Wesen Para Matar escrita por GhostOne


Capítulo 23
Noite apaixonada


Notas iniciais do capítulo

Oie!
Finalmente cheguei aqui! Estamos virando a curva pra reta final da história, loves, nem creio ;_; mas o fim em si ainda está longinho, então relaxem. Enfim, espero que gostem!
Boa leitura, viados!



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“O príncipe, encantado com essas palavras, e ainda mais com a maneira que foram ditas, não soube como expressar sua alegria e gratidão, e a assegurou que a amava mais do que amava a si mesmo.”

*

E lá estava eu.

Vestida com uma blusa estilo suéter, justa e cor vinho, uma saia longa, de pano macio e preto, botas de cano alto e o cabelo amarrado em um rabo de cavalo, no ponto em que tínhamos combinado, onde ele tinha me beijado.

Pela segunda vez.

De língua.

YAY!

Aí eu ouvi o ronco de uma moto e olhei pra trás (eu ainda estava sentada na minha). Era Michael, numa moto prata-escuro absurdamente linda, que eu deitava no chão pra ela passar por cima de mim. Faltei babar.

Ele também estava lindo. A familiar jaqueta de couro (uma constante nele, por mencioná-la), uma calça jeans, mas uma camisa mais formal, cinza claro, por baixo. Não sei o quê, mas ele parecia estar vestido de uma maneira especial.

− Olá, linda. – Ele suspirou. – Vou descontar todas as duas, três horas que eu fiquei sem te chamar de linda, gata, docinho e semelhantes. E baby.

− E eu vou gostar disso. Então, onde vamos? – Ele fez a maior cara de culpado da história das expressões faciais, e um biquinho lindo.

− É, vai ter que me descontar essa, love. Desculpe. As partes ruins de ser um fugitivo desempregado. – Ele deu de ombros e eu ri.

− Tá tudo bem. Mas tem algo aí? Vamos comprar uma pizza rapidinho, ou hambúrgueres. – Ele revirou os bolsos, e puxou umas notas de cinquenta e vinte. – Ótimo. Vamos. – Eu ia dar partida na minha moto, mas ele me segurou o pulso.

− Eu estou te chamando pra sair, então nada melhor que eu te levar. Vem. – Ele pousou uma mão no meu quadril e nós fomos. O toque dele fez um calorzinho atravessar minhas roupas e se enroscar pela área.

Vou dar uns pulinhos pra frente: compramos a pizza e fomos pra (clássico) um parque. O vento era muito bom, e nos encostamos no corrimão pra ver a água do rio passando. Era bom, mesmo, era... Natural.

− Eu definitivamente quero ficar aqui. – Ele suspirou. – Olha essas paisagens lindas... – Ele foi girando o rosto até me olhar. Eu senti meu rosto esquentar.

− Sou uma paisagem?

− Linda. É uma paisagem linda. – Ele sorriu e mordeu a pizza, finalizando-a. – É sério, gata, eu quero ficar aqui, mas não só por causa de Portland. Eu quero ficar com você.

Como eu responderia aquilo? Ele teria que se contentar com o sorrisão que tava surgindo no meu rosto.

− E eu acho que essa cara é um sim. – Bebi o último gole da coca e terminei minha pizza urgentemente só pra respondê-lo:

− Sim. – Virei-me pra ele.

E foi tudo tão rápido, um conflito interno de vozes que me chacoalharam de um jeito que eu não sabia que conflitos internos não podiam fazer. Mas eu consegui entender as duas vozes:

Uma amava o Michael.

Outra desejava o Capitão. E era essa que estava tentando desesperadamente ser escutada, usando os argumentos de todos que já haviam insinuado algo entre nós enquanto eu encarava o rosto lindo do híbrido à minha frente.

– Eu acho que também quero ficar com você. Mas não estamos...

Foi rápido, ele me interrompeu, e logo estávamos nos beijando, língua contra língua, enquanto ele pressionava os meus quadris contra a grade e eu puxava sua cabeça pelo cabelo, liso e delicioso ao toque. As mãos dele seguravam minha cintura, os dedos pressionando forte o suficiente pra marcar. Como dele.

Eu puxava o rosto dele contra o meu, meu batom borrando, manchando o rosto dele, a barba dando pinicadinhas quase insignificantes. Eu lembrava de ter lido que os lábios eram 200 vezes mais sensíveis que a pele normal, por isso beijos eram tão bons.

Nossa... Meus lábios deviam ser 2000 vezes mais sensíveis que lábios normais, porque beijá-lo era um êxtase absurdo. Senti-o erguendo meu tronco e minhas pernas engancharam na cintura dele, em busca de apoio. Como consequência, senti seu quadril mais pressionado contra o meu, e um choque estranho percorreu a área. Gemi, sem querer, contra os lábios dele, as unhas descendo dos ombros para as costas, arranhando as omoplatas cobertas de couro.

Quando nos soltamos, os lábios dele pareciam estar inchados e vermelhos além do batom.

− Uau – Deixei escapar.

− Uau, gata. Isso porque nem estamos namorando – E ele me beijou de novo.

Ficamos naquilo por mais uns minutos, até que nossos pulmões estavam protestando por ar, mesmo depois de termos parado três vezes pra respirar. Era incrível a energia que aquilo dava, como era viciante beijá-lo.

Não havia pudor por quem quer que estivesse perto. A gente só queria saber de beijar o outro, porque era muito bom. Mas alegria de pobre fugitivo dura pouco, infelizmente...

− Quando vai ser o próximo? – Perguntei, novamente reclinada contra a grade, já que eu estava sem oxigênio a ponto de que não poderia beijá-lo, nem mesmo selinho, já que eu não aguentava ficar só encostando a boca na dele antes de aprofundar-me.

− Quando você quiser, gata. – Sorri. Eu nunca havia gostado tanto que ele me chamasse de gata. – Depois disso, nossa... Acho que vou virar um stalker legítimo seu.

− Ah, não, disso eu tenho um pouco de medo. – Eu ri baixinho. – Um cara que me persegue, me observando a todo momento...

− Então vamos namorar, aí eu não vou ter que te perseguir. – MEU DE-

EU NÃO CREIO!

É meu primeiro encontro e ao invés das voltas inocentes que eu esperava, eu me pegava com ele e NÓS IRÍAMOS NAMORAR? JÁ?

Meu fôlego trancou na garganta.

