Hannah falava ao telefone enquanto arrumava as malas. Seu rosto vermelho e inchado demonstrava que ela havia chorado. Suas mãos tremiam.

– Eu peço mil desculpas, doutor Michael, mas eu preciso tirar essa semana de folga. Estou passando por problemas pessoais.

– Claro, claro, doutora Phillips. Eu falarei com o conselho. Tenho certeza de que eles vão entender. – respondeu o homem.

– Muito obrigada. Até logo. – disse e desligou o telefone.

Ela não estava pensando direito. Colocou algumas roupas dentro de uma mala, ligou o computador e agendou um quarto em uma pequena pousada numa cidade do interior de Sydney. Ligou para um táxi, tomou banho e saiu de casa. Deixou um recado na secretária eletrônica de Brian.

“Brian... Aqui é a Hannah. Desculpe-me por tudo o que aconteceu. Eu preciso de um tempo pra pensar. Estou indo passar a semana no interior.”

Fria. Seca. Direto ao ponto. Ela era uma mulher prática e sabia disso.

Olhava pela janela do táxi enquanto pensava. A paisagem ia mudando aos poucos enquanto seu pensamento estava preso no mesmo lugar. Jason. Ele a amava. Ela sentia que ele havia mudado. Sua postura, seu jeito de falar estavam mais maduros. Brian. Ele havia sido tão bom para ela. Alguém com responsabilidades, alguém que sabia dar valor. Mas ela não o amava e não podia negar para si mesma. Amor. Pensava na vida que teria se não houvesse amor. Todos diziam que era algo essencial. Ela sabia o que era viver sem amor. Ela sabia o que era viver com amor. Viveu com Jason, o que significava viver com e sem amor. Ela o amava. Ele não a amava. Pelo menos era o que ela pensava na época. Agora, tudo havia mudado. Sua opinião, tão sólida, estava maleável. Ela estava confusa. Precisava de um tempo sozinha. Um tempo para ela mesma.

Chegou à pequena pousada um pouco depois de anoitecer. Pegou sua mala, pagou o taxista e entrou na casa que parecia ter saído de um livro de construções. Cada detalhe deixava o lugar mais charmoso. Passou pela sacada que possuía vários vasos com plantas de todos os tamanhos e muitas flores. Abriu as duas portas, uma feita de tela e a outra feita de madeira, que a impediam de adentrar ao local. Deparou-se com um pequeno balcão de madeira branca. Uma senhora de óculos na ponta do nariz, fazendo com que parecessem estar caindo, estava escrevendo em algo que parecia um caderno quando percebeu a entrada de Hannah.

– Ora... Você deve ser a senhorita Phillips. Estou correta? – disse a senhora enquanto dava a volta no balcão para ficar em frente a mulher.

– Sim. Pode me chamar de Hannah. – respondeu enquanto colocava a mala no chão.

 – Claro. Meu nome é Martha Lopez e eu sou a dona dessa pousada, juntamente com meu marido, William Lopez. Espero que você se sinta a vontade. – disse com um sorriso simpático no rosto.

A senhora caminhou ao lado de Hannah enquanto mostrava a pousada. Havia mais três quartos alugados lá. Dois casais recém-casados e um homem haviam alugados os quartos restantes por uma semana, segundo a senhora Lopez. A pousada era como Hannah havia imaginado. Pequena, aconchegante e convidativa. Possuía, além da cozinha, sala de jantar, sala de estar, quartos e banheiros, um lindo jardim construído em volta de um alpendre de madeira branca, que possuía uma rede xadrez, uma pequena mesa e algumas cadeiras de ferro brancas.

*/*

Brian ouviu o recado da secretária eletrônica. O medo se instalou em seu estômago. Ele sabia que Hannah não o amava e tinha um forte pressentimento de que o homem que havia encontrado algumas horas antes, na casa da loira, era o mesmo que havia partido o coração da mulher. O mesmo pelo qual, ele temia, ela ainda nutria sentimentos.

