A Garota De Roupas Excêntricas. escrita por Soquinho


Capítulo 6
O Campeonato e o 1080


Notas iniciais do capítulo

Prontas para um novo capítulo? Desfrutem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/383449/chapter/6

A empregada dos pais do Mattie é a nossa principal cúmplice para uma saída estratégica e matreira. O pai dele sofreu uma lavagem cerebral com os discursos do produtor e a minha mãe, meio que se sente em sua sombra e sempre apoia suas ideias. Evidentemente, Mattie sente-se meio que excluído e solitário por esse fato. Além de que, o seu pai é arquiteto e anda muito ocupado cuidando exatamente sabe do que? Dos novos prédios do World Trade Center e, isso o faz estar direto em Nova York e já a sua mãe, Sra. Lindon trabalha como professora em uma universidade bem paga e federal de Minnesota. Claire nos garantiu que nesta noite a mãe dele estaria dando uma aula particular a um grupinho e que a passagem estava liberada, contudo temos que ser os mais sorrateiros e precavidos o possível. Do lado de fora, o perigo é o assédio de fãs.

- Sejam cuidadosos meninos, pois o senhor Jerry já jogou na minha cara que sabe que eu ando os ajudando a fazer coisas “proibidas” por aí sem a supervisão dele! – Suas rugas desenham-se em sua embranquecida face toda vez que a contorce. Seus olhos castanhos escuros nos imploravam tanto quanto suas palavras suplicantes.

- Fique tequila, Claire. Eu sou muito atencioso! – Garantiu relaxadamente o quase morto.

- VOCÊS VÃO BEBER TEQUILA?

- Você e a sua boca caçapa! – Greer deu-lhe uma tapa na nuca. Ele gemeu.

- Pro seu governo, minha boquinha é de peixe. – Tão novo tão gay. – E não, não iremos ingerir nenhum tipo de álcool. Fique sossegada!

Assegurou-lhe e ela inspirou o ar, desta vez mais amansada.

- Liga não. Ele tem uma demência mental em estado crítico. – Zombei.

- Não quero lhe difamar na frente de uma dama como a Claire. Aguarde.

Ela deu uma risada pelo nariz e apontou para a porta.

- Logo!

Dirigimos-nos a porta e eu a descerrei. Acenamos para a conivente e bondosa empregada e tratamos de puxar o capuz do moletom. Pois é, tenho andado usando muito moletom.

- Se o meu carro não tivesse caído no lago e congelado as rodas, iríamos pra lá com uma facilidade ótima. – George lastimou enquanto andávamos pelo jardim e a lua cinzenta cercada de estrelas, um ponto brilhante e outro mais distante.

- Como foi que você fez aquilo? – Perguntei tendo vagas memórias do seu relato. Ele estava dentro do carro, tinha acabado de dar uma beiçada no goro e transado com uma menina no porta-malas. Diz que se arrepende cavernosamente daquele dia. Mas do sexo selvagem não. Foi há três semanas.

- A mina me embebedou, cara. Nem põe a culpa em mim!

- Tive altas fapadas pensando nos detalhes que você nos relatou da hora do xereco teco! – Comentários escrotos de uma criança igual ao Mattie.

- Véi, por que vocês são tão canalhas? – Indaguei incrédulo daquele comentário malicioso de uma criança.

- Como se você já não tivesse afundado o ganso. – Aff! Pagar de santinho é tão desnecessário.

- Velho, eu não sou mais de tá tirando proveito de ninguém!

- O que te mudou? – Virou-se para mim desafiador.

- Meu senso.

Curta resposta, mas excelente para refletir. Só para esclarecer, o jardim é imenso e estamos no asfalto agora, montando em nossos skates. Sorri ao enxergar toda a rua adiante para percorrer em quatro rodas e um shape. Deu o impulso e larguei com os três vindos ao meu alcance imediatamente. A brisa gostosa e um frio intenso ultrapassando o tecido do moletom. Os meus cabelos cumprimentam o vento e alguns indivíduos adentrando em suas residências ou caminhando pela rua, admiram-se ao verem quatro adolescentes (que provavelmente nem sabem quem é) omitidos em um capuz e se equilibrando em um tipo de tábua.

