O Verdadeiro Lar - A Luz De Safira escrita por Yui


Capítulo 5
O Grande Dia


Notas iniciais do capítulo

Oi, mais um capítulo da segunda temporada de O Verdadeiro Lar.

Vou dizer de novo: o casamento será representado como um tradicional chinês.
Há duas insinuações, e uma é sobre ingestão de vinho, pra ser precisa e avisar, antes que alguém fale alguma coisa ruim.
Se quiserem, passo meus sites de pesquisa pra quem quiser conferir sobre casamentos chineses. Só pedir.

Enfim, boa leitura.



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Todos já dormiam, menos ele.

O panda vermelho estava sentado em frente à piscina de reflexão tentando meditar, mas apenas abriu os olhos e admirava os detalhes da borda e também os do teto atrás de seu reflexo. Daqui algumas horas celebraria o casamento de sua filha adotiva.

Mal podia acreditar que ela já havia crescido, parecia que acabara de tirá-la do orfanato.

Quando seu ouvido captou passos à sua direita, o mestre apenas girou um pouco o pescoço para confirmar a presença de um grande tigre-do-sul que era mais novo do que ele e se aproximava. Shifu se colocou um pouco mais ao lado dando espaço para que o tigre se sentasse.

– Acho que eram os noivos que deveriam estar nervosos com o casamento – disse Hui com um sorriso e um pouco sonolento.

Shifu soltou um sonoro suspiro.

– Não acredito que já vou entregar Tigresa a ele. Parece que tudo está acontecendo tão rápido.

– Há, e eu, que mal a conheci e já vou levar até o altar e permitir que se case com o panda? – Disse Hui divertido – nunca pensei que a veria se casar, até porque pensei que já não estava nessa vida.

– O tigre e o dragão vão se unir em matrimônio - sorriu.

– O quê?

– É o que costumam dizer sobre casais diferentes, porque, cá entre nós, eles realmente são bem diferentes em suas atitudes.

– Acho que é verdade.

– Explicando o que eu tinha dito, os tigres eram de natureza yin representando a escuridão, a noite e o frio, também representam integridade e honra. Os dragões, o yang por representar a luz, o dia e o calor, nobreza e a sabedoria. Se completam, mas também, de certa forma Po e Tigresa são assim também – sorriu o mestre.

– E agora, eles vão se integrar. Entendi.

– Isso. Se a gente pensar assim, sempre tiveram um ao outro. O pequeno círculo branco no lado negro, que é o Yin, significa que ele tem o Yang. E o pequeno círculo negro do lado branco, significa que o Yang tem o Yin. Se pertencem e não há nada que ninguém possa fazer para mudar isso.

– Nem mesmo nós – brincou Hui fazendo o Grão-Mestre rir – gostaria que Yi Jie estivesse aqui pra ver nossa filha se casar – disse olhando para o seu reflexo na água, desejando que pudesse ver sua esposa de alguma maneira.

Sentiu uma pata em seu ombro e quando virou para a direção da qual veio o toque, viu o panda vermelho sorrindo de forma compreensiva e, me arrisco dizer, até doce para ele, por conta de sua dor.

– De onde ela estiver, ela está olhando por você e Tigresa. Tenho certeza que ela está orgulhosa...

– Apenas da nossa filha, porque, com as coisas que eu fiz, se estivesse viva, ela teria me deixado.

– Não. Não fale assim. Você se arrependeu, Tigresa conseguiu tocar uma parte dentro de você que o fez parar tudo de ruim que fez, mas isso também se deve ao que você nunca deixou de sentir, que foi amor pela sua família. Se tivesse esquecido delas, tudo isso certamente teria acabado de uma forma diferente e talvez, triste.

– Obrigado, mestre Shifu.

– Agora vamos dormir porque teremos um dia cheio de nervos com os convidados, a festa e o panda. Com certeza ele está nervoso.

Ambos se retiraram a seus quartos na ala dos estudantes. Shifu ficou no quarto de Garça para ficar perto de sua filha durante esses dias importantes. Ele e Hui escolheram e arrumaram, junto aos trabalhadores do palácio, um grande quarto para acomodar o novo casal, o mais célebre da China.

