Goddess escrita por RoxyFlyer21


Capítulo 1
I


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem deste! Boa Leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/381853/chapter/1

- Você está ensinado errado.

Magham interrompeu-a no meio de sua explicação sobre as divisões gramaticais da língua Saxã. Como sempre. Keira apenas camuflou a irritação com um suspiro.

- Mas foi você que me ensinou desse jeito.

- Você é passiva demais.

A anciã respondeu com sua voz contínua e forte, surpreendente  para alguém com tantos anos. Seus longos cabelos cinzentos estavam presos na nuca, e vestia uma longa túnica de tecido cru branco e um xale roxo. Observou a tímida criança sentada à frente da garota por alguns instantes antes de retirar-se, arrastando suas sandálias no chão de terra batida coberta por compridos tapetes antigos.

Keira observou sua avó saindo devagar pela porta da sala, suas mãos enrugadas atrás das costas. Sacudiu a cabeça para refrescar os pensamentos,  e direcionou sua atenção novamente para seu pupilo, um garotinho sardento de apenas dez anos de idade. Estavam sentados a uma mesa de acácia baixa, onde  folhas de papiro e um tinteiro estavam apoiados e, no chão ao lado, alguns livros empilhados. Era espaçosa e clara a sala, sem estantes, com apenas algumas obras empilhadas  pelas paredes de mármore polido.

Apenas o palácio continha livros, quase tão raros como os próprios leitores da ilha. Tão-somente como os doze Conselheiros que regiam a Ilha, Magham, a Anciã, e sua neta, Keira.

A ilha era pequena, de localização desconhecida, e uma única vila ao topo da praia compunha a população total. Poucas casas, simples, construídas a partir do mármore bruto na região abundante e encobertas por coqueiros e palmeiras. Uma íngreme escadaria de pedra conectava a praia ao largo pátio, incrustado com desenhos ancestrais de devoção a deuses. O palácio, por fim, se estendia em mármore branco por dois andares, com diversas cúpulas e pilastras de pedra.

O céu estava encoberto por pesadas nuvens prateadas, prevendo a ameaça de uma forte tempestade, algo muito raro na ilha. Devido a atmosfera obscura, o sentinela teve dificuldade para enxergar o horizonte. De pé em seu posto, em cima de um abrigo na copa de uma imponente figueira, ele observava a maré muito dispersa entres as rochas pontudas na costa devido a neblina intensa que começava a se formar.

Primeiramente, pensou ter visto o vulto de algum animal na superfície e, quando apertou os olhos para certificar-se, já era tarde demais. A silhueta de uma embarcação, algo muito maior que uma caravela, se aproximava com velocidade do porto. Adrenalina desceu pelo seu corpo, e quando virou-se para alcançar a corda que soaria o alarme à vila, o zumbido de uma flecha metálica soou em seu ouvido, acertando em cheio seu coração.

Os tripulantes da embarcação jogaram então grossas cordas com garras de metal na areia e nas rochas, urrando e correndo com as marolas geladas até a praia. As armaduras de prata e cobre reluziam contra a água, cuja cor havia se transformado de azul celeste para um verde denso. Os homens empunhavam longas espadas de lâminas irregulares, lanças pontudas, e arco e flechas de ferro desafiadoramente em direção as pequenas aglomerações de casas.

Algumas mulheres com trouxas de roupas nas cabeças voltavam para a vila pela praia, e ao avistarem tão grotesca cena começaram a gritar. Nativos, atraídos pelo barulho, caminhavam entre a vegetação para a praia, e logo eram atingidos por flechadas. Gritos ecoavam, ordens de invasão eram dadas, guerreiros atiravam suas curiosas flechas prateadas, e rapidamente eles tomavam sua direção ao palácio.

A tempestade cortou o céu como um raio, e o oceano tornou-se completamente revolto. A chuva rompeu-se imediatamente, e junto com as ondas, o sangue derramado na areia era gradualmente lavado.