Era tão óbvia, a resposta. Sim. Um única palavra. Por que não? Era muito bom beijá-lo, e eu me sentia bem com ele; sem preocupações, leve e... Natural. Assim como eu não estranhava meu coração batendo, eu não estranhava estar com o Michael. Ele era como eu. Seria fácil namorar, sem muitas brigas, eu gostava dele. Aliás, eu tinha lido em algum lugar que o melhor amor se construía com o tempo.

Se eu não amasse o cara agora, podia amar depois.

− Já está me pedindo em namoro, Van Healm? Vamos dar uma esperada. – Sorri quando ele se aproximou por trás de mim, me abraçando.

− Mas a vida é tão curta, pra quê ficar esperando? E se eu morrer amanhã?

− Você não vai. – Virei-me pra ele. – Nós podemos tentar... Sei lá, ficar. Tentar. Sair mais uma ou duas vezes...

− Bom, te dou até três encontros pra me responder. – Ele me encarou feio, mas logo desmanchou a carranca. – Gata, leve o tempo que precisar. Eu já disse que você pode beijar todas as bocas que quiser, desde que a sua volte pra minha. Acho que isso se aplica a você inteira.

− E se eu não voltar? – Alisei o braço dele.

− Então eu vou te deixar ir. E eu morro. – Franzi as sobrancelhas, surpresa. – Alicia, se você se for, você vai estar levando meu coração. Como é que eu vou viver sem meu coração?

Mordi o lábio inferior, emocionada, e o beijei de novo. E de novo.

− Cara, você vai me viciar nessa sua boca – Ele murmurou contra mim, e voltamos à sessão noturna de beijação. Era mais interessante até que a comida.

Quem precisa de oxigênio quando o amor da sua vida está ao lado?

*

Eu voltei pra casa bem tarde, ao lado do Michael, e nós ficamos conversando na frente da casa da Emily à luz da lua, recostados em sua moto.

− Você nem tá morando bem, vai. – Bati no braço dele. – Que minha casa seja assim quando eu me arranjar.

− Sabe que vai demorar mais que isso, né? – Ele fez uma carinha triste e assentiu de um jeitinho que me fez rir e abraçá-lo. – Relaxe. Vamos morar juntos, então vamos poder rachar as contas e economizar mais pra ganharmos grana.

− Você já está planejando nosso futuro juntos, olha aí. Devemos ser almas gêmeas. – Ele alisou um dos meus cachos com os dedos. – É sério, docinho. Nunca me senti assim quanto a nenhuma mulher. Você faria o capeta se converter e ir à igreja todo domingo. – Eu ri, alto, antes que pudesse tapar minha boca. – Sério!

− Seu péssimo! – Encostei-me nele e relaxei, com um sorriso no rosto. – Olha, Michael... Eu gostaria de ser sua namorada, mas eu não quero apressar as coisas, sabe? Eu nem sei se... Cara, eu sou tão inocente. Dezenove anos e era BV, virgem, nunca namorei um cara na vida e a máxima noção que tenho de namoro saiu dos livros de romance que leio. – Suspirei. – Mas eu quero mesmo ser sua namorada.

− E eu quero mesmo ser seu namorado. Seu. Se eu tivesse outra namorada além de você eu terminava com ela e ia atrás de você. – Dei uma risada rasa, estranhando. – É, isso soou muito esquisito. Mas eu não quero outra mulher além de você.

− Que galanteador. – Abracei-o. – Bom, está mais tarde do que nos é saudável. Tenho que ir, futuro namorado. – Beijei-o, mais uma vez. – Esse foi o meu tchau.

− E esse aqui... – Novamente, beijo. – É o meu.

Observei-o ir embora, na moto, e aproveitei a solidão pra refletir.

Bom, eu não achava que estava agindo errado... Eu estava ficando com o cara que daria menos problema pra mim. Lógico. Além de todos os argumentos pra não ficar com o capitão, havia mais um: meu relacionamento com meu irmão era muito prematuro, muito precário, pra arriscar tudo ficando com um cara cujos únicos sentimentos entre nós eram um ódio misturado com desejo.

Então, minha decisão havia sido mais que certa. Só que eu também não podia namorar com ele, logo assim... Precisávamos de tempo. Pro nosso amor enraizar de vez.

Aí nós vamos namorar, seremos felizes, e eu e o capitão teremos nossos laços cortados de vez, pensei enquanto levava a moto pra dentro.

*

Mas nem tudo eram flores.

Nick estava no trabalho àquela hora, o que era ótimo. Não era com ele que eu precisava falar, era com o amigo Blutbad dele. Monroe.

− Oi, Alicia.

− Oi, Monroe! – Abracei-o, e senti-o enrijecer pelo meu abraço súbito. – Opa, desculpe...

− Não, tá tudo bem. O Nick não tá aqui...

− Eu vim falar com você mesmo, Au Au – Entrei e dei um sorrisinho pra cara feia dele. – É que a Juliette quer trambicar com a própria vida.

− Hm... Desculpe, não entendi.

− Ela quer se lembrar do que aconteceu na noite que ela entrou em coma. – Observei Monroe ficar, tipo, com uma cara de “ai, pelamordeDeus”. – É, eu me senti assim mesmo.

− Eu fiquei sabendo dessa nova dela... Mas ela não pode, quer dizer... Foi quando o Nick tentou explicar pra ela sobre os Wesen!

− Deduzi isso. – Sentei no sofá dele. – E se ela lembrar dessas histórias, vai surtar de vez e provavelmente apodrecer numa casa de loucos. Pelo bem do Nick, acho que devemos evitar que isso prossiga.

− Mas Rosalee está do lado dela. – Franzi as sobrancelhas à menção do nome. – Eu até tentei impedir, mas Juliette também blefou feio, então...

− Quem?

− Juliette – Monroe fez um movimento legal. – Você sabe...

− Não, a outra mulher. – Me ajeitei no sofá. – Quem é Rosalee?

− Ah. – Ele se sentou na cadeira à minha frente. – Rosalee... Ela é minha namorada, acho que posso colocar assim.

− Awn. Fofo. – Sorri pro jeito que o rosto dele iluminou, os olhos dele brilharam, e um sorrisinho surgiu nos lábios dele ao falar da tal Rosalee. – Bem, ela sabe que eu existo?

− Eu devo ter comentado, em algum momento... Não sei. Por quê?

− Só pra saber. Sério. – Dei meu sorriso mais fiel à ele. – Mas eu não acho que seja uma boa ideia deixarmos a Juju queridinha continuar nesse caminho...

