Olhos De Vidro escrita por Jane Viesseli


Capítulo 20
Acerto




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Embry estava mesmo lá, isso queria dizer que era dele aquela silhueta. Andy nunca teria certeza se aquela visão turva realmente era uma pessoa, afinal, não sabia o que era "ver", mas preferia acreditar que sim e preferia acreditar que era o quileute. Por alguns minutos ela o enxergou, não sabia como ou porquê, mas enxergou, e, mesmo que tudo tenha escurecido no final, ela estava feliz.

Muitas coisas ainda voavam por sua mente sem uma confirmação definitiva, como o porquê dele tê-la salvado, dele se importar ou segurar a mão dela naquele momento. Pensando melhor naquele assunto, Andy lembrou-se de outros acontecimentos, e, sem querer ser rude, mas, ainda assim, deixando claro sua intenção, retirou sua mão do aperto de Embry, deixando-o triste: ela não queria a sua aproximação naquele instante.

― Onde está Gregory?

― Longe... Muito longe e não irá mais perturbá-la.

― Ele me mordeu – conta num sussurro, como se o que estivesse dizendo fosse loucura.

Andy toca o ombro instintivamente e, ao notar que havia um curativo ali, percebe que não estava tão maluca quanto imaginava. Um fragmento de memória lhe vem à mente, sobre o segredo que Embry lhe contara a respeito de lobos e de lendas quileutes, tudo parecia fazer sentido agora, depois do que Gregory fizera e provara que existia. E ainda tinha aquela coisa grande a qual ele montara e que sacolejava brutalmente, ela poderia não estar em seu juízo perfeito naquela hora, no entanto, sabia que não se tratava de um cavalo.

― Ele era pirado, mas está longe agora – diz o quileute, completando um raciocínio que ela não ouvira.

― Lembra-se daquelas histórias de lobo, daquele segredo que me mostrou e que... – Engole em seco. – Obviamente eu não vi?

― Lembro...

― São reais? Digo... Reais de verdade?

― Sim, cada palavra era real, eu lhe mostrei... Você o sentiu.

― Senti? – pergunta retoricamente, se lembrado do animal que tocou e que pensara ser uma piada. – O que eu senti? – Suas mãos começam a tremer.

― Eu.

Andy fica em silêncio, esperando por mais explicações.

― Aquele lobo era eu... Sou um metamorfo, um humano capaz de assumir a forma de um lobo.

― E Gregory?

― Gregory não era um lobo, mas também não era humano... Era outro tipo de coisa – cospe a última palavra, sentindo uma pontada de raiva ao lembrar-se dele.

― Um vampiro.

Agora foi Embry a preferir o silêncio, buscando entender como ela chegara àquela conclusão tão depressa.

― Ele me fez sentir sua boca e seus dentes, eles cresceram – continua num cochicho. – Parece uma loucura falando isso em voz alta, porém, eu acredito agora... Foi muito assustador.

Um tremor atravessa o corpo de Andy. Ela vestia apenas uma camisola hospitalar e Embry não sabia se aquilo era medo ou frio, já que as cobertas não protegiam mais o seu tronco. Por via das dúvidas ele sentou-se na cama e a abraçou, espantando o que quer que fosse com seu calor.

Andy apenas deixou-se envolver, tentando não se apegar ao gesto que já fazia um reboliço em seu interior. E depois de alguns segundos ela tenta empurrá-lo, tenta se desfazer seu abraço aconchegante, mas Embry não estava disposto a deixá-la ir, pelo menos, não de novo.

― Solte-me, Embry – pede com voz firme.

― Que bom que... Está melhor! – sussurra ele em seu ouvido, pausadamente, fazendo-a arrepiar.

Ela ri sem humor e pensa por alguns segundos, não acreditando que as primeiras palavras do lobo com respeito a eles seriam tão idiotas.

― Depois de tudo o que aconteceu, é isso que tem a me dizer? "Que bom que está melhor"?

― Sim... Não, quero dizer, sim... Se acontecesse algo a você eu nunca me perdoaria, mas não é só isso que gostaria de dizer... Não consigo encontrar as palavras certas.

― Palavras certas já não importam mais, apenas diga o que quer dizer.

O lobo desfaz o abraço, ajeitando-se na cama e tomando coragem para continuar, mesmo não sendo tão bom quanto sua ela ao usar as palavras.

― Há dias que eu sinto sua falta, que quero somente te tocar, te ver, te ter por perto. Há dias que só de pensar em você, meu peito dói... Provavelmente não faço mais parte de seus pensamentos, mas eu penso em você sempre, mesmo quando não desejo mais pensar, eu simplesmente penso – confessa o lobo, sentindo o rosto umedecer com suas lágrimas silenciosas. – As palavras "sinto sua falta" ecoam em minha cabeça e então novamente me pego pensando em você...

― "É lícito aspirar ao que não se pode alcançar"­ – O interrompe, recitando uma frase de Shakespeare, parte dela realmente não queria ouvir aquelas palavras.

― Por favor, diga-me que não é tarde, sei que errei e que falhei terrivelmente com você, mas diga-me que eu ainda posso alcançá-la. Nada tem feito sentido para mim devido a sua ausência, eu preciso de você, Andy! Eu te amo... Sempre te amei!

― Deveria tomar cuidado com o que fala, ou poderá se tornar escravo de suas próprias palavras.

― Deixe-me tentar de novo – pede com sinceridade, segurando a mão da menina.