Brian sentou-se no sofá com Annabelle em seu colo. A menina estava com os cabelos castanhos presos e brincava com uma boneca em suas mãos. Ele pensou em Hannah como mãe. Talvez ela não levasse jeito com crianças, apesar de ter demonstrado muita simpatia para com a menina. Talvez Annabelle não se sentisse confortável com a mulher ao seu lado. O amor que sentia por Hannah era necessitado.

– Papai! Vamos brincar? – disse a menina enquanto o arrancava de seus pensamentos.

– Claro, querida. – respondeu enquanto sorria para ela. Ela sim era seu maior amor, seu maior tesouro. Não saberia como viver sem a pequena. Talvez se Hannah partisse ele ficaria devastado. Mas se sua pequena Annabelle fosse tirada de seus braços ele, definitivamente, não saberia como viver.

*/*

Jason chegou ao hotel devastado. Seu coração doía. Era difícil respirar. Ele subiu rapidamente até seu quarto, sentou na beirada da cama, olhou para os pés e deixou que uma lágrima escorresse pelo seu rosto. Ele havia sido imbecil achando que ela o aceitaria de volta. Aquela mulher era, definitivamente, a mulher mais difícil que ele já encontrara. Era impossível. O amor deles era impossível.

Ele desabotoou a camisa e deitou na cama. Ele já havia sofrido muito por causa dela. Talvez fosse a hora de tirar o atraso. Sentiu uma onda de raiva invadir seu corpo. Sentou-se e abotoou novamente a camisa. Estava na hora de voltar à vida de solteiro.

O moreno pegou sua carteira, levantou-se e desceu até a recepção do hotel.

– Posso saber onde é o bar?

– Segue aquele corredor e vira a esquerda na primeira porta, senhor. – respondeu a mulher de cabelos loiros presos num coque com gel por detrás do balcão.

Ele caminhou até o bar e se sentou em um dos bancos em frente ao barman.

– Uma dose de uísque, por favor. – disse enquanto vasculhava o local que estava meio vazio. – É sempre vazio por aqui?

– Não, senhor. É só muito cedo para bebidas mais fortes. Daqui mais uma hora, as pessoas começam a chegar. – respondeu o homem enquanto servia uma bebida marrom num pequeno copo em frente a Jason.

*/*

Hannah se instalou na pequena suíte que havia sido designada a ela. Havia uma cama de casal coberta com uma colcha florida, uma pequena televisão, um rádio em cima do criado-mudo ao lado da cama e um pequeno armário de madeira com as portas de vidro. Ela percebeu que cada detalhe havia sido decorado pela própria dona da pousada e se sentiu imediatamente acolhida.

Ela arrumou suas coisas no armário e tomou um banho relaxante. Deitou e deixou que seu cansaço físico e emocional a levassem para um local onde não havia dúvidas, onde não havia Jason, ou Brian. Onde ela poderia construir seu mundo perfeito. O mundo dos sonhos.

*/*

– Olá, gata. – disse Jason enquanto olhava charmosamente para uma mulher morena que usava um vestido justo e curto. Ela havia se sentado ao lado dele e estava rodeada por duas amigas. O bar já estava lotado naquele momento. – Meu nome é Jason. Qual o seu?

– Rebecca. – respondeu a moça com um sorriso sedutor no rosto. – Pelo visto você não é daqui.

– Não. Sou do Canadá.

– Nossa. E o que te fez viajar de tão longe? – perguntou a moça que já havia se afastado das amigas e se apoiava no balcão.

Jason olhou para o pequeno copo que tinha entre as mãos e respirou fundo. Seu pensamento se fixou em Hannah. Ele olhou para a morena de olhos escuros e maquiagem pesada que o olhava intensamente.

– Uma mentira.

– Oh... Você deve estar devastado. – ela disse enquanto colocava a mão no ombro dele. O contato o fez voltar à realidade e ele sorriu torto.

– Sim. Muito devastado. Precisando de carinho. – ele chegava mais perto da mulher. – Você quer sair daqui? – sussurrou no ouvido da morena.