Austin

Dei bom dia a Tia Charlie, tomamos café juntos como de costume e eu fui para o colégio, novamente abusei na velocidade, toda aquela adrenalina me fazia esquecer dos problemas e até mesmo da garota dos olhos castanhos. Logo que estava me aproximando do colégio diminuí a velocidade e entrei no estacionamento, eu hesitei por um momento descer do carro, foi quando pensei que talvez Ally Dawson fosse a chave para os mistérios da minha vida, eu não poderia ser tão covarde a ponto de não enfrentar esse momento.

Criei coragem, levantei meu capuz e me dirigi rumo a entrada principal, chequei meu horário e vi que tinha aula de Matemática, caminhei até a sala 30, mas Dez não apareceu hora nenhuma, talvez ele ainda não tivesse chegado ou está pegando outra matéria. Adentrei a sala e sentei do lado onde o ruivo havia me indicado da vez passada, tirei meus livros da mochila e esperei em silêncio a chegada do Professor. Dava pra sentir os olhares caindo sobre mim, os cochichos descarados sobre como eu era esquisito, isso é irritante, mas definitivamente melhor do que ser um “poderoso”.

A aula iniciou e embora não parecesse eu estava prestando atenção em cada parte da aula, era um jeito de não ouvir os cochichos desnecessários de meus colegas, estava anotando um problema de matemática no caderno quando senti alguém caminhar em minha direção. Desviei meu olhar para cima e vi quem era, Ally Dawson. Não pude evitar, eu olhei para ela, para o modo como andava e piscava seus olhos, monitorei cada ação que ela desenvolvia, estava tentando ser discreto, mas não era tão fácil assim afinal era como se eu estivesse vendo um desenho sair do papel, um sonho virando realidade.

Eu notei que ela estava absorta em seus pensamento, sua expressão era de certa forma triste e ela estava sem livro e não anotava nada da aula. Eu pensei em oferecer o meu livro, mas mais uma vez me toquei de que ela não iria querer dividir um livro com alguém como eu, então deixei de lado essa possibilidade. 40 minutos já tinham se passado e de repente o Sr. Daves resolveu fazer uma pergunta.

- Allycia, responda qual o resultado desse problema. – ele perguntou, sua reação foi de susto. Ela com certeza não sabia da resposta. Eu sempre fui muito bom em matemática então resolvi a questão rapidamente de cabeça e sem hesitar soprei a resposta pra ela.

- 0,78.

-0,78- ela repetiu logo em seguida, o Sr. Daves achou estranho, mas deixou por isso mesmo e prosseguiu com a aula.

- Obrigada. – Ally me agradeceu? Ela tinha falado comigo? Aquilo me fez ter vontade de olha-la, olhar para ver se ela estava sorrindo, encarar os olhos dela. Quando virei meu rosto para encara-la pude ver que a reação dela ao me ver foi de surpresa ou espanto. O que ela estava pensando? Aquilo me matou por dentro, eu queria saber o que ela pensava de mim.

Ally

Depois de constatar que o garoto era realmente lindo não consegui tirar meus olhos dele, entrei em transe, estava surpresa por alguém tão lindo como ele se esconder dessa forma. Ele pareceu perceber minha atenção dobrada em seu rosto e minha cara de espanto, senti um pouco de vergonha pela minha atitude, então abaixei a cabeça.

A aula passou rapidamente, acho que tive essa sensação pelo simples fato de não conseguir parar de reparar em tudo o que o garoto fazia. Tentei descobrir a cor de seus cabelos, mas era impossível, o capuz fazia tudo ficar escuro por dentro. Ele tinha um porte alto, não era magricela ou cheinho, era apenas da medida certa, do jeito certo.