Dobramos uma esquina e lá está a pista, já com uma boa concentração de pessoas. Uns ensaiando manobras, outros papeando em seus bandos. Não só há skatistas profissionais ou amadores, tem punks, grunges, góticos. Inopinadamente me lembrei dela de novo e do seu cabelo arco-íris e sua roupa excêntrica. Se desculpando timidamente pelo quase tombo e o seu olhar perfurante e forte.

Saltamos dos skates, baixando o capuz e encaminhando a uns garotos aglomerados.

- E aí. – Como daquela vez, parecia que tínhamos treinado.

- E aí, fearlees! – Nos saudaram animadamente.

Fearlees – Destemidos.

- São novatos na área? – Um garoto de boné com a aba para o lado esquerdo, um pouco de seu cabelo encaracolado e loiro escapando do boné, olhos cor de mel e um hálito de gin, perguntou mostrando seus dentes enfileirados e os do meio um pouco separados, me lembrando o Bob Esponja.

- Que nada! Apenas deixamos de ter acesso a pista há alguns meses. – George respondeu encarando depois um cara, aparentemente adulto, ensinando um menino a executar uma Kickflip. Pelo jeito, ainda é iniciante. Esse daí tem cultura, será um formidável skatista no futuro.  Bem, tem que reparar que eu gosto muito de prever o futuro dos outros.

 - Tão apostando muito nas meninas como vencedoras. – Manifestou outro rapaz. Bem mais alto que o primeiro. Loiro-roliço, olhos esverdeados e uma calça que caberia 10 dele ali dentro. Um estilo meio rapper rocker skatista.

- Roubar o nosso posto, nem pensar! – Atreveu-se a contrariar o Mattie.

- Estamos com tudo esse ano. – Uma garota com o cabelo pintado de amarelo um pouco abaixo dos ombros e um lado raspado, dando um corte undercut. Piercing de argola do nariz, um no lábio inferior e enquanto falava, deu para visualizar um em sua língua. Seus olhos eram azuis e contrastados na sombra preta forte rodeando-os. Ela é uma punk com uma bermuda totalmente rasgada.

Ela piscou sensualmente para o garoto do boné com aba virada e passou a nos encarar.

- Boa sorte, fearlees! – Deixou-nos, rumando para a sua tribo. Inalei um cheiro de churrasco e encontrei um rapaz assando essas carnes nas varetas, sorridente e cantante. Não, não deu vontade de comer e sim de descer até lá e ir admirá-lo a fazer uma coisa que gostava e que estava atraindo os famintos. Alguns ensaiavam ao seu redor e ele nem se importava.

Escorreguei com o meu skate por uma rampa e paralisei ao ouvir uma voz exprimida por um megafone.

- Atenção fearlees! Está na hora de iniciarmos o nosso campeonato misto! Primeira fase... – Os gritos de comemoração meio que taparam o que ele falava. Eu não participo, nem me inscrevi, então o jeito é assistir.

#

Acreditem ou não, ela está competindo. Acreditem ou não, ela já está nas eliminatórias. Sim, ela está usando suas roupas estrambóticas e chamativas. Uma camisa cinzenta com um zumbi que devorou o próprio braço, uma saia preta, coturno no pé esquerdo e um All Star de cano longo, não se esquecendo de uma meia com as cores do mar na perna esquerda. Um gorro rosa que igualmente a cartola do Slash, não cai da sua cabeça, uma gargantilha cravejada e o mais curioso, o seu cabelo não está mais arco-íris. Vem roxo em cima, passa por um rosa claro e termina com um rosa um pouco avermelhado. Desta vez ela está mais pop punk.

- E agora meus caros fearlees. – Isso já tá me irritando. – A final com Jack, o estuprador de skates e Emily Longbottom, a nossa mais destemida skatista!

