A Garota De Roupas Excêntricas. escrita por Soquinho


Capítulo 7
Gorro e Intervalo.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a minha leitora, Nick.



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Para retornar pra casa, utilizamos o mesmo método. Capuz levantado e ligeireza no skate. Eu não consegui me aproximar da Emily para conversarmos, já era madrugada e dariam por falta da gente. Quem estava muito apressadinho para voltar era o Mattie, como sempre bastante impaciente.

Enfim, a manhã brotou frienta, no entanto o sol surgiu no horizonte leste não sendo ocultado pelas nuvens fofas e cândidas. O trajeto dentro do carro foi silencioso e tenso, George espirrou algumas vezes para garantir um pouco ainda do resfriado e manter a mentira intata. Comunicou-nos sobre shows de aberturas de Justin Timberlake e outros cantores. Nada do meu gosto, nada que me agrade.

Saltamos do carro e o George deu seu último espirro. Jerry não disse mais nada a não ser se despedir e deu o toque para o motorista seguir viagem. Pelo que sabíamos, ele teria encontro com alguns assessores. Respirei o ar estudantil e decidimos adentrar logo, antes que alguma massa de fãs tresloucadas viesse assediar-nos. Verifiquei a hora no meu relógio de pulso. Seis horas e cinquenta e sete minutos. Realmente nós chegamos quase atrasados. Dormi bem tarde, acho que eram umas duas e pouca da noite. Embolei demais na cama para poder me agarrar ao sono. Não sei por que, mas ela não queria largar da minha mente, muito menos a imagem dela executando com tanta maestria o 1080. E antes mesmo de vir para casa, eu fui até a pista e apanhei o seu gorrinho rosa. Pelo jeito, ela esqueceu com toda aquela celebração em cima dela, já que foi a campeã sem sombra de dúvidas.

- Meu velho, aquela garota das roupas esquisitas deu um show ontem! – George alcançou os meus passos. Parece que ele queria fazer este comentário exclusivamente para mim.

- Pois é ela é muito talentosa. – Concordei continuando com o meu olhar grudado nas figuras juvenis caminhando pelo pátio aformoseado por arbustos e flores, além das fontes.

- Desbancou o carinha estuprador! Há-há! – Greer riu destrambelhadamente. Nós o acompanhamos.

- Oi garotos! – Ouvi a voz expressiva da loira que havíamos conhecido há alguns dias.

- Merida! – Mattie a saudou com um perceptível tom de entusiasmo.

- E aí rapazes... Porque não apareceram no programa da Mikka? – Ela passou a andar entre mim e o George.

- O Ge pegou um resfriado inesperado. – Justifiquei com a mais evidente mentira desenvolvida por nós.

- Ah! Melhoras. – Ela desejou velozmente. – Mas você aparenta estar muito bem de saúde!

Ele deu mais um espirro falso e coçou o nariz, repetidas vezes o deixando avermelhado.

- Hm... – Merida ficou abobada por alguns segundos. – Algum show agendado que eu possa saber?

Interrogou ingenuamente. Sorri com a astucies dela.

- Abriremos o show do Justin Timberlake, você topa ir? Podemos te presentear com um ingresso antecipadamente, somente para você! – Greer passou a mão pela cintura dela e a uniu em seu corpo. Aparentemente, ela já está na mira desse ninfomaníaco. Bem, não sei exatamente se ele tem algum distúrbio sexual, entretanto sabemos que enquanto ele tem um vício em se masturbar todo o santo dia, às sete da noite vendo conteúdo erótico na internet.

- Claro né?

Pra mim, tanto faz. Eu estou pensando mesmo é em algo de visual excêntrico.

...

O intervalo e eu a caça da Emily. Pois é, eu despistei até mesmo os meninos com a desculpa de ir atrás de alguma fã para tirar o gosto da seca. Sinceramente, eu me sinto vivendo uma invencionice, soltar mais uma mentira nem é tão perturbador pra mim. Ela esteve presente nas aulas hoje sim, igualmente com os seus amigos. Um vestido preto cortado entre a cintura e uma saia, com um acabamento de rendas e mangas soltas. Uma meia-calça de xadrez na perna direita e na outra uma meia que vai até o joelho, branca e com um laço azul escuro bem em cima. No pé esquerdo um All Star laranja e no outro uma bota de zíper e cadarço preta. Um Spike no braço direito e no outro uma pulseira colorida cheia de caveirinhas, outra pulseira bem chicle com ursinhos, pingentes coloridos e um coração e um bracelete feito de madeira com símbolos da paz coloridas. Seu cabelo? Da mesma cor da noite passada.

Eu sei que já deu para entender que eu gosto de detalhar o que ela está vestindo. É que... Ela é tão ela.

O fato de eu estar a sua busca é o seu gorro, que posso usar como um ótimo pretexto para me aproximar dela. Não que eu queira algo com ela, nada disso, apenas sermos colegas.

Minha expectativa é também de que não tenha ninguém com ela, nenhum de seus amigos. É bastante improvável, já que eles parecem trigêmeos siameses de tão amigos que são. Mas não custa nada torcer.

Empurrei a porta de vidro grande e com detector de armas (sim, apenas armas de fogo), e deparei-me com uma garota baixa e de cabelos lisos e cromatizados de três cores, andando relaxadamente até a cabine do porteiro. E contribuindo para o meu contentamento, ela está desacompanhada. Isso também é um pouco estranho.

Ignorando qualquer coisa que viesse a minha mente, acionei as minhas pernas em direção dela. O seu skate estava sendo segurado em sua mão direita. Dando-me por conta de que nossa lonjura estava diminuindo, desacelerei minhas passadas. Ela virou-se.