O Grão-Mestre do Palácio de Jade tinha razão sobre o panda gigante. Ele estava tão nervoso que só conseguiu dormir no meio da noite, ao contrário de sua noiva que meditou para acalmar os nervos, ideia que nem passou pela cabeça de Po.

Ele, seus pais e seus amigos ficaram conversando por algum tempo e o Dragão Guerreiro fioi obrigado a aguentar as brincadeiras e insinuações bobas de Louva-a-Deus e Macaco, além de dizerem que sentiriam falta do companheiro e perguntarem se poderiam ficar com as coisas dele quando ele morrer assassinado por sua própria esposa. Tudo porque, para eles, se ela já perdia algumas vezes a paciência com ele apenas como colega de treino, imagine como marido?

Quando conseguiu pregar os olhos, algumas imagens borradas vieram à sua mente...

Po se viu na cidade imperial, onde jamais esteve e se era como seu sonho, era linda.

Passou ao lado de um córrego e subiu na ponte para atravessá-lo. Sem intenção, olhou para a água. Não era um panda. Não era ele. Quem era aquele ser? “Pelagem branca, mais fina que antes. Olhos verdes. Ok. Mas eu tenho cauda... e listras. Que é isso?”, pensou ele. “Sou um tigre? Mas que estranho”.

Ignorando isso, continuou seu caminho para os portões do palácio imperial. Eles se abriram deixando ver um pátio gigantesco com alguns... dragões passando por ele. O tigre branco continuou seu caminho. Ao parecer, ele era servo do palácio, na verdade era um guarda.

Foi ao salão do trono e chegando lá, viu o que parecia ser a família imperial. Dragões chineses de escamas verdes e olhos de cores quentes. O maior, o macho, tinha os olhos vermelhos. A que estava a seu lado, tinha os olhos âmbar e a menor os mesmos, poderia supor que eram pais e filha. Se distinguia os gêneros pelos traços.

Se curvou e foi para seu lugar e ao parar, seus olhos se encontraram com os dela. Ficaram se encarando por alguns segundos e foram retirados de seus pensamentos pela chegada de um dragão negro de olhos azuis, ao qual, o imperador chamou de irmão. Esse novo dragão encarou Po de uma forma que fez um calafrio passar por toda sua espinha. Também não gostou desse lagarto gigante, da mesma forma que percebeu que ele sentia o mesmo.

No sonho, o tempo passou muito rápido e acabou seu turno como guarda. Ele não sabia há quanto tempo era trabalhador da cidade proibida, não sabia porque, mas sabia de uma coisa: conhecia aqueles olhos e não foi com a cara do lagarto que era tio dela.

Num abrir e fechar de olhos, estava em um local quase escuro por completo e ali, viu apenas aqueles horríveis olhos claros. Quando a luz de uma vela foi posta perto do rosto do jovem tigre, ele pôde ver que era o mesmo lagartão da tarde. Ele acendeu mais algumas velas, permitindo que o tigre, com sua visão apurada, conseguisse enxergar totalmente o dragão fêmea, machucada e caída no chão à sua frente. Tentou se mexer. Impossível porque estava atado às paredes por correntes.

Po não sabia porque, mas o desespero o invadiu e tentava de todas as formas se libertar ao ver que uma grande espada era levantada pelo lagarto negro, que o olhava com malícia.

– Depois dela, é você.

Foi a última frase que Po ouviu antes de acordar gritando à todo pulmão.

– Que isso?! – Gritou Garça.

– Po! – Chamou Sr. Ping entrando no quarto, e como os outros, encarando o panda que estava sentado na cama respirando pesadamente.

– Que aconteceu? – Perguntou Jing-Quo.

– Sonhou que a Tigresa estava comendo sua cabeça? – Perguntou Louva-a-Deus subindo no ombro do panda.

– Que... não! Foi só um pesadelo. Acho que é porque tô um pouco nervoso.