− Ela ameaçou sair de Portland se nós não a ajudássemos. – Fiquei surpresa com a informação. Chantagem, sério? Parecia um pouco dark pra ela.

− Uou. Juliette sendo má. – Inclinei a cabeça, de maneira a olhar pela janela. – Então vamos deixá-la seguir a rota da auto-destruição, é isso mesmo?

− É o jeito que tem. – Ficamos calados, deixando a poeira assentar. – Eu achei que você não gostava da Juliette.

− Não gosto. Mas gosto do Nick. E ele gosta dela. E ele precisa dela, por sabe-se lá que motivo. Entããããão... – Dei de ombros. – Pra ajudar quem eu amo, tenho que ajudar primeiro quem odeio.

− Ok. Você gosta mesmo do Nick, hein? – Sorri, inocentemente. – Pra fazer o que você fez...

− Ele é o que me sobrou de família, Monroe. Claro que eu gosto muito dele. Eu o amo. – Enrolei um cacho no dedo. – Fazer o quê.

− Bom, agora eu posso ficar tranquilo quanto a ele ter alguém que tenha a retaguarda dele. – Monroe disse, meio rindo. – Bem vinda ao clube, Alicia. – Eu sorri e estendi a mão pra ele.

− Obrigada, Monroe. – Eu me virei pra ir embora, mas aí lembrei de um detalhe. – Ahn... Sabe de um lugar que esteja empregando?

− Oi? – Ele fez uma carinha de levemente confuso. Cara, todas as expressões que o Monroe fazia só me faziam amá-lo ainda mais.

− É que eu estou procurando emprego... Por enquanto estou verificando quem me aceita, aí eu começo a eliminar.

Ele ficou caladinho.

− Não sei de nada... Caso fique sabendo mando o Nick te dar um alô.

− Ok, obrigada! Beijocas – Soprei beijinhos pra ele e fui embora, dessa vez de verdade.

*

Atenção! Agora é hora da revisão!

Aparentemente Juliette chantageou Monroe e Nick pra ir pro trailer, lembrou do menino Nicky lá, agora ela estava se lembrando melhor das coisas e decidiu que descobriria por si mesma o que tinha acontecido na noite em que entrou em coma e, consequentemente, o que estávamos escondendo dela.

GENTE ALGUÉM DÁ UMA PEDRADA NELA POR FAVOR?

E nós não podíamos fazer nada, porque ela estava disposta a cumprir a ameaça, e já tinha ido bem longezinho pra nós jogarmos uns bons papos nela e dissuadi-la de sua aventura. O jeito era deixar que ela se lascasse mesmo.

Dó.

Pior que, no fim das contas, Juliette era só mais uma vítima. Ela só estava querendo saber o que outra pessoa (uma Hexenbiest, ou Hexenbitch?) fez a ela. A bichinha era inocente, coitada. E ia se lascar, duas vezes.

É, fazer o quê. Kerhseites não eram feitos pro nosso mundo, nem deveriam estar sabendo dele. Era uma sorte quando um aceitava de boas. Se Nick tivesse arranjado uma dessas...

Tá, um problema resolvido. Um. Eu ainda tinha outro: meus sentimentos. Precisava definir logo uma linha, uma barreira, entre Michael e Renard; uma barreira que, assim que criada, não poderia ser ultrapassada. Quer dizer, eu não poderia ficar pensando no tanquinho de outro homem (por mais que eu não esteja morta) enquanto estava com meu namorado.

É, eu teria que ou trocar um pelo outro ou então viver na tentação.

Mas quem poderia me ajudar? Queeeem?

É, se vocês pensaram na Pilar, todo mundo acertou. Uma mulher que só me olhou uma vez e logo soube dos meus conflitos emocionais mais profundos deveria saber como me ajudar. Quem sabe ela me desse chá.

Então forcei a memória e fui dando várias voltas pela cidade, procurando o caminho que eu e Juliette havíamos feito uma única vez. Demorou demais, mas depois de ter errado a rua trezentas vezes e estar quase desistindo (pela quarta vez), achei o caminho certo e quase chorei de alegria.

A casa dela ainda tinha aquele aspecto calmo e relaxante; algumas coisas não mudavam. Toquei a campainha e logo ela apareceu, uma pessoa que tão instantaneamente eu havia associado a proteção e carinho.

− Olá. – Ela sorriu pra mim, e foi impossível não sorrir de volta. – Tem alguma coisa lhe incomodando. – Começou a sessão vidente.

− É. Eu vim aqui porque acho que você pode me ajudar... E preciso de alguém pra conversar. – Ela fez que sim e me deixou passar. O local estava iluminado de maneira a fazê-lo parecer (e estava) quentinho e aconchegante.

− Então, problemas com quem você ama? – Pelamor, eu não precisaria falar mais nada.

− Sim. Eu estou em dúvida entre os dois... – Sentei-me no local que ela me indicou. – Eu amo um e não sei se amo o outro... Quer dizer, os dois fazem me sentir algo... Estranho... Mas por um eu não quero sentir, por outro, eu gosto de sentir isso... Eu realmente não sei o que eu faço. E um deles me pediu em namoro, o que eu sei que amo...

− Por que não tenta ficar com quem te faz sentir algo mais intenso? – Olhei pra ela.

− Porque esse cara vai destruir tudo o que eu construí até aqui. – Engoli em seco. Eu estava admitindo. – Se nós fôssemos ter algo... Ele ia construir algo entre nós sobre a destruição da minha família.

Uróboro, penso. A imagem da cobra mordendo o próprio rabo. Ela representava exatamente isso: a criação a partir da destruição. Mas também simbolizava vida eterna.

Se um dia eu escolhesse Renard a favor da minha felicidade, custando minha relação com o Nick, pelo menos ficaríamos juntos pra sempre?

− E esse outro?

− O outro não tem problema, a gente tem bem mais história do que eu e o cara arriscado. Eu quero muito aceitar o pedido dele, quero ficar com ele. Mas não posso ficar pensando no que teria sido se eu tivesse escolhido o cara que vai destruir tudo que eu prezo se eu ficar com o bonzinho. – E a encarei. – Eu preciso separar o que sinto por esses dois, e deixar um deles trancado bem no fundo de mim, pra eu poder seguir em frente.

− Você escolheu o que te faz sentir melhor? – Ela deu um sorrisinho ao me olhar.

− Eu acho que você sabe quem eu escolhi. – Sorri de volta. – Tem como me ajudar?