Arqueou sua sobrancelha e a sua boca estava entreaberta. Em seguida, ela bordou um sorriso discreto nos lábios rosados. Desta vez, recuperado da carreira, rumei até ela tentando não parecer ofegante.

- Oi. – Cumprimentou com a sua voz eufônica.

 - Hm... Oi! – Timidamente eu sorri.

- Você vai andar de skate?

- Sim. – Afirmei com o sorriso alargando cada vez mais que eu encarava os seus olhos castanhos escuros.

P.S – Skate na mochila.

- Vamos. To sem companhia hoje. Cynthia e Cameron toparam fazer parte de um grupo que está organizando a feira de ciências e se lascaram! – Com um modo fofo e engraçado, ela explicou o porquê de estar sozinha.

- Os meus amigos estão meio tarados hoje, querendo algo para satisfazê-los! – Ela entendeu e deu um sorriso envergonhado.

- E aí Tyler, libera aê! – Elevou a voz para chamar a atenção do porteiro camarada.

Uma cabeça ruiva surgiu fora da janela transparente da cabine. Os raios solares chocando-se contra o seu rosto o fizeram contorcê-lo e por a mão para tapá-lo.

- Emy, quem é o teu colega? – Perguntou animado e com o os olhos de jade brilhando.

- Edrick. – Ela não esqueceu meu nome. Grande bosta. – Cynthia e o Cam quebraram a cara querendo ajudar preparação da feira que vai ter, e agora viram a trabalheira que é!

 Ambos riram. Ele apertou um botão e a porta se abriu.

- Cuida bem dela, astro do pop, quando está montada nessa coisa é como se a humanidade tivesse sido extinta pra ela! – É reparável e... Astro do pop?

- Como você sabe da minha banda?

- Minha irmã de catorze anos já tem seis pôsteres dessa banda amontoada naquilo que ela chama de parede! Sem querer ofender, parece uma lunática!

Algo me fez sentir-me um pouco nauseado.

Eu ri esforçadamente e segui a Emily ainda meditando sobre o que ele havia me contado. Fã de todas as idades é o que sempre desejei. Alienação, nunca.

Emudecidos, caminhamos em linha reta até a pista. A cada segundo eu inalava o perfume de alfazema dela e isso meio que me desconcertava.

Chegamos à pista onde continha uma pequena equipe treinando alguns passos e um pouco da sujeira da noite passada ali. Sentamos na beirada e o vento fez questão de começar a perambular por ali.

- Toma. – Abri a minha mochila e retirei o gorro esquecido por ela ontem. Estendi minha mão.

- Olha! Você encontrou, pensei que tivessem até roubado! – Ela tomou da minha mão e o pôs em sua cabeça. – Você me viu ontem?

Novamente ela me perfurou com os olhos quentes e belos.

- É, eu e os meninos viemos acompanhar o campeonato! – Mudei a direção da minha vista.

- Eu estava um pouco tensa.

- Foi um perfeito 1080! Você é realmente destemida. – Uma autêntica fearlees.

- Eu perdi a conta de quantos estouros levei para fazer aquilo. Meus piores machucados estão nessa perna com a meia-calça maior, por isso estou a usando!

Gargalhamos.

- É legal sabe? Você é diferente.

- Ouço muitos julgamentos, nem me importo com isso. Obrigada por não ser mais um crítico ignorante!

- De nada. Mas você escuta de tudo?

- Dentro do rock? Sim. Não curto muito o emo, mas misturo a moda deles com o gótico, punk, grunge e qualquer outro estilo que me aparecer! O termo de gótica alegre que o seu amigo usou ontem não sei se é muito apropriado, é criativo, mas acho que eu sou eu!

- Mattie gosta de falar muitas baboseiras porque é o mais novo.

- Tenho quinze e você?

- Dezesseis. Você tem a mesma idade dele, mas parece bem mais sagaz!

Ela riu pelo nariz e colocou uma mecha colorida do cabelo para frente.

- Você é você?

- Como assim?

- Te acho meio incompreendido.

Ri sem graça.

- Me diga você.

- Você não é você.

- Como sabe disso? – Fitei-a profundamente. O seu castanho transfixava-se em mim, provocando aquela sensação de me sentir transparente no que ela me olhava. Como da primeira vez, uma extasies tomou conta do meu ser. Nada me fazia interromper esse olhar tão cativante e analisador, me explorando, me encontrando.

- Eu sinto Edrick. – Tive uma intensa vontade de sorrir ao ouvi-la pronunciar o meu nome tão delicadamente. Grande bosta! Ela falou o meu nome!

- Sou uma pessoa legível?

Ela apenas assentiu e infelizmente cortou a nossa troca de olhares veemente. Sua atenção consolidou-se na pista de skate e ela abriu um meio sorriso que eu pude notar. Sim, eu ainda a encarava bobamente.

- Você vai andar? Estamos perdendo o tempo de sobra do intervalo! – Eu pulei e tomei a sua mão para ajudá-la a descer também. Senti uma corrente elétrica dispersar-se pelo meu corpo. Chacoalhei a cabeça com o propósito de espantar todas as sensações anômalas que sinto perto da garota de sapatos trocados.

- Não, tudo bem! Eu desço só. – Ela retirou a sua mão debaixo da minha e pulou elegantemente. Seus cabelos em três cores esvoaçaram com o pulo e caíram agradavelmente em seus ombros. Ela me olhou, o seu castanho era brincalhão e tinha no semblante, um sorriso traquino.

- Quem consegue dar um 360 com mais estilo?

- Isso é injusto! Você fez um 1080 perfeito!  

- Já fui!

Ela jogou o skate no chão e montou nele, deu o devido impulso e começou a flutuar na prancha.

Por que ela tinha quer ser tão ela?


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