Stranger escrita por Okay


Capítulo 49
Laços.


Notas iniciais do capítulo

Beijos & Boa leitura! ♕
Capítulo revisado e reescrito 24/11/2020



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Capítulo 49 — Laços. 

— Fala mais uma vez? — Marcus pediu, quase num sussurro por estar sem fôlego. 

— Eu te amo. — Lucas voltou a dizer a pedido dele, sorrindo. 

— De novo, por favor. — Colou sua testa na dele, vendo-o rir baixinho.

— Eu te amo, eu te amo, eu te amo. — O loiro falou rindo, a cada frase depositando um beijo rápido sobre os lábios dele. 

Marcus tocou-o na bochecha, acariciando seu rosto antes de receber outro beijo. Olhou para a expressão apaixonada à sua frente, encantando-se com os olhos azuis sinceros, seu coração batia tão rápido que pensava que estava prestes a explodir. Aquelas três palavras eram o que mais sonhou ouvir e ainda não estava acreditando. 

— Eu também te amo, loirinho. — Afirmou apaixonadamente. — Mais do que tudo nessa vida. O seu amor é o que eu tenho de mais valioso… Eu tô tão feliz. 

— Eu também estou. — Lucas sorriu, sentindo seus olhos marejarem outra vez, mas agora, de felicidade. — Eu queria tanto te falar isso… Eu tô amando você, dá pra acreditar nisso? 

Marcus riu baixinho enquanto fungava, tendo que limpar uma lágrima que escapava timidamente de seus olhos, dizendo:

— Eu já estava feliz porque você me chamou de “amor” mais cedo, se lembra? Eu sei que talvez foi sem querer, mas eu já fiquei muito feliz. 

— Não, não foi sem querer. — O loiro rebateu. — Não fala assim, não. 

— Então eu posso te chamar de “meu amor” se eu quiser? Eu sei que é meloso, mas eu sempre quis isso. 

— É claro que pode. — Lucas sorriu com o jeito atrapalhado dele, vendo-o num misto de vergonha e felicidade. 

— Então tá bom, meu amor. — Confirmou, sorrindo acanhado. 

Segunda-feira, dia 29 de julho de 2013.

— Você parece pensativo. — Marcus fez uma observação, vendo Lucas encarar o notebook há alguns minutos sem nada escrever. 

— Oi? 

— Você está pensando na sua mãe, né? — Voltou a dizer, vendo o loiro assentir com a cabeça. — Por que não manda uma solicitação de amizade pra ela? Tenho certeza de que ela vai ficar muito feliz. 

— Eu não sei…

— Do que você tem medo? 

— Sei lá… Talvez isso não seja necessário, entende? Acho que… Já passou tanto tempo, sabe? Pra que ir atrás disso agora? E se…

— Tudo isso são só suposições, eu sei que você tá com medo de desenterrar todos esses sentimentos guardados bem lá no fundo, mas eu tenho certeza que enfrentar isso vai te deixar muito mais forte, mais do que você já é… — Marcus o incentivou, vendo-o suspirar. — Olha só quanta coisa você já passou, por que acha que não seria capaz de falar com ela de novo?

— Eu tenho medo de ela estar me odiando agora. E se ela contar pra toda a família? E se todo mundo vier atrás de mim pra tirar satisfações? Eu não sei se eu aguento isso…

— Olha, isso pode ser sim uma possibilidade, mas eu aposto que ela tá doida pra te ver de novo. No fundo, todas as mães são iguais, a minha mãe sempre amaldiçoou tanto o nome do meu irmão, mas sempre chorava pedindo pra Deus pra ele voltar pra casa. — Relembrou, forçando um sorriso. — Acredita em mim, ela vai ficar muito feliz com o seu contato. Ela com certeza não deixou de te amar, isso é impossível, olha só pra você, tem como odiar uma carinha dessas? 

— Para de graça. — Sorriu timidamente. 

— A questão é… Você ainda ama ela?

Lucas comprimiu os lábios, com todas as fotos da mãe vindo em mente, sentindo seu coração disparar ao lembrar-se de como era amado por ela e de como ela também sofreu nas mãos de seu pai. O que doía, era lembrar que ela não ficou ao seu lado quando precisou, ela permaneceu calada ao ver aquele homem monstruoso se voltar contra o próprio filho. 

Agora que ela não estava mais com ele, se perguntava se seria diferente, porque então talvez, só talvez, ela poderia estar arrependida e quem sabe, poderiam retornar o vínculo. O loiro respirou fundo, contornando aqueles sentimentos, voltando à pergunta de Marcus, gesticulando a cabeça afirmativamente, recebendo um abraço dele, ouvindo-o dizer: 

— Então fala com ela, amor. 

Naquela tarde, Lucas tomou coragem para fazer aquilo, entrando na rede social da mãe mais uma vez. Enviou o pedido de amizade e era como se seu corpo todo se arrepiasse, sentindo suas mãos ficarem escorregadias de suor. 

Marcus percebeu que daquele momento em diante, o loiro perdeu totalmente a paz, ficando agitado, perambulando pela casa, arrumando coisas que não precisavam arrumar e fazendo mais café, agora pegando uma caneca no armário. 

— Acho que você não devia tomar isso. — O mais velho aconselhou. 

