O Verdadeiro Lar - A Luz De Safira escrita por Yui


Capítulo 4
A Tradição


Notas iniciais do capítulo

Bem, me desculpem a demora. Diversas coisas me impediam (entre elas um bloqueio chato), mas estou de volta com mais um capítulo e logo vou atualizar A Escolha de um Guerreiro também.

Referente ao capítulo de hoje, eu tô trazendo pra vocês como seria um casamento chinês tradicional. Pesquisei e ele é feito assim, em várias partes e aqui está a primeira.
Hoje em dia eles agregam também o estilo ocidental, mas eu não deixei isso interferir muito porque achei lindo o modo oriental e também, acho que antigamente nem sabiam sobre o nosso jeito.

Boa leitura. o/



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- Mãe, vou sair, preciso esperar uma pessoa – avisou o Hai Li.

Ele já estava saindo com uma flor na para e se virou ao ouvir a voz da mãe.

- Mas quem é, meu filho? É aquela garota que você me falou ontem? – Perguntou a mãe saindo detrás das cestas com flores, com as quais fazia arranjos para os fregueses.

- Sim, é ela – voltou a vê-la com um sorriso bobo – vou encontrar com ela de novo.

A leopardo mais velha largou as flores em uma bancada, terminaria de arrumá-las depois. Apoiou uma das patas ao lado delas e a outra em seus próprios quadris e olhou para o filho com malícia.

- Você ainda não me contou o nome dela – sorriu – é só uma aventura ou você vai levar à sério?

- Mãe! Olha, a senhora sabe que eu passei da fase de tentar conquistar todas. Eu cresci e apesar de só ter visto essa garota uma vez, eu achei ela linda e... acho que tô apaixonado por ela – sorriu e soltou um suspiro sonhador.

- Ah, que lindo! – Disse outra voz feminina que destilava veneno em seu tom.

Ao olhar para a entrada da loja, era uma pantera negra com cara de poucos amigos.

- Ah, o que você quer Rin? – Perguntou Hai de má vontade.

- Nossa, bom dia pra você também, tá? Vim comprar flores para minha mãe. Vamos enfeitar nossa casa, é sempre bom.

- Isso mesmo – disse a mãe de

- Bem, vou indo.

Saiu correndo antes que Rin falasse alguma coisa, mas conseguiu ouvir a última frase.

- Espero que ela não te machuque como você fez comigo!

-

Ayra tinha algo a fazer novamente. Pediu sigilo à irmã e à babá e se foi novamente ao mercado. Deveria se encontrar com o macho que a conheceu e contar, resolver seu pequeno problema.

Deveria dizer que era da realeza e dar um bom dinheiro para que Hai Li não contasse à ninguém sobre isso.

“Será que vou conseguir? Ai, que encrenca fui me meter. Por que tive que sair aquele dia?”, pensava ela segurando firmemente seu capuz passando pelas ruas até chegar ao lugar em que ela e o jovem se conheceram. Se resolvesse isso logo, não teria que temer o que os membros do conselho falariam à seu pai quando este regressasse.

Viu que várias pessoas dirigiam seu olhar a ela, a pessoa estranha que aparecera dois dias seguidos se dirigindo pela mesma rua, pra onde ninguém prestava atenção. Ela se sentia observada, mas sabia que eram apenas os olhos dos comerciantes e compradores.

Chegou à floricultura e tentou encontrar o leopardo apenas com o olhar, abrindo um pouco a boca durante a observação.

- Olá, querida, procurando alguma flor em especial?

- Sim, ah... digo, não... ha ha – sorriu ela nervosa e reparou que era examinada por outra felina, então simplesmente a ignorou e prosseguiu conversando com a atenciosa vendedora – estou procurando Hai Li, ele está?

- Ah, meu filho! Ele acabou de sair...

- Foi se encontrar com alguma gata nojenta – respondeu Rin revirando os olhos e interrompendo a mãe de Hai Li.

“Ele foi mesmo me encontrar”, pensou Ayra formando um leve sorriso que não agradou Rin.

- Por que quer saber dele?

- Rin, vocês não tem mais nada, não fale assim com a jovem – reprovou a atitude da pantera negra e virou-se para encarar a estranha - ele foi encontrar com alguém. Quer deixar recado? – Continuou a leopardo atenciosamente.

- Ah, não. Não será necessário, é a mim que ele foi encontrar... com licença.

- Então você é a garota misteriosa que meu filho fala desde ontem? A que gostou das flores especiais?