– Bem, está quase na hora de levantar mesmo. Já vou fazer o café da manhã pra vocês – disse o ganso – descansem um pouco mais e se acalma Po.

Sr. Ping e Jing-Quo desceram as escadas para a cozinha, seguidos de Macaco. O primata voltou com um copo de água para o amigo e ajudá-lo a se acalmar. Os outros perguntaram o que Po sonhara e ele não quis dizer a eles, acharam estranho, mas não insistiram. Não iriam chateá-lo hoje.

O sol já nascera e estava iluminando um dia, um pouco mais quente que o anterior, ignorando que ainda era inverno na China.

Pelas estradas gélidas passavam os empregados e a carruagem do imperador e os animais saíam de seu caminho para não interromper o curso. Ele não quis adiar mais a viagem de volta. Deveria levar Ju para seu pai e tomar devidas providências, devido a tudo que soube.

Enquanto ele e Ju chegavam, Fa Huo estava tomando café da manhã com ambas felinas, todos sendo vigiados pelos guardas que estavam próximos às janelas e passagens. Elas ao lado direito da mesa e ele ao esquerdo, de frente para Ayra. O panda não deixava de olhar para a pantera e isso já a estava incomodando.

Cutucou a irmã por debaixo da mesa e ela encarou o velho de forma ameaçadora, até que ele deixou de encarar a princesa.

– Ayra, eu já venho. Vou pegar mais chá, esqueci de pedir que deixassem a jarra aqui e não quero incomodar chamando alguém – disse a mais nova se levantando.

– Tá bom, Xue. Mas volta logo.

Assim que Xue desapareceu à caminho da cozinha, Fa Huo novamente pôs seus olhos na futura imperatriz. A pantera mais jovem queria voltar logo para não deixar a irmã sozinha com ele.

– O que foi? – Perguntou Ayra de forma seca e rude.

– Eu sei do seu segredo.

Pronto.

Estava tudo acabado, talvez ele já tivera contado aos conselheiros e inventaria alguma história ridícula sobre Hai Li para que seu pai não permitisse o casamento.

Fez o que pôde para não demonstrar um arrepio percorrendo as costas e o coração acelerado que antes, estava certa de que havia parado.

– Ah, sabe? – Respondeu com outra pergunta, sem demonstrar o mínimo de preocupação.

– Sim. Um leopardo dourado de olhos castanhos não é tão difícil de se ver.

Ela congelou.

– Como você soube?

Xue estava voltando da cozinha com uma jarra cheia de chá de jasmim e parou antes que pudesse ficar no campo de visão de qualquer um no salão de jantar abraçando a louça que levava para que não caísse de seus braços e aguçou os sentidos para ouvir o que estava acontecendo. Certamente, se entrasse agora, Fa Huo inventaria alguma história e tentaria parecer inocente, coisa que Xue sabia que não era.

– Dei um jeitinho de vigiar vocês, só pra ver o comportamento. No começo, a segunda vez que você escapou do palácio, achei que você apenas iria se divertir com ele, mas vi que as coisas ficaram muito sérias.

– O que você quer? – Perguntou ela grunhindo e mostrando suas presas afiadas.

Enquanto recebia um olhar assassino de Ayra, o panda apenas sorriu com malícia e colocou as patas embaixo do queixo, tentando parecer calmo e paciente, mas a verdade é que ele mal estava aguentando a forte vontade de rir da possível desgraça da futura imperatriz.

Sabia que, se ela fosse pega fora do palácio, ninguém além do próprio imperador poderia impedir que ela sofresse alguma pena como consequência de seu ato e também, apenas Zhi poderia poupar o infortunado jovem de ser executado por tocar na princesa.

– Você sabe o que seu pai pode fazer com ele, não sabe?

– Sim, eu sei. Me fala logo o que você quer... – disse ela com os olhos marejados

Era injusto que ela tivesse que concordar com alguma coisa, provavelmente ruim, que viesse desse panda, apenas para poupar o jovem pelo qual havia se apaixonado.

