Stranger escrita por Okay


Capítulo 48
Confiança.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 19/11/2020



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Capítulo 48 — Confiança. 

— Você vai ficar mesmo? — Marcus perguntou, radiante. 

— Eu vou. 

— E o que fez você mudar de ideia? 

— Eu queria poder falar alguma coisa romântica agora, mas na verdade, o que eu mais preciso agora é de tempo. — Lucas revelou. — Eu poderia até dizer que foi a noite de ontem ou as suas declarações, mas eu só quero saber se o que a gente tá sentindo agora é passageiro, entende? 

— Tudo bem. — Sorriu, pegando em sua mão. — Assim que quiser ir embora, você me fala e eu compro a sua passagem. Enquanto isso não acontece, a gente aproveita esse tempo pra se conhecer melhor e ver como as coisas vão continuar. 

O loiro puxou-o para um beijo curto, demonstrando que concordava com aquilo, estava mais calmo, certo do que estava fazendo e, principalmente, feliz. 

Rachel estava de pé ao lado de Alberto, cutucando-o com o cotovelo ao notar Marcus e Lucas chegando de mãos dadas. Eles tentaram segurar a risada maliciosa, mas não conseguiram disfarçar que estavam torcendo internamente para vê-los juntos. 

— Bom dia, casal. — Alberto provocou, vendo-os abrirem um sorriso tímido. — Vamos tomar o café? 

Os quatro se serviram e depois escolheram uma mesa. O primeiro assunto ao se sentarem, foi onde Lucas revelava que não iria voltar com eles. Alberto arregalou os olhos, feliz por eles, enquanto Rachel apenas forçou um sorriso, tentando não demonstrar seu incômodo. Quando Marcus e Alberto conversavam distraídos, ela chamou atenção do amigo, dizendo baixinho:

— Luke, eu posso ir conversar com você em particular? 

— Agora? — O loiro quis saber, vendo-a assentir com a cabeça. — Tá bom. 

— A gente já volta. — Rachel comunicou os outros dois que ficariam na mesa, enquanto se levantava.  

Andaram juntos, com ela os guiando para uma região longe o suficiente para que não pudessem ouvir o que diriam. Pararam de andar quando chegaram perto dos banheiros.

— A mesma roupa de ontem, né? — Rachel iniciou o assunto, parando os olhos sobre as manchas no pescoço dele. 

— Pois é. — Sorriu, 

— Eu não quero enrolar, Luke, vou ser direta ao ponto. — Ela começou a dizer, totalmente séria. — Esses dias atrás você tava surtando por esse homem, totalmente confuso do que fazer e hoje você me diz que vai ficar aqui com ele? Que história é essa?!

— Eu ainda estou confuso, se quer saber, Rach. Mas eu entendo a sua preocupação, eu só quero que saiba que eu estou sim totalmente ciente do que eu tô fazendo… 

— Eu não quero que você entre de cabeça em uma coisa que pode te machucar ainda mais. Eu sei que a noite de ontem foi boa, seu pescoço tá me falando isso, mas só porque esse cara tem dinheiro e um pau enorme, não significa que ele não vai quebrar seu coração de novo! — Ela bufou.

— Como você sabe do…?

— Não queira saber. 

— Rachel. — Chamou-a, vendo-a chateada. — Eu estou começando a ficar por dentro da vida dele… Ele tá, sim, fazendo de tudo pra me convencer, não vou negar, mas se for pra eu realmente ficar com ele, eu quero saber no que estou me metendo. É por isso que eu quero ficar. 

— Por que você não volta com a gente? Ele vai vir atrás de você se te ama tanto quanto ele diz! 

— Rachel, eu sei que você não quer que eu me arrependa dessa decisão, mas se for pra eu quebrar a cara, então eu preciso passar por isso. Mas eu não quero viver na dúvida, eu quero ver o que me aguarda… Eu tô confiante, mas também sei que pode dar merda. 

— Espero mesmo que ele não te faça mal. — Ela fez beicinho. — Ele parece gostar muito de você, mas eu não o conheço direito e me dói pensar que você vai estar longe da gente e… E se ele te fizer algo de ruim?

— Ele não vai, Rach. — Falou, firmemente. — Mas se ele fizer, eu mesmo vou me encarregar de dar o que ele merece. 

— E quando você vai voltar?

— Não sei, Rach, eu tava pensando em talvez ficar mais umas duas semanas, não sei. Vai depender de como as coisas seguirem aqui. — Afirmou, ainda vendo-a triste. 

— Você vai falar comigo todo dia, né?

— É claro que eu vou. — Sorriu. 

— Luke, eu não quero que você ache que eu não quero te ver feliz, mas é que… Eu fico preocupada demais. 

— Eu sei disso, só o fato de você querer falar comigo já me faz perceber o quanto você me ama, Rach.

— Ele deve ser bom mesmo de cama. — Ela brincou, fazendo-o rir. 

— Não é só isso. — Declarou. — Eu só quero saber de verdade o que eu sinto por ele, saber se as coisas não vão mudar e se as decisões que tomei não foram apenas pelo calor do momento. Eu não saberia disso se eu voltasse pra Nova York, talvez até saberia, mas só iria prolongar e eu não quero mais esperar. 

— Então boa sorte, Luke... Eu tô torcendo pra dar tudo certo. 

A despedida dos amigos foi uma completa choradeira como já imaginavam, com a maior parte das lágrimas sendo de Alberto, obviamente. Rachel também se emocionou, não querendo deixar o amigo para trás, mas se despediu com um abraço apertado, esperando vê-lo em breve.