- Acho que sim – sorriu ela por baixo do capuz feito com o lenço de sua babá. “Não acredito que ele já falou de mim”.

- Ele ainda não me disse o seu nome, mas a elogiou muito. Eu gostaria de saber e conhecer o rosto da jovem que encantou meu rapaz.

- Ah, por favor, eu tenho que ir. Depois, talvez, me conheçam melhor. Adeus – e dito isso, correu para o local onde certamente Hai Li esperava por ela.

A sorte de Ayra era que ninguém sabia ao certo o nome das princesas e nem sua espécie. Só não poderia deixar que ninguém, exceto Hai Li, a visse sem seu disfarce, ou na coroação, tudo estaria perdido.

-

No vale da Paz, a luz do sol já iluminava tudo, porém, havia algumas nuvens no céu, o que indicava uma possível nevasca ali ou próximo. O inverno não estava tão ruim, já passara o festival, ao qual o Dragão Guerreiro não se fez presente, porque foi seu primeiro junto à Jing-Quo. Sr. Ping havia ficado para preparar sua sopa aos Cinco Furiosos, os demais mestres de kung fu e os amigos do vale. Mas agora, estavam todos reunidos e apenas faltavam 7 dias para uma importante data.

Os guerreiros estavam treinando, até mesmo Po, mas apenas uma parte do dia seria reservada a isso. O restante seria direcionado aos preparativos do casamento.

Hui Nuan assistia o treino da filha, era tão lindo vê-la treinar. Ela sabia exatamente que movimentos fazer, para qual direção olhar e jamais duvidava, mesmo quando era um treino de luta corpo-a-corpo com o próprio noivo. Ela não tinha piedade, ele tem que treinar duro para defendê-la e à sua descendência.

“O bom para ambos é que as velhas leis dos clãs já não interferem em casamentos entre espécies distintas”, pensou o tigre mais velho. “Caso contrário, eles não poderiam se casar.”

Ele se lembrava muito bem de que seu avô contava sobre vários casais fugitivos para ter uma vida boa longe das leis preconceituosas e severas de um antigo governante de uma espécie já extinta. Era um dragão negro e vermelho, um dos mais poderosos que comandava a China e não permitia a formação dos chamados “impuros”, assim como os conservadores dos clãs, que acatavam as ordens de exterminar e acabar com as crias nascidas entre isso.

A manhã passava e Mestre Shifu pediu que Po fosse fazer a sua parte nos dias antes do casamento. O panda fez kin lai aos mestres e saiu disposto a cumprir com sua parte.

- Que parte é essa, mestre? – Perguntou Tigresa antes de voltar ao treinamento.

- Você vai ver logo, Tigresa – ele sorriu, então deixando que os outros voltassem a seus afazeres.

Po desceu as para o pátio escadas levando os pandas que viajaram com ele para buscar as caixas deixadas num depósito onde os funcionários guardavam de tudo.

- Tigresa, vá para seu quarto com Víbora. Vou dar instruções à eles e já vou também.

- Sim, mestre – disseram ambas se curvando e saíram.

Já no quarto, ambas aguardavam que seu mestre chegasse e passado alguns minutos de silêncio...

- Víbora?

- Hm?

- O que será que querem fazer? – Perguntou a felina que estava sentada em sua cama e sua cauda se sacudia sem parar por nervosismo.

- Bem, vão trazer algumas coisas pra você. É a tradição. O noivo deve presentear a noiva com objetos pessoais e o que mais ele achar melhor e deve ser antes do casamento.

- Entendi.

Enquanto isso, subindo as escadas rumo à ala dos estudantes, estavam Po e Shifu ajudando os pandas a levar os presentes. Como Jing-Quo tinha posses, pelas quais batalhou sua vida toda, pôde dar algumas delas para que Po pudesse comprar presentes dignos da esposa do Dragão Guerreiro, mesmo que o panda se recusasse por não querer abusar da hospitalidade do pai, mas acabou cedendo.

- Po.

- Sim, mestre.

- Quando vai contar à ela sobre o trato com os mestres do conselho?

- Não penso em contar. Parece difícil que a gente possa ter filhos e nem nos casamos ainda, mestre.