O sinal tocou e eu tive dificuldade de pegar minha coisas para sair dali, eu sabia que o que o intervalo me reservava não seria nem um pouco fácil, mas tomei coragem e sai deixando o garoto misterioso para trás. Logo que sai da sala reparei que Kira já havia saído, então tive a ligeira impressão de que ela estava me evitando, ela também é amiga de Cassidy, mas não posso acreditar que depois de tudo o que aconteceu ela ainda fosse falar com ela e virar as costas pra mim. Sai em disparada na direção do refeitório e logo que cheguei avistei todo o grupinho sentado, Cassidy, Dallas, Elliot, Carol, Brooke e Vitor.

Eu engoli o medo e cheguei mais perto.

- Kira, podemos conversar? – eu me pronunciei fazendo todos olharem pra mim.

- Ally querida, acho que você não entendeu! Você não faz mais parte desse grupo. – Cassidy me disse enquanto alisava o cabelo de Dallas, nitidamente para me provocar.

- Deixa Cassy, eu vou falar com ela. – Kira olhou pra mim e se levantou da cadeira, eu não consegui dizer uma única palavra e andei devagar com ela a meu lado.

Chegamos em um lugar mais reservado e ela começou a despejar tudo em cima de mim.

- Olha Ally, você é legal e tudo o mais, mas sabe como é né? Eu não posso parar de andar com eles pra ficar com você, eu iria virar uma excluída e eu não nasci pra isso. – ela me disse enquanto lixava as unhas.

- Kira... não tenho palavras. Achei que você repudiasse a atitude que Cassidy e Dallas tiveram comigo, achei que fosse minha amiga. – eu disse completamente perplexa.

- Todo mundo sabia Ally, só você que não. – ela me olhou como se estivesse com pena.

- Como assim todo mundo sabia? Ninguém quis me contar? – eu disse sentindo o sangue pulsar de raiva, falsos.

- A verdade é que ninguém achou certo, mas sabe como é Dallas é o “líder” do grupo e nenhum dos outros quis contraria-lo, ninguém quer perder o posto como “poderoso”. – ela disse dessa vez tocando em meus ombro. – Você supera querida. – ela deu um sorrisinho nada sincero.

- Eu não quero ouvir uma única palavra de nenhum de vocês, nunca mais! Prefiro não ser ninguém nessa escola do que me misturar com pessoas assim, achei que tivesse amigos, o que eu tinha eram cobras. – eu rebati e virei minhas costas pra ela, aquilo não podia estar acontecendo!

Eu andei sem rumo, não iria voltar para o refeitório e encarar aquela situação, eu estava muito magoada e não teria forças, não agora. Resolvi então me sentar em uma escada qualquer, foi quando dei de cara com uma garota sentada na mesma escada a qual eu pensei em ficar.

- Ah...me desculpe! Não sabia que estava ocupado. –foi o que eu consegui dizer, eu não iria invadir o espaço da garota. Ela me olhou, seus olhos demonstravam bondade, mas ao mesmo tempo eram fortes.

- Tudo bem, eu divido com você!- Ela me surpreendeu com aquilo, tecnicamente eu ainda pertencia aos populares e esse grupo não era muito bem visto pelos outros alunos.

- Patricia de La rosa, ridículo, eu sei! Pode me chamar de Trish. – ela estendeu a mão, eu rapidamente a apertei. Eu precisava de alguém, eu estava só, pela primeira vez em anos.

- Ally..- eu ia dizer meu nome, mas ela me interrompeu.

- Ambas sabemos que eu sei quem é você, podemos pular essa parte. – ela riu o que me fez rir também, ela não era fingida como as outras pessoas, ela disse o que pensava e aquilo havia me deixado feliz.

Austin

Ally Dawson desapareceu quando o sinal tocou e eu andei devagar até a saída da sala, eu jamais poderia me aproximar da garota dos olhos castanhos, eu não vivia no mesmo mundo que ela, na verdade eu não vivia no mesmo mundo de quase ninguém. Mas e se eu conseguisse chegar mais perto? Ela acreditaria que antes de chegar aqui eu já a conhecia dos meus sonhos? Fiquei me perguntando o que aconteceria se ela soubesse da verdade.