A Caçadora escrita por jduarte


Capítulo 13
O Monstro por Dentro - &


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal! Enfim... Fiz esse capítulo como sendo narrado pelo Kaus, e espero que vcs gostem :D E deixem reviews!!
Beijooos,
Ju!



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A mulher caminhava em minha direção com passos lentos e sensuais, como se estivesse me instigando a fazer alguma coisa. Ela se vestia como uma prostituta, e pelo cheiro de seu sangue, além de bêbada estava drogada.

Sorri de canto, e arrumei o casaco escuro ao redor do corpo.

Ela percebeu minhas intenções quando viu o sorriso sacana – ou pelo menos pensou que soubesse quais eram – e rebolando ainda mais.

Não, eu não sentia desejo por seu corpo.

Só sede.

A mulher se aproximou o bastante para eu poder ver suas feições melhor, e como ainda estava de dia não foi muito difícil ver todos os hematomas que ela apresentava no corpo. Desde chupões arroxeados na altura dos seios, como outras marcas esverdeadas nos braços – estas parecendo ser provenientes das agulhadas que insistia em injetar droga no corpo.

– Olá, benzinho. – ela sussurrou, tentando fazer a voz soar menor rouca e mais sexy.

O cheiro que emanava de suas roupas e pele era de puro álcool.

– Olá.

A mulher me analisou por vários segundos, e segurou o queixo, como se estivesse comprando uma carne em um açougue, e balançou a cabeça, parecendo aprovar o que via.

Ela era nova, devia ter seus 25 anos, ou até menos. Seu corpo era curvilíneo demais e ela parecia tremer em cima dos saltos altos. Sua roupa era tão curta, que não pude deixar de reparar que ela estava toda arrepiada de frio.

– Está procurando alguma diversão? – perguntou.

Sorri mais um pouco, deixando meus olhos percorrerem um tempo seu corpo para ela pensar que eu estava ao menos interessado no que ela vestia por baixo do pouco pano, e não no que corria em suas veias. Obviamente além da droga.

Como não me alimentava de sangue fazia quase um mês, qualquer coisa servia, se não teria que arrombar um banco de sangue de qualquer hospital fuleiro, de novo. Até mesmo o sangue de uma puta qualquer drogada servia para me manter saciado durante alguns dias.

Mas assim que ela chegou perto de mim e me pegou pela mão tive vontade de voltar atrás. Seu cheiro era tão nauseante e nojento, que por alguns segundos pensei realmente na hipótese de assaltar um banco de sangue, prevendo até mesmo as chamadas no noticiário: “Maníaco por sangue ataca novamente”.

– Vamos conversar em um lugar mais tranquilo, queridinho. – ela disse me guiando para um beco escuro.

Senti minha garganta queimar de sede.

Eu deveria ter me alimentado melhor na última parada.

A mulher me conduziu até a outra extremidade do beco, perto de um monte de lixeiras altas o suficiente para cobrir nossos corpos e encostou-se à parede parecendo um bicho se esfregando na mesma. E eu adorei ela estar fazendo de tudo para me agradar, mesmo que não tivesse interessado em mantê-la viva para usufruir de seu corpo nojento.

– Qual seu nome? – perguntei com as mãos em sua cintura, fazendo-a parar no lugar.

Ela parou de se remexer por alguns segundos e então sorriu, parecendo lembrar-se do seu “nome artístico”.

– Jane.

Jane, por que você não prende o cabelo? – perguntei salivando.

A tal Jane sorriu mais ainda e prendeu os cabelos com um elástico. Pude ver as veias do pescoço, e passei a língua nos dentes, sentindo-os mais pontudos ainda.

O cheiro dela era podre, mas minha fome era tanta que eu tentaria suportar o máximo.

– Assim está bom? – ela apontou para o cabelo totalmente vermelho.

Antes que pudesse raciocinar, sua boca estava sobre a minha enquanto ela tentava me beijar à força.

Pensei que prostitutas não beijassem.

A empurrei para longe, e Jane bateu com as costas na parede de tijolos.

– Não, não, querida. Quem dita as regras, sou eu. – expliquei, autoritário.

