POV Jace

Você sabe quando tudo na sua vida já tá tão mal, mas tão mal, que você achava que não podia piorar? Sempre me disseram que a parte boa do fundo do poço é que dali não passava. Mas hoje eu percebi que sempre tem uma portinha com uma escada nesse poço e ali você pode descer mais ainda. Bem, sem metáforas e sendo bem mais direto, fudeu.

O Percy pegou muito pesado com Annie. Ele sabe dos sentimentos dela, sabe como ela sofre por ele com a Clary e não pensou duas vezes antes de humilha-la pra esconder seus próprios sentimentos dos outros. Eu queria ajudar Annabeth, mas é claro que não daquele jeito. Não a beijando na frente de todos.

Na frente da Clary.

Não sei por que eu ainda me permito ter esperanças que ela vai ouvir o próprio coração e perceber que ela não o ama como a mim. A única pessoa que Percy ama como eu amo a Clary é a Annabeth.

– Mas que porra ta acontecendo aqui? – Hermione falou do topo da escada com os olhos inchados.

– Mione, como você está? – Annabeth perguntou à amiga.

– Sendo sincera, eu não sei mais. A única coisa que eu sei é que essa casa tá uma bagunça.

– Hermione... – Rony tentou se aproximar, mas a morena recuou.

– Eu preciso pensar um pouco, Rony... – Ela colocou a mão nos bolsos e deu às costas aos amigos na sala. – E eu acho – virou-se antes de voltar ao seu caminho pro quarto. – que todos deveriam fazer isso, principalmente vocês quatro. – Ela se referia a mim, Annabeth, Percy e Clary.

O silêncio se instalou na sala até Clary rompê-lo:

– Meninos, eu acho melhor irem agora, e meninas vão descansar e, como a Mione disse, pensem um pouco.

Todos concordaram e começamos a tomar cada um seu rumo.

Percy foi tentar despedir-se de Fray com um beijo, porém ela virou o rosto e nossos olhos se encontraram nesse momento, permanecendo assim por segundos a fio, até ela desviar e dizer:

– Annabeth, eu preciso dar uma palavrinha com você.

E essa foi a última coisa que ouvi antes de fechar a porta da casa.

*

POV Narrador

A loira e a ruiva estavam se encarando no meio da sala haviam minutos e o único som que se ouvia no cômodo era o do vento passando pela fresta da janela.

– Qual o problema Clary? – Annabeth questionou a amiga enquanto limpava as lágrimas que lhe restavam em sua face branca.

– Bem, podemos começar pelo fato de que você está apaixonada pelo meu namorado. – Clary soltou de uma vez só e Annie fitou o chão, envergonhada, até a amiga dizer mais alguma coisa. – E eu não estou.

Por alguns segundos o silêncio se instalou, mas graças ao choramingo da ruiva ele não durou muito.

– Clary, me desculpe. – Annabeth se apressou em abraçar a amiga para tentar consola-la. – Eu nunca quis isso.

– Sabe... Foi bom você ter beijado o Jace.

– Foi?

– Foi, porque só assim eu pude perceber o quanto eu...

– Você... – Annie incentivava Clary a continuar. – Vamos, se falar com todas as letras é um peso a menos.

– Eu sei disso, só não acredito que achei que uma noite mudaria o meu sentimento pelo Jace. Eu realmente acreditava que poderia evitar um coração partido.

– Como assim?

– Eu não amo Percy, então se ele terminasse comigo, não ia doer. Agora se fosse o Jace... Meu Deus, iria fazer um estrago daqueles. – desabafou num fio de voz.

– Todo mundo vai te machucar um dia Clary. – Annie sentou com a amiga no sofá e apoiou o rosto dela em seu colo. – O mundo é assim. Mas você pelo menos pode escolher por quem vale a pena se machucar nessa vida.

– Eu amo o Jace... Porra, eu amo ele pra caralho. – esbravejou.

