Olhos De Vidro escrita por Jane Viesseli


Capítulo 21
Sequestro




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O médico entra no quarto alguns minutos depois, tentando uma conversa amigável ao se aproximar de sua paciente humana:

― Olá, Andy, sou Carlisle Cullen, o médico que cuidou de você.

Ela franze a testa, tentando identificar o que "cuidar" queria dizer na situação em que se encontrava. Embry, que permanecia sentado ao seu lado, na cama, cochicha uma rápida explanação em seu ouvido. Por mais que os vampiros pudessem ouvi-lo, Andy ainda desconhecia as habilidades aguçadas de seu mundo sobrenatural e sentia-se bem mais tranquila em saber o acontecido daquela forma, algo que parecesse reservado e discreto.

― Preciso fazer um pequeno exame antes de liberá-la – recomeça o médico. – Você passou bastante tempo dormindo, está um pouco apática e preciso me certificar de que ficará bem.

A humana apenas assente com a cabeça, dando liberdade para que o vampiro fizesse sua tarefa, contudo, quando ele lhe tocou a mão, ela não pode evitar ligar seu toque gelado ao de Gregory, retraindo o braço ao mesmo tempo em que se agarrava a Embry. Neste momento, Edward entra velozmente no cômodo:

― Afaste-se ou ela vai surtar! – previne num tom extremamente baixo, fazendo Carlisle recuar alguns passos.

O surto não ocorreu. Por mais medo que sentisse daquele toque frio e assustador, a presença do quileute lhe passava segurança. Se ele a ajudou uma vez, poderia protegê-la agora, não poderia? Ela acreditava que sim e por isso teve seus ânimos acalmados com rapidez.

Levou longos minutos até Embry conseguir convencê-la de que os Cullens não representavam perigo, e Andy só permitiu uma avaliação clínica por parte do vampiro, porque era ele quem estava pedindo. Seu envolvimento com vampiros não fora nenhum pouco agradável e as coisas que ouvira sobre eles também não eram das melhores, se dependesse somente dela, nunca mais teria contato com aquelas criaturas.

― Alice – cochicha Edward para a vampira, que o seguiu para o quarto –, esqueça essa ideia de ser amiga dela, Andy não gosta de vampiros.

― Ela só não teve boas experiências com sua espécie, só isso – explica Embry, fazendo com que Alice abrisse um sorriso esperançoso.

Edward revira os olhos com os ternos trejeitos da irmã adotiva e logo se retira, preferindo ficar na companhia de Esme a aguentar os saltitos da pequena vampira. Já o quileute se recusou a deixar o quarto, mesmo quando o vampiro baixou parte da camisola hospitalar para verificar o curativo de sua paciente, deixando todo o seu ombro ferido exposto. Em sua mente, nada mais o tiraria de perto dela.

Uma semana inteira se passou desde o despertar de Andy para sua humanidade. Ela levou apenas um dia para sentir-se recuperada e três para finalmente conseguir voltar para sua própria casa. Tiffany estava sendo um anjo ao hospedá-la na reserva quileute, apenas para que se recuperasse bem – mesmo já tendo recebido alta de Carlisle –, mas ela não achava certo abusar de sua hospitalidade e, por isso, partiu...

Andy até tentou retornar a sua rotina, as suas atividades e trabalho, mas as coisas nunca mais seriam como antes. Com sua ausência, a biblioteca municipal encontrou o motivo ideal para finalmente se ver livre da "menina deficiente", sem que qualquer ação judicial fosse movida contra eles. E agora, sem emprego, ela não sabia o que fazer, já que o serviço na biblioteca fora conseguido com a ajuda da avó.

Durante essa mesma semana, Embry sentiu os dias correrem ainda mais depressa que o normal. Os períodos em que ficavam juntos não eram suficientes para o ele, que sentia-se cada vez mais necessitado da presença de Andy. Por muitas vezes o quileute tentou convencê-la a morar em La Push com ele, ou talvez alugar um quarto numa pousada – cujo custo era bem melhor – até que conseguisse um lugar apropriado, mas a humana era deveras persistente em sua decisão de "não atrapalhar" a vida do Call.

― E desde quando você me atrapalha? – questiona ele, pela centésima vez.

― Fale a verdade, Embry, você me ama, mas não faz ideia de como é conviver com um cego.