Para a surpresa de Marcus, ela também o abraçou, aproveitando o momento para sussurrar uma leve ameaça em seu ouvido caso ele magoasse Lucas outra vez. 

— Pode deixar, que se eu magoar ele de novo, eu mesmo vou me punir. — Retribuiu em um sussurro. 

Ela sorriu ao ouvir aquilo, acreditando que o amigo realmente estaria em boas mãos. 

Assim que embarcaram, voltaram para o carro que Marcus alugou para levá-los ao aeroporto. Com o loiro colocando o cinto de segurança e dizendo:

— Mark, eu estava pensando em uma coisa.

— Diga. — Falou, também encaixando o cinto.

— Se você abriu uma empresa, então você tem que ter um endereço de uma residência fixa, né? 

— Isso mesmo. E eu tenho uma casa alugada aqui, mas eu nem me lembro da última vez que fui pra lá. 

— Por quê?

— Porque no hotel tem tudo, academia; serviço de quarto; lavanderia; limpeza; o centro é perto. Além de que eu não queria ficar sozinho, no hotel eu tô sempre vendo gente e isso me fazia bem. 

— Eu quero conhecer essa casa, se você não se importar. — Lucas pediu convicto. 

— Eu posso te levar lá agora, se quiser.

— Quero sim. 

— Eu só preciso passar no hotel pra pegar a chave. 

— Tá bom, sem problema. — O loiro aceitou. — E como é lá? É uma casa vazia ou você tem móveis?

— Já foi alugada com os móveis e tudo. — Respondeu, dando a partida no carro. — E não é uma casa muito grande, mas é confortável. Pra ser sincero, é quase do tamanho do quarto que eu tô ficando no hotel, a casa só é um pouco maior porque tem cozinha. 

— Mas convenhamos que a suíte que você fica é enorme, bem maior que qualquer apartamento que eu já tenha morado. — Riu. 

Seguiram ao hotel e Marcus continuou falando mais sobre a casa e como deu começo aos negócios, explicando detalhes sobre a empresa que Lucas perguntava. Quando pegaram a chave, rumaram à casa, com o loiro ficando ansioso para chegar. Bem mais distante do centro, em um local reservado e com outras casas charmosas, o carro foi estacionado. 

— É aquela ali, com o arco de flores na entrada. — Marcus indicou, sanando a curiosidade de Lucas.

— É bonita. — Falou, saindo do carro com ele.

— Mantenho alguém cuidando do gramado e do jardim da frente. — Andou com ele até lá, tirando as chaves do bolso. 

Entraram juntos na casa, com o loiro olhando tudo ao redor, vendo alguns móveis cobertos por lençol, mas o que conseguia enxergar, era uma casa mexicana típica, com paredes coloridas e azulejos de arabescos coloridos na cozinha. 

— Vai estar um pouco empoeirada, então cuidado. — Marcus avisou.

— Cuidado com o quê? — Lucas perguntou, sem entender. — Ah! Então foi por isso que você insistiu pra eu trazer a minha bombinha de asma? 

— É claro que sim! Eu sabia que aqui não via uma limpeza há alguns meses, então fiquei preocupado de te desencadear alguma crise. — Falou, colocando as chaves em uma das mesinhas. — Bom, preciso ligar o registro geral porque deixei desligado, mas se quiser, eu acho que tenho uma embalagem de café fechada no armário, posso fazer pra gente. 

— Eu aceito. — O loiro sorriu, gostando de ver a preocupação dele com sua saúde, indo à cozinha, puxando um dos bancos, vendo-o abrir o gás e a água.

— Espera, vou pegar um pano úmido pra passar aí, não senta ainda. — Abriu uma das gavetas da cozinha, pegando um tecido e encontrando um produto de limpeza no armário, limpando a banqueta. — Prontinho, agora dá pra sentar. 

Lucas riu, vendo-o aproveitar para limpar o outro banco e o restante do balcão. 

— Mark, aqui é uma ótima casa. — Apoiou os cotovelos sobre a bancada já limpa. — Você acha que teria algum problema a gente ficar por aqui? 

— Você quer sair do hotel? 

— Não é que eu não goste de lá, mas acho que seria interessante fazer esse teste já que vou ficar um tempo a mais em Cancún. 

— Eu vou adorar morar aqui com você. — Sorriu. — Você já sabe quanto tempo quer ficar?

— Eu pensei em ficar por mais uma ou duas semanas, mas vai depender de você, principalmente para o caso do tempo ser menor. — O loiro falou seriamente. — Mark, eu quero que entenda que não tô aqui pra perder meu tempo.

— Eu sei, Lucas, também não quero fazer você desperdiçar o seu tempo. 

— Então saiba que eu vou sair daqui com uma certeza, a de que eu vou ou não, ficar com você. E eu preciso que você seja totalmente honesto comigo a partir de agora… — Continuou, exigente. — Você sabe que eu gosto do fato de você ser um homem romântico, mas sinceramente, isso não vai ser o que vai me fazer decidir. Eu preciso que você me mostre que eu posso continuar confiando em você, como naquele dia que você me levou pra ver o galpão, entende? Não quero que fique com medo da minha reação, porque eu não vou fugir como eu fiz naquele dia.

— Você tendo ficado assustado, ou não, eu não me arrependi de ter falado aquilo pra você, se quer saber.

— Que bom. — O loiro afirmou. — E você nem tinha me falado dessa casa, eu sei que é porque as coisas ficaram estranhas naquele dia, mas esse tipo de coisa você não pode mais esconder de mim. Quero que me conte tudo. 