- Creio que é melhor que conte – disse Shifu em tom sério parando e impedindo que os outros pandas prosseguissem. Deveria terminar essa conversa antes que chegassem perto o suficiente para que Tigresa escutasse – eu temo que, a natureza seja muito imprevisível, Po. Nunca se sabe o que ela pode fazer e seria bom que contasse para que ela ficasse preparada. Posso estar errado, não possuo a mesma sabedoria de Oogway, mas não sinto que deva esconder isso e...

- Não se preocupe, mestre. Não vai acontecer nada e eu vou cuidar dela, mesmo que isso custe a minha vida.

Mestre Shifu olhou para frente esperando que o panda entrasse, temendo pelo futuro. Se seu sonho era uma visão, o fato de Po não contar à Tigresa sobre esse trato, seria algo muito ruim.

Mas o panda gigante impediu que ele contasse sobre sua suspeita. Dando de ombros, os dois entraram. Hui Nuan chegou um pouco depois, quando ambos acabavam de entrar com os presentes para a felina.

Saudaram ali os parentes da noiva e a amiga e se retiraram para que ela pudesse ver os presentes, que Po havia escolhido para ela.

- Abre essa caixinha primeiro – disse Víbora levando a caixa às patas de Tigresa.

Era uma pequena caixa vermelha com uma fita dourada amarrada e formando um belo laço, como todas as outras. A felina a abriu e dentro havia um broche em forma de flor feito de jade com adornos dourados e com ele, veio uma nota, que ela leu para si mesma.

“Espero que goste dele, eu mesmo o fiz. Imagino que ficará linda com ele, mais do que já é. E espero que seus pais não fiquem bravos com alguns dos outros presentes que eu comprei.

Te amo.

Po”

Ela pôde muito bem imaginar a expressão de Po preocupado com o mestre e o tigre mais velho ficando zangados com algo que ele lhe dera.

“O que será que é?”, pensou Tigresa tomando outra caixa pequena nas patas.

Ao abrir essa caixa, descobriu, já que com o que retirou, Shifu teve um tique de olho e a boca aberta e Hui Nuan se pôs em choque com os olhos extremamente abertos.

Era uma camisola branca de seda e com rendas. Tigresa ficou corada ao ponto de sua pelagem não esconder, enquanto Víbora ria, mas parou ao ver o mestre pronto para sair da sala.

- Mestre. Daqui a alguns dias eles estarão casados – lembrou a serpente, fazendo Shifu soltar um grande e profundo suspiro.

- Acho que depois dessa sessão de presentes, vou meditar.

Tigresa guardou o presente de volta na caixa e pegou o próximo a ser aberto, que lhe foi entregue por Hui Nuan. Uma caixa um pouco maior e quando abriu, havia um lindo vestido verde escuro que tinha à mostra algumas partes do que parecia uma peça interior que era branca. Na parte exterior os detalhes eram em verde claro, com dragões e pétalas de pessegueiro bordados próximos à bainha do vestido e das longas mangas do q’pao que iam em direção ao centro dele. Ela retirou a fita verde claro que deveria ser usada por cima do vestido abaixo do busto. Junto a ele, havia uma peça de sobreposição que era de um tecido transparente do mesmo verde claro dos bordados.

- Esse vestido é lindo – disse ela examinando as peças.

- Nosso genro tem bom gosto – brincou Hui com um sorriso – melhor do que a família do noivo que eu arranjei pra você quando nasceu.

- Ela ia ter um casamento arranjado? – Perguntou Shifu.

- Sim, membros da realeza tem, embora exista exceções, eu e a mãe dela decidimos que seria o melhor por conta de a família do ex noivo dela serem nossos amigos.

- Quem era ele?

- Não importa, o acordo foi desfeito. Mesmo sabendo da existência dela, a família não veio me procurar e eu não sou mais imperador. Duvido que ainda interesse a eles.

- Vamos esquecer isso. Já estou noiva e mesmo que ainda queiram cumprir esse acordo, será impossível. Porque se tem uma coisa que eu sei, quando os rituais começam a ser realizados, ninguém pode voltar atrás e já começamos. Os presentes estão aqui e vamos escolher a cama amanhã.

- É verdade, minha filha – disse Hui – vamos ver esse... aqui – passou uma caixa a ela.

Entre as escovas e broches para a pelagem, os vestidos, roupas de cama e perfume que Po escolhera para a noiva, o restante da manhã passou.

