Oculto escrita por X Oliveira


Capítulo 3
Capítulo 3 - Camada de gelo




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Cheguei em casa atordoada por frases e lembranças de agora pouco. Subi correndo pro meu quarto sem que minha mãe visse que cheguei. Queria ficar sozinha com minha cabeça louca. Eu sempre tive pensamentos estranhos. Como se, alguma coisa tivesse acontecido e eu não me lembrasse do que. Como se alguma coisa quisesse sair e eu não soubesse como libertá-la.

Eu queria explodir. Nada saía. Eu estava agoniada por não saber o que fazer com meus pensamentos. Bati com a cabeça na parede com força, repetidas vezes. Como ele em um dia já confundiu toda a minha vida? 17anos de amargura e frieza estão indo por água abaixo. Estou sendo aquela menina iludida dos filmes água com açúcar e groselha. Posso ate ver : Vou me apaixonar por esse cara que finge me compreender, finge ser diferente, finge sentir o mesmo que eu, e no final, ele só será mais um cara. Minha vida não é um conto de fadas! O dia é só uma noite disfarçada! A vida é um inferno onde o caos mora logo ali!

– Não vou me deixar levar. Não vou descongelar essa camada de gelo que demorei anos pra construir!

Vem a noite. Estou pilhada de mais pra dormir. As benditas batidas na parede me renderam uma bendita dor de cabeça que veio em hora maravilhosa. Pedi um remédio pra minha mãe, que Graças a Deus, dava sono. Adormeci.

Pela manhã, o maldito despertador vem a me avisar, hora de mais um capitulo de tortura estudantil. Não queria levantar! Não queria ter que ir pra escola e ver Danilo. Fui ate o banheiro e quando me deparei com o espelho, um galo. Perfeito, um lindo, enorme e vermelho galo na testa. Que dia lindo! Me joguei na cama outra vez, não queria mesmo ir. Fingi uma dor maior que a de ontem para minha mãe, escondendo o galo com uma touca azul bebê, ela me deixou ficar em casa.

E agora? Ficar em casa por 24horas sozinha a tarde e sem o que fazer, a não ser pensar. Eu não queria pensar, não queria ter motivos para imaginar uma vida ou um período de vida ao lado de Danilo. Então, liguei meu vídeo game. Guitar Hero, o melhor jogo de vídeo game que existe!

Quando fui ver a hora, já eram 16:30 da tarde, corri pro banho e afoguei toda aquela sujeira de pensamentos da noite passada. Não, não vou mais pensar nisso, não irei me render a uma bobagem dessas! Troquei-me e fiquei vendo Tv, é incrível como a mídia tenta nós conquistar com uma programação barata. O ruim, é que muitos caem nessa. Eu estava tão revoltada comigo mesma por ter dado uma brecha a pensamentos e olhares no dia de ontem, que ate da Tv eu resolvi falar mal. Droga, estou pensando naquilo de novo, voei para a cozinha, peguei todos os Bolypólons que vi na geladeira, uma lata de Uvitfresh e me afoguei em delicias.

Minha mãe chega mais cedo, e eu esqueço de colocar a touca, ela se assusta com o galo.

– Alany, que galo é essa na sua cabeça?

–Nada mãe, bati na janela do meu quarto.

–Mais hora menina, preste atenção. – Tenho que me fazer de monga pra minha mãe por varias parte de um mesmo dia. Para evitar ‘discurssões’’, ou seja: Discussões recheadas de discursos. Outro dia, estava com tanta raiva de mim mesma por razão da qual já me esqueci, que dei com o braço na parede, um soco que abriu um buraco. Tive que mentir pra ela e dizer que tinha tentado pregar um prego naquela parede, e que não sabia como usar o martelo. É, tenho que ''privar'' minha mãe de certas coisas. Afinal, ela me perguntaria coisas que eu não iria querer responder. Se preocuparia de mais e etc.

Jantamos, as duas sozinhas numa mesa enorme no meio da cozinha. Aquele lugar da ponta vazio. Que saudades eu tinha do meu pai. Sei que minha mãe também tinha, ela não parava de olhar fotos dele quando estava sozinha em seu quarto. Sei porque já a peguei fazendo isso.

Subi pro meu quarto depois de ajudá-la a arrumar a cozinha. Apaguei a luz e liguei o pisca-pisca, lembro-me de quando meu pai o colocou ali na parede, logo acima de varias fotos de família, amigos e bandas que tenho num mural que cobre toda uma parede. Era um dia de chuva quando eu tinha 4anos, eu morria de medo dos trovões, chorava pra não dormir sozinha no meu quarto. No mural tinham apenas alguns desenhos que eu adorava fazer, e algumas fotos da família. Ele saio no meio da tempestade fria que cortava com água, só pra me buscar aquele pisca-pisca na loja que ficava a aquilo metros de casa. Chegou tarde da noite, entrou no meu quarto e colocou bem acima do mural, ele me disse – Os trovões são apenas pequenos guerreiros que desistem de ficar no escuro e por isso brilham. Eles são como este pisca-pica, servem pra te lembrar que mesmo na escuridão mais tenebrosa, a luz ainda esta lá. Como eu sempre vou estar. – Belas noites iluminadas. Depois disso eu não saia mais do meu quarto. Vivia trancada La, com as janelas fechadas só pra eu ver o pisca-pica iluminar tudo.