— E eu vou. — Balançou a cabeça afirmativamente, sorrindo com sinceridade. — E eu fico feliz que esteja aqui pra gente poder esclarecer tudo com calma. Se você quiser, amanhã mesmo podemos ir pro galpão e eu te mostro mais do que faço por lá. 

— Pode ser, aí eu te ajudo com a limpeza daqui, se quiser. Ou você contrata uma empregada, não sei o que vai escolher, já que tá cheio da grana. — Falou, roubando uma risada dele. 

— Eu prefiro pagar, sinceramente. Aí a gente vem pra cá com tudo já limpo. — Marcus concluiu. — E enquanto isso, vou te introduzir em todos os esquemas que faço lá no antiquário, já que você pediu, esse é um caminho sem volta, Sr. Fontaine. 

— Olha só pra você, um stalker, assassino e estelionatário, que partidão eu arranjei. — Lucas falou, fazendo-o soltar uma gargalhada alta.  

No dia seguinte já saíam do hotel, levando as malas ao carro, com a maior parte das coisas que lotavam o bagageiro sendo de Marcus, tudo o que comprou nos últimos meses estava no hotel e agora levavam tudo para a casa que conviveriam pelas próximas duas semanas.

— Nossa, parece até outro lugar. — Lucas falou, ao entrar na casa novamente. 

— A equipe de limpeza que eu chamei foi bem recomendada.

— Olha, sobre isso, eu tava pensando em uma coisa ontem… — O loiro falou, deixando as malas ao chão, encarando-o em seguida. — Eu sei que você sabe o que é viver bem, tem recursos pra isso, mas… Eu vou ficar mais confortável se você abrir mão desses privilégios um pouquinho. 

— Como o quê? — Marcus quis saber.

— Então, o jeito mais fácil da gente aprender a conviver é tendo uma divisão de tarefas, a gente pode ir fazer as compras pra casa juntos, limpar, cozinhar, essas coisas. Eu sei que não é glamoroso, mas eu conseguiria te conhecer melhor e assim seria bom pra gente. — Lucas explicou. — Tudo bem por você?

— Mas a gente ainda vai poder ter alguns luxos de vez em quando, né? Tipo jantar em um restaurante legal ou comprar alguma coisa cara e totalmente desnecessária. —  Perguntou, fazendo-o rir. 

— É claro que sim, mas eu sei que o dinheiro facilita muito as coisas, então seria bom a gente deixar de lado um pouco enquanto isso. 

— Por mim tudo bem. 

— Tudo bem mesmo? — O loiro se aproximou, abraçando-o pelo quadril. — Você não precisa aceitar tudo só porque eu tô pedindo.

— Mas eu abro mão dessas coisas se for pra fazer dar certo. — Retribuiu o abraço. 

— É só por duas semanas, tá bom? Depois você pode sair torrando a grana loucamente. — Riu baixinho, recebendo um beijo. — Vem, vamos começar a arrumar a nossa casa. 

Ao ouvi-lo falar aquela frase, Marcus exibiu um sorriso tão largo que quase mostrava todos os seus dentes, seguindo-o, começando a desfazer as malas. Iam ajeitando as coisas conforme achavam melhor e Lucas ajudava-o a decidir onde ficariam as decorações que ele tinha comprado, até achar uma caixa que já tinha visto antes. 

— Mark. — Chamou. — Onde eu guardo isso? 

— Acho melhor no guarda-roupa, em uma prateleira alta. 

— É a sua caixinha de lembranças, né? — O loiro afirmou. — Eu sei que é particular, mas eu posso ver o que você guarda nela? Se não quiser, tudo bem, eu só…

— Pode sim. — Marcus aceitou. — Não tem nenhum segredo que eu não possa te contar.

— Tem certeza?

— Abre logo. — Riu, indo com ele até o sofá. — Vou te mostrar o que cada coisa significa. 

Sentaram-se juntos e Lucas encantou-se com cada objeto, desde o menor e mais simples chaveiro, passando de cartas e bilhetes, até fotografias importantes. Estava maravilhado com as recordações, conseguindo entender como cada uma daquelas coisas havia moldado quem aquele homem era hoje e isso era fascinante. 

— Eu gostei de conhecer a sua mãe… Ela era linda, você puxou pra ela. — O loiro afirmou, contente. 

— O Al diz a mesma coisa.

— Você confia mesmo em mim. — Lucas falou de repente, pegando-o de surpresa. 

— Da mesma forma que você confia em mim. — Marcus entrelaçou seus dedos com os dele. — Você ter ficado me provou que você confiava em mim o suficiente pra me dar essa chance. 

— Me conta mais de você… Me fala como foi esse processo pra ter um documento novo, eu quero saber tudo. 

Marcus tirou a carteira do bolso, pegando seu documento e lhe entregando. 

— Eu tenho uma história toda nova, vou precisar te contar dos detalhes… Mas o mais importante de tudo, o que você precisa ter em mente, é que se você decidir ficar comigo, você vai estar mentindo todas as vezes que me apresentar pra alguém. — Falou, sinceramente. — Só você vai ter conhecido o meu passado e o meu verdadeiro nome, esse é um fardo difícil demais de carregar, eu sempre tenho que mesclar as experiências que eu tive na infância, com coisas que tive que aprender sobre o México e a cidade que eu supostamente nasci aqui. Ao menos consegui manter a minha data de aniversário pra não causar confusão e, ainda assim, não é fácil, Lucas, eu minto o tempo todo para os outros. 