Os outros pandas estavam praticando Tai Chi junto à Jing-Quo e logo desceriam para comer no restaurante de Sr. Ping e conhecer o resto da vila. O Dragão Guerreiro estava ainda treinando. Dessa vez seu combate seria com Macaco e Louva-a-Deus estava como árbitro. Nunca conseguia terminar os treinamentos porque, volta e meia, Garça perguntava algo sobre como deveriam ser as coisas da cerimônia, o que Po gostaria de comer, entre outras coisas.

-

Em uma colina próxima, fora dos limites da cidade proibida, Ayra estava com Hai Li. Estavam sentados um ao lado do outro e ela ganhou dele a outra flor, do mesmo tipo que ela disse que se apaixonou.

Ele não a deixou falar o que queria. Passou a manhã toda conversando com ela sobre as flores e sinceramente, ela nem se importava com o fato de não resolver o que queria. Já havia esquecido que Xue deveria encobrir sua escapada, mas logo não poderia mais disfarçar.

Voltou ao palácio depois de um dia inteiro conversando com o leopardo, sem conseguir dizer a verdade. Ele era tão doce, tão gentil com ela, tão feliz e não queria estragar a amizade que ele já garantia que sentia por ela.

Fa Huo voltou a oferecer ajuda a ela, mas ela mais uma vez se recusou. Esse urso idiota já estava tirando a paciência da princesa e ela não era de se irritar tão fácil, Xue que o diga. Pra tirar a paciência da irmã, a pantera mais jovem tinha que se esforçar ao máximo.

O dia seguinte chegou e enquanto no Palácio de Jade, era a vez de Po receber seus presentes pessoais (entre eles, roupas novas feitas especialmente para ele, toalhas, armas com seu nome gravado) de sua noiva, que os entregou embrulhados em papel vermelho, como pedia o costume, na cidade proibida, Ayra escapava mais uma vez. Vestida como uma criada novamente, se encontrou com ele no mesmo lugar, mas dessa vez, ao fim da tarde.

-... é dessa forma que minha família cultiva flores tão especiais. Você deveria conhecê-los.

- Mas por quê? – Perguntou ela com uma sobrancelha levantada e um pouco confusa.

- Porque... acho que ainda é cedo, mas, eu... sinto que... eu sinto algo por você.

- Algo... ? – Perguntou ela apesar do choque.

- Não sei ainda, mas gosto de ficar com você, de conversar, quando você me insulta, quando corta o que estou falando...

- Quando corto assim?

- É, bem isso – riu – e eu gostaria que você me cortasse também de outro jeito.

- E que jeito seria esse? – Perguntou ela fingindo não entender.

- Bem, como é que eu vou explicar? É, acho que...

Não terminou de falar.

Hai Li foi imediatamente interrompido por um beijo de Ayra. O leopardo foi tomado pela surpresa, mas logo de uns segundos, seguiu a ação dela e a abraçou.

A jovem pantera branca fez o que fez sem pensar em mais nada. Foi inconsequente de sua parte, mas quando percebeu, já era tarde demais. Resolveu então aproveitar o momento, depois contaria à Hai Li sobre seu segredo.

- Nossa... acho que você entendeu como eu queria ser interrompido – sorriu o leopardo.

- Bem, sou uma pessoa inteligente e observadora, sabia? Tudo por causa do kung fu.

- Pra uma criada do palácio, você é bem treinada, não é qualquer criado que é assim, né?

- Pra falar a verdade... – abaixou a cabeça. Era agora ou nunca.

- O que foi? Pode me contar – disse Hai colocando suavemente a pata sob o queixo de Ayra para obrigá-la gentilmente a olhar para ele.

- Eu... não sou bem uma criada.

- Então o que você é? – Perguntou ele franzindo o cenho em confusão, enquanto ela engolia em seco.

- Eu sou a futura imperatriz.

- Ah, tá. E eu sou seu bobo da corte – brincou ele rindo, risada que parou quando a viu se levantar para partir – espera, o que foi?

- Você não acredita em mim – respondeu ela parando, ainda sem voltear para encará-lo -, vou embora e no dia da coroação, entre no palácio pra me ver e constatar que é verdade.

- Achei, que você tava brincando...

- Mas não estou.

Nesse momento, o leopardo se levantou para ficar de frente para Ayra e tomou a pata direita dela entre as suas enquanto ela pensava. “Droga! Só porque estava pensando em... ah, que ideia ridícula. Depois de eu ter escondido isso, ele nunca mais vai me querer.”

- Você não deveria ter escondido isso de mim – disse ele olhando para suas patas entrelaçadas assim como ela.

- Eu sei... me desculpe.