― Bem... – Pensa. – Realmente não sei, mas se pretendemos nos casar precisarei aprender cedo ou tarde! – Choque. – O que foi? Por que a surpresa? Eu sou um menino de família, você não pode me enrolar e tirar proveito de minha inocência dessa forma... Tenho uma honra a zelar.

O que antes era choque e surpresa, logo se tornou uma gargalhada. Andy não conseguia definir o que Embry realmente era, se um homem maduro ou apenas um garoto bobo e zombeteiro. Mas de uma coisa ela tinha certeza: estava deslumbrada com a possibilidade – nunca cogitada em sua vida – de se casar, e se o quileute lhe fizesse o pedido matrimonial, o aceitaria sem reservas.

― Tudo bem, você venceu – confessa finalmente. – Não conseguirei manter essa casa por muito tempo, mesmo tendo algumas economias... Porém, não ficarei em sua casa! Sei morar sozinha, não quero regredir e me tornar o que os ignorantes acham que eu sou: inútil e eternamente dependente.

― Tudo bem. – Sorri, totalmente de acordo. – Agora, ande logo e faça suas malas! – Beija seus lábios de repente, pegando-a de surpresa. – Não vejo a hora de tê-la morando perto de mim...

Embry caminha ruidosamente para o exterior da casa, onde fica a encarar o céu nublado com um sorriso abobalhado nos lábios. Não tivera tanta coragem de pedi-la em casamento diretamente, mas, pelo menos, conseguiu tocar no assunto. E como Andy não repudiou a ideia, o quileute já podia sentir-se realizado... E noivo.

No interior da residência, a ruiva caminhava pelo quarto como se realmente o enxergasse. Era fácil para ela se locomover naquele lugar, pois sabia onde ficava cada móvel, cada parede, cada porta e janela. Andy havia decorado cada centímetro daquele cômodo.

Ela apanha as malas de cima do guarda-roupa, atirando-as sobre a cama. Sabia que provavelmente estavam imundas por fora – nem tanto por dentro, já que estavam fechadas –, mas não tinha tempo e nem sequer vontade de limpá-las. E ali, ela começou a esvaziar seu armário.

Era difícil para Andy distinguir o sentimento que se apoderava de seu coração naquele momento. Ao mesmo tempo em que já sentia saudades de sua casa e nervosismo quanto a nova moradia, também se sentia feliz e esperançosa de residir na mesma reserva e a apenas alguns metros de distância de Embry. Também havia o receio de ser aceito pelos quileutes, numa reserva que pertencia somente a eles, entretanto, a ruiva tentou não se prender muito aqueles receios – até porque, era uma preocupação inútil, pois como imprinting de Embry, seu acesso àquele lugar era livre.

― É assim que se sentem as mulheres independentes e apaixonadas? – questiona ela, sorrindo e pensando em voz alta. – Sinto-me como num conto de fadas...

― Se isso é um conto de fadas – continua Embry do lado de fora, respondendo para si mesmo o argumento de Andy –, estou vivendo meu feliz para sempre! – Sorri.

― Oh, que bonitinho, ele está feliz – zomba uma voz melodiosa, com uma pontada de ironia.

O lobo tem seu rosto atraído por aquela voz instantaneamente, e qual não foi sua surpresa ao perceber que a dona daquele som era uma mulher linda, de corpo bem modelado e pele alva, com cabelos castanhos como os de Bella, e, o pior de tudo, uma vampira.

Embry sente seu lobo bradar em seu peito, era como se já pudesse sentir seus pelos se eriçando com aqueles olhos vermelhos e a presença hostil. O vento soprava diretamente em sua direção, trazendo o odor forte e adocicado daquele corpo gelado, camuflando outro vampiro, cuja presença não fora percebida pelo quileute...

― Quem é você e o que faz aqui? – interroga.

A vampira levanta o indicador num movimento negativo, ao mesmo tempo em que repuxava os lábios vermelhos de batom num sorriso sensual. Se fosse qualquer outro homem diante daquela beldade imortal, certamente cairia de amores por ela, mas isso não aconteceria com Embry, não com um lobo e muito menos com alguém envolvido pelo pela magia do imprinting.

― Não é você que faz as perguntas aqui... Você é o garoto lobo?

― Quem quer saber?

― Eu quero!

― Sim, eu sou o garoto lobo – admite sem rodeios, já que ficar em silêncio não o levaria a lugar algum.

― Até que você é bonitinho... Para um cachorro fedido. – Se aproxima alguns passos, olhando profundamente nos olhos castanhos do quileute e fazendo-o assumir uma posição defensiva. – Belo corpo... – Sorri presunçosa, encarando-o dos pés à cabeça.