— Mark, disso eu já sabia... Eu já tinha pensado nessas coisas quando decidi ficar aqui. — Revidou, vendo a expressão do outro se aliviar. — Se você tá preocupado comigo em relação a isso, não fique, só me conta tudo. 

Marcus sorriu, sentindo a apreensão anterior ir embora, expondo todos os detalhes da sua partida de Nova York e as pessoas de confiança que lhe ajudaram nessa nova identidade e fuga. Lucas já até tinha retirado os sapatos enquanto ouvia a história toda, ficando impressionado não só com as coisas que nem fazia ideia que existia, como da inteligência do homem à sua frente.

—  Que doideira. — O loiro desencostou a cabeça das costas do sofá. — Eu preciso muito de um café agora. 

— Eu vou fazer. — Riu, recebendo um beijo do loiro antes de se levantar

— Obrigado, Mark. — Falou, sorrindo. 

Passado um tempo, tomaram o café e voltaram a guardar as coisas que trouxeram, decidindo o espaço que cada um teria no guarda-roupa.

— Lucas, me conta alguma coisa sua agora. — Pediu, enquanto colocava uma camisa ao cabide. 

— Alguma situação vergonhosa ou algo assim? 

— Não necessariamente, só se você quiser. 

— Ah… Deixa eu pensar. — Sentou-se na cama. — Você lembra daquele instrutor que eu saí há alguns meses? 

— Ô se eu lembro. — Falou, fazendo-o rir. — Morria de ciúme, inclusive, mas continua. 

— Todo mundo chamava ele de Brock, mas quando a gente saiu, eu descobri que o primeiro nome dele era “Marco”, é, pois é. — Iniciou, vendo-o segurar uma risada. — Imagine então a cara que eu fiquei, me recusei o tempo todo a chamar ele assim por motivos óbvios, eu estava te odiando na época. Mas então teve um dia que eu tava bem na hora H com ele, e eu gritei o seu nome. 

— É o quê? — Marcus quis confirmar, tentando segurar a risada.

— Você ouviu. E ele não reparou, achou que eu tava chamando o nome dele. — Gargalhou. 

— Isso é sério mesmo? — Sentou ao lado dele. 

— Ainda bem que eu já tinha conseguido, senão teria perdido toda vontade ali mesmo, de tão sem graça que eu fiquei. 

— Eu achei fofo. — Falou, vendo as bochechas do loiro rosadas pela confissão. — Seu subconsciente não queria me esquecer, hein?

— E não foi só essa vez… Esses dias atrás, quando a gente nem tava se falando ainda, eu sonhei com você. 

— Sonhou é? E como foi esse sonho?

— Você vai se gabar demais quando souber. 

Lucas contou os detalhes, principalmente de todo o realismo que se lembrava, desde a massagem e as falas, até o final interrompido, além do que fez depois. 

— Então você bateu uma pra mim? Que safado! — Falou, roubando uma risada dele. — Mas tenho que admitir que tudo o que você disse, é realmente o tipo de coisa que eu falaria. Você me conhece melhor do que imagina. 

— Acho que sim, pelo visto.

— Quer uma massagem agora? — Marcus se aproximou de seu pescoço, sussurrando. 

— Talvez mais tarde. — Afastou-o de si, rindo baixinho. — Mas e você? Tem alguma coisa bem constrangedora pra me falar? 

— Pior que tenho. 

— Ah, é? Quero saber. 

— Se lembra daquela pessoa que eu comentei que cuidou de mim? — Perguntou, vendo-o assentir com a cabeça, continuando a dizer. — Então, ela trabalha no bar do hotel...

— Então é uma mulher? — Interrompeu-o. 

— Isso, ela se chama Angela. — Respondeu, voltando a contar. — Ela me servia todos os dias e eu acabei enchendo o saco dela pra ela ficar comigo. Eu sei que pode ser ridículo, até me sinto um idiota por ter feito isso, mas eu não saía do pé dela porque ela me lembrava você… Eu sei que eu já falei que eu tenho uma queda por loiros, mas não é verdade, eu só tenho você em mente e eu não conseguia parar de pensar em você. Foi então que eu fiz um trato com ela. 

— Que trato?

— Pra gente ficar junto, sem compromisso. — Afirmou. — Mas acabou que mesmo assim, ela ficou do meu lado quando comecei a beber demais, ela não foi embora e cuidou de mim. Não tinha sentimentos, não da minha parte, mas é triste pensar que eu fiz isso só pela aparência dela, eu me sinto péssimo e ela está arrasada agora. 

— Arrasada?

— Ela ouviu eu chorar todas as minhas mágoas sobre você, nunca teve preconceito por eu ser bi, então ela virou uma boa amiga. Mas quando ela te viu no noivado e percebeu que vocês eram parecidos, foi aí que ela entendeu tudo… Ela ficou uma fera comigo e com razão. 

— Isso é vergonhoso mesmo. — Lucas franziu o cenho. — Eu não consigo me imaginar no seu lugar agora. Você se desculpou com ela?

— Ela pediu pra eu nunca mais olhar na cara dela, então, acho que isso nem vai acontecer.

— É uma pena, mesmo. Quem sabe um dia você não consiga se redimir com ela? Ela parece ser uma mulher incrível. — O loiro animou-o, logo percebendo que seu celular vibrava no bolso, pegando-o. — É a Rachel, deixa eu responder antes que tenha mais uma mulher furiosa com a gente. 

Uma semana se passou e Lucas já tinha em mente que ficaria apenas mais alguns dias antes de ir, o que era uma pena, porque estava gostando da rotina que tinham estabelecido. Pensava que Marcus não conseguiria se adaptar facilmente com não ter os luxos de sempre, mas era bom ver que aquilo não tinha sido um problema.