— Por quê? — Lucas indagou. 

— Você já tá ansioso demais, não acha que o café vai piorar? 

— Não, não acho. — Retrucou. — Fica na tua. 

— Olha o nível do vício. — Marcus riu da expressão rabugenta dele, vendo-o encher a caneca. — Você ainda vai ter um troço, sabia? 

— Não tô nem aí. — O loiro rebateu, retirando o celular do bolso ao perceber que ele vibrou. 

— Mensagem? 

— É uma notificação… Minha mãe me aceitou e me mandou uma mensagem. — Falou, com o coração disparado. 

Lucas correu para a sala, deixando a caneca na mesa de centro e pegando o notebook antes de se sentar. 

— E então, o que ela disse? — Marcus indagou, sentando-se ao lado dele no sofá. 

— Ela quer me ver… 

— Por chamada de vídeo ou pessoalmente?

— Por vídeo. Agora. — O loiro respondeu, com o olhar distante, sem acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo. 

— E o que você vai falar pra ela? 

— Eu queria ver ela também. — Mordeu o lábio em receio. — O que você acha?

— Então fala que sim! — Encorajou-o. — Vai, você tá lindo. 

— Tá, tá bom. — Lucas assimilou, precisando respirar fundo antes de mandar uma mensagem afirmativa para a mulher. 

Marcus observou-o se ajeitar no sofá, começando a roer a unha enquanto esperava Harriet responder. O loiro arrumou os cabelos, conferiu a roupa que usava e por último, pegou a caneca sobre a mesinha enquanto esperava. 

— Ela tá ligando. — Lucas falou, ainda segurando o café. 

— Atende! — Incentivou-o, tirando a caneca de sua mão. 

Lucas sentiu o coração disparar enquanto apertava o botão positivo para iniciar a chamada, vendo a conexão ser estabelecida por alguns segundos até finalmente ver a mulher loira em sua tela, ajeitando os cabelos até perceber que a chamada foi aceita. 

Ambos apenas encararam os aparelhos. Lucas se sentia estranho, com um embrulho em seu estômago que não sabia o que poderia ser. Achou que teria mil maneiras de cumprimentar sua mãe agora que estavam se vendo, mas se enganou terrivelmente. Estava completamente mudo e podia notar que ela também. 

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Harriet e ela soltou um suspiro emocionado, tentando não perder o controle naquele momento. 

— Lucas... — Ela disse, erguendo a mão para, aparentemente, acariciar a tela do computador. —  É... É você mesmo? 

— Oi. — Cumprimentou-a, com um sorriso se formando automaticamente em seus lábios, assim como as lágrimas que surgiam em seus olhos, borrando sua visão.

— Meu Deus… — Harriet cobriu a boca, tentando controlar o choro, porém, não conseguindo mais. 

Ela soluçava, enquanto admirava a tela onde seu filho, há tanto tempo perdido, agora a encarava, chorando com a mesma intensidade. Marcus resolveu que aquele momento deveria ser de Lucas. E para não deixá-lo constrangido, decidiu sair da sala. 

— Eu achei que fosse algum tipo de brincadeira. — Harriet admitiu, em meio ao choro. — Eu te procurei por tanto tempo... Tanto tempo... — Não conseguiu continuar, pois voltou a chorar. 

Lucas queria muito falar sobre tantas coisas, sobre Marcus; a descoberta de sua irmãzinha; o suposto divórcio dela; a formatura. Mas não conseguia. Só conseguia admirá-la. Mesmo chorando, sua mãe ainda era linda e se parecia muito com ele. Os cabelos loiros já não disfarçavam tão bem alguns fios brancos, seus olhos azuis brilhavam com as lágrimas, mas não deixavam de ter o mesmo encanto que os dele. Pensava agora em que tipo de abismo poderia estar no velório de Gus para se privar de ter aquela visão novamente por tanto tempo, imaginando que poderia ter visto ela naquele dia. 

— Eu encontrei você hoje. — Lucas declarou, quando finalmente conseguiu controlar as próprias emoções para não desabar mais ainda em lágrimas. — Como você... como você tá? — Gaguejou, rindo de si mesmo, por quão genérica era a pergunta, que era a única em que conseguia pensar naquele instante. 

— Nas alturas. — Harriet respondeu, sorrindo em meio às lágrimas. — Olha pra você... É você falando comigo! 

— Desculpa. — Lucas pediu. — Desculpa ter recusado as suas ligações no ano passado. 

— Não importa mais! — Harriet o interrompeu, ainda emocionada. — Não importa, meu filho. O que importa é que você está aqui, conversando comigo agora, você não sabe o quanto eu esperei por isso! 

— Eu senti sua falta também. — Afirmou, enxugando o canto dos olhos. — Você tá diferente... 

— Eu pareço uma velha agora. — Brincou a mulher, forçando-o a sorrir, mas apenas sentindo mais vontade de chorar. 

Sentia tanta saudade de suas conversas e brincadeiras juntos. Não podia acreditar que tinha deixado alguém como seu pai separá-los. 

— Ainda mais que acabei de sair do trabalho. — Ela voltou a dizer. 

