Goddess escrita por RoxyFlyer21


Capítulo 2
II


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!! ;D



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A enorme embarcação Ansell singrava seu caminho para fora da tempestade quase sem dificuldades. As afiadas chapas de metal polido que recobriam tanto a proa como a popa da nau cortavam as ondas revoltas, porém não evitavam que a espuma salgada fosse jogada violentamente contra o vidro que guardava a sala do capitão. Os inúmeros arranhões que marcavam a madeira e o metal da embarcação eram as únicas cicatrizes de guerra, condição contrária a de caravelas e navios que haviam a confrontado em duelos navais. A fama de invencível e inundável crescia entre tanto os navios do Reino quanto o de todos os saqueadores e piratas dentro e além dos limites do Mar Mediterrâneo.

Os costumes da tripulação de Ansell também geravam certa inquietação. Suas técnicas eram lendárias, e seus saques, temidos; alguns se atreviam a dizer que aqueles marinheiros tinham a brutalidade bárbara dos vikings noruegueses, e a astúcia e superstição dos gregos. Eram rápidos no ataque, pilhavam tudo o que podiam, principalmente metais e pedras preciosas, deixando o rastro de destruição. Nem lugares sagrados eles perdoavam; tinham sua própria devoção, e viviam por ela. Por essa mesma devoção misteriosa, o ataque a Pequena Ilha fora concebido.

Todos os homens, salvo aqueles que trabalhavam arduamente para guiar a embarcação para fora dos mares violentos, estavam reunidos na proa. Estranhamente silenciosos entre si, todos os olhos estavam voltados para o corpo deitado ao centro. O corpo desmaiado de Keira.

Keira começou a recobrar os sentidos, tomando consciência da enorme dor que martelava dentro da sua cabeça. Ela ergueu-se doloridamente, sentindo-se como se houvesse dormido em um chão de pedra, e levantou a cabeça para olhar ao seu redor.

No mesmo instante, arrependeu-se solenemente.

Um enorme homem se colocou a poucos metros à sua frente, com sua armadura prateada parcialmente removida, pois ele ainda mantinha a espada presa ao cinturão de cobre sob a vigilância de seus dedos. Ele era alto e parecia extremamente forte e musculoso, e seu rosto sério estava emoldurado por uma longa barba e cabelo loiros. Keira engoliu a adrenalina pela garganta.

– Sou o Capitão Morgenstern, minha deusa, – o grande homem disse, e sua voz grave e intimidadora pareceu fazer todo o seu redor tremer. – e você está à bordo da embarcação Ansell IV, de Corbatta.

“Mas o Arquipélago de Corbatta foi destruído há décadas,” pensou ela, intrigada. O Capitão continuou:

– Permita-me apresentá-la ao meu filho, James. – ele indicou com um movimento de braço o mesmo jovem que havia mandado prendê-la, poucas horas atrás. Ele, tal como o pai, havia retirado a parte de cima de sua armadura, e usava uma folgada camiseta de algodão suja aberta que deixava boa parte de seu peitoral à mostra. A capa de sua espada presa na sua cintura refletia os fracos raios de sol que escapavam pelas espessas nuvens cinzentas no céu.

A ventania agitava seu cabelo loiro dourado igual ao do Capitão, e Keira sentiu um ódio profundo crescer pelo rapaz.

– Fui honrado ao ser designado para acompanhá-la, deusa. – ele fez uma pequena reverência em sua direção.

Contudo, Keira não os escutava. Na sua mente, ela revivia os momentos do violento saque a sua cidade; pensava em todas as pessoas que haviam sido mortas, tão friamente, apenas para que ela sobrevivesse nas mãos daqueles bárbaros. Mas que tudo, pensava em Magham, e no que haveria acontecido à ela. Grossas lágrimas de dor e raiva escorriam por suas bochechas, e seus olhos estavam vermelhos. Ela, com os punhos cerrados, pôs-se de pé, de forma a encarar o homem que liderou toda aquela destruição, e sentiu o medo sendo substituído por ódio enquanto murmurava para si:

– Não..... não pode ser..... – todos haviam se calado para ouvi-la, e seus murmúrios logo tornaram-se berros, ecoando por toda a proa. – Não! O que vocês fizeram com Magham?! Quem são vocês?! Vocês não tinham o direito de invadir aquela ilha! De matar! Todas aquelas pessoas inocentes, como puderam?!

Conforme a ira se alastrava na voz da garota, alguns homens começavam a cochichar entre si, alguns esquivando-se, pensando que a qualquer momento ela poderia lançar alguma maldição no navio. Era o que eles estavam esperando, vindo de uma deusa. No entanto, Morgenstern manteve-se calmo e paciente, como se de alguma forma estivesse aguardando para que ela se acalmasse. Quando notou, porém, que ela começara a insultá-lo gravemente na frente de toda a sua tripulação, levantou os braços e vociferou:

– Basta! Não toleraremos mais nenhuma blasfêmia sua! – direcionando a palavra a todos ao redor, ele continuou. – A deusa deverá ser trancada em seus aposentos até o anoitecer, e um jantar será servido em sua homenagem!

Com isso, James caminhou em sua direção e pegou-a pelo braço. Keira, ainda soluçando forte, esquivou-se de sua mão, em uma tentativa de fugir. James a puxou novamente pelas mãos, apertando-as firmemente  atrás das costas da garota.

– Não quero machucá-la, minha deusa – ele sussurrou entre dentes ao seu ouvido, mantendo-a com algum esforço sobre seu comando.

– Não sou sua deusa!

Enquanto os tripulantes eram dispensados de volta a suas tarefas, Keira relutava a James direcionando-a para seus aposentos. Do lado direito da escura escadaria que levava aos porões, James abriu uma porta desleixadamente feita de placas de madeira e a colocou dentro.

Uma onda forte bateu contra a popa do barco nesse mesmo instante, fazendo Keira tombar e cair direto no chão de madeira do minúsculo aposento. James, no entanto, não fez menção de ajudá-la, e bateu a porta logo atrás de si. Keira levantou-se num pulo e, gritando, golpeava a porta com os punhos cerrados.

– Seu idiota! Me deixe sair!

Subitamente ela sentiu a sombra de James encostando-se na porta e, pelos numerosos buracos na madeira, ouviu sua voz ameaçadoramente clara.

– Seja mais agradecida com a sorte que tem. Poderíamos ter te matado como todos os outros da Ilha. Se bem que ainda estou pensando nessa ideia.

Ela se surpreendeu com a ameaça, porém sabia que o ódio que sentia superava qualquer vestígio de medo em seu espírito.

– Você não ousaria!

– Tem certeza!?

Keira esperou até a sombra ter se afastado e, tendo certeza que estava sozinha, liberou as lágrimas que havia reprimido. Essas, no entanto, eram da mais profunda dor.


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