- Não tem problema. Acho que você teria medo de eu contar pra alguém sobre suas escapadas, especialmente pra ver um plebeu – no momento em que ele disse isso, ela ficou em choque, como se ele estivesse adivinhando seus pensamentos e motivos.

“O que ele vai querer pra ficar quieto?”, se perguntava Ayra.

- Você tem algum preço pra não contar à ninguém?

- O quê?! – Perguntou ele surpreso – acha que eu iria tirar proveito disso? Claro que não, não tiraria proveito. Sei que nos conhecemos há pouco tempo, mas não quero dinheiro.

- Então quer o quê?

- Só me responde uma coisa... você vai ter que se casar? E com quem?

- Não sei pra que quer saber disso, mas sim, vou ter que me casar e tenho algum tempo pra escolher com quem, caso contrário, escolherão por mim. É por isso que me encontrou daquele jeito quando nos conhecemos. A última coisa que eu quero é ter um casamento arranjado.

Hai Li mudou a direção do seu olhar para fugir dos dela, como se, na hora em que se encontrassem, fossem obrigá-lo a abrir a boca. Ele poderia ou não falar isso a ela, mas certamente, se não fosse agora, talvez nunca mais tivesse a oportunidade de se encontrar e dizer.

- Eu juro que a única coisa mais preciosa do que a minha família, é a bela pantera branca que eu conheci – respondeu Hai finalmente olhando para ela e acariciando a bochecha esquerda dela – eu não quero nada mais além de ainda poder te ver.

A felina branca abriu os olhos amplamente e depois, passado o choque, sorriu.

- Então, você me perdoa? Mesmo? E ainda me quer depois de tudo isso?

- Claro que sim – sorriu ele – só me resta saber se você também me quer e já sabe que não é por interesse.

- É verdade... hm – fingiu pensar, deixando o leopardo aflito e incrédulo. Depois de tudo que disseram um ao outro, ela ainda iria pensar? – Bem, eu quero sim. Claro que quero. Se depender de mim, te insulto pra sempre.

- E se depender de mim, quero responder aos insultos pra sempre – disse abraçando-a com força.

Decidiram que não importa como ou o quê, ficariam juntos. Ayra contaria assim que seu pai chegasse em casa e talvez anunciasse no momento da coroação, pouco se importando com o que eles iriam pensar. Quem iria se casar era ela, não é verdade?  Quem iria aturar e insultar Hai Li até o fim da vida era ela. Então, eles não tinham nada a ver com isso e sua família possuía autoridade suficiente para passar por cima do falatório que certamente fariam os membros do conselho imperial.

Ao voltar para o jantar, a jovem princesa, ao terminar de comer, levou a irmã a seu quarto para contar a novidade.

- Tá brincando?

- E eu brincaria com uma coisa assim?

- Ah, não sei né. Só espero que papai não fique bravo e que ninguém tente interferir.

- Credo, agora você falou como se fosse acontecer.

- Com a nossa condição social, isso é bem provável, além disso, acho que vai ter gente que não vai gostar. Apenas sinto.

- Vou tomar cuidado – deu um beijo na testa de Xue – agora fora do meu quarto que eu quero dormir e pensar em como contar à papai.

- Nossa, que amor, ein? Que isso? – Perguntava Xue sendo expulsa do quarto de Ayra, mas antes que a porta fosse fechada, colocou a pata – manda os guardas buscarem ele e a família dele quando o papai chegar. Assim você também conhece seus sogros – a porta bateu.

- Boa noite, Xue.

- Boa noite, Ayra... mal educada – a última parte disse em um sussurro.

- Eu ouvi, vai dormir.

Quando Xue fechou a porta de seu quarto, Fa Huo saiu de seu esconderijo. De alguma forma, pôde ouvir o que as irmãs falavam e talvez isso afetasse seus planos, ou servisse a eles.

De alguma forma, deveria conseguir a preciosa ajuda de seu amigo porque apenas desse modo, conseguiria o poder espiritual que buscava há anos.

Quem sabe, de alguma maneira, pudesse se aproveitar desse estranho que conquistou o coração de Xue? Só saberia quando Zhi voltasse e não entendeu até agora porque a demora, mas não importa. Com sua filha ali, conseguiria toda a ajuda possível para alcançar seus objetivos.

-

Os dias se passaram, Po e Tigresa escolheram tudo o que deveriam escolher juntos segundo a tradição (cama, roupa de cama, qual seria seu quarto no palácio) e os pais de Tigresa arrumaram as acomodações segundo as escolhas dela.