― Você tem ideia de tudo o que me fez passar? Tem ideia do que me fez sentir? Fui magoada, humilhada, eu chorei, gritei, me revoltei, me culpei – rebate, puxando sua mão de volta e pensando nos pormenores do que dissera. – Por um instante você me fez vacilar em minhas próprias ideias, de que a aparência não importava... Você colocou tudo o que sou e acredito em dúvida, e isso é inaceitável! – Termina dois tons mais alto do que quando começara.

Tudo o que ela queria era um "perdoe-me". Andy estava inclinada a rendição desde o primeiro momento, desde que reconhecera sua presença ali, bastava apenas ele falar a palavra certa para tudo ser facilmente deixado para trás... Este era o imprinting no fim das contas, o humano – mesmo resistindo no início – sempre se entrega sem reservas ao lobo escolhido. Mas Embry parecia fugir desta palavra tão curta e significativa, e a ruiva irritou-se com isso.

É claro que Edward estava ciente deste pensamento da humana, mas não queria se intrometer, e Alice tampouco deixaria, já que qualquer grande intromissão poderia alterar o futuro que ela enxergara. A vampira se afeiçoara rapidamente à humana, primeiro por gostar de novas amizades, em segundo porque Andy já estava envolvida em seu mundo mítico e, em terceiro, pelo estado ferido em que se encontrava, o que certamente mexeu com seu senso de proteção.

― Você não me ama mais, não é? – cogita Embry, sentando-se de costas para ela. Se Andy dissesse que sim, ele não queria estar cara a cara para saber.

― "Duvides que as estrelas sejam fogo, duvides que o sol se mova, duvides que a verdade seja mentira, mas não duvides jamais de que te amo" – recita Shakespeare novamente.

Embry sente seus lábios se esticarem num sorriso, ela ainda o amava e declarava isso naqueles versos... Santo Shakespeare! O lobo estava gostando muito mais daquele autor chato agora.

― Não sei o que fazer agora – confessa dando de ombros, fazendo um longo silêncio pairar depois disso. – Não vai dizer mais nada?

― Eu sou cega.

O quileute vira-se novamente, ficando de frente para garota que já sabia ser cega, mas porque ela lhe dizia isso? Por que justo essa frase? Tudo de ruim que ele fizera começara por causa daquela frase, será que terminaria através dela também?

― Andy está lhe dando outra chance, está voltando ao momento em que lhe revelou seu segredo para que você faça diferente – dedura Edward, recebendo uma cotovelada de Alice pela intromissão. – Não estrague tudo dessa vez...

― Ow! – resmunga Embry em compreensão, voltando seu foco para Andy. – Isso não importa!

― Importou da primeira vez – acusa ela.

― Eu era um idiota... Sua deficiência não importa mais, eu te amo, vejo em você a melhor parceira que um homem poderia ter e não quero vê-la se afastar de mim nunca mais! – Pausa. – Me Perdoe.

Andy sente a respiração falhar, finalmente ele havia dito a palavra, reconhecendo seu erro e pedindo remissão pelos seus atos. Contudo, antes que qualquer coisa fosse dita, Embry segura sua mão novamente, depositando a palma em seu rosto incandescente e a segurando ali.

― "Eis minha dama. Oh sim, é o meu amor, se ela soubesse disso!" – Suspira, aproximando de seu rosto. – "Ela fala, contudo não diz nada. Que importa? Com o olhar está falando... Vou responder-lhe. Não! Sou muito ousado, não se dirige a mim".

― Romeu? – questiona Andy franzindo a testa, reconhecendo de imediato uma das falas do famoso personagem.

― Sim, Julieta, sou eu, o seu Romeu, que se prostra humildemente ante a sua presença, implorando seu perdão... E o toque dos seus lábios – conclui ele, diminuindo a distância entre seus rostos e a beijando finalmente.

Novamente o quileute sentiu a doçura e a maciez daqueles lábios, percebendo que todo e qualquer vestígio de seu preconceito ficara soterrado em seu passado. Andy era o ser vivente mais importante de sua vida e nada mais o impediria de ficar com ela, nada mais a colocaria em risco, ele estava disposto a protegê-la nem que isso lhe custasse à própria vida.

― Gostei do improviso – cochicha Alice do andar de baixo.

― Eu também – diz Esme, que até então permanecera calada.

― Razoável, em minha opinião – emenda Edward com ciúme, ele definitivamente não gostava de ser ultrapassado no quesito romantismo.

As vampiras reviram os olhos e novamente se silenciam.

― Eu te amo – confessa o lobo novamente, colando suas testas.

― Como pode amar alguém como eu? – pergunta Andy, apenas pensando alto.

― Você é perfeita! – explica ele, fazendo-a sorrir.

Andy sabia que fisicamente não era perfeita, mas, à segunda vista, era tudo o que o quileute sonhara. Ela o completava. Ele a completava. Eram como duas peças que nasceram para se encaixar.


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Notas finais do capítulo

Aqui está a atualização de ontem, desculpem-me o atraso, mas tive dificuldades de acessar a internet... Espero que tenham gostado do capitulo, eu achei que ficou faltando alguma coisa, mas não consegui identificar o que era, rsrs.
Aqui terminamos mais um evento da fanfic e no próximo capitulo, iniciaremos o próximo...
.
O próximo capitulo demorará um pouco para sair ok!? Tenho algumas resenhas e tarefas da faculdade para por em dia, depois que fizer tudo, atualizarei a fanfic ^^
Beijos mil e até o próximo capitulo...