Pedaço De Pano escrita por EscritorB


Capítulo 4
O susto


Notas iniciais do capítulo

Esse é o capítulo em que mais me dediquei, espero que gostem.



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Olhando para a porta principal, imaginei que talvez minha mãe estivesse na varanda, então caminhei alguns passos até a porta e a abri de uma vez só, observando o local, vi que ela não estava ali. Eu não sabia o porquê dela ter me deixado nesse casarão sozinha com Lucia. Aproximei da copa e perguntei para minha avó:

– A senhora tem telefone?

–Por favor, não me chame de senhora, eu ainda não estou tão velha– ela sorriu- Sim, eu tenho, fica na mesinha ao lado da escada.

Sai às pressas, perto da escada, havia uma mesinha com uma pequena gaveta e o telefone; então o peguei e disquei o número de minha casa, para ver se Laura estava lá, mas de nada adiantou, ninguém atendeu. Isto me fez desesperar, por querer saber onde mamãe estava.

–Acalme-se criança – disse vovó- Tudo terá seu tempo.

–Mas porque ela foi embora? –fitei Lucia com meus olhos- Você sabe onde ela está?

–Não, mas você deve saber não é mesmo? – essa frase me fez parar e pensar... E eu realmente sabia porque ela se foi.

–Sim, eu sei vovó- tentei ao máximo sorrir- Mamãe e eu... Nós não estamos se falando nos últimos dias...

–Então criança... Tudo se resolverá. - ela suspirou- Vamos sair para te matricular em sua nova escola, arrume que eu te esperarei.

Subi as escadas rapidamente, e pus um vestido azul, que Laura me deu no Natal passado. Fui pegar minha sapatilha que estava dentro do armário e observei em cima dela, onde havia colocado a boneca... Ela não estava ali, virei e olhei para trás, ela não estava sobre a cama, voltei ao guarda roupa, e ela estava bem ali em cima, quieta e do mesmo jeito que a deixei. Isso deve ter obra da minha imaginação, minha cabeça esta cheia, com os recentes acontecimentos.

Fechei a porta do quarto e alguns segundos depois, escutei o ruído, que sempre escuto, desci as escadas rapidamente e com medo, ao chegar a sala de estar minha avó estava sentada no sofá a minha espera.

–Pronto. – eu disse- podemos ir.

Lucia se levantou e pegou sua pequena bolsa escura, abriu a porta e saímos do casarão para ir a escola, o qual eu não sabia onde era. Notei que o dia estava mais nublado, caminhamos vários quarteirões, até que conseguimos chegar a rua da escola, que ao contrário das casas e prédios tinha uma cor clara e simples: azul claro. Chegamos a sua frente, minha avó cumprimentou o porteiro, que abriu o portão para nós. Fomos até a secretária, e perguntamos aonde teríamos que ir para me matricular, e elas disseram que era ali mesmo.

Lucia pegou os documentos necessários, que Laura tinha trazido com ela na nossa viagem até a Vila dos Dulce, e entregou a secretária, que preencheu minha ficha e finalmente, me matriculou. Eu iria começar ter aulas na próxima semana, então digamos que eu teria que aproveitar essas pequenas férias de alguma forma. Saímos do prédio, e fomos até o Mercado.

Logo que chegamos a este, estava cheio de pessoas, demoramos ao menos uma hora para pegar o macarrão, o molho entre outros mantimentos, e mais uma hora para pagar e sair, porque as filas estavam muito grandes. Andamos até a casa de vovó, e dei-me nota de que Lucia ficará cansada demais, e tive idéia de ajudá-la a fazer o almoço. Olhando as outras casas percebi que quase nunca tem pessoas em frente as suas casas, o que é estranho, porque com os casarões coloridos, davam a impressão de que eram pessoas animadas. Entramos no casarão de vovó e colocamos as sacolas sobre a mesa da copa, guardei os mantimentos nos armários da cozinha. E então perguntei:

–O que teremos de almoço?

–Macarronada- Lucia disse.

–Então tá. – Sinceramente eu nunca gostei de macarrão, e principalmente macarronada, mas eu irei comer assim mesmo.

Peguei as panelas necessárias para fazer o prato do almoço. Minha avó pegou os ingredientes, e começou a fazer o macarrão, e eu ajudei a fazê-lo. Quando já estava quase pronto, e a hora do almoço se aproximava, pedi licença e fui ao banheiro lavar as mãos, caminhei no corredor, entre a escada e a copa que fica no primeiro andar, adentrei o local e lavei as mãos e as enxuguei numa toalha de mão que esta bordada meu nome: Marie.

Abri a porta, fui até a copa e nisso vi que na sala havia um baú, aparentemente igual o que há em minha casa. Quando cheguei a cozinha, não resisti e perguntei:

–O que é aquele baú na sala de estar vovó?

–Ah, você viu? São lembranças antigas de sua mãe. Após o almoço eu te mostro.

–Tudo bem. – eu disse a ela.