– O que eu quero? Bem, sei que provavelmente você vai contar ao seu pai e eu posso muito bem ajudar Zhi e os conselheiros a aceitar esse relacionamento e um plebeu como imperador, se... você me ajudar a tirar um certo artefato dos guerreiros que virão te proteger durante a coroação.

– Você... só quer um artefato? Temos tantos! Por que quer tirar algo deles?

– Não é da sua conta. Você vai me ajudar quando chegar a hora e se não cooperar, eu convenço seu pai de cumprir com a lei. Pode contar tudo pra ele, que saiu, que o conheceu no mercado, que a família dele é pobre e que você se apaixonou e eu não deixarei que seu pai faça mal a ele. E na hora certa, você me ajuda. Tudo bem?

– Está bem – disse ela com uma voz rouca e ouvindo a irmã se aproximar, voltou a comer.

– Pronto. Alguém quer mais chá? – Perguntou Xue colocando a jarra em cima da mesa.

– Eu adoraria, querida – disse Fa Huo sendo servido – obrigado.

– De nada.

Quando estavam terminando de comer, Zhi e Ju entraram. A ursa correu para Fa Huo e o abraçou, assim como fizeram Xue e Ayra com seu pai. Ambos se sentaram para comer, a noite não foi bem aproveitada pela longa viagem, mas era bom virem de uma vez.

Logo depois, Ayra pediu para falar com o pai e ele disse que precisava que Xue estivesse junto. Zhi disse à Fa Huo que demorou por tratar assuntos da coroação com os mestres e não mentiu totalmente, Ju confirmou, já que ela havia presenciado apenas algumas conversas, nas quais esse era de fato o assunto.

Fa Huo foi mostrar a cidade proibida à filha e era a hora perfeita para conversarem. Foram até a biblioteca do palácio e se sentaram em uma mesa redonda. O urso negro pediu que os dois guardas na porta impedissem a passagem de qualquer um até terminar o assunto que tinha com as filhas.

– O que aconteceu, pai? Algo grave? – Perguntou Ayra preocupada.

– É Fa Huo. Descobri que ele não é tão inocente quanto diz.

– Sabia! – Exclamou Xue franzindo o cenho – eu senti, eu sinto. Sabia que ele não era alguém bom e que estava mentindo quando veio.

– Vou contar à vocês o que os mestres de Gongmen me informaram...

Então Zhi contou a elas os planos frustrados de Fa Huo que, segundo os mestres, era apenas para ter influência, quase como a do imperador.

O fato é que ninguém sabia das verdadeiras intenções de poder desse ser obscuro e não sabiam até agora do que ele era capaz.

– Eu não disse que ele estava aqui, não podem saber que estamos escondendo um fugitivo ou o povo vai achar que somos injustos e defendemos a maldade. Não acho que qualquer um iria acreditar que não sabíamos de nada.

– Pai, por que ninguém falou pra gente? – Perguntou Xue, incrédula pela falta de informação para os soberanos da China.

– Porque não queriam que soubéssemos da fuga dele. Alegam que ele é muito perigoso, mas eu preciso dar um jeito de entregá-lo aos guerreiros, sem entregar Ju porque acho que ela só o ajudou por ser filha dele.

– Pode ser... – disse Ayra pouco concentrada.

– O que você queria me falar mesmo, filha?

– Ah, é que... eu, já escolhi com quem quero me casar.

– E, quem é o rapaz de sorte? – Sorriu – é alguém do palácio? Algum nobre ou guerreiro? Só não digo pra que escolha o Dragão Guerreiro porque ele está se casando hoje, mas seria um bom partido...

– Pai! – Interrompeu os devaneios do urso – o nome dele é Hai Li. Eu nunca conheci alguém como ele, nunca aceitei cortejos só que com ele foi diferente – disse ela com um sorriso bobo brincando com o hobby de seda que estava por cima do vestido.

– E ele é de onde?

– Daqui mesmo.

Xue acompanhava quem falava olhando de um lado a outro como se fosse uma partida de tênis de mesa, apenas esperando que o pai recebesse a notícia: onde trabalhava o seu genro.