− Eu não posso mudar seus sentimentos. O meu conselho... – Ela ergueu a mão pra mim, e eu a segurei. Meu coração bateu mais leve e alegrinho com isso. – Seria que você escolhesse quem realmente vai ficar com você até o fim. – Estranhei aquela frase. − Mas, como você aparentemente quer o cara seguro, e eu não estou criticando, então meu conselho verdadeiro é: procure um encerramento entre você e o homem que deseja arriscadamente. Então, quando você tiver consumido o que deseja com ele, vá em frente. Escolha.

Mordi os lábios. Mas que droga de conselho maravilhoso, não é que ela estava certa? Colocar à prova o que sentia pelo Renard... Nem que fosse só pra saber o que eu estava dispensando, só para matar a sede.

− Quer dizer que pra mim não tem chá? – Ela riu consigo mesma.

− Acho que você não precisa. – Ela me deu uns tapinhas carinhosos na costa da mão. – Eu até lhe daria algo pra ver como seria se você escolhesse o que é mais arriscado, mas não quero estragar nem influenciar sua decisão.

Eu não tentei conter o curvar de lábios que me surgiu.

− Acha que eu o amo?

− O homem que você não escolheu? – Afirmei. – Se o que eu sinto em você é tão poderoso e você não o conhece há muito tempo, então tem que ser algo significativo.

Ela tinha razão.

Pilar tinha conseguido me decifrar em segundos, entender quase instantaneamente o que eu estava ignorando, bloqueando e confundindo. Ela tinha me levado a um entendimento, e eu tinha tomado minha conclusão.

Mas o aviso estava ali. Eu não estava ficando com o homem que realmente amava.

Que se dane, disse pra mim mesma. Melhor isso do que perder o Nick.

− Obrigada. Mesmo. – Me levantei e a abracei. – Você nem sabe como me ajudou.

− Eu tenho uma ideia. – Ela fez carinho na minha cabeça. – Você é uma garota linda, Alicia, merece ser feliz. Tem certeza que está fazendo a escolha que vai te fazer feliz?

− Não só a mim. A todo mundo. – Ela semicerrou os olhos, mas logo voltou à face calorosa costumeira dela.

− Então que você seja feliz, também, mirra. – Ela me abraçou, forte e firme.

Quando saí da casa dela, fiquei me perguntando se ela sabia que eu não tinha certeza. Mas eu estava sendo uma Burkhardt: tem uma veia de mártir em todos nós.

*

Eu estava seriamente pensando em caçar o Michael pra perguntar se aquela história de eu poder ficar com outros desde que eu voltasse pra ele era literalmente aplicável quando fui chamada.

− Ei! – Dedos estalaram à minha frente.

− Ah, oi? – Olhei pra Emily. – Qual a treta?

− Eu e a Barbie estávamos pensando em ir no cinema, tem um filme que saiu agora que parece legal e doidão. Vamos?

− Ahn, pode ser. Não tenho nada a fazer por enquanto. – Levantei-me, ainda vestida da minha saída à casa da Pilar, e ajeitei o cabelo com as mãos. – Emily, onde acha que arranjo um galpão?

− Ué, pra quê precisa de um galpão? Não matamos mais ninguém.

− Eu queria treinar o Nick, lutar com ele, coisa básica. Queria algum lugar pra guardar o equipamento. – Ela franziu a sobrancelha, estranhando ainda mais.

− Ok... Podemos procurar algum galpão de armazenamento, eu compro pra vocês. Aí o Nick fica me devendo uma e eu levo ele pra cama... – Fiz minha melhor cara de “!” (uma expressão muito significativa, de fato) pra ela. – Papo! Tenho o meu.

− Bom saber. Melhor que você saiba também que a ex dele quer voltar pros braços do meu irmãozinho e está fazendo por merecer. Claro que eu não vou deixar tão cedo... – Ela fez uma carinha satisfeita. – Mas pelo jeito eles se amam. E se ela o faz bem...

− Que não faça! – Bárbara surgiu na porta. – Estou desesperada. Vocês todos arrumando boys magia e eu aqui, forever alone. Snif. Eu quero um pra mim.

− Quem não quer? – Saí com as duas ao meu lado. – Vamos matar nosso tédio.

*

O filme era bem noia, e eu tinha certeza que eu tinha saído com os olhos espiralando do cinema enquanto tentava discutir qual era a verdadeira cronologia do filme com as meninas e desviava de mãos querendo roubar o resto da pipoca.

E aí surgiu o Michael.

Alguém o eleve à patente de stalker oficial da Alicia Burkhardt, por favor.

− Olá, Emily, Bárbara. As moças estão lindas. – E ele me puxou pela cintura beeem de leve, se aproximando de mim. Não posso dizer que não gostei, porque assim que ele fez isso, um sorriso malicioso surgiu no meu rosto. – Olá, minha possível namorada.

− Olá, meu possível namorado. – Ele se aproximou, mas eu me afastei, só de brincadeira. – Ainda não estamos namorando, então não acho que seja uma boa você me beijar assim... – Ele grunhiu e eu ri.

− Meninas, se importam se eu roubar essa provocadora aqui? – Ele me abraçou por trás. As duas estavam com a cara de quem estava vendo o casamento de Angelina Jolie e Brad Pitt.

− Claro, pode levá-la. – Emily fez um movimento com a mão, mostrando-se bem controlada. – Mas se abusar...

− A gente arranca seu pinto – Bárbara disse, um rostinho inocente mostrando uma expressão assassina. As duas riram com a cara que ele fez, e assim que eu vi, tive que rir também.

− Ok... Vamos, lindinha. – Ele pousou a mão nos meus ombros, mas eu a segurei e a fiz deslizar pra minha cintura.

− Para de querer pagar de santo. Principalmente depois daqueles nossos beijos. – Sorri de um jeito maldoso pra ele. – Foi muito bom – Comentei, assim que começamos a andar.

− Opa, se foi. Foi ótimo. – Andamos um pouco em silêncio. – Olha, não quero ser chato, gata, mas eu realmente estou ansioso. Já tomou sua decisão?

Suspirei, preparada para o que podia vir.

− Sim. – O sol brilhou atrás daquelas nuvens de tempestade nos olhos dele. – Mas preciso de mais um dia, só. Você disse que, desde que eu voltasse pra você, eu poderia ficar com outros caras. Isso é verdade?