— Ainda cozinhando? — Lucas perguntou, vendo-a acenar positivamente. — Sinto saudade das suas panacotas de framboesa. Tentei comer outras por aí, mas não são a mesma coisa. 

— Uma mãe sabe como fazer. — Harriet sorriu e Lucas também. — Quero tanto te ver de novo, vou fazer todas as panacotas que puder comer! A Karen me disse que você está morando em Nova York. 

— Estou sim, mas agora não tô na cidade. — Lucas explicou, conseguindo manter melhor a calma e notando que ela também já parava de chorar. — Estou no México... 

— No México? — Ela indagou, admirada. — Eu vi que você tinha se formado em jornalismo... Já está trabalhando? 

— Não, é uma viagem de férias. — Esclareceu. 

Harriet ouviu a informação e apenas sorriu, voltando a admirá-lo. Lucas não conseguiu dizer nada que tirasse dela aquele momento, pois sentia a mesma vontade de apenas admirar as pequenas mudanças através dos anos. Entretanto, para ela, essas mudanças eram muito maiores, seu filho a deixou como um adolescente e agora era um homem feito, adulto e muito mais bonito do que já era antes. 

— Você mudou o corte de cabelo. — Ela comentou, espantando-o do devaneio. — Costumava deixar uma franjinha. 

— Ainda é do mesmo tamanho. — Lucas riu timidamente, sentindo-se corar. — Eu só tô fazendo topete agora. 

— Você está lindo... — Ela sorriu genuinamente e o loiro sentiu seu coração se aquecer, como se fosse o próprio sol olhando-o e atingindo o interior de seu peito. 

— Eu vou tentar ver você. — Dessa vez, foi ele quem a surpreendeu. — Assim que voltar pra Nova York, quero te visitar. 

— Eu vou estar esperando você de braços abertos. — Afirmou ela, sentindo as lágrimas voltarem. — Como sempre estive, meu filho. 

Marcus estava vendo as próprias mensagens, deitado na cama quando viu o loiro passar pela porta do quarto. Ele carregava uma expressão não muito fácil de compreender de início, vendo seus olhos inchados e um olhar cansado, se aproximando. 

— E aí? — Inquiriu. — Do que conversaram? Foi ruim eu ter saído de lá? 

— Não, tudo bem, não foi ruim... Depois de toda a choradeira da minha parte e da dela, ela explicou um pouco mais do que fez esses anos, disse que me procurou na internet e não me achou e quando recebeu a solicitação, demorou pra entender que “Luke F.” era eu. — Respondeu, se sentando ao seu lado na cama. 

— E como você tá? 

— Exausto. — Assumiu, suspirando e jogando seu corpo para trás, deitando. — Eu não sei se é porque eu achei que seria mais fácil, ou se é porque eu não estava esperando por isso, sei lá… Mas foi desgastante, não de um jeito ruim, sabe? Foi importante. 

— Que bom, então não me sinto tão horrível por ter te incentivado a isso. 

— Marcus. — Virou a cabeça para o lado, encarando-o.

— Oi?

— Volta comigo pra Nova York? — Lucas pediu, pegando-o de surpresa. — Eu não quero ir sem você. 

— Eu posso. — Sorriu ao ouvir aquelas palavras. 

— Não só porque não quero me afastar, como também, combinei de me encontrar com ela quando voltasse e… Eu não quero ir sozinho. — Assumiu. — Eu sei que eu tenho o Alberto e a Rachel pra irem comigo, mas não é a mesma coisa, eu me sinto confiante quando eu tô com você, não só confiante, como também me sinto seguro. 

— Que bom. — Deitou-se de lado. — Eu com certeza posso te acompanhar.

— Você já estudou as possibilidades pra saber como vai fazer pra ir pra Nova York sem levantar suspeitas?

— Já sim. — Afirmou, abraçando-o. — Em um aeroporto de uma cidade menor, nos arredores. Só vai ser preciso viajar algumas horas de carro depois, mas é mais seguro. 

— Que bom que é simples assim, fico mais tranquilo. 

— Relaxa, tá tudo sob controle. — Deu-lhe um beijo na testa.

Três dias depois, quinta-feira, dia 1 de agosto de 2013. 

— Já tá tudo certo pra amanhã, a gente pode almoçar por aqui e pegar o voo. — Marcus informou-o, com as passagens em mãos. 

— Eu tô feliz por estar voltando, mas ao mesmo tempo vou sentir saudade daqui. — Lucas declarou, andando ao lado dele, indo até onde tinham estacionado o carro alugado. — Não só das praias, como também dos restaurantes, tudo aqui é fresco, direto do mar, os chefs são maravilhosos… Em Nova York também tem restaurantes bons, mas não é a mesma coisa, além de que é muito mais caro que aqui.

— Você pode voltar pra cá quando quiser. — Falou, entrando no carro após ele. — Pode vir morar comigo comigo, você sabe… 

— Eu não pensei nisso direito, mas não me imagino morando fora dos Estados Unidos, já te falei isso antes. 

— Eu sei, eu sei. Mas se mudar de ideia, as leis de imigração daqui são menos severas… Seria mais fácil. — Falou, vendo-o pensativo, dando a partida no carro. — Ah, e eu acabei de perceber uma coisa. 

— O quê? 