O vento tempestuoso soprou pela janela da biblioteca, agitando as folhas que Keira tentava organizar. Ainda sentada em uma almofada, ela trancou as folhas e o tinteiro em uma caixa vermelha, e a colocou debaixo da mesinha. Seu cabelo castanho escuro estava preso em uma comprida trança até a metade das costas, e algumas mechas da frente caiam teimosamente em seu rosto liso e bonito. Cantarolava baixinho, completamente ignorante da batalha que se travava na praia, um assassinato em massa com as forças completamente desiguais.

 Então, sentiu o chão tremer. Engatinhou até a janela, de onde espiou as tropas avançando para o palácio e com facilidade, arrombando a porta na entrada.

“Matem todos, menos a garota,” foi a ordem, gritada por um homem ao pé da escada para o grupo de guerreiros, disperçando-os para a procura palácio adentro.

Keira ouvia os passos ecoando como trovões pelos corredores, e seu coração começou a bater febrilmente, dominado pela adrenalina. Ela segurava um livro, um de seus favoritos que estava relendo instantes antes. Pensou em Magham, e se os soldados já haviam alcançado-na.

A porta da biblioteca estava semi-aberta, e de repente tudo ficou silencioso.

Ela podia escutar seu coração batendo rápido, fios de cabelo colando em suor na nuca. Não havia lugar para se esconder lá, constatou ao olhar ao seu redor. Então avistou uma passagem no canto da sala, que dava para o corredor do jardim. Keira apressou-se para a saída, e seu coração falhou em choque quando cruzou seu olhar com o de alguns soldados, que se aproximavam entre os pilares. Eles começaram a correr ao seu encontro, e ela virou-se rapidamente para fugir por trás.

No mesmo instante, sua cabeça deu de cara com algo duro como ferro, fazendo-a cair no chão. Sua visão turvou, algumas lágrimas se formavam nos cantos dos olhos, e ela ergueu a cabeça para ver um grande homem extremamente forte e alto, com a armadura de bronze e amarras de couro, olhando-a com o olhar furioso e ameaçador. Sua mandíbula contraia-se em raiva, e havia algumas cicatrizes no seu rosto.

Ele urrou e ergueu uma lança de prata, mirando a cabeça da garota. Ela fechou os olhos com força, as lágrimas quentes caindo no chão.

– Pare! – uma voz cruzou a biblioteca, autoritária e alta. – Imbecil!!

O homem recolheu sua arma conforme o dono da voz se sobressaia do grupo de grandes homens de aspecto grosseiro, parados diante da porta. Keira sentia os tambores do seu coração misturando-se com o metal da armadura batendo conforme os passos se aproximavam dela.

A garota foi erguida do chão pelo braço, e logo que cruzou seu olhar com o dele, levou um susto. Esperava um guerreiro de aspecto bruto, com longas barbas e ossatura larga, exatamente como a maioria dos outros. Porém, ajoelhado diante dela, um rapaz que parecia ser apenas pouco mais velho que ela a analisava com seriedade.

– O que temos aqui? – ele disse, e os olhos azuis a perscrutaram por inteiro. Ele ainda matinha sua mão prendendo Keira pelo braço e deslizou suavemente a manga da túnica branca no ombro dela. Excepcionalmente claras e com aspecto perolado, as manchas em forma de delicados arabescos que recobriam algumas partes do corpo da garota foram reveladas, para satisfação do soldado a admirá-las.

– É ela – o rapaz anunciou de repente, após observá-la por alguns instantes. – Sinto muito por isso –  ele sussurrou, e levou dois dedos ao pescoço dela, beliscando seu nervo tão forte que a fez desmaiar. – Podem levá-la.

Ele levantou-se e ficou observando os soldados carregarem o corpo adormecido da garota. “Porque ela não previu nossa invasão?” pensou. “Por se tratar de quem é, sua fragilidade e impotência são espantosos.”

Recomeçou a andar para fora do cômodo, quando pisou em algo no chão. Abaixou-se e recolheu o pequeno livro, cuja capa de couro escura não revelava nenhum título. Quanto mais folheava por entre suas páginas, mais intrigado ficava com seus significados. Saiu do cômodo enfim, com o pequeno volume em mãos. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Goddess" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.