Queimando escrita por Nina F


Capítulo 4
Capítulo Três


Notas iniciais do capítulo

São 00:30 então tecnicamente é segunda-feira e eu estou postando :D Na verdade estou aqui até agora, embora esteja com sono, escrevendo Queimando. Bonito, Marina, bonito... Fora que ninguém sabe que eu escrevo aqui em casa, dai toda hora que alguém entra no quarto, eu fecho tudo correndo... Tá, estou bêbada de sono e não to falando coisa com coisa. Vamos à fic!



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- Duvido que você consiga, nem o Cato conseguiu.

- Duvida?

- Aham.

- Fazemos uma aposta então, se você for mais rápido eu... Te livro das flexões no treinamento durante duas semanas inteiras.

- Fechado.

- Pode trazer duas taças grandes. – pede Violet para a mulher que está nos atendendo.

Hoje é quinta-feira então eu não tenho que trabalhar, nem Violet tem de ir para a escola. Gabe não teve aula porque é dia de conselho de classe então o trouxemos para tomar sorvete no centro e agora ele e Violet disputam quem consegue comer primeiro uma taça gigante de sorvete. Eu rio com a cena, os dois parecem ter a mesma idade. Achei legal trazermos Gabe para nos distrairmos um pouco, até eu me sinto mais relaxado. Desde a nossa conversa com Tobias, há mais ou menos uma semana atrás, eu tenho me sentido mal e isso ainda se soma com o nervosismo que sinto por conta Turnê da Vitoria. Por mais que essa turnê seja a solução dos meus problemas com Snow, eu não consigo imaginar a possibilidade de olhar no rosto das famílias as quais os filhos eu matei, ou ajudei a matar.

- Pra mim pode ser uma taça média mesmo. – digo e a garçonete sai. – Vocês têm cinco anos ou o que?

Os dois riem.

- Ele me desafiou no sorvete, - Violet se finge ofendida. – isso é uma questão de honra.

Não demora muito até que as taças cheguem, e dessa vez outra garçonete as traz.

- De quem é a média? – ela pergunta.

- É minha. – digo rindo das idiotices de Violet e Gabe.

No final, Violet acaba vencendo Gabe no “desafio do sorvete” e ele insiste em dizer que ela trapaceou. Eu deixo uma boa quantidade de dinheiro encima da mesa, já que sorvete é uma iguaria cara por aqui. Ouvi falar que nos outros distritos isso nem existe.

- Violet, pode levar o Gabe pra casa pra mim? – pergunto.

Violet me olha confusa.

- Posso... Porque?

- Vou visitar os pais da Clove, - ainda sinto um nó na garganta ao falar dela. – deve ter mais de um mês que não apareço por lá.

- Tudo bem. – Violet sorri.

Ela sempre foi muito compreensiva quando o assunto é Clove, nunca sentiu ciúmes nem nada do tipo. Amo isso nela.

Enquanto Violet e Gabe vão em uma direção, eu sigo para o lado oposto. Para a região do dois onde eu morava antes de ir pela segunda vez para os Jogos Vorazes. Como eu e Clove sempre fomos muito grudados, a minha casa era a segunda casa dela e vice versa, nós morávamos apenas a alguns metros de distancia.

São alguns minutos de caminhada até que eu chegue, o portão baixo de madeira, padrão das casas daqui do distrito, o amarelo bem claro das paredes me é familiar, mas agora tudo tem um tom triste de saudade. Eu me demoro um pouco, chutando um ladrinho solto na calçada. Clove sempre tropeçava nele e depois xingava os nomes mais obscenos que já ouvi, me fazendo rir. Tomo coragem e abro o portão, fechando-o ao passar. Eu já visitei a família de Clove depois que voltei dos meus primeiros Jogos e também depois que me tornei um vitorioso. As ultimas visitas que fiz foram as piores e essa vai se juntar ao time. Eu estou rico, com um titulo de vitorioso enquanto a filha deles está morta.

Bato à porta e me encosto na parede, ouço passos do outro lado e então um clique metálico.

- Cato! Que bom ver você... – a mãe de Clove, Catherine, aparece à porta. – Não quer entrar?

Assinto e adentro a casa, tudo continua do mesmo jeito.

- O que o traz aqui? Aconteceu alguma coisa?

- Não. – digo sorrindo. – Apenas quis passar por aqui. Ver vocês.

