Oculto escrita por X Oliveira


Capítulo 4
Capítulo 4 - Bolo de Vidro




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Na manhã seguinte, eu me deparei com uma surpresa ainda maior do que a da tarde passada. Minha mãe pede para que eu vá ate a caixa de correios que ficava no jardim. Eu nunca recebo nada a não ser, aqueles malditos folhetinhos onde nem meu nome tem. Algumas revistas descobrem meu nome endereço e me mandou propaganda de assinaturas, como isso me irrita e da medo ao mesmo tempo. Peguei as cartas e joguei na mesa sem olhar.- era um sábado de manhã e eu só queria ficar jogado no sofá vendo meus desenhos e séries. Minha mãe me grita pra ir ate a cozinha.

–Alany, venha ate aqui. Estou na cozinha.

– Droga, agora que recuperei o quentinho das cobertas e do sofá que havia perdido quando levantei! – Odeio quando isso acontece. Estou enrolado em meu próprio calor, e vem alguém me fazer levantar do meu berço quentinho. Cheguei a cozinha com cara de morta e preguiçosa.

–Aqui, tem uma carta pra você – diz minha mãe esticando o braço. Passo reto por ela e vou ate a geladeira pegar um pouco de leite

– Deve ser aquelas revistas de novo, jogue fora.

–Não, é de um garoto chamado... Danilo Mills. –Meu coração pula na hora! Pego a carta como se não soubesse quem é, só pra minha mãe não fazer perguntas de mais.

–Vou ler depois, vou dormir mais um pouco.

– Tudo bem.

Assim que virei a esquina da cozinha com a escada que dava para o cômodo de cima onde ficavam os quartos, sai correndo desesperada pra ler a carta. Entrei no quarto, tranquei a porta e abri o envelope como se fosse um pacote de Bolypólons num dia muito ruim.

“Ola Alany, ou Ally... Bom não importa mais não é? Nem começamos e isto já é um Adeus, sim um Adeus. Quando estiver lendo esta carta, provavelmente estarei na estrada indo pra um outro lugar viver uma nova vida. Não sei porque estou lhe dando satisfações, talvez eu saiba o quanto você me parecia importante e eu sinta que você precise saber o porque não estarei mais lá, quando você olhar pra frente da sala, não serão mais as minhas costas que vera. Talvez, você esteja me chamando de idiota nesse momento, porque, como você mesmo diz, você é fria. Comecei a morrer de novo em LazyCity, e por isso parti. Um dia talvez, voltarei trazendo o verão pro seu coração... até lá, viva no inverno se quiser. “

Meu coração estava em mil pedaços. Ele se foi, graças a mim. Eu devia estar feliz por ele ter ido embora, deveria estar contente por ter me livrado desse perigo a minha zona de conforto, mas não estou. Estou atordoada. Não sei para onde correr ou para quem gritar socorro. Deus me ajude.

Num surto de desespero eu ligo para celular de Danilo. Ele chama, chama até que...

–Não quero que me diga nada a não sei que diga pra eu voltar pra você. – meu coração pulsa uma vez como a tempos eu não sentia.

–Então volta pra mim! Aonde você esta?

– Estava prestes a subir no ônibus quando o celular tocou. Que alivio você me ligar. – A bela, linda e tremula voz dele outra vez soava em meus ouvidos.

– Me perdoa. Saí já daí. Eu... eu desisto do gelo me...

– Pare – ele me interrompe sussurrando – Quero ouvir pessoalmente. Estou indo ao parque Greentree, me espere lá. – ele desliga antes mesmo de eu dizer que iria.

Sinto uma coisa estranha no meu coração, como se um soluço estivesse preso em meio a meu sangue. Um alivio ao mesmo tempo... Uma dor súbita só de pensar que quase perdi alguém que nem conhecia direito. Me vesti depressa, jeans, all star vermelho, uma blusa preta cumprida e sai.

