urso, enquanto Andy apoiava o queixo em seu ombro, ainda tentando normalizar sua respiração.

― Eu te amo – sussurra ele novamente.

― Eu também te amo – repete em resposta, sentindo as palavras soarem engraçadas de seus lábios.

Seu coração batia forte em seu peito, tão forte que parecia retumbar em seus ouvidos. Somente agora é que ela se dava conta: não era um mero interesse que sentia por ele, o amava bem mais do que poderia imaginar e aquele sentimento tão poderoso parecia iluminar seu rosto com um enorme sorriso.

Apesar de tudo, a vida finalmente parecia sorrir para Andy Doreto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá, estou de volta com mais um capitulo!
Fiquei devendo uma dica sobre o segredo da Andy no capitulo anterior, aqui está a dica pessoal: "uma das teorias apresentadas por alguns leitores está correta"
Se mais alguém quiser arriscar, fique a vontade, adoro ler as teorias de vocês, rs :)

Voltando ao capitulo, espero que tenham gostado ♥ adorei escrever este capitulo! O próximo capitulo será o início de uma novo evento, que fará o mundo amoroso de nosso lobo girar 360º
Próximo capitulo: Vigiada