– Ele faz o que?

– Ele e a família dele – começou ela lentamente – são... floricultores – olhou pra baixo e fechou os olhos bem apertados.

Zhi ficou em choque. Floricultores? É sério isso? Suspirou mentalmente, que poderia fazer? O marido não seria dele... só que tinha uma pergunta, apenas uma, que ele queria fazer e sabia que talvez não gostasse da resposta.

– Onde você o conheceu?

– Eu... saí do palácio – disse baixinho.

– Eu já não disse pra você não sair? Você não foi apresentada ainda! Ele pode estar com você por interesse.

– Pai, só ele me viu, ele não sabia quem eu era até... se declarar pra mim.

– Esta bem – respondeu ele – aceito esse jovem, mas que realmente ninguém mais tenha te visto ou saiba seu nome. Se alguém alegar que te viu e te reconhecer no dia da cerimônia de coroação, eu não poderei me responsabilizar sobre o que o conselho irá decidir sem perder minha coroa e não posso fazer isso, o povo conta comigo. Entendeu?

– Sim, pai.

– Agora... – começou Zhi se levantando e se aproximando de Ayra – venha me abraçar. Graças aos deuses eu não vou ter que te obrigar a casar com ninguém – disse já apertando a filha entre seus braços.

– Obrigada – disse ela chorando de alegria que seu pai a compreendeu.

Deveriam comunicar a decisão ao conselho e seria aí que Fa Huo entraria para ajudá-la, convencendo os membros a deixar os apaixonados em paz e logo, ela retribuiria o favor, por mais que doesse.

O dia passou muito rápido e o Vale da Paz estava uma loucura.

Po estava tão nervoso que mal conseguia comer, até porque se comesse mais, não caberia na roupa. Os amigos dele estavam ficando contagiados pelo panda e já não se aguentavam.

Era o pôr-do-sol, a hora marcada para iniciar a cerimônia seria quando a lua começasse a subir no céu.

Tigresa estava se arrumando para o casamento, mas mestre Shifu bateu à porta dela. Ao abrir, o panda vermelho a encontrou com Víbora, senhora Yun e a ovelha do orfanato. A felina já estava com o vestido, pois faltava pouco para descerem à aldeia.

– Aconteceu alguma coisa, pai? – Perguntou ela.

– Não exatamente. Antes de mais nada, você está linda - sorriu.

– Obrigada, pai – sorriu também.

– Enfim, alguém que não prevíamos a chegada, está aqui e quer te parabenizar pelo casamento.

– Quem é? – Perguntou abrindo mais a porta e colocando a cabeça para fora do quarto.

– Oi, prima.

Tigresa fechou os olhos e tentou segurar um grunhido o melhor que pôde. Como ele veio sem ser chamado? Mais uma vez, sem ser chamado. Será que tentaria estragar o casamento? Ela não deixaria.

– O que você quer? Não vê que estou me arrumando? Não chamamos você, você não é bem-vindo aqui, Dishi – falou ela de onde estava com a voz mais firme e ameaçadora que consegui reproduzir.

E deu certo. O jovem governante estava com os olhos arregalados e chocado que ela se dirigisse assim a ele, mas já esperava essa reação, apesar de que nunca estaria pronto pra enfrentá-la.

– Eu quis presenciar um momento tão importante e não se preocupe... eu não vim estragar nada – disse ele, como se estivesse lendo os pensamentos da felina – além disso, eu trouxe uma coisa que era sua e acho que nem seu pai lembrou. Já está no seu novo quarto.

– Obrigada. Agora, eu vou terminar de me aprontar.

– Claro, nos vemos na festa – sorriu.

Ela nem se incomodou em responder, pediu permissão à Shifu e entrou. Embora sentisse que não deveria ser tão dura com ele, o que ele fez para separá-la do amor de sua vida foi golpe baixo e ainda não estava totalmente pronta pra esquecer.

Sentou-se em frente às demais fêmeas presentes para que terminassem de arrumar a noiva. Víbora colocou na orelha direita da felina o broche verde com o qual Po a presenteou. As senhoras a ajudaram a colocar a cinta e a segunda parte do vestido.