Ela riu parecendo adorar ser feita de “escrava”.

Segurei seu pescoço a impedindo de fugir, e comecei a beijar seu pescoço, mordisquei de leve perto de sua orelha e ela gemeu baixo. Pude sentir suas mãos frias me puxando para perto, mas a impedi.

Olhei no fundo de seus olhos e conectei sua mente à minha rapidamente. Pude ver tudo o que ela passara, e em nenhum momento tive pena. Jane merecia tudo aquilo, ou era pelo menos isso que eu tentava me convencer. Senti meu nariz sangrando pelo esforço e por estar fraco demais para fazer isso, e sussurrei.

– Você vai ficar bem quietinha, e não vai se mover até eu mandar. E quando eu disser “corra”, você vai se esquecer que me viu algum dia, e correrá até em casa, acabando com sua vida. Não me importa como.

Ela assentiu.

– Agora me mostre o pescoço e fique em silêncio como combinamos.

Jane inclinou a cabeça, deixando o pescoço livre e soltou um choro baixo. Eu sabia que ela ainda estava consciente de suas ações, pois murmurava algo como: tenha piedade de mim, por favor!

– Cale a boca! – ordenei.

Senti meu rosto praticamente se transfigurar na criatura que eu realmente era. Meus dentes afiados e brancos, os olhos completamente pretos, e expressão demoníaca.

Sem demoras afundei meus dentes em seu pescoço, me arrependendo logo em seguida. Seu gosto era pior do que o cheiro, mas pelo menos me manteria saciado pelo tempo suficiente.

Jane relutou e tentou me afastar algumas vezes antes de cair na inconsciência, deixando o corpo mole e desfalecido só para mim. Por minutos a fim fiquei ingerindo o sangue dela à força e por questões de sobrevivência, quando finalmente larguei seu corpo com o tanto de sangue o suficiente para Jane sobreviver até chegar em casa, me senti ligeiramente tonto, e tive que parar alguns segundos para voltar ao normal.

Mordi meu dedo indicador, e com o sangue que brotava, passei no machucado da mera humana, fazendo seu machucado se curar quase que instantaneamente.

Agachei-me ao seu lado e bati em seu rosto de leve, a fazendo acordar de susto.

– Ouça-me bem, – disse pegando em seu queixo, fazendo-a olhar para mim. Seus olhos ficaram levemente molhados, e ela parecia desabar a qualquer segundo. Mas assim que fiz a conexão, eles pareceram ficar sem vida, e pálidos. – você vai para casa, sem falar com ninguém, e vai acabar com sua própria vida. Estamos entendidos? – perguntei.

Limpei o sangue da boca e nariz, e levantei Jane pelos cabelos.

– Você não tem coração? – ela perguntou baixo demais.

Ri sarcástico.

– Tenho. Só não o sinto bater faz muito tempo. – respondi seco.

– Um dia, você vai achar alguém que o faça bater.

A fiz olhar para mim novamente, e a ordenei, mantendo a conexão tão profunda quanto podia.

– Vá embora e se mate logo. Esqueça que me viu e me conheceu. Eu sou mais um cliente.

Jane balançou a cabeça levemente e eu cortei a conexão brutamente, empurrando-a bruscamente para fora do beco. Pude vê-la cambalear algumas vezes antes de se firmar, voltando a andar apressada, pegando um cigarro de dentro do sutiã à mostra, acendendo-o.

Peguei o celular e o usei como se fosse um espelho, ajeitando o cabelo e limpando qualquer vestígio que meu almoço pudesse denunciar. Meu rosto voltou ao normal, e pude sair do beco normalmente.

Fui a direção contrária à Jane, esperando que ela não me causasse problemas.

Enfiei as mãos no casaco e caminhei sem rumo durante um bom tempo. Podia sentir o vento frio passando por entre meu cabelo, bagunçando os fios. Abaixei a cabeça, deixando meus pés me levarem, andando pela mesma calçada por um longo tempo.

Podia ouvir um pensamento tão alto que me incomodava. Decidi seguir para a origem dele. Não conseguia decifrar sobre o que aquele homem falava, mas era algo sobre estar querendo aquilo há um bom tempo, e que finalmente ela estava se entregando.