− Bom... – Ele deu de ombros, fazendo uma carinha que não sei direito como descrever. Tipo uma carinha de dúvida, uma carinha que dizia “oh”. – Enquanto a gente não tá namorando, sim, claro, é verdade. Depois disso... – Ele colou nossos corpos. – Acho que quero você só pra mim.

− Eu também vou querer, viu? Então, se tiver crush em alguma outra garota bom ir se saciando desde já. Então, me dê só mais esse dia, Michael. Amanhã eu te dou a resposta definitiva.

Amanhã, eu digo a mim mesma. Provavelmente há uma chance do Apocalipse ser amanhã.

*Nick*

O trabalho havia sido bem calmo depois do último caso, que havia sido como 50 socos em sequência na cara. Eu estava até gostando de só preencher a papelada, pra descansar um pouco o físico. Maaas, consequentemente, cansava a mente.

Enfim, depois de um longo dia, eu fui pra casa, e Monroe e Rosalee estavam lá, servindo o jantar. Que provavelmente era só pra eles, mas eu vou fingir que sou um lerdo e vou comer também.

− Oi, Rosalee! – Ela sorriu pra mim, de um jeito sincero.

− Oi, Nick! – Ela olhou pros pratos. – Quer jantar?

− Mas eu achei que... – Ela beliscou o braço de Monroe com a mão livre. – Bom, dessa vez eu deixo. Vem.

Juntei-me a eles na arrumação da mesa e logo estávamos servidos de salada e vinho, conversando amenidades pra relaxar. Mas não demorou muito pra um assunto surgir na mesa.

Minha irmã.

− Nick, sua irmã híbrida de mais de dois veio aqui hoje. – Monroe comentou.

Eu quase engasguei com o vinho. Mas foi por um triz que o líquido não desceu pelo caminho errado.

− A irmã do Nick que é a híbrida de mais de dois? – Rosalee perguntou, surpresa. – Eu ainda não entendi direito que história é essa...

− Ela diz que minha mãe, quando fugiu, estava grávida dela – Iniciei. – E que elas tiveram que ficar se escondendo e fugindo, e ela nunca pôde ser registrada porque... – Inclinei a cabeça, e os dois fizeram que entenderam. – Enfim, uma noite ela foi sequestrada pela Verrat. E transformada, não lembro se ela me comentou como, em uma híbrida.

− De mais de dois – Monroe acrescentou.

− E então fugiu, veio pra cá me procurando... E deixando uma trilha de corpos no caminho.

− Quer dizer que ela, além de ter genética Grimm, é Wesen? – Rosalee estava com a melhor expressão de surpresa do mundo. – Quantos?

− Não sei. Talvez nem ela saiba. – Reclinei-me na cadeira. – O que ela veio fazer aqui, por falar nela?

− Veio dizer um oi, perguntar umas coisas sobre a Juliette. Nada de mais – Ele me assegurou, prevendo que eu estava prestes a explodir contra a minha irmã. – Só pra entendê-la melhor.

Suspirei.

− Espero mesmo. – Encarei minha taça e o resto de comida no prato. – Alicia é uma menina boa, eu sei disso. Mas a Verrat...

− Nick, sabe que se ela é uma híbrida de mais de dois, ela pode ser muito perigosa, até incontrolada – Rosalee me advertiu. – Os instintos dela, se a dominarem, ela poderia derrubar Portland inteira.

− Alicia me parece bem controlada. – Fiz um muxoxo. – Muito bem controlada. Mas... Ela tem problemas.

− Do tipo assassino? Vingança, fúria sobre saltos? – Monroe palpitou.

− Não. Ela tem ataques de pânico. – Eles fizeram mais carinhas de surpresos. – Eu vi. Ela disse que todos tem algum tipo de problema psicológico, pelo o que passam, pela transformação.

− E ela não se trata pra isso?

− Eu não sei... Droga, sei pouco sobre ela e ela é minha irmã. – Esfreguei o rosto. – Minha irmãzinha.

− Nick... – Olhei para a castanha. – Certeza que ela não está fingindo? Que não é mais alguém da Verrat tentando pegar seu ponto fraco?

− Você também não, Rosalee... – Ela tentou continuar, mas eu a cortei: − Olha, o primeiro dia que eu fiquei frente a frente com ela, olho no olho, eu vi que ela era não só parecida comigo, não só que ela sabia mais de mim que alguém que tivesse apenas observado, nem que ela era extremamente bonita, mas eu vi... Como ela estava feliz. E triste. E esperançosa. E não fazia questão de esconder. Aquilo era muito puro pra ser fingimento.

Se eles ainda iam falar algo, desistiram. Talvez achassem que eu estivesse cego pela bruxinha da Verrat que iria me matar, mas eu sabia que não. Eu sabia que era o certo.

− Hm, Rosalee, ela está procurando um emprego. Será que... – Ela me olhou como se dissesse “não, cara”, mas eu continuei. – Vai ser bom pra ela. Claro, se não quiser, posso buscar outro lugar, mas é melhor um local assim... Perto de mim, de gente que ela conhece, de Wesens. Sem ter que fingir.

− Nick, por mais que eu adore ajudá-la, está me dizendo que eu vou ter que empregar uma menina híbrida, instável, imprevisível e assassina?

− Ah, não julgue minha irmã tão duramente. – Reclinei-me, confortável e sarcástico, na cadeira. – Vamos jantar todos juntos, que tal? Monroe sabe que ela não é má.

− Eu não sei de nada, ela pelo menos não pareceu má. – Ele deu de ombros. – Se sua irmã quiser, ela pode vir aqui amanhã...

Rosalee suspirou.

− Olha, Nick, se você acredita que a garota é sua irmã...

− Ela quer uma vida nova, Rosalee. Por que não dar essa chance a ela? – Minha amiga Fuchsbau ficou quietinha, pensando.

− Tem razão. Chame-a pra vir almoçar aqui, mas não amanhã. Depois de amanhã. – Ela ajeitou os talheres no prato. – Talvez, Nick, talvez eu a contrate. Não te garanto nada.

− Valeu, Rosalee – Sorri pra ela. – Vou deixar os dois sozinhos agora. Boa noite. – Eles me desejaram boa noite também enquanto eu subia com uma garrafa de cerveja.

Será que o louco era eu? Será que todos podiam ver algo em Alicia que a denunciava como uma Verrater, e eu não? Eu estava tão cego por aquela nova visão de família que poderia acabar custando a minha vida, a de Monroe, Rosalee, Juliette...