Cheguei o parque ofegante. Não sabia se ele já havia chegado. Então fui ate o lugar aonde tínhamos estudado aquela vez, ele não estava lá. Sentei e fiquei esperando com a esperança de que ele se lembrasse do lugar. Eu o vi caminhando. Com uma mala de lado, uma mochila nas costas e sem ao menos pensar no que eu iria fazer, corri pra abraçá-lo.

–Eu quase perdi você! –Eu digo com voz tremula. O abracei forte, suas mãos em volta de mim, como era bom.

–Eu quase parti por não enxergar a verdade. – diz ele me abraçando mais forte.

–Como assim?

–Eu percebi o que você estava tentando fazer - ele me pega pela mão e nós sentamos em baixo da arvore mais uma vez, agora, pra décimos nosso futuro. – Você estava se protegendo. Eu percebi que nenhuma vez eu te vi chorar. Você é tem um problema não é?

– O que quer dizer com isso... – Digo abaixando a cabeça como se não soubesse do que ele estava falando, ele sabia que eu o entendia.

– Você não sabe chorar não é Ally? – ele diz levantando meu rosto.

–Como descobriu?

– Aquele dia, quando você fugiu de mim e foi pra casa. Eu vi quando você subiu pro seu quarto, bateu com sua cabeça na parede tentando fazer a dor sair. Seu ódio guardado, são magoas congeladas. Você não consegue chorar.

– Você tem razão. Quando digo que estou congelada, não é em vão.

– Ally, olhe nos meus olhos – ele tira os óculos. – Chore comigo.

– Não consigo, já tentei. Nada saí. Eu sou oca.

–Não você não é. Chore comigo Ally – Uma lagrima desce pelos olhos dele.

– Por favor, me ensina a chorar!

– O que faz a dor acumular em teu peito, é a falta de desabafo. Você esta transbordando de dor, deixe tudo vazar, esvazie seu peito. – ele olha fixamente nós meus olhos. Lagrimas já rolam por todo o resto dele. – Pense naquele dia, na morte de seu pai. Você lembra quando o homem chegou e atirou nele? Continue e me conte desde ai.

– Ele chegou, pediu a carteira do meu pai. Meu pai tentou dizer para ele não me machucar mas...

–Mas?

– Ele ficou louco e atirou! Atirou no coração do meu pai mais é como se a bala tivesse perfurado a minha carne, tivesse atingido a mim! Ver ele ali... caído e sangrando. Olhando para mim e... – Um aperto estranho repuxa meu peito. Sinto uma tensão em todo meu corpo, eu tremo.

– Você vai conseguir, continue...

–E... ele me disse pra eu não ter medo dos trovões! – Meu rosto esta molhado. Aqueles suspiros são liberados finalmente! É como se uma bexiga cheia de água estourasse.

–Você conseguiu. – ele me abraça e eu choro um mar de lagrimas no ombro dele. Suspiros autos e longos, soluços que doem a garganta pois saem com força e fome de liberdade. – Continue, assim. Não tem problema nenhum em chorar. Descarregue sua alma.

Depois de algum tempo desabafando. Sinto-me como uma pena. Leve, aquele ódio todo que eu sentia eram apenas lixo sentimental acumulado. Chorei como se eu fosse uma criança recém nascida, como se fosse meu primeiro choro.

–Você foi muito bem. Como se sente agora? – me pergunta com olhar bondoso. Agora já estava de óculos novamente.

– Estou me sentindo... Como se um peso caísse de minhas costas. Obrigada! Danilo obrigado por me ensinar a me livrar de tudo!

– Por nada. Sentimentos são como lixo. Existem os Recicláveis e os Não recicláveis. A gente reutiliza os aprendizados e experiências. E joga fora as dores, desilusões e más lembranças.

–E você?

– O que tem eu?

– O que vai ser quando me magoar? Reciclável ou não reciclável?

–Não vou te dizer que não vou te magoar. Eu prefiro te provar isso com atitudes e com o tempo. Não viva com medo Ally. Você é corajosa eu sei. Me de uma chance, uma chance pra você não ter mais que chorar de novo. Uma chance pra eu te ajudar a reciclar tudo.