Saindo do palácio, Dishi não podia deixar de se lamentar por não estar com quem tanto gostava, mas não faria mais mal a ela. Agora tinha responsabilidades e não podia estragá-las por um simples capricho e nem pôr a perder o significado de tudo que passou há pouco mais de um ano atrás.

No vale, Sr. Ping já havia cumprido com a sua parte na cerimônia e vestiu o panda, como é o costume.

Macaco, Garça e Jing-Quo, junto a outros pandas, ajudaram Sr. Ping a arrumar as mesas de comida do que seria a recepção ao ar livre, depois correram para o palácio levando a carruagem que deveria transportar a felina até o local do casamento.

Era feita de madeira, era grande e tinha pequenas janelas. Foi pintada nas cores vermelho, dourado e com poucos detalhes em verde. A parte de cima que tampava a estrutura, imitava o teto do Palácio de Jade e das estruturas laterais saíam quatro madeiras, as quais seriam içadas para que ela pudesse ser levada ao vale.

– Pai – chamou o ganso enquanto estavam saindo de casa – como funciona agora?

– Ah, a velha tradição, meu filho. Acho que nunca te contei – o ganso limpo a garganta para prosseguir – você deve levar... esses pacotes com dinheiro à casa dela, ao palácio, né? E oferecer aos amigos da noiva, uma retribuição por deixarem ela sair pra casar.

– Então é por isso que o Garça, Macaco e o Louva-a-Deus saíram correndo.

– Acho que sim. Bom... vamos indo.

Passaram por vários convidados que esperavam ansiosamente por ver o poderoso Dragão Guerreiro desposar a grande Mestre Tigresa.

O sol já havia se posto quando chegaram lá em cima e Po ofereceu o dinheiro aos amigos de Tigresa, embrulhado em papel vermelho. Os amigos aceitaram. Sr. Ping nem sabia quantos yuans foram com isso e preferia não pensar para não estragar a noite. A verdade é que estava orgulhoso e pela primeira vez na vida, deixou o dinheiro em último plano.

Hui Nuan foi buscar a filha e ela saiu de seu quarto acompanhada das demais, e Sr. Yun abriu a sombrinha vermelha sobre ela enquanto a ovelha cuidadora do orfanato tratava de segurar a cauda do vestido para que não prendesse ou rasgasse nas escadas até onde estavam esperando.

– Pra que a sombrinha aberta em cima de mim?

– Olha, eu vou falar com Shifu, ele deveria ter te falado mais sobre os costumes femininos – reclamou Sr. Yun fazendo com que a felina levantasse uma sobrancelha diante do comentário.

– A noiva não pode sair da casa com a cabeça descoberta, isso é pra trazer boa sorte e fertilidade – explicou a ovelha enquanto desciam.

Quando ela chegou ao pátio de lutas do palácio, todos ficaram de boca aberta. Ela estava em pé na parte superior da arena, de onde Mestre Oogway costumava assistir as lutas, e vendo-a assim, ela parecia ainda mais bonita e divina aos olhos de Po.

Ele reparou no vestido. Era uma peça de roupa vermelho sangue com a bainha em vermelho vivo e flores de pessegueiro bordadas em rosa com o contorno dourado. O caule das flores era negro e as ligava, dele, em algumas partes, saíam espirais e desenhos imitando folhas. O bordado era magnífico e seguia da bainha e tomava apenas um pouco mais do tecido porque do centro para as bordas haviam desenhos de chamas em dourado e no centro da saia do q’pao havia uma tira larga e reta fixada por baixo da cinta e nessa tira, a figura de um dragão chinês também em cor de ouro.

A cinta que rodeava a cintura da felina era larga e também dourada com bordados vermelhos imitando chamas, ou seriam suas próprias listras? Ela ficou na dúvida.