Juliette. Ela era a mais fraca de todos nós, e Alicia estava vendo-a, estava falando com ela. Se minha irmã, ou quem eu julgava ser minha irmã, machucasse Juliette...

Droga. Alicia não era má. Eu confiava nela, ela tinha acesso ao trailer, ela queria existir...

Ela não é má, eu disse a mim mesmo. Não há chance. Ela é uma vítima, assim como eu já fui, algumas vezes. Assim como Juliette, Monroe...

Suspirei.

Mas, se não for, eu mesmo a mato. Meu coração foi pros pés com isso. Se Alicia não for nada além de uma farsa, eu mato aquela híbrida.

Só me resta rezar para que não seja.

*Alicia*

Era hora.

Meu estômago revirava, eu estava nervosa demais, minhas mãos suavam frio, minhas pernas estavam gastando o resto da minha energia para se manterem ao mínimo retas.

O batom vermelho vibrava de cor em minha boca, a saia preta balançava ao meu andar (ou tremer de pernas), mas ao invés da blusa vinho estilo suéter, eu peguei uma blusa de um tom mais arroxeado e que grudava mais em cima. As mangas eram soltas, assim como o fim da blusa, e ela me deixava bonita. A luz fazia com que reflexos vermelhos surgissem aqui e ali.

Meus saltos eram bonitos, me deixavam mais alta, obviamente, mas nada seria um páreo pra altura do homem que eu estava indo ver. Eu queria ter alguma meia-calça preta, só pra me deixar mais sexy, mas não tinha. Meu cabelo caía em cachos bem modelados, minha maquiagem, fora o batom, estava levíssima, do meu gosto.

Olhei meus olhos no espelho. Escuros, bonitos.

Meu lábio tremeu.

Bonitos o suficiente?

Renard parecia ser o tipo de homem que tinha à disposição as mais belas mulheres de toda a cidade, de modelos internacionais a casadas. Então, por que ele iria me querer?

E só pensar nele com outras fez as borboletas em mim se tornarem demônios, revirando e arranhando e sussurrando crueldades no meu ouvido, para que eu matasse uma a uma.

Voltando...

Eu tinha tido o maior trabalho, me arrumando, ansiosa, mais até que pro meu encontro (cujas roupas tinham sido a base para agora), e se ele me chutasse? E se me olhasse na cara e risse de mim, uma adolescente boba que segue as batidas do coração?

Tentei conter a enxurrada de borboletas que estavam querendo pegar uma pá e cavar um caminho pra fora da minha barriga urgentemente, fosse por onde fosse. Eu queria acabar logo com aquilo. Precisava. Eu só tinha um dia antes de me entregar ao Michael, e de acabar com esse suspensinho entre mim e o chefe do meu irmão.

Então fiz o que fazia raras vezes.

Meditei.

É uma pseudo-reza, algo que transita entre a meditação, a paranoia, a prece, e uma fantasia de reencontrar minha mãe. Como eu não queria bagunçar meu cabelo, sentei e respirei fundo.

Imaginei minha mãe, o cabelo fuá e encaracoladíssimo, recheado de cachos castanhos que eu gostava de olhar. A cicatriz na maçã do rosto, embaixo do olho, uma na testa... Ou não? Os olhos castanhos, que nem eu nem Nick tínhamos herdado. Olhos que me mostravam carinho.

− Mãe – Sussurrei. – Preciso da senhora.

− Se machucou de novo, filha? – Sua voz... Dizem que a voz é a primeira coisa que esquecemos. Eu nunca esquecerei da voz dela.

− Mãe, eu estou nervosa. Eu vou ver esse cara e... Ele pode muito bem me chutar.

− Só um idiota faria isso. – Eu ri e pude ouvir a risada dela. – Amor, você luta e mata tão fácil e agora está com medo de ver um cara? Sabe o que é isso?

− Não diga – Pedi, impotente. – Eu tenho medo... De ter que encarar isso.

− Por quê?

− Porque é uma fraqueza. – Quase pude sentir o toque da mão dela na minha. – Porque vai me derrubar, eu sei disso.

− Eu também tive medo. Mas enfrentar o medo, só te faz mais forte. Sabe disso também.

− Sei, mamãe.

− Tente, Alicia. O máximo que vai acontecer é você ter seu coração partido. Mas você deu sorte, tem duas opções aqui. – Franzi os lábios. – Mas, ah...

Olhei pra ela na minha mente. Alguns traços estavam borrados... Eu não estava esquecendo minha mãe, estava?

− Alicia, a verdade é que esse sentimento é egoísta. Só quer uma coisa. Não aceita curativos, consolações, trocas, barganhas. Uma vez aqui... – Ela tocou o fundo do meu peito. – Ele vai te consumir. E seu medo só está piorando tudo.

− Quer dizer que se eu for lá e tomar um pé na bunda, vou ficar inconsolável?

− Sim. Ou não. Você é uma garota forte, vai se recuperar. Desde que tranque isso o mais longe possível. Lembre-se, estou supondo uma rejeição.

− E se ele me aceitar? – Meu coração bateu mais forte, mais intensamente, indo das batidas de uma borboleta às batidas da bateria de samba do Carnaval.

− Então se afogue nisso. – Sorri. – Então, vá lá. Por mais que esse sentimento não aceite a cura, ele permite um bálsamo. E esse é o tempo. Então, se ele te rejeitar, espere a dor passar. Se ele te aceitar, embeba-se em cada segundo.

− Sempre tão sábia, mãe.

− Sabe que essa é simplesmente você, dizendo a si mesma o que não pode escutar da própria boca, não é?

− Assim você acaba com a magia. – Encarei as feições dela, vestidas de luto, mas aquele sorriso... – Tchau, mãe.

− Tchau, querida. – Sorri e abri os olhos, saindo do meu transe auto-induzido.

Eu estava sozinha no quarto, eu e minha mente e a luz da lua.

Mas a coragem estava comigo também, agora.

*

Nunca aquele prédio me pareceu tão grande, tão imponente, rico e...

E significativo.

Meu olhar subiu pelas janelas transparentes até encontrar a que era a do apartamento dele. Olhei a sacada, a que saía do quarto dele.

Ai, que ele estivesse em casa, no apartamento dele. Deus, me permita só isso... Que eu não seja chutada...

Entrei do jeito de sempre, acenei pro porteiro (estava quase virando melhor amiga dele), fui para o elevador. Mas tudo parecia ter ficado gigante. Tudo parecia demorar o dobro do tempo.

