Queimando escrita por Nina F


Capítulo 5
Capítulo Quatro


Notas iniciais do capítulo

Ai está (: Espero que gostem!



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O som da buzina faz com que Violet faça uma careta enquanto está sentada na cama, me observando.

- Acha que trouxeram câmeras? – ela me pergunta.

- Talvez. – respondo passando os braços pelo casaco preto de couro que minha mãe separou para mim.

Violet me olha, agitando as pernas. O tricô azul turquesa que ela veste por cima da blusa listrada contrasta de um jeito bonito com a pele morena. Ela prendeu a franja do cabelo meio de lado, meio para trás. Assim parece ter no máximo quinze anos.

- Pronta? – pergunto enquanto penteio o cabelo em frente ao espelho.

Ela murmura em concordância e pula da cama.

Violet estende a mão para mim e eu a seguro, entrelaçando nossos dedos. Nós descemos as escadas em silencio, já ouvindo o falatório de Megara. Na sala a primeira coisa que faço é olhar para Violet, acenando de jeito discreto com a cabeça. Há sim uma câmera. Ela aperta minha mão levemente.

- Aí estão vocês! – exclama Megara ao nos ver. – Eu senti tanto a falta dos meus tributos preferidos.

Megara só falta cair aos prantos quando se agarra a mim e a Violet, seus cabelos e roupa num rosa que dói os olhos.

- Nós também sentimos sua falta, Meg. – diz Violet sorrindo quando ela finalmente nos solta.

- Quanta ingratidão! – exclama Victor.

- Deixe de ser ciumento, também senti saudades suas.

Violet o abraça.

- Não era para vocês terem vindo há alguns dias? – pergunto a Mars, abraçando-a.

- Ah era, - ela diz. – têm ocorrido alguns problemas com o transporte.

- E com alimento, e energia, e roupas... – completa Megara.

Victor e Megara ainda mantêm a mesma aparência que tinham desde a ultima vez nos vimos, já Mars agora está ruiva, o que a diferencia um pouco do irmão. Bem, Mars nunca realmente disse que Victor é seu irmão, mas a semelhança deles é tamanha que é impossível eles não terem algum grau de parentesco.

- Vou deixar que vocês conversem a sós. – diz minha mãe mais atrás deles, após fechar a porta, com um olhar receoso. – Estarei lá encima se precisar de mim, Cato.

Assinto e minha mãe desaparece nas escadas. A visita de Snow há alguns dias parece ter finalmente acordado meus pais para o que realmente está acontecendo, para o que eu fiz e para o perigo que corremos.

Eu olho repetidas vezes para o homem portando a grande câmera e isso parece alarmar Megara.

- Eles farão algumas tomadas para uma espécie de vídeo chamada da turnê de vocês. – explica ela.

- Meg, - digo, tentando relaxar mesmo com a presença da câmera. – falando na turnê, tenho péssimas noticias... Vai ter de arrumar algo para que eu mostre a eles.

Eu, Violet, Victor e Mars começamos a rir enquanto Megara tem um ataque. Ela começa a gritar, me perguntando por que não falei sobre isso mais cedo, que agora já está tudo encima da hora. Demora um pouco até que consigamos acalmá-la.

- Sei que é competente, Meg. É a melhor escolta que existe, vai logo arranjar algo para este inútil. – diz Violet.

- Ei! Eu não sou inútil.

Violet me olha rindo e até Megara sorri um pouco.

- Agora, - diz Mars. – temos de mostrar a vocês o que fizemos para sua turnê.

Só então reparo nas grandes pastas que ambos trazem nas mãos. Nós nos sentamos nos sofás e eles nos entregam as embalagens de couro. Eu ouço um “bip” e algo me indica que estamos sendo filmados.

- Nós decidimos vesti-los de um modo complementar. As mesmas cores, o mesmo estilo... – explica Victor. – É mais impactante. Reparei que obedeceu ao meu pedido, Violet, e deixou que o cabelo crescesse. Isso ficará perfeito com a imagem que queremos de você agora.

- Nós queremos mostrar que vocês dois já não são dois adolescentes, dois simples tributos. Queremos mostrar a eles que vocês cresceram, agora são vitoriosos, entendem? Sua essência se tornou mais adulta.

Eu e Violet assentimos e abrimos as pastas. Na minha há doze folhas grossas de papel, num tom bege. Coloco a pasta de lado e as coloco sobre minhas pernas, são doze modelos diferentes de roupas.

- Vocês fizeram os desenhos? – pergunto.