Catherine sorri e me encaminha para a cozinha. Clove era idêntica à mãe.

- Cato... – ela usa seu tom preocupado, mas ao mesmo tempo brincalhão, do qual me recordo bem. – Você agora é um vitorioso, deve ser ocupado. Não se preocupe tanto conosco.

- Não é porque sou um vitorioso que mudei, Catherine. Ainda continuo o mesmo Cato que você conheceu com apenas seis anos de idade.

Eu me sento em uma cadeira na mesa, a que sempre costumei sentar. Clove se sentava a minha esquerda.

- Ah sim... – Catherine se encosta na pia e me olha nostálgica. – Olha pra você... Já está um homem. Ainda lembro-me de quando você talhava a arvore do quintal com a espada que usava pra treinar.

Eu estico o pescoço para enxergar pela porta que dá para os fundos da casa e vejo a arvore que costumávamos usar como alvo. A mais ou menos um metro e meio do chão há varias marcas de espada que fiz quando era pequeno. Trinta centímetros abaixo estão as marcas das facas de Clove, ela sempre foi muito baixinha e naquela época ainda errava o alvo frequentemente.

- Você também sente falta dela. – a voz embargada de Catherine me acorda.

Olho-a e percebo que meus olhos estão molhados.

- Desculpe... Por não trazê-la de volta. – esforço-me para falar.

A mãe de Clove fecha os olhos e faz um sinal negativo com a cabeça.

- Cato, não foi sua culpa. – ela diz. – Eu sei que fez o possível para protegê-la, afinal você se voluntariou por ela...

Eu abaixo a cabeça e choro silenciosamente. É verdade, houve um motivo para que eu me voluntariasse. Na verdade, eu já o faria porque tinha a ânsia de ser um vitorioso, mas quando o nome “Clove Sevina” foi tirado do globo das meninas, já não era só o desejo de ir para os Jogos. Eu fui para proteger Clove. Eu não abandonei esse pensamento e sei que ele jamais sairá da minha cabeça: Clove morreu por minha causa. Eu não dei cobertura a ela no Ágape e então Thresh à matou. Thresh, a única morte que levo nas costas da qual não me arrependo.

- Acha que Clove estaria orgulhosa? - pergunto

- Com toda a certeza.

Catherine e eu passamos alguns minutos em silencio.

- Então, tudo vai bem?

- Sim, está tudo ok. – ela me responde. – Pena que John não está em casa, ele teria adorado ver você.

- E Eric? Por onde ele anda?

Catherine faz uma leve careta. Eric é o irmão mais velho de Clove, ele deve ser no máximo três anos mais velho que eu. Eric sempre foi, digamos, um pouco “revoltado”, sempre foi um sujeito estranho.

- Eric entrou para os pacificadores.

Eu não posso evitar arregalar os olhos com a notícia. Eric? Pacificador? Não posso acreditar.

- O Eric? Pacificador? Quando foi isso?

- Já faz algumas semanas.

- E ele entrou mesmo? Digo, saiu do dois e tudo?

Catherine assente.

- Ele esta no onze agora.

- Ta ai uma coisa que eu não esperava... Bem, acho que vou indo.

Catherine me leva até a porta.

- Se precisarem de algo, me avisem tudo bem? – digo.

- Pode deixar, - ela sorri. – e boa sorte na sua turnê. Está perto não é?

Assinto. Me despeço de Catherine e sigo novamente em direção à Aldeia dos Vitoriosos. Está ficando cada vez mais frio e eu me arrependo de não ter pegado alguma jaqueta quando sai de casa. Assim que me aproximo da entrada noto uma movimentação diferente e estranha. Os outros vitoriosos estão fora de suas casas, alguns nas varandas da porta da frente, outros no jardim no meio da aldeia. Há um carro preto e luxuoso parado em frente à... Minha casa.

O portão está aberto e a porta apenas encostada. Enquanto subo as escadas sinto os olhos das pessoas em mim. Abro a porta e meus pais, assim como os de Violet estão sentados na sala. Mais atrás três homens estão parados. Ternos pretos luxuosos e perfeitos, feições artificiais. Capital. Automaticamente algo frio parece rastejar pela minha espinha.

- Cato, - minha mãe diz sorrindo, claramente tentando esconder o nervosismo. – tem alguém querendo ver você.