Eu estava mais calma, sim, mas ainda estava levemente nervosa. Gente, aquele cara é pra deixar todo mundo nervoso.

Renard é pra deixar qualquer um nervoso.

Suspirei e caminhei até a porta, meus saltos fazendo baques suaves no chão. Meus cachos ainda estavam impecáveis, minha saia e blusa, arrumadas, o conjunto vermelho e com renda preta, bem justo e liso, nada torcido ou rasgado ou desfazendo.

Eu não planejava nada de fazer bebês aquela noite. Maaas, bom estar preparada e bonita, claro.

Mas como eu ia agir? Não podia investir nele, mas também não podia dar uma de apaixonada melindrosa. Eu precisava ser equilibrada, paixão e calma juntas... Iria aproveitar cada segundo.

Respirei fundo e bati.

Quando Renard abriu a porta, usei minha calma pra me controlar diante da visão dele enquanto o apreciava inteiro, a camisa branca colada ao tórax, sem mangas, e a calça jeans, ainda nele. Seu cabelo parecia levemente bagunçado, e havia um copo com algum uísque numa de suas mãos. O rosto rude e impecável mostrava seus traços de surpresa e sobriedade.

Eu tinha que admitir: era um homem delicioso.

− Alicia... – Ele estava surpreso comigo, tão arrumada (e batendo na porta dele) ali, aparentemente (dã) pra ele. – Tem algum encontro hoje?

− Sim. – Eu disse, com a voz séria, e levemente sensual. – Deixe-me entrar. Temos assuntos a discutir. Um assunto.

E quando entrei, que o cheiro dele deslizou pros meus pulmões, ah, quase desisti da resolução virgem.

− Está bonita. – Ele disse, medindo a expressividade das palavras, enquanto me analisava como fiz com ele. – Mais do que o normal.

− Estou lisonjeada. Largue esse uísque, capitão. Deve ser caro e não queremos desperdício. – Ele deu uma olhada pro copo e então o colocou numa das mesas encostadas nas paredes da entrada.

− Qual o problema?

Mordi os lábios. Lá se ia...

− Um cara, que eu gosto muito, chego a dizer que amo, me pediu em namoro e eu vou aceitar. – Renard ergueu as sobrancelhas de incredulidade, ouvindo o que eu dizia. – Mas tem uma coisinha no nosso caminho.

− Quer que eu seja o padre que oficializa a união?

− Não. – Aproximei-me dele, perigosamente perto. – É você que me impede de dizer sim. – Ergui-me, nos saltos, e coloquei uma mão em sua nuca. Senti os músculos dele se enrijecerem. – Preciso terminar o que há entre nós.

A respiração dele era pesada, o coração batia da mesma forma. Tomei coragem e olhei nos olhos dele.

Eram verdes.

Eu estava enganada. Tinham, sim, aquele tom de cinza férreo, que predominada na luz, mas vendo-os de perto, naquela hora, enxerguei um verde claro, esmaecido, como a cor daquelas azeitonas suculentas, como um verde... Manhã. Me fazia pensar em manhã.

− Tem algo entre nós – Sussurrei. – Sente isso? Essa energia? – Lambi meus lábios. Ainda havia uma grande diferença de altura entre nós, mas eu estava bem mais perto dele e de seu rosto agora. – Essa coisa... Me faz pensar em você, me faz querer voltar pra você. Mas é ruim, é perigoso. Eu vou ficar com o Michael... Mas eu preciso de você, nem que seja só hoje, só agora.

E então fui surpreendida.

Renard abaixou-se com uma velocidade injusta pro tamanho dele e uma de suas mãos foi à minha cintura, e ele puxou nossos corpos, troncos, quadris, juntos, forçando-me a me inclinar e pôr uma mão no ombro dele, buscando por apoio. E quando procurei seus olhos...

O verde havia escurecido. Eu não sabia se aquilo era ameaça ou desejo.

− Você não tem ideia – Ele começou. – De como foi ver seu namoradinho vir aqui e me afrontar na minha casa, dizendo que você era mais dele do que minha, que ele te queria mais, e como foi ter que dizer sim. Não tem ideia do maldito sufoco que venho passando desde a primeira vez que você entrou naquele carro e esteve em minha casa, porque você me provocou, e eu fiquei com sua imagem na cabeça, e você não é nem um pouco feia.

− Obrigada. – Eu disse, no espaço vazio e longo entre suas frases.

− Você volta e volta, na minha mente e pra mim. E tem uma parte de mim que odeia isso e a outra que odeia odiar isso. Mas, droga. – Sua outra mão deslizou pelas minhas costelas, até meu quadril, e tocou a barra da saia. – Você ficou aqui, comigo.

Ele grunhiu, e eu engoli em seco.

− Meu controle era perfeito. Até você entrar por aquela porta, na minha vida. – Nossos rostos foram um pouco mais aproximados. – Eu pensei que, isolando esse sentimento, ele se extinguiria, como o fogo faz dentro de um pote com tampa. Mas ele continua aqui.

Estávamos levemente ofegantes e, meu Deus do céu e da Terra e do Universo e dos cookies de chocolate, ele era... Incrível.

− Até onde você quer ir? – Ele me perguntou.

− Em questões físicas? Tudo permitido, só não entre nas minhas calcinhas.

− E de resto? – Encarei-o, através dos meus cílios e dos dele, naquela clareza esverdeada, a tempestade contra a folha verde.

− Eu não quero pensar nisso agora.

Nossos lábios se chocaram, boca contra boca, em uma explosão de paixão, insana e sedenta. Eles se encaixaram, e eu senti levemente o gosto dele, que agora tinha aquele café, o gosto amargo do seu cheiro e o leve álcool ardente do uísque. Ele pegou meu lábio inferior entre seus dentes e mordeu carinhosamente, para então deslizar sua língua por ele, fazendo uma série de arrepios suaves e meio eróticos descerem pelo meu corpo.

Entreabri meus lábios e deixei que ele aprofundasse o beijo, esperando que minha inexperiência não ficasse evidente enquanto nossas línguas se perseguiam e batalhavam pela dominação. Suas mãos deslizaram até meu quadril, seus dedos levemente em cima da minha bunda, traçando seu formato, e então subindo por baixo da blusa, e se o que eu senti fosse usado pela rede elétrica, dava energia pra todo o estado de Oregon. Já uma de minhas mãos subiu pelo pescoço dele e se enroscou em seu cabelo, entremeando seus cachos nos meus dedos, e a outra ficou arranhando bem de leve, provocando.