— O período que você me deu pra me abster dos luxos acabou. — Falou, fazendo o loiro rir. 

— E tá pensando nisso por que quer gastar em algo em particular?

— Sim, eu tô com uma ideia em mente, já que vamos embora amanhã. Mas eu preciso da sua ajuda. 

— Tá bom, o que é?

Foram até o local que Marcus queria, ele não só comprou o que desejava, como também aproveitou para entender um pouco mais do gosto pessoal de Lucas para aquele determinado tipo de acessório. Dali seguiram para a segunda parte do que planejava fazer, parando no hotel em que haviam ficado hospedados. 

Lucas entrou com ele e o esperou fora do estabelecimento, vendo-o procurar por uma pessoa específica no local. Marcus andou pelo bar e torceu para encontrar com a mulher que queria ver naquela tarde, com medo de que ela não estivesse ali, precisava muito falar com ela.

Angela não escondeu a expressão de aversão e surpresa ao vê-lo, indo para a direção oposta, não querendo trombar com ele. Mesmo assim a seguiu, chamando-a até fazê-la se virar para falar consigo. 

— O que você quer, Mark?! — Ela exclamou irritada.

— Me desculpar. — Afirmou. — Eu vim aqui só pra isso, na verdade. Eu não estou mais hospedado aqui… 

— Então eu não tenho a obrigação de falar com você, nem cliente você é.

— Por favor. — Falou, ao vê-la dar as costas. — Só me escuta. 

— Rápido. — Angela encarou-o, cruzando os braços. 

— Olha, primeiramente, eu tô indo embora amanhã e é por isso que eu queria me desculpar, porque não sei quando vou ter a oportunidade de fazer isso de novo. — Iniciou, tendo a atenção que queria. — Eu não quero te obrigar a voltar a amizade comigo, porque eu tenho noção de que isso não vai acontecer, eu só queria que você soubesse que você foi importante pra mim e eu não queria ter te causado todo esse mal… 

— Isso é tudo? — Ela bufou, erguendo uma das sobrancelhas. 

— Não. — Colocou uma das mãos no bolso, pegando várias moedas, mostrando-a. — Você lembra disso aqui?

— Por favor, Mark. Agora não…

— Você não tem ideia do quanto isso foi importante pra mim. — Continuou, ainda com a mão aberta. — Você me aconselhou a ir nos Alcoólicos Anônimos, me dizendo que um primo seu melhorou muito depois disso e mesmo assim eu não quis ir… Então você fingia que eu estava numa reunião do AA com você e me dava essas moedas a cada conquista, assim como eles fazem lá. Eu me lembro do dia que você me deu os cinco centavos pelos cinco dias de sobriedade. Você pode achar que é besteira, mas foi o marco mais importante… Isso me deu forças pra continuar aguentando firme os outros dias. 

— Eu não achei que guardava isso. — Ela falou, descruzando os braços, parecendo mais suscetível a uma conversa. 

— Eu guardei todas. — Falou, agora deixando as moedas no balcão ao lado. — Mas eu não preciso mais delas, eu já parei de contar os dias… Eu tô finalmente bem. 

— Que bom… Era só isso?

— Não. — Agora levou a mão ao outro bolso, tirando uma caixinha pequena e comprida de dentro dele. — Eu só queria me despedir de você com um presente.

— Mark, não…

— Espera. — Interrompeu-a educadamente. — Eu sei que você ainda tá chateada comigo, mas eu não queria que você só tivesse lembranças ruins minhas. Então eu quero te dar isso. 

Ela encarou-o enquanto ele abria a caixinha, revelando uma pulseira delicada com pontos de luz chamativos, ouvindo-o voltar a falar:

— Diamantes não chegam nem perto do que você merece, mas… 

— Eu não posso aceitar.

— Por favor, Angel. — Falou, vendo a relutância nos olhos dela. — Eu não posso ir embora assim, sem ter feito nada por você. Aceita. 

Ela abriu um sorriso, esticando o pulso, notando o alívio nos olhos dele. Marcus ajudou-a a colocar a joia, observando Angela admirar a pulseira por alguns segundos antes de dizer:

— Olha… Eu sei que o presente foi de bom coração, mas você me conhece, não precisava disso. O que me ganhou foi o fato de você ter guardado essas moedinhas. — Ela sorriu, vendo-o envergonhado. — E me desculpa por ter sido tão dura com você no noivado.

— Eu mereci cada palavra. — Afirmou, vendo-a rir baixinho.

— Mas não era tudo verdade. Se fosse, ele não estaria te esperando na porta, agora. — Angela observou. — Então... Estão juntos mesmo?

— Estamos. — Sorriu, feliz. 

— Você parece mudado. 

— E eu estou. 

— Que bom, Mark. Eu fico contente, isso é o mais importante, no fim das contas. Pelo menos, assim eu sei que meus esforços pra te colocar na linha não foram em vão. — Ela falou, fazendo-o rir. — E fica tranquilo, tá? Sem ressentimentos. 

— É o que eu queria ouvir. — Sorriu, vendo-a olhar para baixo. — Obrigado por tudo. 

Ela abraçou-o honestamente, não restava mais amor, nem o ódio de antes, tudo o que sobrou do que sentia por ele era um carinho sincero, que sabia que seria apenas uma lembrança dali algum tempo. Era um adeus e os dois sabiam daquilo, mesmo que não precisassem dizer. 