Tenho vontade de perguntar onde está Violet já que seus pais também estão aqui.

- Por aqui, senhor Stoll. – diz um dos homens, me interrompendo.

Ele se encaminha para o corredor e eu o sigo até a porta do escritório, agora fechada. Ao que o homem gira a maçaneta sinto meu estomago dar voltas, mas ele parece realmente querer sair pela minha boca quando a porta é aberta.

O presidente está sentado à mesa do meu escritório, mexendo uma xícara de chá.

Eu fico parado à porta durante alguns momentos, minha cabeça parece ter ficado oca até que o homem me empurra levemente e a porta se fecha atrás de mim. Snow ergue seus olhos para mim e sorri de uma maneira assustadora.

- Ora, Cato, quanta demora. – ele diz. – Eu e sua namorada estamos esperando há um bom tempo. Sente-se.

Olho para Violet bastante ereta na cadeira, de costas para mim. Eu quero andar mas minhas pernas insistem em não obedecer, com custo eu caminho e me sento na cadeira que sobra. Olho para Violet, esperando receber um olhar assustado, mas seu semblante é amargo, ressentido e intenso. Como se tudo o que mais desejasse agora era pular no pescoço de Snow.

Mas, o que ele faz aqui? Até hoje só vi Snow na Capital, ele nunca saiu de lá e se deslocou para algum dos distritos. Não que eu saiba. Se ele está aqui, no dois, sentado à minha frente boa coisa não pode ser.

- Seria muita indelicadeza da minha parte perguntar onde estava? – o jeito como ele finge estar numa conversa casual entre amigos, mas ao mesmo tentando nos intimidar me dá nojo.

- Fui visitar alguns amigos. – respondo secamente.

Snow beberica um pouco da bebida na xícara e nos olha novamente.

- Ah, claro. Mas, bem, vocês são dois jovens e presumo que têm coisa muito mais importante à fazer do que estarem aqui, sentados, conversando com um velho. - ele começa. – Então, vamos ser breves.

Eu e Violet nos mantemos calados, encarando Snow. Procuro a mão dela, pousada no braço de sua cadeira e entrelaço nossos dedos. Vamos precisar da força um do outro agora.

- Por volta de um ano atrás, eu fiz uma viagem com o mesmo propósito desta que estou realizando agora. Eu estive no distrito doze, vocês imaginam para que?

Eu e Violet parecemos ter feito um voto de silencio.

- Eu fui até a casa de Katniss Everdeen, me sentei à mesa de seu escritório e tive com ela a mesma conversa que terei com vocês dois. Para pouparmos tempo vamos concordar em não mentirmos aqui, sim?

Eu e Violet gelamos.

- É claro. – digo, reunindo toda a minha coragem.

- Vou ter a colaboração de vocês?

- Sim. – Violet diz firmemente.

Snow apóia os cotovelos sobre a mesa, juntando as mãos.

- Eu estou com um problema, não, um problema não. Isso já se tornou uma catástrofe. Era apenas um problema quando eram apenas a senhorita Everdeen e senhor Mellark, mas então... Vocês resolveram aparecer.

Reparo no jeito como ele finge esquecer da minha participação na septuagésima quarta edição dos Jogos. É como se eu estivesse na arena pela primeira vez agora, com Violet. Parece que o “erro” que eu fui ele resolveu apagar, já que não pôde resolver. Prefiro ficar calado e deixar que ele prossiga.

- Antes de qualquer coisa tenho uma simples pergunta para fazer ao senhores. Por acaso, seu ultimo ato na arena, aquela ameaça de suicídio, foi inspirado na senhorita Everdeen?

- Não. – respondo, já que quem teve a idéia fui eu.

- Ah sim... – ele assente, mas posso sentir um pouco da ironia de sua voz.

Enquanto Snow fala, eu noto a presença de um cheiro estranho no ar. Eu nunca havia sentido antes e me dá náuseas, mas com minha experiência em arena posso afirmar que um dos elementos do odor é sangue. O outro, rosas. Observo que o presidente carrega uma rosa na lapela, um dos fatores está explicado, agora... De onde vem o cheiro de sangue?

- Você sabe onde se encontra Sêneca Crane agora? O Idealizador das edições anteriores à sua? – ele pergunta mais especificamente para Violet, ainda não mencionando minha sobrevivência acidental aos Jogos.