Renard grunhiu contra meus lábios e então suas mãos desceram totalmente, pegando minhas coxas e me impulsionando pra cima, levemente mais acima dele, nada significativo pro ângulo do nosso beijo, e me empurrou contra a parede, tirando tudo de cima da bancada, o baque de livros caindo e – opa – um abajur, enquanto ele me colocava ali, encurralada, só pra ele.

Nosso beijo foi brevemente interrompido enquanto ele erguia sua blusa, mas eu o parei:

− Quero fazer. – E, segurando a barra, ergui-a lentamente, revelando o peitoral liso, os músculos firmes, tonificados, que fariam deuses gregos se curvar na frente dele. Não resisti e me inclinei, beijando-o, a língua encostando de leve, arrancando um silvo dele, provando-o. – Renard... – Puxei-o pra perto, aplicando milhares de beijinhos ali, viciada instantaneamente no cheiro, no gosto dele, mas antes que eu fosse descobrir como era o gosto dele mais abaixo (calma, ainda não iríamos chegar ), ele me empurrou de volta.

− Eu bem que quero essa sua boca me envolvendo, mas ainda não – E me beijou de novo, a fúria dele escapando pra mim, e eu a absorvendo, e aquela paixão que ameaçava nos consumir nos empurrando além, para ele me erguendo, enquanto provava minha boca, e descia os lábios pra minha garganta, dizendo que minha pele era linda, branquinha, e sussurrando coisas em outras línguas, principalmente francês, segredos sujos e safados em francês que me provocavam além dos sentidos.

Senti seus passos, demorados e fortes, nos levarem pro seu quarto, fechando a porta, e então caímos na cama, e em nenhum momento nossos lábios deixaram os do outro. Tínhamos passado muito tempo sem o gosto do outro pra pararmos naquele momento, e a boca dele não era muito diferente de uma droga. (Ele tinha dito aquilo sobre a minha boca, em alemão. Só por isso entendi.)

Ele tirou minha blusa, e sua boca primeiro desceu e beijou meu pescoço, vários beijos, até ele pousar os lábios naquela dobrinha entre pescoço e ombro, e então mordeu, primeiro de leve, depois com mais força. Eu sabia o que era aquilo. Ele estava me marcando, como dele. As marcas de Michael, não havia sombra de dedos nos meus quadris, mas aqueles dentes deixariam rastros.

Então tirou minha saia, e sua boca desceu pelas minhas pernas, em beijos provocantes, demorados, suas mãos deixando trilhas quentes e formigantes em mim. Depois que havia feito o mesmo com a outra perna, pressionando as mãos com força, deixando manchas em formato de mãos perfeitas e avermelhadas, ele voltou pra mim, e nos beijamos como senão houvesse outro dia.

Não havia. Não pra nós.

E então tirou sua calça, e veio sobre mim.

− Mesmo que eu não vá... – Ele sussurrou as palavras no meu ouvido – Faire l’amour − e um fogo desceu por mim inteira – Com você hoje, vou te marcar toda... Marcas que só você vai ver, pra se lembrar dessa noite, de como foi minha.

− Sim... – Agarrei o cabelo dele e o puxei pra mim. – Mas agora é minha vez.

Mesmo que meu batom estivesse agora todo espalhado pelos nossos rostos, eu não ligava. Desci a boca pelo peito dele, deixando um beijo em cada músculo dele. Meu cabelo caía e escorregava por ele, me seguindo, e eu sentia suas mãos fazendo aqueles carinhos bons, delicados, mas cheios de significados e segredos, nos cachos que eu havia feito especialmente pra hoje. Renard suspirava a cada beijo, cada lambidinha, cada arranhão.

E então voltei. Pressionei nós dois juntos, forte, enquanto minha boca se encaixava onde a dele havia me marcado, e então o marquei também.

− Só pra você se lembrar – Murmurei, contra a boca dele. – Que um dia também foi meu.

Ele riu roucamente, as vibrações descendo pela minha coluna, e então me jogou na cama, virando-nos até que, sabe-se lá como, eu estava de costas e ele sobre mim, e sua boca foi descendo pela minha coluna e seus dedos desenhavam sabe-se o quê em mim. Eu suspirava e fechava os olhos, pra aproveitar melhor a sensação.

− Renard... – Chamei, entorpecida.

− Sean. – Ele voltou pra mim e deitou levemente sobre minhas costas, fazendo-me sentir cada curva, cada... Elevação de seu físico. (Isso mesmo, hehe.) – Diga. Meu primeiro nome, diga. – E mordeu minha orelha.

− Sean... – Clamei, como uma nova prece em uma língua que eu estava aprendendo, enquanto suas beliscadinhas com os dentes desciam por mim. – Sean! – Foi baixo e provocativo, mas foi o suficiente pra ele dar um empurrão nos quadris, fazendo-nos sentir aquela sombra, aquela promessa de prazer intrínseco.

− Você é perfeita – Ele expirou profundamente contra minha pele, os dedos deslizando por baixo do elástico da calcinha, nas laterais dos quadris. – Eu te quero.

Aquelas preliminares entraram além na noite, e nossas bocas não deixaram a outra a não ser que elas fossem explorar algum ponto nosso. Chegamos perto, mais de uma vez, muito perto.

Mas não podíamos. Ele me respeitava, e eu sabia que era apostar demais em uma só noite.

Então nos contentamos com os beijos e fizemos, pelos nossos lábios, todo o amor e sexo que não fizemos de outras maneiras.


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Notas finais do capítulo

Gente...
Só eu tô escutando... Esse som de tropas e gritos?
*Fãs de Alicard passam por cima da pobre Miha, que quase morre esmagada* AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ
GENTE
Eu sei, eu sei, também estou à mil com isso. *TEAM ALICARD* Estão liberados pra surtarem eternamente comigo lá nos comentários, ou Twitter, ou whatever!
Ah, e como prometido...
GENTE, AMO A JULIANA, TÁ
2BJO NA CARA DE VOCÊS TUDO E 4BJO NA CARA DELA
Ela me obrigou a fazer isso. *Apanha* #SQN
Vejo vocês tudo logo! Beijoks da Miha! *fãs de Michalicia, deixem-me alimentar-me de vossa dor #nogitsune’d*

PS: tinha uma cena, que eu não postei por motivos de: seria entregar a história toda na bandeja, então não. Hehe' :*



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