Se afastaram e Mark acenou quando já estava distante o suficiente. Ela continuou a observá-lo por algum tempo, vendo-o receber a companhia do rapaz. Ela sorriu ao vê-los juntos, pois sabia o quanto aquele homem o amava. 

Marcus se sentia mais leve ao encontrar-se com o loiro, contando-lhe resumidamente do que conversaram, recebendo um abraço. 

— Eu tô feliz por você! — Lucas falou, sorrindo. — Você sabe mesmo como fazer as pessoas te perdoarem, seu conquistador! 

— Mas e então, quer fazer alguma coisa por aqui antes da gente ir embora do hotel? 

— Ah, eu estava pensando mesmo nisso. Queria comer de novo aquele tiramisù

— Então tá, vamos lá. — Falou, dando suas mãos para irem até lá.

No restaurante do hotel, conversaram sobre os bons momentos que passaram lá, abrindo a possibilidade de voltarem a se hospedar ali no futuro. E um pouco depois de pedir, Lucas viu a sobremesa que tanto esperava chegar, abocanhando a primeira colherada, quase revirando os olhos de prazer. 

— É sério! Isso aqui é muito bom! — O loiro falou, após saborear o tiramisú. — A gente tem que servir isso no nosso casamento! 

— Casamento? — Marcus indagou, vendo uma expressão de timidez súbita tomar conta do rosto dele. 

— O que eu falei de errado? 

— Absolutamente nada, eu só tô surpreso por isso. — Sorriu, vendo-o abaixar o olhar. — Isso significa que quer casar comigo. 

— É… Um dia, talvez, sei lá. — Lucas voltou a atenção à sobremesa, pegando outra colherada. — A gente tava até falando sobre filhos esses dias atrás, então achei que…

— Achou certo. — Marcus ainda exibia um sorriso radiante. — Eu só nunca ouvi você comentar sobre isso antes, então eu tô feliz. Eu também acho que o que a gente tem é sério.

— Eu não gosto de relações superficiais, eu já fiquei muito tempo em namoros assim, sem poder me abrir de verdade sobre quem eu era e foi horrível… — O loiro encarou-o finalmente, já livre da vergonha. — Eu quero alguém que possa ficar do meu lado não só nos momentos fáceis, como nos difíceis. 

— Eu tô aqui. — Falou, vendo Lucas pegar em sua mão sobre a mesa. — De corpo e alma. 

— Eu também estou. 

Sexta-feira, dia 2 de agosto de 2013.

— Eu tava com tanta saudade! — Rachel falou, soltando Lucas de um abraço sufocante. 

— Quando vocês falaram que viriam juntos, eu nem acreditei. — Alberto revelou, após abraçar Marcus. — Então estão namorando mesmo? 

— Sim, é oficial. — O loiro respondeu, fazendo Marcus sorrir com a afirmação. 

— E quanto tempo você fica em Nova York? — Alberto perguntou ao velho amigo.

— Umas duas semanas, por aí. — Marcus respondeu. 

— E a gente vai visitar a minha mãe nesse fim de semana, vamos ficar até domingo em um hotel de Elmira. — Lucas avisou, fazendo os outros dois se surpreenderem. 

— É sério? — Rachel abriu a boca em surpresa. — Isso é maravilhoso, Luke! 

— Eu falei com ela por chamada de vídeo. — O loiro continuou. 

— Vem, vamos sentar pra jantar antes que a comida esfrie. Enquanto isso você vai contando tudo. — Alberto chamou-os para se reunirem à mesa. 

Eles ficaram no apartamento dos amigos até não aguentarem mais de cansaço, atualizando eles de cada detalhe sobre a estadia prolongada de Lucas e como foi morarem juntos por duas semanas. Sanaram toda a curiosidade dos dois fofoqueiros e assim foram embora, saindo pelo corredor, indo à casa do loiro. 

— Pronto pra mais duas semanas de convivência comigo? — Lucas perguntou, levando as malas com ele para dentro. 

— Pra uma vida toda. — Falou, fazendo-o abrir um sorriso tímido enquanto trancava a porta.  

— Tá com paciência pra desfazer as malas agora? 

— Não mesmo. — Marcus respondeu, fazendo-o rir baixinho. 

— Eu também não. 

— Tá muito cansado da viagem? — Inquiriu, exibindo um sorriso que o loiro conhecia bem. 

— Pra fazer o que esse seu tom de voz tá sugerindo, tô sim. — Lucas ergueu uma das sobrancelhas, roubando uma risada do outro. 

— Eu só ia falar pra gente tomar um banho junto.

— O banheiro daqui é pequeno, não dá. — Afastou-se dele, indo ao sofá, sendo interrompido por um abraço pelas costas antes de se sentar. 

— Menor que o do seu apartamento anterior? Eu duvido… Se naquele dia a gente deu um jeito, aqui vai ser mais fácil. — Continuou, depositando beijos em seu pescoço. — Não se lembra do que a gente fez? Você me abraçou com as pernas e eu segurei as suas coxas enquanto você dava impulso pra...