Fizeram as compras da casa juntos, compraram coisas saudáveis e adaptaram a forma como treinavam, indo para uma academia próxima. Estavam conseguindo dividir bem as atividades domésticas e sempre cozinhavam juntos. 

O loiro estava jogado sobre a cama, imaginando como seria voltar para Nova York depois disso, era como se estivessem morando juntos há anos, de tão bem que as coisas estavam indo e, principalmente, da confiança que tinham um no outro. 

— Oi. — Marcus entrou no quarto. — Tá tudo bem? 

— Por que a pergunta? — Lucas se sentou na cama, vendo-o ir em sua direção. 

— Você parece distraído hoje. — Se acomodou no colchão, com o loiro agora se ajeitando no meio de suas pernas para ser abraçado. — Você tá bem?

— Tô sim. — Falou, enquanto recebia beijos no pescoço. 

— No quê você tá pensando?

— Tava só pensando na próxima postagem do blog. — O loiro mentiu. — Acho que já tenho um tema.

— Qual?

— Você me inspirou essa semana, acho que a próxima postagem será com o título “o dia em que eu lavei dinheiro no México”, que tal? — Sugeriu, fazendo-o rir. 

— Eu acho arriscado, mas deve dar público. — Brincou. — Mas era nisso que tava pensando? Você tá preocupado? 

— Não, não… — Deitou em seu peito. — Fica tranquilo, não tô preocupado com essas coisas, nem com a gente. Eu gosto da sensação de poder, me sinto como se estivesse dentro do filme “O Poderoso Chefão”, namorando o próprio Michael Corleone.

— Então a gente tá namorando? — Marcus perguntou, pegando-o de surpresa.

— Acho que sim… né? — Lucas respondeu, fazendo-o sorrir. — Mas Mark.

— Fala.

— Sabe? Eu menti, não estava pensando no blog, só disse isso porque… Na verdade, eu não tô bem, eu tô triste. Sei que eu vou ficar só mais uma semana e eu queria ter mais tempo. 

— Então fica mais. 

— Não, não é assim. — Rebateu. — Eu já fiz a minha parte, agora é a sua vez. 

— O que você precisa que eu faça? 

— Você sabe… Só continua provando pra mim que a gente pode fazer isso acontecer, eu tenho mais uma semana aqui e eu quero aproveitar. 

— Isso eu com certeza posso fazer. — Envolveu-o, mantendo-o no meio de suas pernas, distribuindo beijos na bochecha que tanto amava.

No dia seguinte foram ao galpão, precisavam trazer peças novas que acharam nas cidades vizinhas, era necessário manter o estoque girando, tudo para dar mais realismo para o local de fachada. Catalogaram os itens novos e removeram outros do site, não deixando de arquivar as compras por ordem cronológica. 

Lucas parou para pegar uma garrafinha de água que trouxe consigo e antes que a bebesse, espirrou duas vezes seguidas, chamando a atenção de Marcus, que indagou:

— Você tá bem? 

— Tô sim. — Fungou. — Não é nada demais, só alergia.

— Você tá com seu broncodilatador aí, né? Para caso precise. 

— Sim, ele tá comigo, mas não se preocupe, não vou precisar. — O loiro confirmou, vendo-o voltar a se concentrar no computador. 

Lucas via, melhor do que nunca, a preocupação dele consigo, não só com sua saúde, não se esquecendo de pedir para trazer sua bombinha, como até mesmo quando compravam algo no mercado, ele sabia do que gostava e sempre comentava de algo que lhe disse, não esquecendo das suas coisas preferidas.

— Mark. — Chamou-o, indo para atrás do balcão onde ele estava, abraçando-o pelas costas. — O que foi? Você tá todo comportadinho hoje. 

— Como assim comportadinho? — Perguntou, sem entender.

— Não tentou me agarrar ainda e a gente tá aqui há horas, nem parece você. — O loiro provocou.

— A gente pode dar uma pausa, se você quiser. — Virou-se com pressa, pegando-o pela cintura. 

— Ah, não, ainda tem muito trabalho aqui… — Lucas falou, manhoso, agora sentindo beijos em seu pescoço. 

— Vem cá. — Firmou seus dedos no quadril dele, ainda inclinado, depositando beijos agora em sua bochecha, indo até a boca. — Eu acabei de perceber uma coisa.

— O quê? — Encarou-o de perto, sentindo as mãos dele descendo até a parte inferior de seu corpo. 

— Que a gente ainda não transou aqui. 

Domingo, dia 28 de julho de 2013.

— Bom dia, loirinho. — Marcus saudou-o ao vê-lo abrir os olhos. 

— Bom dia. — Se espreguiçou. — Que horas são?

— Já passou da hora de levantar, são onze e meia. 

— Ah, não, mas hoje é domingo… 

— Vem, preguicinha, levanta. — Puxou o quadril dele, dando-lhe um selinho. — Você disse que ia correr comigo hoje. 

Lucas não costumava gostar de interações na cama antes de escovar os dentes, mas começou a se importar menos com o hálito desde que começaram a viver juntos e se adaptar com as manias um do outro. Apesar disso, também não ia muito além de um beijo rápido.

— Quer que eu traga um café pra você? — Marcus indagou, sentando-se na cama. 

— Não precisa, a semana inteira você me acordou com café na cama. — Riu baixinho, se levantando. — Já me mimou demais, Sr. Gonzalez. 