Então preparei a mesa da copa, com pratos e talheres, e acabei preparando um suco de abacaxi, para nós bebermos. Logo que o almoço ficou pronto, me servi, e logo depois Lucia também. Sei que aquela não era a melhor hora para perguntar a minha avó, mas tive que falar:

–A senhora... Você sabe alguma coisa da boneca de pano?

–Saber eu sei, mas isso não é hora de lhe falar isto.

Silenciei, e continuei a comer a macarronada, que por mais que não goste, esta estava saborosa. Depois que terminei de comer, tomei o suco que preparei que para o meu paladar estava delicioso. Levantei-me e lavei meu prato e copo, e sentei-me a frente da presença de Lucia, que estava a terminar de se alimentar, e também lavou a louça, com suas mãos novamente tremulas.

Logo que ela terminou, fomos para a sala, e ficamos em silêncio, foi então que me recordei do baú, que estava na ali no canto. Perguntei a Lucia se poderia pegar a tal, e ela permitiu então eu trouxe o baú próximo de nós duas. Abri o baú, ela tinha desenhos, roupas, brinquedos antigos de minha mãe. Peguei um dos desenhos de Laura, e vi que tinha um cachorrinho brincando com uma criança... Entristeci em perguntar:

–Vocês tinham um cachorro?

–Sim...

–E o que aconteceu, com ele?

–Ele... Bem ele morreu, ficou adoentado, e acabou que veio a falecer.

Continuei olhando os objetos, enquanto minha avó preparava o lanche da tarde. Ela veio com uma bandeja com leite quente e pão, e um café para ela. Nós lanchamos, e logo depois voltamos a ver as coisas que estavam dentro do baú, entre as coisas que mais me surpreenderam foi uma caixinha de maquiagem, não acreditei que estava vendo aquilo, porque um dia minha mãe já foi vaidosa e eu nem sabia; normalmente ela não usa nem um batom, quem dirá uma caixa de maquiagem, eu ri um pouco nessa hora.

Estava tudo ocorrendo muito bem, até que encontrei uma coisa: uma foto em que minha mãe quando pequena segurava uma boneca, e em minha opinião era a mesma boneca. Mostrei a foto para Lucia, e perguntei:

–É a mesma boneca? – disse isso com calafrios.

–Sim, infelizmente é.

Ela se calou e eu permaneci quieta, depois de horas olhando os objetos de dentro do baú, o anoitecer já estava chegando, paramos de observar a caixa, e fomos para a varanda da frente da casa, ali fitei o por do Sol.

Pensando em minha mãe e onde ela estaria, fiquei um pouco deprimida o que me fez ficar ainda mais muda, em relação a minha avó, coisa que eu não queria que acontecesse. Virei em direção a cadeira do lado, para falar com vovó, mas ela não estava ali, e eu nem percebera, que já anoitecera.

Quando entrei, minha avó já estava terminando cozinhar, e a mesa já estava pronta, sentei me junto a ela, e comemos ali, quietas, como se tivessem sozinhas, sem ninguém para conversar. Quando acabei, novamente como almoço retirei os pratos da mesa e os lavei. Antes de subir disse:

–Boa noite, vovó...

–Boa noite querida...

Subindo as escadas lentamente, pensei em minha mãe, e segui em frente até o corredor do segundo andar, antes de entrar em meu quarto, observei a porta do quarto onde Laura estava e novamente me perguntei onde ela estaria. A porta do meu quarto me aguardava entreaberta, olhei para cima do guarda roupa e a boneca estava lá, deitei na cama e adormeci...

Quando acordei, eram duas da madrugada, a esse ponto estava impaciente e queria muito saber alguma notícia de minha mãe, tive a idéia de ligar para a minha casa, onde Laura deveria estar dormindo, foi então que decidi, desci as escada com a casa apagada e fui ao telefone. Logo peguei o telefone e disquei o número, ninguém atendeu, nisso liguei mais algumas vezes, até me convencer de que ela não estava lá.

Chegando ao corredor do segundo andar, veio um vento ao meu encontro que empurrou o meu cabelo para frente, engraçado as janelas estavam fechadas... Escutei o ruído novamente, mas agora o som estava mais alto, chegado a ter calafrios. Voltei para olhar, e ali estava: uma criatura com forma indescritível e acinzentada fiquei imobilizada por algum tempo enquanto o ser me fitava e fuzilava ao mesmo tempo com suas orbitas, quando consegui me mexer tive cuidado em não atrair a criatura. Dei alguns leves e lentos passos para trás em direção a porta do quarto de Lucia, enquanto isso o ser se aproximava cada vez mais de mim, foi então que tomei coragem de abrir a porta, então eu o fiz: abri a porta berrando falando para minha avó:

–Tem uma criatura ali fora!Tem uma criatura ali fora!

Lucia se levantou aos pulos, e pegou uma coisa que estava atrás do guarda-roupa: uma espécie de cetro ou algo assim, que tinha uma bola brilhante na ponta, quando nos duas saltamos para fora do quarto, a criatura não estava ali, não havia nada ali, exceto algo que estava caída no chão, e só depois de segundos identifiquei: a velha boneca de pano...


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