- Sim, eu fiz os seus, Victor os de Violet. – me responde Mars.

Continuo observar as figuras desenhadas graciosamente no papel, com o que acredito ser nanquim e uma espécie de aquarela. Todas elas foram feitas realmente pensando em mim, o tronco e os braços largos como os meus. O queixo quadrado, dando acabamento à parte de cima do boneco. As roupas são uma mistura de ternos clássicos e conjuntos de calças e casacos mais informais.

- Fizemos roupas mais elaboradas para os distritos mais... Sofisticados, se podemos assim dizer. – diz Victor. – A ultima folha contém o desenho para a visita à Capital, no final da Turnê.

Passo os desenhos um por um, observando a todos até que chego ao ultimo. É realmente a roupa mais formal e sofisticada, é o que se espera de algum magnata da Capital.

- Caprichou dessa vez, hein? – digo, me virando para Mars.

Ela sorri.

- Obrigada, mas... Victor ainda precisa de sua aprovação para os vestidos de Violet. Ele não quer apanhar depois.

Nós rimos.

- É claro, me dá isso aqui, Violet. Deixa eu ver.

Mas Violet parece absorta demais nos desenhos de seus vestidos para ao menos prestar atenção no que estamos dizendo.

- Violet... – torno a chamar estralando os dedos à frente dos seus olhos.

- Ham? Que foi? – ela acorda, nos fazendo rir.

- Deixa eu ver seus desenhos.

Eu estendo a mão e ela me entrega os papéis que segura, enquanto elogia Victor, ao passo que também dou os meus a ela.

Os esboços dos vestidos de Violet também foram todos feitos pensando exclusivamente nela. Os quadris ligeiramente largos em comparação a cintura e os ombros, o jeito, a postura do corpo. Não posso deixar de sentir um pequeno de ciúme vendo Violet tão descrita naquele desenho, até mais além do que eu já pude ver. Eu imagino como cada um dos modelos ficará nela e começo a sorrir automaticamente. Realmente observo afinco os decotes, os comprimentos, as fendas. Nunca brinquei quando disse que não gostava de Violet muito exposta.

É perceptível a proposta de Victor e Mars, as roupas são bem mais adultas e formais, todos os nossos trajes combinam no estilo e nas cores. Também dá para notar que em cada distrito vestiremos cores que de algum modo estão relacionadas a ele, preto no doze, azul no quatro... Deixaram o dourado para a Capital. Para o jantar na mansão da cobra... Digo, do presidente Snow, usarei um smoking claro e Violet um vestido dourado com uma fenda não tão exagerada nas costas e uma leve cauda.

- Não vejo motivos para te bater Victor. – digo sorrindo. – Estão todos eles excelentes.

- Que bom que você também gostou.

- Os de Mars também estão incríveis.

- Que bom que gostaram.

- E gostei do cabelo também. – elogia Violet.

- Ah, obrigada. – agradece Mars, agitando os cachos sobre os ombros.

Megara pigarreia, sentada à poltrona.

- Os trajes são ótimos, tenho de concordar, mas não são só eles que contam para a turnê de vocês.

- O dia correto já foi marcado? – pergunto.

A questão parece incomodar Megara, já que ela faz uma careta.

- Na verdade não, mas sei que devemos ter no máximo um mês. Agora temos de arranjar algo que você possa mostrar como talento, Cato. E Violet, eu preciso saber o que você irá fazer.

- Eu na verdade toco piano desde pequena. – diz Violet. – Acho que é uma coisa inédita.

- Realmente, não é algo comum, mas é muito atraente. – ela concorda animada. – Vocês sabem do cronograma?

- Iremos ao distrito doze e então seguiremos em ordem decrescente até a Capital. Meg, nós assistimos isso todo ano.

Ela para pensativa por um momento e então suspira.

- Então... é isso. Vamos, Victor e Mars?

- Como assim? Você mal chegaram ao dois e já vão voltar?

Nós nos levantamos e Victor nos olha cansado.

- Como dissemos estamos tendo alguns problemas na Capital, o transporte está um caos. O nosso trem ficou no esperando na estação porque, do contrário, correríamos o risco de ficarmos aqui sem data para volta.

Eu e Violet nos entreolhamos e enquanto nos despedimos deles posso apostar que pensamos o mesmo. A rebelião está se agravando.

- Querem que levemos vocês na estação? – ela pergunta.

- Ah, não, não é preciso. – diz Megara. – Não vamos mais tomar o tempo de vocês.