Escovou os dentes e se arrumou, colocando uma roupa fresca para ir correr, encontrando-se com ele na cozinha, vendo-o preparar um shake proteico. 

— Faz um pra mim também? 

— Já fiz um pouco a mais porque sabia que você ia querer. — Despejou o que chacoalhava em dois copos. — Pega aqui. 

— Valeu. — Pegou o copo e foi pra mesa, roubando uma banana da fruteira. — Eu queria te perguntar uma coisa. 

— O quê? 

— Você sabe que às vezes eu me confundo e te chamo de Marcus, mas teria algum problema em te chamar assim? Quando a gente tiver sozinho, é claro… Eu gosto do seu nome. 

— É, eu sei bem que gosta, principalmente quando você tá gozando. — Provocou, soltando uma risada sacana.

— Você não vai esquecer disso nunca, né? — Riu, alcançando-o para lhe dar um tapa. — Não posso mais te contar nada! Isso já tem uma semana e você não esqueceu!

— Eu tô brincando, você sabe… — Falou, parando de rir. — É claro que pode me chamar assim. 

— Então, tá. — Sorriu, levemente constrangido por ter lhe contado aquilo. — Mas agora você tá me devendo outra história constrangedora sua, porque não ficamos quites, naquele dia eu te contei duas e você só me contou uma. 

— Ok. Já quer ouvir uma agora? — Marcus sugeriu.

— Quero, manda a ver. — Deu o primeiro gole no shake, se sentando à mesa. 

— É meio nojenta, você não liga pra isso? 

— Não. Pode falar. 

— Me lembrei agora de uma coisa que a minha mãe me contou que eu fiz quando era pequeno, não faço ideia de quantos anos eu tinha, talvez uns quatro anos ou mais. — Puxou uma cadeira e também se sentou. — Ela gostava de fazer uns truques de mágica, desses simples, sabe? Como tirar a moeda de trás da orelha e coisas assim. Teve uma vez que ela tava me mostrando um truque que ela tirava a moeda da boca e aí ela disse que eu simplesmente fiquei hipnotizado e pedia pra ela repetir toda hora. 

— Que fofinho! — Lucas exclamou, imaginando-o criança por ter visto as fotos de infância dele. 

— Mas foi aí que ela deu essa moeda pra mim e eu queria impressionar ela como ela me impressionou também, então me lembro de ela falar que eu imitei tudo igualzinho, coloquei na boca igual ela fez e foi aí que consegui fazer a melhor parte do truque. — Fez uma pausa, bebendo de seu copo antes de continuar. — Eu realmente consegui fazer a moeda desaparecer.

— Não vai falar que… 

— É, eu engoli a moeda. — Segurou a risada. — E tudo que entra, sai. 

— Ai meu Deus… 

— Deu uns três dias e ela achou essa moeda, depois de revirar muito cocô com um palitinho. — Falou, fazendo o loiro gargalhar, deixando o copo que segurava com pressa sobre a mesa, parecendo engasgado, começando a tossir.

— Ai! — Lucas exclamou, tampando o nariz que agora escorria shake proteico. — Tá ardendo!

— Tá tudo bem? — Marcus chamou-o, enquanto tentava segurar a risada, mas falhando miseravelmente ao ver a bebida escorrer das narinas dele. 

— Ai, tá ardendo mesmo… — O loiro reclamou, vendo-o rir descontroladamente. — Não tem graça!

— Tem sim. — Falou, controlando a respiração para tentar não rir mais. 

— Eu não acredito nisso. — Lucas falou, envergonhado. — Pronto, agora você tá me devendo mais uma história constrangedora. 

Marcus voltou a rir e o loiro fingiu que estava bravo por alguns segundos antes de voltar a rir também. Depois disso, terminaram de comer e se prepararam para ir correr, passando o protetor solar e calçando os tênis antes de sair. 

O calor não deixou que corressem mais que sete quilômetros, voltando para a casa fatigados pelo mormaço do sol de meio-dia, pensando que não tinha sido uma boa ideia ter saído naquele horário para correr. 

Só precisavam de um banho quando chegaram, indo juntos ao chuveiro. Lucas sabia que era sempre provocado por ele quando tomavam banho, mas pensou em inverter a situação, puxando-o para um beijo atrevido, arranhando as costas dele, descendo com suas mãos até o bumbum, apertando os dedos ali com força. 

— Marcus, você já foi passivo? 

— Nunca. — Se surpreendeu tanto com a pergunta, como pelo gesto. — Por que a curiosidade? Quer tentar inverter?

— Isso significa que tem vontade? — O loiro abriu um sorriso safado. 

— Não exatamente, mas se você quisesse, eu toparia sem nem pensar duas vezes. — Falou, vendo-o erguer uma das sobrancelhas. — Até porque o seu é pequenininho, seria fácil. 

— É o quê?! — Lucas abriu a boca em espanto, dando-lhe um tapa no tórax. 

Marcus soltou uma risada alta, agarrando-o pelo quadril enquanto ele espalhava a água do chuveiro por estar lhe estapeando debaixo do chuveiro. O loiro se rendeu e fez beicinho falso de tristeza, em uma tentativa de fazê-lo pedir desculpas. 

— Eu amo o seu pintinho. — Falou, rindo, vendo-o tentar afastá-lo. — Vem cá, não foge não. 

— Só por isso eu vou embora! — Lucas brincou. — Pode ir comprando a minha passagem! 

— Que pena, só porque eu tava já pensando na possibilidade da gente inverter… — Assumiu, vendo-o morder o lábio inferior. 