Por cima, ela colocou uma segunda peça que era um manto largo na cor vermelho vivo. Ele arrastava no chão na parte de trás, quase como uma roupa da realeza imperial e encobria a cauda da felina, que tentou mantê-la relaxada para que não agitasse o manto. Ele tinha os mesmos bordados que o vestido.

Juntamente com o broche de flor que ganhou do noivo, Tigresa levava um fino véu vermelho que cobria seu rosto.

– Show! – Disse ele sem piscar, esboçando um enorme e belo sorriso.

Tigresa corou, agradecendo que sua pelagem e o véu escondiam e desceu as escadas até ficar de frente para ele.

Chegando ali, ambos serviram chá e bolinhos aos pais dela, como manda a tradição, como um pedido de permissão. Depois que o tigre mais velho e o panda vermelho terminaram de comer e beber, Hui segurou Tigresa no colo para coloca-la dentro da carruagem.

– A noiva não pode tocar o chão até chegar ao local da cerimônia – lembrou ele e depois de colocar a felina sentada, levantou o véu e deu-lhe um beijo na marca centra de sua testa – eu te amo muito, Lin e você está linda.

– Obrigada, pai - sorriu.

A porta se fechou e então os pandas acompanhantes de Jing-Quo a transportaram escadas a baixo, sendo seguidos de perto pelos outros.

Já no vale, Tigresa saiu com a ajuda de Hui Nuan e Shifu foi para seu lugar, para tocar na entrada da noiva.

Ao sair, ela viu como tudo estava sendo iluminado pelas várias lanternas vermelhas penduradas por fitas amarelas e cor-de-rosa. Olhou para o altar, onde o noivo já se encontrava sorrindo para ela, e viu que Louva-a-Deus que estava em um banquinho para ser melhor ouvido. Atrás do inseto havia algo parecido com um portão dourado e suas barras faziam desenhos de espirais. Ele estava enfeitado com fitas e lírios-tigre que ela tanto gostou.

– Tigresa, aqui – disse alguém.

Ao olhar, era Víbora estendendo à felina o buquê de flores de pessegueiro e alguns lírios dos mesmos que enfeitavam a grade atrás do altar.

Ela começou a percorrer o caminho entre os bancos, que tinha várias pétalas de pessegueiro, ao som da flauta de bambu que seu pai adotivo e mestre tocava. Seus amigos na primeira fileira junto aos pais e amigos de Po estavam emocionados.

Hui Nuan a entregou à Po, não sem antes beijar a pata de sua filha e sorrir a ela. Shifu deixou de tocar e se dirigiu a seu lugar junto ao tigre.

Ao tomar sua noiva pelas patas, Po a guiou até mais próximo do altar. Primeiramente, eles prestam uma homenagem ao céu e a terra e logo após, servem chá de lótus para os pais do noivo que estavam numa mesa do lado direito do altar.

Agora o mestre de cerimônias poderia dar início.

– Olá amigos – começou Louva-a-Deus - aqui estamos para presenciar a união dessas duas almas unidas por um laço inquebrável que é o amor, mìngyùn de hóng shén, a corda vermelha do destino que liga cada um de nós à suas almas gêmeas.

Enquanto seu amigo falava, ambos não tiravam os olhos um do outro e não apagavam o sorriso. Os belos verdes dele nos luminosos âmbares dela, era algo quase... mágico.

– Agora os juramentos.

– Você é minha metade. Eu, Ping Po, juro amar, proteger, zelar, respeitar e honrar você como minha esposa até o fim.

– Você é o que me completa. Eu, Tigresa, juro amar, proteger, zelar, respeitar e honrar você como meu esposo até o fim.

Enquanto Louva-a-Deus enxugava seus olhos disfarçadamente, as pessoas presentes suspiraram com as juras.

Eles fazem reverência um ao outro e bebem vinho do mesmo copo, depois um entrega ao outro açúcar moldado em forma de galo. Isso completa a cerimônia.

– Agora, é hora de servir os pais.

Ambos tomaram as taças, cada um com uma, e se ajoelham primeiramente diante dos pais de Po e depois dos pais de Tigresa, sempre dos mais velhos para os mais novos e todos sentados, diferentemente dos noivos.