Nós os levamos até o portão, apertando os casacos contra o corpo por conta do frio e ficamos acenando enquanto o carro sai da Aldeia dos Vitoriosos.

- Agora temos um mês, no máximo. – digo.

- É... Você não acha estranho? Essa imprecisão na data da turnê? Todas as turnês das quais eu me lembro tinham datas bem definidas, marcadas com antecedência e tudo o mais. – diz Violet.

Eu encolho os ombros.

- Acho que é por conta dos levantes nos distritos, as coisas não devem estar lá muito organizadas na Capital...

Violet ergue as sobrancelhas concordando.

- Quem eram aqueles lá? – a voz de Enobaria se faz ouvir.

Eu e Violet nos viramos e ela está parada do lado de fora do muro.

- Nossos estilistas e Megara.

- Ah sim... Megara, não a vejo há um bom tempo. A turnê já foi marcada? – ela pergunta.

- Ainda não. – a voz de Violet tem um tom desconfiado.

- Estranho.

- Também acho. Eles vieram mostrar os modelos que vamos usar.

- Ah sim... De qualquer forma, vim avisar que o sorteio dos mentores vai ser amanhã. No Edifício da Justiça, duas horas, tudo bem?

- Mas amanhã tem treinamento... – digo.

- Foi adiado para as três, por conta do sorteio.

Eu e Violet assentimos.

- Violet! – chama a voz animada de Tobias. Ele desce as escadas e se aproxima de nós.

- Que?

- Acabaram de me ligar, consegui mais um mês inteiro aqui. – ele diz sorrindo.

- É sério? – Violet sorri, abraçando o pai.

- Como fui ferido em combate, eles acharam melhor me dar um tempo extra... – os olhos de Tobias pousam sobre Enobaria e sua expressão muda rapidamente. – Que grosseria a minha, olá.

- Oi. – diz Enobaria.

Eu e Violet nos olhamos automaticamente. Tobias e Enobaria estão se encarando de um jeito bem... Estranho.

- Eu sou Tobias Beauregard. – diz ele, estendendo a mão para Enobaria, que parece tão boba que demora a retribuir o cumprimento.

- Enobaria...

- Enobaria O’live, vencedora da setuagésima segunda edição dos Jogos Vorazes. – Tobias sorri.

- É. – Enobaria também sorri. Os dentes modificados são pouco perceptíveis.

- Sou o pai da Violet.

- Ah, sim, é claro. São bem semelhantes... Os olhos...

Tobias, com as mãos nos bolsos, analisa Enobaria de um jeito discreto, mas cuidadoso. Ela perceptivelmente faz o mesmo, os olhos dos dois têm um brilho tão diferente que até a pessoa mais lerda no mundo poderia perceber o que se passa. Eu de repente vejo a mim e Violet, dentro daquele carro, depois da Colheita, eu reconheço nós dois em Tobias e Enobaria.

Violet se afasta do pai e fica ao meu lado. Um silêncio estranho perdura enquanto Tobias e Enobaria têm os olhos fixos um no outro.

- É... – Enobaria parece acordar de um transe e se lembrar de que eu e Violet ainda estamos presentes. – Tenho que ir agora, passar no Centro de Treinamento... Hoje é dia de entregar o controle de desempenho dos alunos.

- Você é treinadora? – Tobias pergunta interessado.

- Treino as turmas de dezesseis a dezoito, bem, parte delas. Foi bom conhecer você, Tobias. – ela sorri.

- Digo o mesmo, Enobaria.

Ela acena para nós e sai em direção ao centro do distrito. Eu e Violet continuamos boquiabertos enquanto Tobias mantém o olhar longe.

- Ora! Também preciso ir, vou até o Edifício da Justiça. Pode colocar Breeze pra dormir para mim, Violet?

Violet murmura um “aham”.

- Tudo bem, até mais. Juízo vocês dois.

Ele sorri abertamente e também sai.

Violet observa o pai, até que ele desapareça de vista e então se vira para mim. Espero vê-la irritada ou algo do gênero, afinal, seu pai acaba de flertar com Enobaria, mas sua expressão está entre confusa e divertida.

- Meu Deus... O que diabos aconteceu aqui? – ela ri.

- Eu também queria muito saber. – quando percebo também estou rindo.

- Eles... Eles... – Violet gagueja. – Eles estavam...

- Melhor ficar sem saber. – digo, fazendo-a rir.

- Isso foi estranho... – ela ri enquanto entramos.


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Notas finais do capítulo

E então mereço reviews? Beijos!



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