O pequeno Vit tremia na noite gelada das terras de pedra. Uma tempestade de areia forçou-os a se refugiarem numa caverna ali próxima. O chão parecia mais duro do que de costume, os suprimentos acabaram, e tudo que restou foi uma gole de agua no canteiro de Marta, que a própria usara para humedecer o pano na testa de Vit. As coisas estavam ficando feias, todos estavam sendo cortados com o frio que fazia nas montanhas de pedra. Danilo, como todo Flamejante, estava fraco e faminto, todos os outros estavam na mesma.

– Cara ... Meu estomago esta me xingando loucamente agora. - George reclamava da fome.

–Todos estamos famintos George. - disse Marta.

–Que saudade comida da mamãe ... Os bolos de carne, as costelas ... Quero chegar em casa logo!

–Porque ao invés de ficar falando de comida, você como o príncipe que é, não controla essa tempestade ? - Disse Mauricio indiferente.

–Desculpe-me poça D'agua, não tenho poderes pra controlar a força absoluta da natureza, se esta tempestade esta acontecendo, e porque a natureza tem um proposito, não posso interferir. - George disse orgulhoso, Mauricio virou a cara como quem não liga.

–Danilo? você esta bem ? - Marta disse preocupada enquanto George chegava mais perto.

–Não sei bem... Estou meio tonto. - respondeu ele quase sussurrando.

–Será o frio?- Disse George.

– Não eu ... acho que não é isso. Meu organismo queima muita energia pra funcionar, e faz tempo que não durmo e me alimento direito, devo esta fraco. - Disse ele desanimado.

–Vamos dar um jeito nisso - Disse Marta, logo depois ela se levanta pra pensar em algo.

–Ei bro... tem certeza que e só a fome? Sei que esta fraco, mas... seus olhos, me dizem que a outra coisa. - George se sentou ao lado do amigo.

–Sonhei com Ally.

–Sonhou? e como foi ?

– Foi estranho, como se algo me avisasse que ela não e mais minha Ally, e que vou perde-la em breve, perde-la de vez.

–Não vamos deixar com que nada aconteça bro. - George bate nas costas de Danilo.

–Ei George, venha até aqui. - Marta o chama num canto afastado da caverna.

–Pensou em algo ?

–Não mas... Danilo, é em Ally que ele esta pensando não é ?

–Sim, me disse que sonhou com ela, algo relacionado a ele a perder.

–Preciso te contar uma coisa George... - Ela olhava pra seus dedos.

–Conte, Já era hora! alguém vai compartilhar algo comigo nesta historinha!

–Prepare-se pra perder seu sorriso.

–Credo Mah, esta me assustando.

–É realmente assustador.

–Conte logo mulher!

–Certo, hm... O sonho de Danilo esta certo.

–Como assim ?

– Vamos ter que matar Ally. - Os olho de George se arregalam.

–O que ? esta brincando não é ?

–Quem dera... Escute, Danilo não pode saber de nada! nada, ouviu ?

–Sim! mas, me conte, qual o motivo de tudo isso ?

– Bom... - Marta respirou fundo. - A lenda diz que... quando a filha das trevas e da luz se perde pra escuridão, seu coração apodrece e sua alma é escurecida. Cada segundo que se passa, Ally fica mais forte e mais má, Ally que conhecemos morreu, sobrou a princesa de gelo. É duro eu sei, mas temos que faze-lo.

–Quer dizer que... iremos matar Ally? como acha que Danilo vai reagir a isso ? acha que vou guardar um segredo desses de meu melhor amigo ?! esta louca!

–Quieto George, fale baixo! Olha... não somos nós que faremos, a profecia diz que; A princesa do gelo devera ser detida antes de alcançar o poder do mundo, os elementos deveram ser protegidos da fúria gelada. O bebê de luz será a chave, representará o fim e o começo.

–Sophia ...

–Ei vocês - Mauricio os assustou. - A tempestade passou, vamos atrás de comida.

–Certo. - Os dois respondem num pulo.

–Acha que ele ouviu ? - Marta pergunta.

–Acho que não. - Respondeu George.

George, Mauricio e Danilo - mesmo fraco- foram atrás de algo para comerem. George assumiu o comando, afinal aquelas terras pertenciam a ele desde que nascera. Andaram pelo sol quente do deserto das montanhas, ate chegar numa pequena cabana. Bateram na porta e sem resposta, bateram mais uma vez, e um velho ranzinza veio abrir reclamando.

– Moleques! o que querem aqui ?

–Ei, sou eu vovô, George...

–George? vovô? hora... tenho muitos netos. Não me lembro de nenhum George.

– Sou o Príncipe vô! - O velho mantinha um olhar de paisagem morta. - O filho de seu filho Guilherme.

–Guilherme ? o loiro ou moreno ?

–O loiro vô! - George revirou os olhos.

–Ah sim.. sim! me lembro. O pequeno George, lembro-me que você vivia por ai vestido com os vestidos de sua avó, usava ate os sapatos e perolas. Uma figura. - Danilo não contem a risada, assim que o velho vira as costas abrindo passagem para os três, ele desmorona em gargalhadas.

– Vestidos da vovó em - Disse ele segurando sua barriga que doía de tanto rir.

– Quieto! - George entrou pisando forte.

–Então.. - Todos dentro da humilde cabana no meio do deserto, envolta de uma mesa de madeira amarelada com copos de barro cheios de agua em mãos. - O que lhe trouxe aqui ?

–Bom vô, precisamos de comida e agua pra levar pros que ficaram numa caverna, não muito longe daqui.

–E porque não os trouxeram ?

–Porque tememos a tempestade senhor... - Disse Danilo - E um de nos esta ferido, desacordado. Um garoto muito fraco, e as outras duas ficaram pra protege-lo.

–Hora.. no meu tempo homem não deixava mulher sozinha.

–O senhor não conhece Marta - George deu uma pequena risada, e seu avô deu com a bengala que usava em sua cabeça. - Ei, porque fez isso ?!

–Não importa se e durona ou frágil! mulher e mulher, devemos protege-las, seja la o que tenham feito, e nosso dever! Somos homens, hora.

–Tem razão senhor . - Danilo disse se lembrando de Ally.

–Pois bem vovô, precisamos correr, pode nós arrumar comida ? - Na saída da cabana, com as trouxas cheias de comida, agua, e alguns remédios, eles se despediram do velho manco e ranzinza. - Adeus vovô, eu voltarei.

–A ultima vez que disse isso, tinha dez anos. - o velho sorrio abraçando seu neto. Os três voltaram para caverna, todos se alimentaram como a dias não tinham feito. Gabi, tinha de colocar comida na boca de Vit e faze-lo engolir.

–Estamos ficando sem tempo. Vit não vai aguentar mais que alguns dias. - Gabi disse.

–Tem razão, nem Vit, nem eu sem Ally. - Disse Danilo, Marta e George se entreolharam com tristeza.