— Eu lembro! — Interrompeu-o, virando-se para ele. — Mas eu tô cansado mesmo, principalmente pra essas poses mirabolantes. 

— Tá bom, tá bom. — Ergueu as mãos ao alto, em rendimento. 

— Mas a gente pode tomar um banho junto se você se comportar. — Ofereceu, vendo-o aceitar, lhe dando um beijo rápido. 

Após saírem do chuveiro, escovaram os dentes e vestiram roupas confortáveis para deitar. Ligaram os alarmes e deixaram os celulares na mesa de cabeceira, antes de se acomodarem debaixo das cobertas. 

As luzes já estavam apagadas, com o quarto sendo iluminado apenas por uma fresta de luz de fora, Lucas sabia que estava cansado o suficiente para dormir rápido, mas sentia uma ansiedade que impedia aquilo. 

— Marcus… 

— Oi? — Virou-se para ele, ainda deitado. 

— Eu tô com medo. 

— Sobre amanhã? Vai dar tudo certo... — Tentou tranquilizá-lo. — Vem cá, me abraça. 

— E se meu pai for atrás de mim? — Falou, sentindo os braços dele em seu quadril, lhe puxando para perto. — Eu não vou conseguir olhar pra cara dele… Nem consigo imaginar. 

— Eu já não acho que sua mãe falaria para ele, mas se tem essa dúvida, é só pedir para ela manter o sigilo quando vocês forem se encontrar. — Respondeu, acariciando os cabelos dele, dando-lhe um beijo carinhoso na testa. — E se alguma coisa sair do controle eu vou estar lá, não vou sair do seu lado. 

Lucas respirou fundo, abraçando-o, fungando o perfume gostoso que já havia se acostumado a sentir, mas que ainda mexia consigo. Sentia as carícias em suas costas e fechou os olhos, sussurrando: 

— O que eu vou fazer quando você for embora?

— Calma, ainda vai demorar um pouquinho pra isso… Você tem mais uns quinze dias pra me aturar. — Marcus respondeu, rindo baixinho. 

— Eu me acostumei com você. — O loiro abriu os olhos, mesmo na pouca luz, conseguia enxergá-lo. — Não quero imaginar a despedida. Agora eu entendo tudo aquilo que me disse no dia que você achou que eu ia voltar. 

— Mas eu vou voltar pra cá. Vou estar sempre vindo, você nem vai sentir a minha falta, de tão rápido que vai passar. — Afirmou, ainda afagando suas costas. — E se você quiser, você pode voltar comigo pra Cancún de novo, ou ir a qualquer momento, é só me falar que eu compro a sua passagem. 

— Você não pode ficar uns meses?

— Por lei, eu poderia. No período de doze meses eu posso ficar até seis meses com o visto de turista. — Explicou. — Mas a imigração não vê isso com bons olhos e, pra eu voltar, ficaria cada vez mais difícil, por isso intervalos menores são mais bem aceitos. 

— Então vai ter um período de seis meses que eu vou ficar sem te ver?

— Eu vou espalhar bem, vou fazer as contas direitinho e você nem vai notar. 

— Eu não sei se é só porque eu vou ficar com saudade ou se é medo, mas a gente já tá junto agora e eu não consigo não pensar como seria quando a gente se afastasse. — Lucas confessou. — Não quero que a gente se separe.

— Não fala isso, porque não vamos.

— Mas como você sabe?

— Acredita em mim, você vai tirar de letra. Eu sei disso porque você é muito mais forte que eu. — Falou, tentando acalmá-lo. — Já eu, provavelmente vou ficar pendurado no telefone pra falar com você o dia todo. Você não vai aguentar de tão meloso que eu vou ficar à distância. 

— Besta… — Falou, rindo. — Eu te amo. 

— Eu também te amo, gatinho. — Beijou sua testa outra vez e abraçou-o com força. — E a gente ainda tem tempo pra sofrer por antecipação. Para de encher sua cabeça com essas incertezas… Vai dar tudo certo, tá bom?

— Tá… — Falou, com a voz abafada pelo peito dele.  

Na manhã do sábado, tomaram o café e se despediram dos amigos, saindo para pegar um táxi até a locadora de carros. Levaram pouca coisa, o suficiente para passar a noite e assim que entraram no veículo alugado, seguiram viagem. 

Com o tempo para sair do trânsito de Nova York e a parada no meio do caminho para o almoço, foram quase cinco horas de viagem, chegando no hotel que reservaram pela internet um pouco depois das duas da tarde. Se instalaram e tomaram um banho para relaxar.  

Lucas avisou a mãe de que havia chegado em Elmira e combinou de se encontrar com ela na praça em frente ao hotel em que estavam. Era um bom lugar e ainda estava claro, então começou a se arrumar para vê-la. 

— Amor, você precisa se acalmar. — Marcus aproximou-se do loiro, abraçando-o pelas costas ao vê-lo encarar o espelho, totalmente paralisado. 

— Oi? Por quê? — Inquiriu, parecendo acordar de algum transe. 

— Você nem precisa me falar nada, dá pra ver na sua cara que você tá tenso. — Abaixou-se para beijá-lo na bochecha. — Eu já te disse que vai dar tudo certo, eu sei que a sua mãe tá doida pra te ver. 