― Sabia que posso arrancar esses lábios vermelhos da sua cara num único minuto?

― Eu sei que pode, mas não vai... Os bonzinhos nunca revelam seus segredos para as pessoas comuns.

― E a julgar pela falta de discrição quanto a sua natureza, suponho que não esteja do lado dos bonzinhos.

― Exatamente!

A vampira arrisca mais alguns passos, aparentando confiança, mas temendo interiormente por estar na presença de um inimigo natural. Embry a deixa se aproximar, pois, como ela mesma mencionara, não poderia revelar seu segredo ali, em plena luz do dia e na cidade. Mas estava disposto a trucidá-la caso tentasse passar por ele, e foi justamente o que ela tentou fazer.

― Não ouse dar mais nenhum passo – rosna ele, agarrando o braço nu da vampira e fazendo-a retornar para sua fronte.

― Por que está tão incomodado, cachorro? – provoca, segurando o queixo do lobo com sua mão pálida. – Não tem mais ninguém naquela casa...

Embry sente seu corpo gelar, não pelo toque frio da vampira, mas pelo sinal de alerta que seus instintos estavam lhe dando. E, ao apurar seus ouvidos, ele finalmente se dá conta do silêncio no interior da residência... Andy não estava mais lá.

― Viu? A casa está vazia — cantarola a morena com um grande sorriso, ao perceber que ele empalidecera.

O quileute corre em direção à residência, praticamente arrombando a porta em vez de abri-la. Estava sendo totalmente imprudente ao dar as costas para um inimigo daquela forma, no entanto, o desespero em seu peito era maior que a vontade de ser cauteloso. Andy não estava lá, não estava fazendo as malas como a poucos segundos atrás e isso o deixava apavorado.

― Andy! – grita ele, verificando todos os cômodos, mas não a encontrando.

Quando finalmente entrou no quarto da humana, o quileute sentiu uma mistura de aromas penetrar suas narinas: era o cheiro de Andy, de vampiros e de sangue. E, seguindo o terceiro odor, Embry encontrou respingos do sangue de seu imprinting no tapete felpudo. Algo havia acontecido ali, em questão de segundos, e ele não viu, não ouviu e não sentiu.

Embry sente a cabeça girar, a confusão era nítida em seu rosto e no torpor de seu corpo, e em seu coração novamente se instalava o vazio da distância de Andy. Seu imprinting parecia reconhecer de imediato que ele perdera a sua amada humana.

― Então essa era a humana por quem ele se encantou? – pergunta a vampira sentada à janela do quarto, chamando a atenção para si. – E a julgar pelo seu atual estado, realmente é você o garoto lobo de quem ouvimos falar... O namorado da ruiva, que matou meu cunhado Gregory!

O quileute sente aquela novidade acertar-lhe o estômago como um soco poderoso, dando-lhe náuseas e fazendo sua cabeça rodar novamente. Aquele vampiro desgraçado tinha um clã, e, pior que isso, havia falado de Andy para eles.

― Onde ela está? – pergunta entredentes e num tom quase inaudível.

― A humana está conosco agora! Seus instintos de lobo são bons, mas possuem um ponto cego... O vento denunciou minha identidade, mas protegeu meu companheiro que se movia logo atrás de você. – Pausa, encarando os respingos vermelhos no tapete. – É uma pena que a humana tenha tentado fugir e acabou se machucando, seu sangue deve ter sido tentador para minha família.

― O que querem com ela?

― Não é com ela que queremos alguma coisa...

― Então o que querem de mim? – pergunta amargurado, o rosto contorcendo-se de acordo com seus sentimentos.

― Vingança!


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Notas finais do capítulo

Em primeiro lugar: PERDOEM-ME PELA DEMORA.
Sei que deixei avisado sobre meus trabalhos na faculdade, mas a situação demorou muito mais tempo que o previsto para se acertar. Terminei um trabalho, dai veio um documentário e depois duas provas consecutivas... O atraso acabou sendo bem grande.
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Espero que gostem do capitulo. Tive uma crise criativa no começo dele, mas finalmente consegui deslanchar...
Aqui começamos nosso evento final da fanfic e já alerto a todos que teremos certo grau de tortura na história, como está mencionado no disclaimer da fanfic desde o inicio.
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Muita novidade [não tão boa] está por vir!
Próximo capitulo será: Venha Sozinho