Algo em meu estômago se revirou com aquele pensamento, e decidi investigar mais a fundo.

Levantei os olhos, e quando fui ver, estava na frente da empresa onde ela trabalhava. A garota que eu havia salvado de Shirra.

A maldita conseguia me tirar do sério, e atacando uma humana foi a última desculpa que arrumei para acabar de vez com ela. Apesar de ter sido rápido demais, a minha mente estava em paz, finalmente.

A humana, Helena, tinha causado uma sensação estranha em meu corpo, como se ela fosse um campo magnético, me puxando cada vez mais para perto. E eu tinha noção de que tê-la só deixaria as coisas mais fáceis. Por isso, eu deveria conquistar Helena à todo custo.

Decidi ficar invisível aos olhos humanos e adentrei o prédio, uma vez que ela havia me liberado.

Estava tudo indo conforme os planos, e talvez eu até terminasse tudo mais cedo do que o combinado? Sorri com essa possibilidade.

Passei pela recepção sem problemas, e senti um cheiro estranho vindo do andar 4.

– Mas que droga é essa? – perguntei à mim mesmo.

Entrei no elevador e apertei o número do andar, tentando controlar a náusea por causa do cheiro. Quando as portas do elevador se abriram, os pensamentos passaram a ficar mais altos, e decidi ficar invisível aos olhos de todos. Não queria ser descuidado. Meu plano iria funcionar de qualquer jeito!

Eu preciso de você! Eu preciso de você, Helena!, os pensamentos altos e claros diziam.

Minha Helena?, pensei com uma pontada de ciúmes me afligindo.

Caminhei cautelosamente até parar na frente de uma porta que parecia estar trancada, e fiquei ali, ouvindo os pensamentos dele encherem minha cabeça, e alimentarem meu ciúmes ainda mais.

Eu era fraco.

Fraco demais para raciocinar que a mulher que eu estava atraído beijava outra pessoa do lado de dentro da sala e eu não conseguia intervir por medo de ter meu plano arruinado.

Fraco por não merecê-la.

Afastei a mão da porta e senti algo molhar minha bochecha.

Não. Não podia estar chorando. Não por alguém que ao menos fazia noção de minha existência e de meus planos, que poderia facilmente me matar.

Saí da empresa o mais rápido que pude indo diretamente para casa de meu irmão, com somente um pensamento na cabeça. Com uma vontade de pegar a cabeça daquele cachorro desgraçado e soca-lo até deixa-lo inconsciente, fiquei repetindo aquela frase várias vezes mentalmente.

Antes de chegar em casa, pude ver uma mulher com cabelos e olhos castanhos, magra e que até se parecia muito com Helena. Decidi sugar todo o seu sangue e descontar toda a raiva que sentia dos dois.

A mulher soltou um grito estridente e alto o suficiente para acordar uma cidade inteira, desfalecendo rapidamente em meu colo, me deixando ali para aproveitar de seu pescoço branco como neve, e seu sangue puríssimo.

Uma raridade.

Quando terminei com a mulher, fiz questão de desaparecer com o corpo, e me senti repleto. Não teria que comer tão cedo.

Limpei as mãos na calça e me dirigi à casa que passei os últimos setenta anos, ainda pensando em como aquela humana insignificante poderia significar tanto para mim.

Como quando vi Shirra tentar a matar. Como meu estômago se apertou de maneira desconfortável. E agora pouco mesmo, quando a ouvi beijando aquele cachorro sarnento, um pedaço de mim pareceu morrer.

Lembrei-me das palavras da prostituta antes de eu a obrigar a se matar:

“Um dia, você vai achar alguém que o faça bater.”

Seria Helena minha cura? Seria ela a pessoa a fazer meu pobre e velho coração voltar a sentir alguma coisa além de seus batimentos fracos?

Entrei na casa, e tranquei a porta, me sentando no sofá, despreocupadamente. Coloquei a mão no peito, e quase senti os batimentos ritmados e lentos.

Ele baterá por você, somente, minha princesa.


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Notas finais do capítulo

continua?