O que vim a me tornar? Meu pai dizia que a escuridão era o caminho errado a seguir. E foi justo pra lá que eu fui quando ele se foi. Tenho raiva de mim por ter deixado meu sorriso ir com ele, mas tenho orgulho dele por ter me defendido. Queria ter morrido ali com ele, ou, por ele. Sei que a morte não vai me deixar sair assim, ilesa.

Adormeci aos poucos naquela noite gelada. Sentia como se ninguém pudesse me aquecer. Eu estava congelada de maneira a qual, eu não más iria me descongelar. Pela manhã, eu tinha de ir para escola, não tinha mais o que fazer. Me arrumei com aquela ''alegria’’. Chegando lá, Danilo estava numa rua próxima a escola, pois sabia que eu tinha de passar por ali pra chegar lá, me parou pra conversamos.

–Podemos conversar?

–Não temos nada pra conversar.

–Por favor... – Aqueles olhos tinham efeitos sobre mim, eu olhava pra baixo para não os ver, mais era mais forte que eu.

–Você tem cinco minutos.

–Porque fugiu de mim ontem no parque? Porque não veio ontem? Não quer mais me ver?

–Uma pergunta por vez. Não fugi de você naquele dia, eu só não queria continuar a conversa. Não vi ontem porque... porque, ora! Você não tem nada com isso.

– Tudo bem calma. Só estou preocupado com você. – ele manteve sua voz calma e doce como açúcar. Irritava-me o jeito que ele me vazia bem, ate quando eu estava tento brigar com ele.

–E porque estaria? Você nem me conhece!

– Mas sinto como se conhecesse. Sabe, aquele dia, eu senti um ligação. Como se eu tivesse ligado a você de forma tão especial... achei que você tinha sentido o mesmo.

– Eu? Sentir alguma coisa? Garoto eu não sinto nada! – mentia, e como mentia. Eu havia sentido, e como! – Minha alma esta morta, esta com quem vus fala é apenas uma zumbi.

– Para com isso. Não foge de mim – a calma na voz dele me fazia derreter por dentro. Eu queria me aquecer nos braços dele.

–Pare com isso você. Eu preciso ir pra aula. Não me procure mais! Eu odeio gente como você, que quer atenção. Para de ser carente cara! – como me doeu dizer aquilo.

–Você... é igual a todas! – ele entrou na escola furioso. Era o que eu queria, acabar com o que não tinha nem começado. Confesso que eu senti uma das minhas placas de gelo quebrando em duas, eram mais angustias se formando dentro de mim.

Entrei na escola com cara de quem não ligava pra nada. Agi como se nada tivesse acontecido. Danilo tinha trocado de lugar, agora sentava na primeira carteira da ultima fileira que ficava La do outro lado. Senti a falta do cheiro dele assim que me sentei. A aula começou e ele não olhou pra mim uma vez se quer. Eu não conseguia tirar os olhos das costas dele, aposto que ele sentia meu olhar em cima de tudo o que ele fazia. Me senti uma bruxa pelo que estava fazendo. Mas, vou continuar pensando em mim.

No intervalo, ele sumiu, talvez estivesse na biblioteca. Naquele dia que começou maravilhoso e terminou pior do que um pesadelo, ele havia me contado o quando gostava de ler. Tinha percebido um livro velho e grosso na mochila dele, talvez poesia. Tinham vários iguais a aquele na biblioteca da escola. Me segurei pra não ir até La. Fui ate a cantina, meus amados Bolypólons estava em falta, - que dia mais perfeito pra um suicido não? – tive que me contentar com Packs de chocolate derretido. – massa de chocolate ao leite com chocolate quente derretido por cima com algumas bolas de sorvete.

Vamos a mais uma aula de tortura. Voltamos a salas e quando Danilo entrou estava com os olhos vermelhos e com cara triste. Não acredito, eles estava chorando? Nunca choraram por mim... Não, não creio no que vejo, deve ser coisa da minha cabeça. Pensei nisso pelas três aulas que faltavam. Na saída, assim que os portões se abriram ele sumiu. Queria muito saber o que tinha acontecido. Nós conhecíamos a dois dias e eu já o havia decepcionado.

Algumas semanas depois, nós ainda não tínhamos nós falado. E um dia voltando da escola Quando me afastei algumas ruas do colégio, tive uma surpresa. Ele estava lá! Perto de uma cafeteria, me esperando. Fez sinal com a cabeça me pedindo pra sentar, eu não deveria mais me sentei.

– Olha Alany... eu achei que mesmo que podia me abrir com você. Eu achei que podia me contar um grande segredo sobre mim mas, vi que não.Esqueça tudo aquilo que te disse aquele dia. Acho que quero sair de LazyCity.

–Não! – A palavra pulou da minha boca, me arrependi tanto de ter falado, e ao mesmo tempo me sentia bem por mostrar a ele que me importava, continuei – Não se vá, não por mim.

–Não da pra ficar. Comecei a morrer outra vez.

–Deixe-me ser a vida na morte que te assombra. – falei outra vez sem pensar. Droga!

–Como disse? – a cara de espanto dele me encantou.

– Nada, preciso ir. – Fujo de novo! Não devia ter mostrado a ele que eu me importo. Deveria ter passado por ele fingindo que não o conhecia. Droga! Me sentia tão bem perto dele. Todas aquelas semanas que passamos sem nós vermos... eu alimentava meu amor só em poder velo... eu morria por ver ele me ignorando e com razão. ESPERA AI, amor? Que amor. Estou ficando louca.


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