–Vou pular desse precipício contigo. Não ligo para onde essa loucura me levara. Talvez eu aprenda com tudo e isso me redá boas lembranças. Talvez pra sempre contigo eu possa ficar. Sinto que você tem algo que me intriga. Algo que me atrai e me fascina como ninguém. Vou descobrir o teu segredo.

–Isso é um sim a uma nova rodada de aventura? É um sim para a vida a dois? Um sim ao amor que eles chamam de “quebra corações”?

–Sim. –Eu o abraço, com força. É tão bom senti-lo finalmente perto de mim. Algo me vem a cabeça... – Não quero quebrar nosso clima, mas...

– Pode falar...

–Aquele dia, que ficamos aqui mesmo e eu fugi...

– O que tem?

– Você me disse ser diferente. De uma forma que você não podia explicar. Eu lhe expliquei porque eu me sinto assim, me explica também? E... no bilhete você me diz que queria me contar um segredo, que segredo? E como sabia o que houve no meu quarto?

–Bom Ally... talvez esta não seja a hora. – eu o sinto quente. Quente de um jeito que queima e machuca.

– Como você esta quente. Isto é febre?

–Não... deve ser esta roupa... – ele se afasta de mim, respirando fundo.

–O que houve? Porque se afastou?

–Por nada, me desculpa mais preciso ir pra casa. Venha eu te levo até a sua.

Ele me ajuda a levantar, não entendo muito bem mais aceito. Vamos caminhando devagar de mãos dadas. Como aqueles filmes bobos de amor.

–Ei, olha só pra nós... Estamos tipicamente protagonizando um filme de romance – ele diz lendo meus pensamentos.

–Quem diria que eu toparia fazer este papel de menininha apaixonada.

–Isso quer dizer que você esta apaixonada por mim? – ele para e segura minha cintura.

–É contraditório...

–Explique-se.

–Eu te odeio por estar me apaixonando por você. E amo estar com a sensação de gostar mais de você a cada dia. Sentir o quanto tão parte de mim você esta se tornando. É como se você comesse um bolo de cacos de vidro. Você come por gostar do bolo e do seu doce, mais ao mesmo tempo... Você se corta por dentro toda vez que da uma mordida.

–Então me deixe morder pra ver se a dor é suportável o bastante pra você. – ele morde meu lábio inferior em meio a um beijo. Nosso primeiro beijo. – e então?

–A dor é maravilhosa. –A gente se abraça e se beija, ali no meio da rua deserta. Um carro fora de contexto aparece e estraga o momento causando risadas absurdas.

–Mais que coisa, tanta hora pra passar ele tinha que passar agora? – Diz Danilo com ar de graça, eu me acabo de dar risada.

– Talvez, ele seja só o começo dos desafios que vamos enfrentar. O começo das coisas que viram nós atrapalhar.

–Sim, talvez seja. Já pensou o quanto divertido será passar por cima de tantos carros? E que venham muitos e muitos! Até caminhões se quiserem! Que o futuro e a dama do azar se supere a cada vez. Sinto que nada pode me tirar de você.

–O que você fez comigo? – O tempo para. Aqueles olhos de novo... ele me olha com de um jeito calmo, numa noite de ventos preguiçosos como nossa cidade. Os carros desapareceram. O falatório das pessoas se silenciou. Estamos os dois ali nos olhando. Ele me beija.

Nó portão de casa, ele me da o ultimo beijo do dia. Espero ansiosa por mais amanhã. Minha mãe esta na janela e vê quando ele vira as costas e eu entro. Assim que abro a porta ela vem matar sua curiosidade...

–Então... Finalmente namorando não é?

–Mãe, menos.

–A vai filha – ela me chama de filha só quando quer me pedir algo – Qual o nome dele? Conta-me tudo vai ....

–É Danilo mãe, não quero falar sobre isso ta?

–E esse sorriso ai? Porque não me conta? Filha...

