Meet You In Heaven escrita por Jubs C, Julia Brito


Capítulo 3
No início.


Notas iniciais do capítulo

Meniiiiiiiiiiinas, obrigada pelos reviews, fiquei tão feliz em saber que vocês aceitaram a ideia *-*Obrigada mesmo ♥Vamos ao primeiro capítulo :3



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Acordo molhada com meu suor frio; um arrepio agudo e cortante, percorre a minha espinha inteira e faz meus dedos tremerem. Puxo as cobertas para cima, bem perto dos meus ombros, sentindo meu coração acelerar.

E noto aquela estranha dor no pulso.

Acendo o abajur e o observo o local dolorido. Outro hematoma se forma ali: uma manca vermelha e enorme rodeia meio pulso.

Essa já é a sexta fez em uma semana que isso acontece, eu estava quase desistindo de dormir. Já era a sexta vez em que me vi deitada na cama de olhos abertos, apavorada, jurando a mim mesma que jamais dormiria de novo, por causa da voz que assombra meus sonhos.

Moro nessa casa desde pequena, simplesmente não consigo me lembrar de ter morado em outra. Quando comentei com mamãe que estava ouvindo vozes nos meus sonhos - há cinco dias - ela brincou dizendo que deveria ser um dos meus amigos imaginários, que não me davam sossego nem na hora de dormir. E é óbvio que eu a ignorei.

Mamãe não era a pessoa mais confiável do mundo, eu poderia apostar que dali há alguns anos ela ficaria louca de tanto trabalhar e talvez, até ouvisse vozes como eu, porque teria amigos imaginários.

Mas isso não vinha ao caso.

O problema era: Eu nunca havia tido o mesmo pesadelo seguidas vezes e isso estava gelando meus ossos há dias!

Claro que todos os pesadelos são capazes de gelar nossos ossos, mas é muito difícil que aconteça mais de uma vez e na maioria das vezes não nos lembramos. Muito menos trazemos "lembrancinhas" deles.

Neles, escuto a voz de um homem. Nunca vejo seu rosto. Só ouço a voz me dizendo coisas que eu não quero ouvir: me pedindo ajuda, me lembrando de que eu não estou louca, me dizendo que fantasmas existem. Felizmente encontro forças para acordar. Mas é aí que ele me segura, tão forte que deixa aquelas marcas.

No início tentei encontrar uma resposta racional para aquilo. Talvez eu tivesse me machucado durante o dia, por quê não? Eu era a pessoa mais desastrada do mundo.

Mas depois fui tomando o cuidado de analisar cada movimento meu. Eu não esbarrava em nada, nem caía e muito menos me machucava, dessa forma não havia motivos sóbrios para os roxos que cobriam meu corpo.

Minha grande sorte era que mamãe trabalhava o dia todo e meu avô vivia ocupado demais com seus jornais antigos, para notar algo estranho em mim. E obviamente eu não comentava. Depois de enfrentar o psicologo quando mais nova, por um motivo que eu não consigo me lembrar, voltar para lá era a última coisa que eu queria.

Por mais que meus olhos ardessem eu não me rendia ao sono novamente, preferia ficar acordada até o sol raiar e impedir que aquele homem falasse comigo mais uma vez.

E isso não demorava a acontecer, assim que o sol começava a iluminar meu quarto, eu pulava da cama e vestia uma roupa qualquer para enfrentar mais um dia na escola. Não que eu gostasse de estudar ou de ver todos os dias aquelas pessoas que só falavam bobagens sobre mim, pelo contrário. Porém, eu achava melhor enfrentar aqueles babacas e esfriar minha cabeça, do que ficar em casa e ter uma briga interna comigo mesma.

Quando desci aquela manhã, mamãe estava pondo o café na mesa enquanto usava o ombro para apoiar o celular na orelha. Quando me viu, se aproximou dando um beijo em minha testa, e se afastou sem dizer nenhuma palavra.

Eu não era carente do afeto da minha mãe, sempre aprendi a ser independente e claro, vez ou outra ela me dava um pouco de atenção, mas era complicado não trocar muitas palavras com alguém que você dividia a casa.

Não perguntei do vovô, quando ela desligou o telefone e se sentou na mesa me servindo uma panqueca, porque eu já sabia aonde ele estava.

Meu avô é do tipo obcecado pela Guerra Civil. Ele sabia mais sobre isso sem ter concluído o ensino fundamental, do que eu que estava no segundo ano do médio. Por isso, boa parte da manhã, da tarde e da noite, além de algumas vezes na madruga, ele ficava na garagem remexendo em suas coisas e tentando entender como tudo aconteceu.

– Como foi sua noite? - Mamãe perguntou calmamente, mordendo sua panqueca e olhando diretamente para mim. Eu poderia até dizer que ela estava interessada, mas aquela era só uma de suas maneiras de tentar contato comigo. - Os pesadelos foram embora?

– Estou melhor. - Dei de ombros, tentando fugir do assunto. - E você, como está?

– Cansada antes mesmo de trabalhar. - E funcionou, ela suspirou voltando seus olhos para a panqueca e mordendo mais um pedaço.

– Você deveria mudar de trabalho, mãe.

Esqueci de citar que minha mãe era enfermeira e ficava mais tempo no hospital que qualquer outra pessoa. Hospital já tem aquele ar de depressão só de você passar perto dele, imagine respirar depressão durante todo o dia? Deus que me perdoe.

– Não é tão fácil, Amelia. - Chiou, revirando seus grande olhos azuis, eu daria tudo para ter herdado aqueles olhos. - Por isso que você...

– Deve escolher uma coisa que você ame. - Completei tendo praticamente decorado sua fala. Mamãe riu e eu a acompanhei. - Só acho que a senhora deveria ficar mais tempo em casa, descansar. Desde que o papai se foi, você nunca fica em casa.

Meu pai havia morrido há cinco anos, quando eu ainda tinha onze anos e não sabia muito bem lidar com isso. Foi a última vez que voltei à um psicologo, mas dessa vez eu me lembrava do motivo, ao contrário da minha infância.

Sinto que eu estava superando com mais facilidade que mamãe, mas isso era normal, certo? Ela havia passado mais tempo ao lado dele do que eu, foi nessa época que vovô veio morar conosco, para dar alguma tipo de apoio para a família, visto que ele também já tinha perdido o amor da sua vida.

Nunca entendi essa coisa de "amor da sua vida". Eu tinha a leve impressão de que não existia ninguém que respirasse que iria querer ter algo comigo, e quer saber, eu estava feliz com isso.

– Eu sei que ando meio ausente. - Concordou. - Quero dar um jeito nisso querida, mas preciso nos manter, você entende?

Isso era um caso perdido, mamãe jamais largaria o trabalho para ficar em casa, ou quem sabe arrumar um trabalho menos forçado. Ela sempre trabalharia no hospital e sempre chegaria tarde, isso quando não tivesse plantão. Já era hora de eu me acostumar com isso.

– Claro mamãe. - Respondi, engolindo meu último pedaço de panqueca e pegando uma maça na cesta, enquanto me levantava. - Já estou indo.

– Quer uma carona?

– Não. - Murmurei. - Acho que vou pegar o ônibus.

E então bati a porta da frente, tentando não demonstrar, com aquele gesto, o quanto eu estava frustrada.


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