Maldita noite, pensei enquanto me levantei da cama, parecia que havia passado um mês embaixo das cobertas, não queria que o dia chegasse, pois estava com medo do que aconteceria no dia de hoje, eu fui um tremendo idiota, eu me deixei levar por um impulso idiota, e agora tinha me colocado em risco, colocado toda a investigação em risco, e talvez... Colocado até Botan em risco, eu fui um tremendo de um idiota, precisava consertar isso, mas no fundo uma parte de mim não queria arrumar as coisas, eu queria continuar errando, eu só queria cuidar de Botan, ela precisava de alguém, ela precisava de mim, e eu queria aceitar isso, mas não tinha certeza de como...

O dia havia raiado, não podia mais adiar as coisas, tirei as cobertas de cima do meu corpo, estava um pouco suado, era o clima, meio ruim eu acho, mas não importava muito, não naquele momento, sai da cama e me estiquei, olhei para a porta fechada, onde tudo havia acontecido ontem, andei até ela e a olhei com calma, se eu não fosse um detetive famoso não teria sido chamado pra esse caso e nada disso teria acontecido, ri de mim mesmo, que ideia idiota, se eu não fosse tão bom no meu trabalho eu não estaria numa enrascada agora, comecei a andar de um lado pro outro do quarto enquanto pensava, era ridículo, o policial namorando a ex-noiva do deputado corrupto, iria estar nas capas de todos os jornais no dia seguinte e me expulsariam da policia com toda certeza, eu fui um tremendo idiota.

Suspirei resignado, e abri a porta do quarto, desci até a sala, Botan ainda não havia acordado, andei de um lado ao outro no escuro, sem acender luz nenhuma, até porque naquele momento já não era mais necessário, estava relativamente claro do lado de fora, acho que Botan era do tipo que gostava de dormir até tarde, fui até a cozinha e entrei com calma, queria preparar algo pra café da manhã, mas não conseguia me concentrar pra pensar no que, não iria dar certo, voltei pra sala e me sentei em silêncio, estava muito aflito, meu peito apertava e eu me sentia um pouco mal, que droga de sentimento era aquele? Medo? De que tudo fosse por água abaixo? Minha vida, minha carreira, minha chance de me vingar, tudo?

Meu telefone vibrou o peguei e atendi a ligação.

— Kurama! É o Kazuma, tudo bem?

— Tudo...

— Ótimo, pare tudo o que estiver fazendo e venha pra cá!

— O que foi?

— Temos uma pista!

Droga, justo naquela hora.

— Estou indo! - Falei com calma, teria que falar com Botan mais tarde, mesmo que não tivesse certeza do que deveria falar, peguei uma folha de papel e uma caneta e fiz algumas anotações, deixei sobre a escrivaninha embaixo do telefone:

"Temos uma pista, tive que sair, volto mais tarde para conversarmos!"

Sai andando de dentro da casa com calme e fui até meu carro, dei partida, e fui em direção da delegacia pensando ainda na besteira que havia feito no dia anterior, parei o carro na frente da delegacia e desci com calma, andei até a entrada e suspirei, hora de fingir que nada tinha acontecido, entrei e vi Kuwabara impaciente na minha mesa.

— Temos uma pista! - Ele disse, o olhei com calma, ele não iria me perguntar nada e eu também não diria, ele sabia que quanto menos soubesse melhor, caminhei até ele que me mostrou uma foto de um homem alto e magro, parecia forte e inteligente, se é que isso pode ser dito só por uma foto - Esse é Yomi, ele foi preso por revender snuff films, foi acusado de participar de alguns, mas as provas eram circunstanciais e eles não conseguiram provar sua participação, ele saiu sob condicional a cerca de um mês.

— Acham que ele está envolvido de alguma forma?

— É o que o tal Minoru parece achar! - Comentou, meu parceiro, balancei a cabeça positivamente e fomos até o endereço onde encontraríamos Yomi, não nos falamos durante o caminho algo raro, mas que acontece ocasionalmente, chegamos até o endereço onde estava escrito que encontraríamos o tal Yomi.

— Policia! - Anunciei batendo na porta, com a mão próxima da cintura para pegar minha arma, a porta se abriu e um rapaz que provavelmente não havia nem terminado os estudos atendeu.