– E eu acho que ele tem o direito de saber, ainda mais com ele sentindo o mesmo por você.

Antes que Clary pudesse dizer qualquer coisa, a porta se abriu em um solavanco.

Era o Jackson.

– Eu preciso falar com a Annabeth. – disse.

– E eu com o Jace. – Clary levantou do sofá e andou a passos largos até a porta, onde parou. – Acho que isso é um término, não é?

– É o melhor pra nós dois. – concordou e se abraçaram.

Clary sorriu pra ele e saiu. Percy virou-se para Annie que permanecia sentada no sofá, desfiando mais ainda o rasgo no joelho do jeans, enquanto o encarava com aquele lindos olhos cinza que estavam em seus sonhos todas as noites.

Ele tinha tanto para dizer, tanto para contar, tanto para pedir perdão. Mas tudo que saiu foi:

– Eu sempre gostei do seu cabelo assim, sabe? – Percy aguardou alguma reação dela, porém nada aconteceu então prosseguiu. – Seus cabelos loiros e ondulados pendurados nesse rabo de cavalo alto, essa franja caída no seu rosto...

– Fala logo Jackson, o que você quer?

– Eu queria pedir desculpa pelo que eu disse mais cedo. Eu não penso nada daquilo sobre você. Eu só estava... Tentando cobrir o sol com a peneira, sabe? Tentando esconder os meus sentimentos por você sendo que eles não podiam estar mais estampados na minha cara do que estão. – Ele pausou quando Annabeth se levantou do sofá e, com os braços cruzados, começou a se aproximar dele. – Eu sei que essa foi, provavelmente, a maior merda que eu já fiz em toda a minha existência e que, dependendo da sua decisão, eu vou me arrepender para o resto da minha vida por isso. Eu não posso fazer muito além do que pedir perdão e garantir que o meu pedido é sincero.

– Percy, eu te amo, muito, tipo pra caralho mesmo. Acho que não existem advérbios de intensidade que possam explicar o quanto que eu te amo... – Annie disse tocando o rosto do garoto e logo retirando a mão. – Mas o que você disse machucou... E eu poderia até te perdoar, mas eu não iria esquecer. Pelo menos não por um bom tempo.

– Annie... – Os olhos de Percy lacrimejavam.

– Não, por favor, deixa eu terminar. Me escuta até eu terminar... – Ela implorava com os olhos fechados e as lágrimas escorrendo. – A partir de agora a nossa relação vai ser estritamente profissional. Nós vamos nos encontrar de vez em quando pra terminar de escrever a merda da música e, quando isso acontecer, vamos seguir a nossa vida e se mesmo depois de tudo isso nada mudar e nossos corações continuarem tolos como são, então nós vamos continuar exatamente daqui. De onde paramos.

– É isso que você quer? – perguntou já não se importando mais em conter as lágrimas.

– É isso que nós dois precisamos. Pensar.

– Tudo bem então. – Percy passou a manga do casaco sobre o rosto enxugando as lágrimas, se aproximou de Annie, beijou sua testa e tomou o rumo da saída.

Abriu a porta e antes de sair voltou-se para a loira uma última vez, que estava abraçada a si mesma enquanto deixava as lágrimas rolarem.

– Espera por mim, por favor. – E então ele se foi.

Os joelhos de Annabeth enfraqueceram e ela caiu no chão enquanto chorava incontrolavelmente. Ela se arrastou até a porta por onde Percy tinha acabado de sair e se encostou nela. A loira sussurrou entre soluços:

– Vou te esperar pelo tempo que for preciso. – disse como se ele ainda estivesse ali para ouvi-la. – Eu te amo cabeça de alga.

Percy, sentado contra a porta da casa das warriors, ouviu cada palavra de Annabeth como se fosse uma facada no coração, porém segurou o choro para ela não ouvi-lo. Ele apenas sussurrou:

– Eu também te amo sabidinha.

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