–Mãe, boa noite. – Subo para o quarto. Aquela cama nunca esteve tão macia. Meu teto se transforma em uma tela de cinema. Onde eu revejo todos os beijos de hoje. Os passos que ele deu ate mim. O abraço que ele me deu... toda aquela tarde que passamos juntos. Pela primeira vez eu adormeço feliz. Tenho uma noite mágica de sono. Não vejo a hora de acordar.

No domingo de manhã, uma mensagem me acorda.

“Ei, bom dia minha negra flor. Espero que seus espinhos estejam lindos como sempre hoje. Quero sangrar ao apertar um por um. Venha ate a cafeteria as Nove. Tomaremos café juntos. Ate breve.”

Eu adorava o jeito com que ele ironizava o meu mal humor rotineiro. Nós éramos um casal de revoltados e adorávamos brincar com isso. Visto-me como uma pré-adolescente se preparando pro primeiro encontro. Coloco roupas e roupas, e nada. Nunca foi tão difícil me vestir como agora. Ele coloca meus sistema em crise. Finalmente acho um jeans branco rasgado escondido atrás daquela montanha de bagunça. Uma blusa vermelha e meu outro all star branco. – Sim, converse você é minha preferida. – Minhas unhas estão pintadas com um certo capricho, Deus virei uma boba. Sai com os cabelos soltos e ondulados. Espero que ele não note que me esforcei pra parecer no mínimo... Aceitável para os olhos.

Celular na mão e mais nervosa do que nunca. Cheguei a cafeteria. Eles tava lá, sentado numa mesa de madeira, agasalho de moletom branco, jeans e tênis. Aquele ambiente era lindo.

– Oi espero que não esteja atrasada... – Ele me olha de cima abaixo.

– Nossa, o amor fez bem a você. – ele ri – esta linda.

–Ta tão na cara assim que isso tudo é pra você?

–Esta, e eu adoro isso. – ele me da um beijo leve e carinhoso. Nós sentamos e pedimos uns biscoitos, café e é claro... Bolypólons. – Você adora isso não é?

–Eu amo. É como se em cada mordida um problema se espatifasse contra todo o doce dessas delicias.

–Queria que se sentisse assim quando nós beijamos ...

– Lembra da historia do Bolo de vidros?

–Me lembro. – ele sorri. – Pensei muito na noite passada. Foi incrível mesmo que curta.

–Pela primeira vez... Eu dormi em paz. Por você. É como se você fosse um anj...

– Não diga isso. – ele interrompe. – Não sou um anjo. Anjos são criaturas lindas e divinas. Estão muito acima da minha categoria.

– O que quer dizer com isso?

–Não quero dizer nada. Só... vamos comer? Mais uma rodada de Bolypólons pra minha Boly.

–Espera... Boly? – eu rio – Que apelido é esse? – rio mais.

– Qualé, é fofo. A vai, eu gostei. – ele ri junto.

– Tudo bem então... Mas, o que vai pedir?

– Sou louco por Coktons. – Biscoitos de morango com massa molhada e doce.

–Então os pesa Cok...

– Cok? Adorei – rimos juntos.

Depois do café da manhã maravilhoso, naquele domingo preguiçoso decidimos caminhar. Vimos a manhã que parecia calma e o friozinho era só mais um pretexto pra ficarmos abraçados. Andávamos lentamente, Como se caminhássemos na lua. O braço dele envolta do meu pescoço, a minha mão na cintura dele. Éramos um ponto de amor num universo cheio de fúria. É incrível, o tempo passa depressa quando você esta feliz e se divertindo. A manhã já se foi, esta quase na hora do almoço temos que ir para casa e ele me leva.

– Vou morrer de saúdes Boly.

– Eu também Cok... – Damos uma pausa rápida e caímos nas risadas. Brincadeiras como essa... Eu nunca sonhei em fazer.

–Até a noite, eu te ligarei. – Um beijo que não significava um simples “ate logo” e sim um “se a morte não chegar, eu te vejo depois”. Era assim que agente pensava. Era mais divertido sermos sarcásticos com nos mesmos.

Entrei pisando em nuvens. Eu era realmente uma boba apaixonada não é? E quem liga? Estou aproveitando essa folga que a vida me deu.


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