— O que vocês querem? - Perguntou.

— Yomi esta ai? - Questionou meu parceiro.

— Meu pai esta la dentro! - Respondeu com calma encostando na porta.

— Podemos falar com ele? - Ele grunhiu, mas saiu da frente da porta - Venham! - Ordenou seguindo pra dentro, entramos, e fomos até um dos quartos.

— Tem policiais aqui! - Disse ele batendo na porta.

— Podem entrar - Respondeu uma voz de dentro, ele abriu a porta, eis que vimos um homem muito alto, mas não muito musculoso, parecia velho, usava óculos escuros e estava sentado em sua cama olhando em direção da janela.

— Pois não? - Perguntou o gigante.

— Gostaríamos de fazer algumas perguntas senhor Yomi.

— O que quiserem policiais, podem se sentar - Comentou sem desviar o olhar da janela, puxei uma cadeira e meu parceiro fez o mesmo.

— O senhor conhecia o deputado Koenma?

— Apenas de nome, nunca o conheci pessoalmente - Respondeu.

— Onde estava duas noites atrás?

— Aqui! - Respondeu secamente.

— Tem certeza disso? - Ele se virou pra nós, mas parecia não olhar pra nenhum de nós dois, parecia não olhar pra nada, ele removeu seu óculos e então vimos suas órbitas vazias, ele era completamente cego.

— Ácido, no meu terceiro dia na prisão, arrancaram meus olhos para garantir que eu nunca fosse capaz de ver aqueles videos de novo - Comentou com um leve sorriso no rosto - Depois disso fui obrigado a me tornar um prisioneiro modelo - Ficamos ambos em silêncio.

— Meus pêsames...

— Por quê? Eu não morri não é? Eu acho que de certa forma, com o perdão da palavra, enxergo isso como um tipo de compensação pelo que eu fiz.

— Você realmente participou dos videos não é? - Ele se calou por alguns segundos e sorriu.

— Eram outros tempos, e eu via o mundo de forma muito diferente... Quero dizer... Não literalmente!

— O senhor sabe de algo relacionado aos videos atualmente?

— Não mais - Respondeu com calma - Cortei todos os contatos, esqueci todos os nomes, apaguei tudo, me cortei totalmente desse mercado, até porque alguém como eu não seria de muita serventia para esse mercado agora - Trocamos mais algumas palavras, mas era obvio que não conseguiríamos nada além disso, nos levantamos - Por favor Shura, leve-os até a saída - Saímos do quarto e fechamos a porta, caminhamos até a porta da casa.

— Até mais detetives! - Disse enquanto fechava a porta, mas eu a segurei.

— Seu nome é Shura não é?

— E dai?

— Você conhecia o deputado Koenma? - Ele pareceu reconhecer o nome, e não respondeu.

— Kurama? - Perguntou meu parceiro me olhando curioso, eu pensei ter reconhecido a voz dele quando chegamos, mas agora tinha certeza, ele é quem havia ligado pro Koenma.

— Você sabia que ele está morto? - Ele pareceu estremecer quando eu disse isso - O que você sabe sobre Snuff Films?

— Eu não...

— O que? Você não queria seguir a carreira do seu pai? - Ele abaixou a cabeça por alguns segundos - Se não falar aqui, vai falar na delegacia!

— Começa a falar!

— Eu não sei, eu e Koenma... Nós...

— Fala logo! - Disse com mais firmeza.

— Só queríamos mostrar que nós podíamos fazer o mesmo que nossos pais! - Respondeu o garoto, parecia um idiota falando - Quero dizer, ganhar dinheiro, dinheiro mesmo, dinheiro de verdade!

— Vocês mataram aquela garota?

— Não! - Respondeu de forma apressada - Nós só iriamos revender.

— Quem forneceu os videos?

— Eu... Não posso... - Gaguejou...

— Não pode o que?

— Não posso... Ele vai...

— Vamos pra delegacia, talvez lá... - Antes de completar e vomitou as palavras.

— Toguro... Foram os irmãos Toguro! - Comentou levantando a cabeça, fiquei em silêncio por alguns segundos, já tinha ouvido muito esse nome!

— Droga!