A Caçadora escrita por jduarte


Capítulo 14
Parceria - £


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas! Eu não ia postar hj, mas certas pessoas acabaram me pressionando, então... Espero que gostem :)
Beijoos,
Ju!



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Afastei-me de Fitch depois de vários minutos, quando fomos interrompidos bruscamente por uma batida na porta. Pude ver seus olhos mais escuros do que me lembrava, mas preferi não comentar já que não gostaria de ouvir uma explicação para tal coisa.

Ele foi até a porta e arrumou os óculos com as pontas dos dedos, abrindo-a de leve.

A pessoa falava tão baixo que eu só pude pegar partes da conversa e palavras-chaves como: demônio, empresa, procurado, e perto dela, eram as únicas que eu tinha entendido. Mas pelo olhar no rosto de Fitch, pude ver que era alguma coisa muito importante, e que ele insistia em não me contar.

– Chame Claire aqui. – ele disse baixo o suficiente para eu ouvir fazendo sua voz presente somente naquele momento, desde que havia aberto a porta para a pessoa.

Fiquei na ponta dos pés e tive uma visão da pessoa – mais especificadamente um homem – que se encontrava na frente de Fitch.

Ele levantou o rosto e seus olhos encontraram com os meus por poucos segundos, antes dele perceber que estava atrapalhando alguma coisa.

– Eu não... – ele limpou a garganta antes de se pronunciar novamente. – Eu não sabia que você tinha companhia.

Fitch liberou a passagem para o homem, e ele entrou. Ele deveria ser somente dois anos mais velho que eu, tinha cabelos pretos e densos, seus olhos eram de uma cor tão escura, que eu não conseguia ao menos enxergar a pupila. Ele tinha uma barba rala crescendo no queixo, como se não a fizesse fazia alguns dias e a roupa estava suja de terra. Também não passou despercebido por mim que ele carregava uma arma na bota e uma faca no cinto da calça preta.

– Edward Holt, esta é Helena Jameson. Ela será sua parceira pelos próximos meses enquanto eu estiver fora.

O que me chocou não foi fato de agora eu ter um parceiro – Fitch iria fazer alguém cuidar de mim uma hora ou outra –, mas sim porque ele falou que estaria “fora”. Como assim fora?

As duas cabeças viraram em minha direção e percebi ter expressado meus pensamentos em voz alta.

Os olhos de Fitch se fixaram em mim com algo dentro deles que eu não fui capaz de distinguir. Seria dor? Medo? Mas medo do que?

– Vou virar um agente de campo. – ele disse calmamente, como se estivesse analisando minhas feições, esperando que eu tivesse uma reação alarmante.

– Isso é algum tipo de brincadeira? – gritei. Minha voz ecoou pela sala e o tal Edward deu um pulo para trás de susto.

Eu até teria rido de meu parceiro ter se assustado por causa de um grito meu, se não estivesse tão brava por Fitch não ter me falado nada sobre “ir embora”!

– Helena...

Edward foi interrompido por Fitch, que se aproximou de mim rapidamente, segurando os lados de meu rosto, me impedindo de olhar para algum lugar que não fossem seus olhos brilhantes.

– Eu só fiquei sabendo hoje de manhã.

Algo dentro de mim pareceu se retorcer.

– Mentira. – sussurrei.

Ele suspirou.

– Foi ontem à noite na verdade, mas eu não tive coragem de pegar no telefone para lhe avisar.

Senti seus dedos passarem em minha bochecha, limpando uma lágrima que eu não percebera ter escapado de meus olhos.

– Isso não é justo. – falei fazendo-o abrir um sorriso triste.

– Eu sei. Mas não vai ser por muitos meses.

Meses.

– Fitch... – falei segurando seu braço, tirando suas mãos de meu rosto.

Ele me encarava com expectativa.

– Me desculpe por ser um pé-no-saco todos esses anos, e por você ter que aguentar seus chefes gritando com você por minha culpa.

Ele me abraçou e ficamos assim por alguns minutos, até que Edward pigarreou.

– Sabe, ainda precisamos discutir certas coisas.

Soltei Fitch e o encarei, agora mais calma.

Tudo bem, ele iria embora, não era o fim do mundo. Afinal, ele nem ao menos iria mudar, certo?, pensei sozinha.

– Como o que? – perguntei.

– Eu acabei de voltar de um trabalho de campo, e vou entrar em outro, portanto, não tenho onde ficar.

– Está se convidando para ficar em minha casa? – perguntei.

– Logicamente.

Bufei rindo.

– Temos que andar todo o tempo juntos? – perguntei novamente, torcendo para que a resposta fosse não. Não queria uma babá, queria um parceiro.

Senti o corpo de Fitch se tensionar ao meu lado e ignorei.

Foi a vez de Edward rir.

– Regras de convivência serão aceitas. – Edward disse sorrindo de leve.

Meu sorriso foi sacana.