— Você acha, mesmo? — Lucas indagou, incerto. 

— Ela provavelmente tá surtando de felicidade. — Sorriu para lhe passar confiança. — Eu sei o que tá se passando nessa sua cabecinha agora… Você tá se arrumando tanto, como se nada tivesse bom, mas saiba que não importa se você tá arrumado ou não, ela só quer ver o menininho dela. Você não mudou pra sua mãe, Lucas. 

— É que… — Virou-se para ele. — Eu sei que eu desapontei ela, então… Já passou tanto tempo, pode ser que ela me estranhe e…

— Para, para de pensar nessas coisas. — Falou, apoiando as mãos aos ombros dele, massageando-os. —  Respira fundo, pega o seu broncodilatador e vamos. 

Assim foram juntos até a praça, andando pouco ao saírem do hotel. Olharam tudo em volta e não reconheceram ninguém, então esperaram andando vagarosamente em meio às árvores. Marcus segurava a mão gelada do loiro, sabendo que ele estava ansioso, mas nada comentando, apenas continuaria passando força mentalmente a ele. 

— Lucas! — Ouviram uma voz distante chamar. 

Viraram-se para procurar quem chamava e Harriet estava há alguns metros, atravessando a rua, de mãos dadas com uma garotinha loira que ambos reconheceram. Ela alcançou-os, ofegante, ansiosa para ver seu filho de perto, ficando sem saber o que dizer ao se deparar com os dois. 

— Oi, mãe. — O loiro sorriu ao chamá-la assim, logo lembrando-se de que ela não conhecia o homem ao seu lado. — Esse é o Mark, meu namorado. 

— Prazer, Mark. — Ela estendeu a mão para cumprimentá-lo, ainda atônita pela visão de seu garoto em sua frente.

— Prazer, Harriet. — Cumprimentou-a, em seguida sorrindo para a menina que lhe olhava curiosa. 

A mulher não sabia direito para onde olhar, atrapalhando-se, apresentando Melanie a eles. A garota sorriu timidamente e voltou a se esconder atrás da mãe, que envergonhou-se, sem saber o que dizer naquele momento. Harriet sentia o coração pulsar loucamente dentro de si, Lucas também estava inquieto e era como se ouvisse as preces mentais da mãe ao perguntar:

— Eu posso te abraçar?

Harriet espremeu os lábios com força, tentando inutilmente conter o choro que já estava preso em sua garganta. Abrindo os braços para o filho, recebendo-o amorosamente, enquanto soluçava. 

Marcus admirou aquela imagem adorável, com os dois se acabando em lágrimas, soltando-se do abraço apertado apenas para se encararem. Ela pousava os dedos sobre o rosto do filho, que também a admirava de perto, com os olhos completamente inundados. 

Harriet acariciava as bochechas de seu menino com carinho, olhando cada detalhe do rosto que há tanto tempo sentia falta. Ela passou a mão pelos cabelos dele e sorriu abobalhada, não acreditando que finalmente estava o vendo, rindo baixinho. 

— O que tá acontecendo? — Melanie indagou, vendo a mãe chorar como nunca viu antes. 

— Eu estou chorando porque estou feliz, Mel. — Ela enxugou os olhos. — E eu estou com a cabeça nas nuvens! Acabei de perceber que esqueci de pegar as panacotas que fiz!

— Tá tudo bem. — Lucas sorriu, também enxugando as lágrimas do rosto. 

— O que você acha de almoçar em casa amanhã? Aí você não só come por lá, mas aproveita pra levar algumas fresquinhas de volta… — Ela perguntou, vendo-o encarar o namorado por alguns segundos. 

— Tá bom, pode ser. — O loiro respondeu, depois de pensar por alguns instantes, percebendo agora que a irmã saía de trás da mãe para ir em sua direção. 

— Oi, você lembra de mim? — Ela inquiriu, sorrindo.

— É claro que eu me lembro. — Falou, sorrindo. — Eu posso te dar um abraço?

Ela assentiu com a cabeça e Lucas abaixou-se para ficar na altura dela, recebendo um abraço caloroso. Melanie era uma gracinha e parecia menos tímida agora que havia falado com ele.

— A mamãe disse que você vive viajando. Então você é rico, né? — A garota falou, fazendo com que Harriet se assustasse.

— Melanie! — A repreendeu.

— Eu não sou, mas ele é. — Lucas subiu o corpo e apontou ao namorado, rindo. 

— É sério? — Ela exclamou, olhando para o mais alto. — Meu aniversário foi dia dezenove de junho! Eu fiz cinco anos e só ganhei roupa de presente! Você pode me dar a casa da Barbie?

— Pelo amor de Deus, Mel, você ainda vai me infartar. Isso é falta de educação! — Harriet quis morrer pela vergonha. — Pede desculpa pro Mark. 

— Imagina. Tá tudo bem. — Marcus respondeu sorridente, enquanto Lucas ria baixinho. 

— Desculpa. — Melanie falou, desapontada. 

— O que acha de ir brincar no parquinho comigo? — Perguntou à cunhada, vendo um sorriso se formar no rosto dela. 

— Eu quero! — Ela aceitou, em seguida olhando para a mãe, como se pedisse permissão.