Quando os dois se levantam, os convidados aplaudem o novo casal.

É hora da pintura e o responsável é nada mais, nada menos do que Mestre Garça. Até isso ele quis fazer. Pinta ambos os noivos parados em frente ao altar como recordação desse dia tão feliz.

Na hora da recepção, antes de cortar o bolo, mestre Shifu faria um discurso que preparou para a ocasião, em honra aos noivos.

– Jamais pensei que algum dia eu veria minha filha escolher alguém com quem passar toda a vida. É algo emocionante e... é por isso que quero dizer algumas palavras sobre essa ligação especial que vocês tem, que é o amor.

Os noivos se acomodaram à mesa principal e ficaram abraçados para escutar seu mestre. Ele prosseguiu:

– O amor é sempre paciente e generoso. Nunca é invejoso. O amor nunca é prepotente nem orgulhoso. Não é rude nem egoísta. Não se ofende nem se recente do mal. Não se alegra do pecado alheio, mas regozija com a verdade. E tudo perdoa, tudo crê, e tudo espera e tudo tolera. Seja o que vier.

Aplausos seguiram o discurso do mestre que, disfarçando lágrimas, foi se sentar.

O casal tomou uma faca para cortar o bolo gigantesco. Os bolos de casamento chineses tem várias camadas, isso simboliza que o casal irá subir até o sucesso e para garantir, se corta o bolo de baixo para cima. Foi o que os dois guerreiros fizeram.

Tigresa trocou de vestido no antigo quarto de Po, no restaurante, colocando aquele verde escuro que ele lhe dera de presente de casamento. Eles receberam os presentes de quem pôde e quis dar. O bolo foi servido, houve dança, música e animação durante as horas seguintes.

Mais tarde, despedindo-se dos convidados, os noivos foram para seu novo quarto no palácio de jade e ele foi previamente preparado pelos trabalhadores.

Havia velas acesas, com dragões e fênix, que eram para espantar os maus espíritos. Abriram a porta. O quarto era simples, tinha lençóis, cobertores e travesseiros vermelhos, assim como as cortinas.

Os dois trocaram suas vestes formais por mais confortáveis. Embora parecesse um vestido, a camisola nova de Tigresa era melhor do que a roupa de treino, e sua antiga, já não estava em bom estado, nem se quer de uso.

“Eu preciso de roupas novas pra dormir, e logo”, pensou ela se trocando.

Po colocou uma calça folgada como as que costumava usar, mas essa não tinha remendos, justamente porque agora comprou uma do seu tamanho.

A um lado, repararam em uma mesinha com duas taças ligadas por um fio vermelho e um jarro de vinho.

– Agora a gente tem que tomar isso – disse Po abrindo servindo as taças – com os braços entrelaçados. Assim né? – Perguntou entrelaçando o braço direito dele com o de Tigresa.

– Acho que sim – disse rindo – é o voto de casamento formal.

– Você sabe mais do que eu sobre isso, he he.

– Não exatamente, passei os últimos dias aprendendo algumas coisas, outras, só soube hoje – sorriu a felina – eu te amo, Po.

– Também te amo, Ti.

Assim começou a noite mágica para ambos.

Desfrutariam de seus momentos juntos de agora em diante, mais do que nunca. E na verdade, precisariam estar unidos para enfrentar a tempestade que se aproximava.

Para os dois apaixonados, ainda não havia sinal dela no horizonte, então a frase certa para o momento era...

“...que seja infinito enquanto dure”.


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Notas finais do capítulo

A parte romântica da coisa eu fiz ouvindo a música "A Carta" da banda Legião Urbana.
Não sei se repararam que eu usei um pequeno trecho de Um Amor Pra Recordar de Nicholas Sparks e a última frase é do Soneto de Fidelidade de Vinícius de Moraes.

Espero sinceramente que tenham gostado e podem falar à vontade do Fa Huo, eu sei que vocês querem hahaha.
Comentem com suas dúvidas, críticas, elogios... me digam o que acharam.

Até mais. o/