Eu adoraria ter um parceiro. Ainda mais se precisasse de reforços e coisas parecidas.

Quando o silêncio se tornou uma coisa insuportável, me inclinei em direção à Edward e o analisei. Ele engoliu seco audivelmente. Edward era aparentemente normal. Não que se ele não fosse normal pudesse fazer alguma diferença, mas eu precisava de gente o mais normal possível ao meu redor.

– Você é normal, não é? – perguntei estreitando os olhos.

Ele riu e assentiu.

– Que pergunta mais estranha... – Edward sussurrou.

– Pelo contrário – rebati –, se vai ficar em minha casa tem que ser o mais normal possível.

Agora ele me encarava com os braços cruzados no peito, e uma expressão divertida.

– E por que isso, posso saber? – indagou.

– Porque eu tenho vizinhos.

Ele inclinou a cabeça para o lado, ainda não sabendo o que dizer, e preferiu ficar calado. Fitch saiu de meu lado e andou pela sala até chegar na estante, revirando alguns livros, dando as costas para nós.

– O que está procurando? – minha voz soou alta demais.

Ele pareceu não ter me escutado – ou ter ignorado mesmo, mas eu preferia acreditar na primeira opção –, e ficou mais alguns minutos analisando as lombadas dos livros escuros.

Quando finalmente pegou um, seus dedos pareciam ter se fundido ao livro, e estavam praticamente virando a cor deles. Ignorei o máximo que pude. Queria evitar todas as possíveis perguntas que pudessem surgir se eu mencionasse esse fato, ou outra coisa que incluísse mudança de cor nas pupilas, nos dedos ou em qualquer outra parte do corpo – sendo ela aparente ou não.

– Isso, - ele balançou o livro nas mãos levemente e pude ver uma leve camada de poeira se soltar da superfície. – é a chave para destruir eles.

Eu sabia que pela palavra “eles” estávamos falando de Kaus e Polux, e algo dentro de mim se remexeu em desconforto. Parecia que eu iria vomitar a qualquer momento.

– Não entendi. – Edward disse sentando-se na cadeira que se encontrava atrás dele, cruzando os braços no peito.

Fitch esticou o livro para mim e simplesmente o soltou em minhas mãos. Girei o mesmo para ver se encontrava algum sinal de que o livro havia mesmo grudado em seus dedos, mas tudo o que vi foi uma capa normal, desgastada até, com letras formais prateadas na capa de cor vermelho escuro.

– Esse livro contém a história desses irmãos. Tudo o que sabemos, pelo menos. Todas as suas fraquezas, suas vítimas, e etc.

– Espera... – o cortei. – como sabemos tudo isso?

Fitch deu de ombros levemente.

– A maioria das coisas que sabemos são pelas caçadoras que se apaixonaram por eles.

Ele havia falado aquilo com tanta naturalidade quanto se estivéssemos falando sobre nossos filmes preferidos. E aquilo me perturbou um pouco. Cruzei os braços.

– Como assim, Fitch?

– É por isso que eu não quero que você participe desta missão, Helena. As mulheres são mais suscetíveis a se apaixonar por eles. Todas elas. Por que você acha que só tem homens praticamente nesta missão? E todas as mulheres tem um parceiro, sem exceções.

– Você só pode estar brincando. – balbuciei sob minha respiração.

Ele levantou uma sobrancelha indicando que não, ele nem ao menos estava pensando em brincar com uma coisa tão séria quanto aquela.

– Parece que estou brincando? – ele rebateu sem senso de humor nenhum.

– Então Edward não é nada mais do que um empata-foda? – confirmei.

Seus olhos ficaram mais escuros.

– Não. Para ele ser um “empata-foda”, como você diz. Isso implicaria em acontecer alguma coisa entre você e eles, e isso não vai acontecer. – ele informou de uma maneira quase ameaçadora, e ainda completou. – Estamos entendidos?

Não respondi, e fechei os punhos, mantendo a mandíbula trincada caso minha boca grande quisesse denunciar todo meu desgosto.

– Vamos, Edward. Vou te mostrar sua nova residência. – disse, não deixando de encarar Fitch, sem um pingo de paciência. – Quando você parte? – perguntei diretamente ao ser que parecia ter um aneurisma de raiva à qualquer momento em minha frente.

– Amanhã de manhã.

– Ed, antes de sair, leve o livro e o endereço para a primeira missão de vocês. – ele disse entregando o livro e um papel dobrado ao meio.

E simplesmente saiu sem me falar nada, deixando Edward e eu confusos.

– Qual é a primeira missão? – perguntei ansiosa, tentando esquecer da cena anterior, roubando o papel de suas mãos.

Quando o abri, meus joelhos fraquejaram, e minhas mãos amassaram de leve as pontas do papel.

– Então, para onde vamos? – ele perguntou. – Espero não ter que usar nada muito chique.

Virei o papel pra ele e suas feições desabaram.

– Vamos num baile de máscaras!


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Notas finais do capítulo

Continua??