Jack cumprimentou a todos com o dedo do meio, e claro que foi contribuído. Assim, deslizou por uma rampa e em seguida, elabora um 900. Nós vibramos com a perfeita execução de uma manobra muito arriscada e difícil.

Shut the fuck up she said, I'm going fucking deaf
You're always too loud, everything's too loud

Blink-182 começou a tocar. Eu me animei ainda mais e decidi ficar de pé, igualmente aos outros.

Ele subiu nas escadas e depois em um corrimão, ao chegar ao final deu o impulso e girou no ar, como um perfeito peão e as rodas se chocaram contra o piso liso.

Now that all my friends left, this place is fucking dead
I wanna move out, when can we move out? This shit has got to stop.

Prosseguiu com mais manobras. Esta etapa se faz manobras complicadas e pelo jeito a dificuldade não está muito presente nele não.

I'll run away

Assim se segue até o término do seu espetáculo. Aplaudimos em pé e veementes com um bem feito desempenho do “estuprador de skates” na pista, detonando e desafiando a garota a competir com ele.

- Uou hein Jack! Esse skate precisará de novas rodas, não? Ficaram bem gastos! Enfim, agora com vocês a nossa princesa do skate... – Sorri impensadamente. – Emily Longbottom! Põe Up All Night pra tocar aê, produção!

Ela saiu de não sei que lugar, cumprimentando a todos com um aceno e um sorriso estimulado. Subiu na shape a espera do consentimento para iniciar sua vez.

Uma bateria começou o que parecia ser o aviso para começar. Assim o fez, escorregando magicamente pela rampa e já fazendo uma 540. Impressionei-me com a altura que ela conseguiu deixar, para dar um aspecto mais difícil a manobra. Gritos, claro, ecoaram bem mais eufóricos.

Everyone wants to call it all around our life with a better name
Everyone falls and spins and gets up again with a friend who does the same

Efetuou um 900 de uma maneira bem mais complexa. A vibração aumenta.

Everyone lies and cheats their wants and needs and still believes their heart
And everyone gets their chills, the kind that kills when pain begins to start

Meus olhos por mais que eu tentasse, não aceitavam se desviar da figura pequena sobre uma prancha com quatro rodas.

And get this straight: Do you want me here?
As I struggle through each and every year
And all these demons, they keep me up all night
They keep me up all night

-Ela tá com um jeito que vai nos surpreender no final. – Só agora percebi que havia alguém ao meu lado, e que esse alguém é o George.

Sorri de novo, de livre e espontânea verdade.

Everyone's cross to bares a crown they wear on endless holiday
Everyone raises kids in a world that changes life to a better game

Todos se calam ao vê-la exibindo o seu talento no skate. É tão natural para ela se equilibrar nele e fazer um espetáculo como esse.

Everyone works and fights stays up all night to celebrate the day
And everyone lives to tell the tale of how we die alone some day

Então, ela paralisou em cima da maior rampa, a megarrampa posta ali somente para o campeonato. Baixou a cabeça por breves três segundos e tomou todo o impulso que sua coragem lhe proporcionou. Escorregando hipnoticamente pela rampa com uma velocidade ininterrupta, motivando uma agitação em quem assiste. Eu estava anestesiado.

And get this straight: Do you want me here?

E ao chegar ao topo, efetuou com excelência o desafio de todos os skatistas. O 1080. No qual temos que girar no ar três vezes seguido.

As I struggle through each and every year

O seu gorro caiu. Seus cabelos multicoloridos esvoaçaram com as suas voltas. O apresentador sibilou, estupefato a palavra “uou”, acompanhado de outras pessoas. Caiu perfeitamente em pé e desceu até o meio da rampa para finalizar.

And all these demons, they keep me up all night
They keep me up all night

Encerra-se com o solo final da música.

- 1080? 1080 MINHA GENTE! A nossa baixinha realizou um 1080, que coisa mais fantástica!

Os aplausos ainda ecoavam e eu apenas cimentava meus olhos nela.

Nunca alguém me chamou tanta atenção, por que isso agora?

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Garota De Roupas Excêntricas." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.