- Não faço a mínima idéia. – ela mente. Sêneca está morto e nós dois sabemos disso.

- Sêneca era realmente bom, mas seu sentimentalismo era um defeito. Pode então imaginar como está Marcus Rogers? O Idealizador dos seus Jogos?

- Recebeu um fim tão bom quanto Sêneca? – Violet ironiza.

Snow sorri sinistro.

- Vocês dois, os namorados assassinos do distrito dois... É assim que os chamam não é? A Capital adorou. Eu não. Vocês não têm acesso a situação dos demais distritos, mas, devo dizer que a população deles se animou bastante com a pequena novela de vocês. Eles não viram o que fizeram como uma prova de amor, eles viram seu quase suicídio duplo como uma forma de desafio à Capital. O mesmo foi com os do distrito doze e aquele punhado de amoras. Na verdade, da primeira vez que isso ocorreu – ele se refere a Katniss e Peeta. – foi o suficiente para agitar os distritos, houveram alguns pequenos levantes, ora, dois adolescente pobres do ultimo distrito. Agora, vocês... Depois de vocês alguns distritos precisaram de reforços, dois adolescentes do distrito mais forte...

Eu e Violet nos mantemos sérios enquanto escutamos a mesma coisa que Tobias nos disse.

- Revoltas levam à rebeliões, em rebeliões a desgraça cai sobre o povo. Milhares de pessoas mortas, uma vida insustentável... Vocês não iriam querer vivenciar isso. Nós, de Panem, somos uma população pequena, uma revolução talvez nos extinguisse. O sistema de controle dos distritos é crucial e se quebrado pode gerar danos incalculáveis.

Eu percebo o que Snow quer. Nós somos do distrito dois, os alienados que idolatram a Capital, enfeitiçados por um luxo a mais, uma boa vida que levamos. As pessoas que realmente têm potencial contra a Capital no caso de uma guerra. Snow não veio até aqui para bater de frente comigo e com Violet, ele está tentando nos alienar novamente, uma vez que os Jogos destruíram a espécie de nevoa que encobria nossos olhos de enxergar a verdade por trás do governo da Capital, que antes parecia tão correto. Ele sabe que Violet e eu somos influentes demais, nós atingimos até os distritos carreiristas os quais a Capital tem interesse em manter por perto por serem os mais perigosos caso se voltem contra ela. Snow pensa que se entrássemos no esquema da revolução, um comunicado bastaria e os distritos mais fortes estariam conosco. Não estou certo de que seria tão instantâneo assim, mas ele está em apuros com a idéia. Ele está tentando nos cercar, nos levar para o seu lado novamente, à seu favor.

- Nós não tínhamos a intenção de iniciar uma rebelião. – diz Violet.

- Eu acredito. – ele sabe fingir compreensão muito bem. - Eu realmente quero poupar vidas... Katniss acendeu uma fagulha e vocês fizeram essa fagulha crescer e agora um incêndio está na iminência de começar. Uma vez que ele começar, destruirá tudo e todos...

- Apenas diga o que quer que façamos. – corta Violet com a voz firme.

- Não duvido de que realmente haja amor entre vocês dois, isso é perceptível á todos então pedir para que exaltem seu amor um pelo outro em frente as câmeras não será o bastante. Quero que vocês se tornem parte de nós.

Eu e Violet nos entreolhamos pela primeira vez, confusos.

- Mostrem a eles que vocês estão com a Capital, como dois bons cidadãos do distrito dois. – diz Snow. – Que amam o seu governo. Mostrem que vocês são parte de nós agora, que apóiam a nós e não aos distritos.

- Nós o faremos. – digo. – Mostraremos aos distritos a nossa idolatria pela Capital.

Snow ri, sombrio.

- Vou repetir exatamente o que disse a senhorita Everdeen. – ele faz uma pausa. - Não convençam a eles, convençam a mim.


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Notas finais do capítulo

Violet e Cato estão lascados, sim ou claro? Gente, eu nunca digo, mas se tiver algum erro na fic, se tiver algo que vocês não estejam gostando pooor favor me digam, ok? Meus reviews por favor *-* ( e já estou aceitando recomendações na outra fic... Não mentira, não vou ser tão chata assim) e... QUEM AI VIU O TRAILER, MINHA GENTE? Alguém morreu como eu? Diga pra mim o que acharam kkk Beijos!



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