Já deviam ser em torno de meia-noite e o silêncio ainda predominava a praça central de Hillwood. A chuva já havia parado, mas os bancos de ferro ainda estavam molhados e as plantas encharcadas, o que de certo modo era bom, já que tudo ali era morto e sem cor. O céu estava mais limpo, as nuvens sumiam devagar e a lua, que antes estava cheia, agora estava em sua fase minguante, mas ainda brilhava.

O centro da praça, lugar onde Kathleen havia sido enforcada, estava vazio. Apenas o instrumento de enforcamento estava ali, Kathleen havia desaparecido. Provavelmente alguém retirou seu corpo e jogou em qualquer parte densa da floresta, ou talvez alguma pessoa de alma boa resolveu enterrá-la no cemitério, o que era pouco possível.

Um vulto escuro se movimentou pelas árvores mortas e retorcidas da praça e chegou ao local onde do enforcamento. Era Sarah, a capa de cor roxa desbotada não mentia. A Sanguinária passou a mão pela corda e viu o que não deveria estar ali. Sangue. Não era sangue comum, era sangue humano, o que era estranho, já que Kathleen era vampira.

Um pensamento confuso passou por sua mente, fazendo-a estacar.

Sarah colocou o capuz da capa na cabeça e partiu em direção ao imenso castelo dos Sanguinários. Ela tinha muitas novidades.

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Carrie e Amy estavam se esforçando ao máximo para ignorar as reclamações de Sam a respeito da dor nos pés, devido à longa caminhada. Jack conseguiu se safar da amiga mala indo mais a frente, levando as malas, junto com Ella, que analisava os mapas e indicava o caminho.

– Essa caminhada não acaba não? – Sam reclamou pela milésima vez. – Meus pés estão cansados!

– Sabemos disso, Sam. – Amy tentou fazer a amiga tagarela parar de reclamar. – Já é trigésima quarta vez que você diz isso!

– Ninguém mandou a Kate ir se refugiar do outro lado do mundo! Ela podia muito bem estar empoleirada em uma dessas árvores. – Amy apenas revirou os olhos e começou o silêncio.

– Ei, meninas! Hillwood é aqui pertinho. Apenas mais alguns minutinhos de caminhada. – Ella quebrou o silêncio.

– Alguns minutinhos? – Sam reclamou pela trigésima quinta vez, mas dessa vez falou em um tom mais alto. – Meu pé tá doendo, já é noite e eu não consigo mais dar um passo!

– Você atravessou uma floresta inteira, então se recusar a dar mais um passo, eu te faço voltar isso tudo, ouviu? – Jack disse em tom de piada e as garotas, com exceção de Sam, riram. Samantha apenas continuou o percurso de cara emburrada e com os braços cruzados.

Não demorou muito para que eles chegassem a Hillwood. Um grande arco de ferro enroscado em algumas plantas mortas com um letreiro em cor escura escrito “Hillwood, a cidade do sangue” anunciava a chegada. Os cinco adolescentes entraram na cidade e foram em direção a um hotel para passar a noite, por mais que já fosse tarde.

Por sorte, acharam um hotel que estava aberto e adentraram o local. Na mesa de recepção, uma mulher loira de olhos vermelhos que aparentava ter em torno de 20 anos anotava coisas aleatórias em um caderno de capa escura.

A aparência daquele hotel não era das melhores. O papel das paredes já estava se rasgando e aparentava ter mofo, o piso era de madeira e estava cheio de buracos, um lustre com velas negras tentava iluminar o local e o sofá que servia para os hóspedes se sentarem estava com buracos, devido às molas, e rasgões enormes em todo ele.

– Tem vagas? – Sam debruçou-se na mesa da recepção.

– Oh, sim! Temos dois quartos disponíveis, um com uma cama de casal e outro com três beliches.

– Ficamos com o das beliches. – Amy viu o valor da diária em um quadro na parede e jogou o dinheiro na mesa.

– Certo. – A mulher entregou as chaves a Amy.

– Sabe alguma coisa a respeito de Kathleen Van Gould? – Jack não resistiu e perguntou.

– Ah, sim! – O rapaz sorriu. – Morreu enforcada essa manhã na praça.

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Sarah estava na sala do trono junto a Henry, Elliot, Joseph e Octavio, conversando a respeito de Kathleen.

– Sangue humano? – Octavio questionou quando Sarah contou que achou sangue humano na corda do enforcamento. Ele estava sentado em seu trono e acariciava a barba. – Isso é impossível! Kathleen é uma vampira da linhagem Van Gould! Todos os Van Gould são vampiros legítimos.

– Donna era uma vampira rebelde, boatos dizem que o ela teve um caso com um humano antes de se casar. – Ela fez uma pausa, suspirou e falou em um tom sereno. – Existem possibilidades de Evan não ter sido um vampiro.

– Impossível. Como explica a pele pálida e fria e os olhos vermelhos?

– Ele nunca aparecia em público junto a Donna, só o víamos nas festas e suas feições não pareciam muito naturais. Maquiagem.

– Certo. Mas diga-me, Sarah, Kathleen está morta?

– Com toda certeza. Não é mais uma ameaça para nós.

– Ótimo – Octavio abriu um largo sorriso maligno. – Crianças, promovam um grande baile formal em comemoração ao nosso poder supremo. Exijam o comparecimento de todos, quero toda Hillwood nesse castelo! – Deu uma risada maligna.

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Jack estava com a cabeça afundada em uma almofada que estava em cima da cama e chorava sem se importar com o que iriam achar dele. As outras garotas estavam com os olhos marejados, inclusive Ella que mal conhecia Kathleen.

Todos estavam arrasados, era uma grande perda, principalmente para Jack.

Sem pensar muito, o rapaz saiu do hotel com a capa de Kathleen nas mãos e foi em direção a praça. Ele precisava de um tempo para pensar. Caminhou vagarosamente até a praça e sentou-se em um banco, que por sorte estava seco. Em um ato imediato, começou a pensar em Kathleen e em como ele a magoou.

Vê-la chorar era a pior e a mais triste coisa que ele já viu na vida. Jack não queria ter matado os pais de Kathleen e muito menos a deixar magoada. Ele a amava. Nunca quis nada de ruim para Kathleen, pelo contrário. Vê-la sorrir era a coisa mais bonita que ele já viu na vida, e agora ele a perdeu. Nem pode pedir perdão ou sentir os lábios macios dela nos seus.

Seus pensamentos tristes foram interrompidos quando viu uma garota andar sozinha pelas calçadas quebradas de Hillwood. Olhos vermelhos e profundos, cabelos negros ondulados com cachos macios nas pontas e um olhar perdido e melancólico.

Kathleen.