— O que vai querer jantar? — Marcus se aproximou de Lucas no sofá, vendo-o concentrado. 

— Desculpa, amor. O que você falou? — Tirou os olhos do notebook em seu colo, vendo-o sorrir bobamente.

— Você me chamou de amor. — Observou, derretido, vendo-o abrir um sorriso tímido. — Eu tava só perguntando o que você ia querer comer, mas vi que você tá escrevendo, então não vou te atrapalhar.

— Tô só tentando, não consegui escrever nada. Tudo o que vem em mente é aquela história que você contou mais cedo da moeda. Não só porque foi engraçado, mas por causa da sua mãe… — O loiro deixou o notebook de lado. — Na verdade, tô pensando em uma coisa tem muito tempo e eu queria te contar.

— Fala. — Sentou ao lado dele.

— No ano passado, eu comecei a receber ligações da minha mãe. Foi logo depois do velório do Gus, ela conseguiu o meu número com a mãe dele, a Karen, quando soube que eu estive por lá… Eu só atendi uma única ligação e quando vi que era ela, nunca mais atendi. Mas eu me lembro de dizer “alô” e ouvir ela falar “alô, meu filho”... — Lucas fez uma pausa, tentando controlar a vontade de chorar. — Até hoje eu me pergunto o que ela tinha para me falar, mas aí eu troquei de telefone e nunca mais tentei entrar em contato de novo. 

— Você não devia viver com essa dúvida. — Falou, vendo-o pensativo. 

— Mas eu nem tenho mais o número dela…

— E desde quando essa é a única forma de entrar em contato com alguém hoje? — Rebateu. — Por favor, né? Você é de uma geração mais nova que a minha e sabe usar as redes sociais melhor que eu.

— Você acha que eu deveria procurar ela na internet? — Lucas sorriu timidamente. 

— Se você tá tão curioso assim, com certeza. — Pegou o notebook que estava ali, colocando-o novamente no colo dele. — Pode começar.

— Agora?

— Agora. Eu tô aqui do seu lado, vai. 

O loiro mordeu o lábio inferior, receoso, tomando coragem para digitar “Harriet Fontaine”, demorando um pouco para achar as redes sociais que ela fazia parte, por uma dificuldade em encontrá-la.

— Que estranho… — Lucas observou a tela. — Ela está usando o nome de solteira agora. Será que ela se divorciou do meu pai?

— Isso é um bom sinal, né? — Marcus analisou, vendo cada expressão de curiosidade que ele esboçava, continuando a vasculhar as informações. — O perfil é aberto?

— É sim, dá pra ver que tem um monte de foto minha aqui nos álbuns dela. — O loiro falou, bisbilhotando um álbum sem título. — Nossa, olha essa foto aqui! 

— É você? Que coisinha linda. — Sorriu ao ver um garotinho com a língua de fora, vestido de cowboy. — Quantos anos você tinha?

— Não sei, acho que uns três aninhos. — Observou, rolando a tela para ver outros álbuns recentes.

A atenção dos dois agora era voltada à uma foto da mulher loira segurando uma bebê, que estava com um vestido pomposo e laço cor-de-rosa. Ambos ficaram intrigados pela legenda da foto, que dizia “preciosidade da mamãe”. 

— Então você tem uma irmã. — Marcus concluiu, vendo Lucas abrir os olhos em espanto, ainda olhando para a imagem, completamente estático.

— Mas… Quando foi isso? Se ela tá separada, então quem é o pai?  — O loiro perguntou, começando a buscar mais fotos. 

— Lucas, olha isso aqui. — Marcus apontou para que ele abrisse uma imagem, deixando-a maior. — Consegue dar um zoom? 

— Consigo. — Afirmou, ampliando a foto onde sua mãe acariciava a própria barriga de gestante. 

— Ela tá usando uma aliança nessa foto, você reconhece esse anel? 

— Sim, é o anel que meu pai deu de noivado. 

— Pelo visto, ainda estava casada com seu pai quando engravidou, então essa menina é sua irmã mesmo. 

Lucas não conseguiu dizer muita coisa nos momentos seguintes, olhando para o notebook por alguns minutos, absorvendo todas as informações que tinha conseguido. Tinha medo do que mais poderia descobrir, mas estava disposto a ver o que perdeu da vida de sua mãe no tempo em que esteve afastado. 

O loiro continuava a ler as publicações, notando que ela não era uma mulher que usava muito a rede social, percebendo que mais via vídeos de receitas do que coisas pessoais. Mesmo assim, rolava a página dela, começando a ver frases tristes e outras motivacionais, talvez pelo divórcio, mas algumas remetiam à saudade de alguém que havia “perdido” há muito tempo. 

Lucas tentava desviar seus sentimentos para que não se deixasse levar por aquela tristeza, mas era difícil ver fotos da mulher que lhe criou, principalmente ao vê-la agora sozinha, cuidando de uma criança pequena. 

O loiro ainda vasculhava as postagens, tendo sua atenção tomada por uma foto recente da garotinha que aparentemente era sua irmã, em um cenário que parecia ser de uma apresentação de escolinha.  

— Ela é fofa. — Marcus elogiou, vendo a foto da menina vestida de abelhinha. 

— Que estranho, parece que eu já vi essa menina… — Lucas falou, após alguns segundos analisando aquela imagem. 

— Ela é bem parecida com você. 

— Não, não por isso. Acho que eu realmente já a vi. — Deduziu. — Espera, eu lembro! Ela tava no velório do Gus! Ela falou comigo!

— Sério? 