— Vai, pode ir. Só tenta não se sujar, por favor. — Harriet falou, vendo a menina disparar saltitante para as gangorras logo à frente. 

Marcus abriu um sorriso ao encarar mãe e filho antes de ir atrás da menina. 

— Ele parece uma boa pessoa. — Harriet afirmou, se encaminhando com Lucas para um banco em frente ao parquinho. — E é bem bonito também. 

— Ele é mesmo. —  O loiro assumiu, sorrindo. — E ele gosta de crianças. Quer ser pai. 

— É sério? — Ela sentou-se com ele. — E você quer? 

— Acho que sim. — Ergueu os ombros. — Talvez um dia. 

Ela sorriu envergonhada, ficando em silêncio, até ouvir o filho perguntar:

— Você não falou para o Ethan que eu vinha, né?

— É claro que não! — Ela respondeu convicta. — E eu quase não tenho mais contato com seu pai. Eu só falo com ele pra combinar os dias que ele vai ficar com a Mel e os depósitos da pensão, mas só... 

— Você contou pra alguém que eu viria?

— Só pra Janine, mas a fiz prometer guardar segredo. 

— Ela é legal. — Lucas sorriu lembrando-se da tia. 

— Lucas. — A mãe chamou-lhe a atenção. — Eu mantive seu quarto do mesmo jeitinho de quando você saiu, acredita nisso? Tá tudo igualzinho… Todas as suas coisas estão lá. Teve uma época que seu pai quis jogar tudo fora, mas eu não deixei. Caso você queira pegar alguma coisa sua amanhã, fica à vontade. 

— Isso é sério? — Sorriu. — Eu vou querer dar uma olhada sim. 

Harriet encarou o filho e suspirou, como se estivesse dentro de um sonho lindo, admirando-o. Ela tocou-o no rosto mais uma vez, vendo que ele abria um sorriso com o gesto, parecendo ligeiramente envergonhado. 

— Eu peço perdão pra Deus todos os dias por ter feito você sofrer a ponto de não querer mais ser meu filho… — Ela fungou, tentando não chorar mais. — Eu me arrependi todo santo dia da sua ausência, eu te procurei tanto… Eu me pergunto se algum dia você vai ser capaz de me perdoar. 

— Não tem o que perdoar, mãe. — Assumiu, apenas percebendo que tinha uma lágrima parada em seus olhos quando piscou, sentindo-a escorrer por sua bochecha. 

— É claro que tem, eu preciso que saiba que eu estou arrependida. — Harriet enxugou a lágrima dele. — Eu te amo tanto, você nunca deixou de ser o meu bebê… Nem quando a Mel nasceu eu te tirava da cabeça, mesmo exausta, tendo passado por um divórcio infernal, eu ainda sonhava em encontrar o meu menino… 

— Eu ia perguntar sobre isso, sobre você e o Ethan. — Engoliu em seco. — Como foi que isso aconteceu?

— Não vamos falar de coisas tristes por enquanto. — Ela forçou um sorriso. — Amanhã eu te falo dos detalhes, pode ser? Eu só quero aproveitar a sua companhia agora. 

— Tá bom. — Desviou o olhar do dela, vendo Marcus brincar com sua irmã, vendo-a sobre os ombros dele, brincando de cavalinho, fazendo-o rir.

No dia seguinte, tomaram o café da manhã e deram uma volta pela cidade. Quando chegou o horário combinado para o almoço com Harriet, mesmo que ela tivesse mandado o endereço para usarem o GPS, Lucas lembrou-se perfeitamente do caminho. Era estranho, porque mesmo que a cidade fosse pequena, tudo parecia diferente, menos o caminho para sua antiga casa. 

O coração do loiro bateu um pouco mais forte quando estacionaram de frente à residência simples, mas charmosa. Tinha pouca grama e um caminho que levava até três degraus de uma varanda coberta, para onde foram, depois de tirarem uma caixa grande de presente do carro. 

Foram recebidos por Harriet, que riu envergonhada ao ver que trouxeram o que Melanie havia pedido no dia anterior. E então, viram a menina surgir, correndo alegremente até eles, gritando ao ver a grande caixa embrulhada num papel de presente rosa. Como previsto, a garota surtou depois de desembalar tudo, vendo não só a casa da Barbie, como um carro de brinquedo para acompanhar. 

Harriet avisou-os de que ia dar uma última olhada nas panelas e entregou a chave do quarto do filho nas mãos dele, dizendo:

— Eu mantenho o quarto trancado pra Melanie não fazer bagunça lá dentro, mas fica à vontade para dar uma olhada. Afinal, é o seu quarto mesmo. 

Lucas sorriu e agradeceu, vendo-a partir à cozinha. Olhou para Marcus por alguns segundos e pegou em sua mão antes de decidir caminhar até o cômodo trancado, girando a chave e tocando a maçaneta, sentindo seu coração não se conter dentro de si. 

O loiro arregalou os olhos ao encarar tudo outra vez depois de tanto tempo, quando ouviu a mãe dizer que mantinha seu quarto intacto, não imaginou que era realmente ao pé da letra. Com todas as suas coisas ainda na estante e a escrivaninha da mesma forma que costumava ficar. Era como viajar no tempo. 

 

 

 


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Notas finais do capítulo