— Meu Deus, eu me lembro disso! Eu tava com o Alberto, quase indo embora e chegou essa menina e abraçou as minhas pernas. Eu até pensei que era a coisa mais fofa do mundo, achei que ela tava me confundindo com alguém. — O loiro explicou, com os olhos brilhantes com aquela memória. — Foi então que eu perguntei se ela queria alguma coisa e eu peguei um copo de água pra ela. Eu perguntei a idade dela e o nome, ela mostrou com os dedinhos que tinha quatro anos e me disse que o nome dela é Melanie, pensa numa gracinha! 

— Então ela está completando cinco anos agora. — Observou. — E ela, pelo jeito, te reconheceu, sua mãe provavelmente mostrou suas fotos pra ela, isso é muito fofo. 

— Eu nem acredito nisso. — Lucas riu bobamente, passando a mão pelo rosto. 

Marcus abraçou-o, vendo-o num misto de sentimentos, rindo ao mesmo tempo que parecia se emocionar. Percebia o quanto ele estava pensativo em relação ao que fazer, não se decidindo se mandava uma mensagem ou não, de tão chocado com todas aquelas informações novas que havia recebido de uma única vez. 

— De uma coisa eu sei. — Mark disse, retomando a atenção do loiro.

— O quê?

— Que eu vou roubar todas essas suas fotos de criança do perfil da sua mãe. — Afirmou, fazendo-o rir. — Que gracinha você era. 

A noite se seguiu tranquila e deixaram aquele assunto de lado para focar no jantar, ajudando um ao outro na cozinha. Lucas conseguiu se distrair das coisas que viu de sua mãe nas redes sociais, para agora pensar em outra coisa. Jantaram juntos e enquanto Marcus recolhia os pratos, o loiro se levantou da mesa, começando um novo assunto:

— Marcus, você quer ter filhos?

— Eu sempre quis ser pai. E você?

— Não sei, nunca parei pra pensar nisso antes.

— Se você não quisesse ter, não teria problema, não se preocupa. — Sorriu, abrindo a lava-louças, encaixando o que segurava nos compartimentos. 

— Mas…

— Mas? — Marcus virou-se para ele, vendo-o parecer chateado. 

— Você é bi, você sabe que pode ter filhos biológicos se quiser. — Lucas afirmou seriamente. — O que impediria esse seu sonho, se você ficasse comigo. 

— Meu sonho é você, não filhos. — Caminhou até ele, não gostando da expressão que ele carregava. 

— Você entendeu o que eu quis dizer, eu tô dizendo que… Você sabe que pode ser feliz com uma mulher se você quiser. — O loiro continuou, incomodado. — Olha, pra ser bem sincero, eu não escolheria sofrer tanto ficando com homens se eu tivesse nascido bi. É que pra mim é estranho… Eu não… Como eu posso ter tanta certeza que você não vai mudar de ideia? 

— Você acha que tem mais chances de eu te trocar só porque eu sou bi? É isso que eu acho que você tá dizendo? — Indagou, tentando não se alterar. 

— Não! Não é isso! Eu só tô dizendo que eu não sou mulher! Se você me assumir, você vai ver que é diferente! — Exclamou, com tristeza. — Andar comigo na rua não vai ser a mesma coisa… 

— Eu sou um homem bem resolvido. Os olhares tortos são a minha última preocupação, se é o que quer saber. — Rebateu, vendo-o abaixar o olhar. 

Lucas parecia tentar manter a postura firme enquanto dizia e ouvia aquelas coisas, mas não conseguiu fazer com que sua voz não tremesse e o choro não viesse, saindo da frente dele com pressa, indo para a porta que dava aos fundos da casa. 

O quintal não era grande coisa, continha apenas um muro para delimitar o terreno, do qual não deixava muito espaço para outros ornamentos além de um banco reto de concreto, que agora era ocupado por uma segunda pessoa. 

— Você quer companhia? — Marcus perguntou, ao sentar-se ao lado dele, vendo-o manter o silêncio, fungando baixinho. — Ei… O que eu posso fazer pra você parar de se sentir tão inseguro?

Lucas não conseguiu encará-lo mais que alguns segundos, voltando a enxugar os olhos, sem nada dizer. 

— Eu preciso falar que eu morro de ciúme com aqueles comentários histéricos sobre a sua aparência no seu blog? Ou falar que eu vasculhei todas as redes sociais daquele Brock pra ver o que tinha de tão bom nele? — Falou, vendo-o rir baixinho em meio ao choro. —  Ou será que eu tenho que falar que eu não tenho mais olhos pra ninguém desde que a gente se viu pela primeira vez? Você também me deixa inseguro, tá bom? E muito, principalmente porque você se fecha e eu não faço ideia do que você sente por mim… Eu quero que você continue compartilhando as suas inseguranças comigo e eu quero que saiba que eu tenho as minhas… E tá tudo bem. 

— Marcus.

— Oi? 

— Só você tem esse jeitinho especial de fazer eu me sentir melhor. E você tem um jeito especial pra tudo: pra me irritar, pra me seduzir, me provocar, me encorajar. Só você me faz rir até sair leite pelo meu nariz! — Lucas falou, roubando um riso discreto dele. — Se você não for a pessoa certa pra mim, então quem mais seria? 

Marcus abriu um sorriso genuíno, entrelaçando seus dedos com os do loiro, vendo-o encarar suas mãos unidas. Lucas voltou a admirar aqueles olhos esverdeados que tanto brilhavam, tomando coragem para dizer o que estava aprisionado em seu peito há muito tempo:

— Eu te amo. 

 

 

 


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Notas finais do capítulo