O grande dia estava chegando e mesmo com a pouca neve que havia caído, seria realizado. Segundo Garça, a neve dava um toque mais romântico ao cenário de casamento que ele planejava montar ao pé das escadas.

No dia anterior ao casamento, Po foi para a casa de Sr. Ping junto a seus amigos e Tigresa ficou no Palácio junto à Shifu, Hui Nuan, Víbora e Sra. Yun que levou seu vestido de noiva.

Agora, realizariam uma cerimônia que envolvia pentear e desembaraçar a pelagem, simbolizando que ambos entraram na vida adulta.

Tigresa saiu ao quintal do palácio com Víbora e Sra. Yun. A lua cheia estava em seu caminho para o centro do céu e como era inverno, ele estava limpo, as estrelas luziam. A lua lançava seu brilho azulado para a China e abençoaria a união de certa felina.

- Pra quê escovar meus pelos com a lua? Tá frio.

- Tigresa, não reclame – disse a serpente tratando de pegar de dentro da caixa a escova que Po deu à felina.

Era uma escova branca e na parte contrária às cerdas, tinha o desenho de uma única flor de pêssego com duas folhas e na borda da escova e do cabo, haviam pequenos filetes dourados.

- É simplesmente, menina, pra pedir que vocês dois tenham descendência – sorriu a cabra – cada escovadela trará a boa sorte à você e a primeira significa união de vocês do início ao fim – ao dizer isso Víbora escovou-a uma vez - a segunda, trás harmonia e verdade até o fim da vida – novamente, a serpente escovou a pelagem da amiga.

- A terceira, trará filhos e netos – disse Víbora escovando-a novamente – e a quarta e última, trás saúde e um casamento longo – a serpente terminou e entregou a escova à Tigresa.

A felina olhava fixamente para a lua com um sorriso no rosto, pedindo a ela e aos deuses que a abençoassem.

Po estava sendo escovado pelo pai ganso do mesmo modo. Enquanto Jing-Quo explicava ao filho o que significava todo aquele ritual, Sr. Ping não parava de chorar enquanto escovava a grossa pelagem do panda.

- Não acredito... que você vai... se casar amanhã – dizia o ganso entre uma e outra respiração para recuperar o fôlego – desculpe, é que isso é tão lindo, meu filho, meu pequeno panda, se casando. Pra me dar netos antes de morrer e poder partir pro mundo espiritual feliz.

- Pai, não fala isso! – Disse Po incômodo pelas palavras do idoso e virou-se para encará-lo com uma expressão de choque assim que terminou de ser escovado.

- Isso era pra trazer boa sorte, Sr. Ping, não fala assim – disse Macaco entre risadas.

- Têm razão.

- Ah, tô nervoso sabe – disse Po – tô ficando com fome, vou ver o que tem...

- Ah, ah, ah! Eu vejo o que tem pra comer e trago pra vocês. Me ajuda, Jing?

- Claro – respondeu o panda mais velho saindo pela porta do quarto de Po tentando não pisar em caudas, patas e antenas dos amigos do filho, já que o quarto estava lotado.

- Só que, depois vocês vão ter que pagar pela comida, é muita gente na minha casa pra eu alimentar, quando eu não consigo alimentar nem o Po – disse Sr. Ping já na escadinha.

- Pai!

- Tá bom, tá bom, meu filho. Dessa vez não precisam, só porque você vai se casar amanhã. Acho que estou ficando muito molenga com esses garotos – disse ele à Jing, fazendo com que Po e os demais mestres rissem pelo comentário.

Sr. Ping era assim e nunca iria mudar, coisa que agradava Po.

Mesmo em um momento importante ou delicado, ele seria sempre assim e sempre foi um bom pai, que era o que Po esperava poder ser um dia.

Mas no momento, deveria se importar com a preciosa felina, sua noiva, à qual se juntaria para viver juntos eternamente, em questão de horas. Estava nervoso, mas não como na véspera do casamento obrigatório com Ju, era diferente, dessa vez estava feliz e ansioso para que chegasse o momento para dizer o “sim”.


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Notas finais do capítulo

Bem, espero que tenham gostado e me perdoem. Logo, no máximo domingo, trago a segunda parte desse casamento tão esperado. (:
Deixem seus comentários com críticas, ideias, palpites sobre o que vai acontecer.
Por que o imperador Zhi está demorando? O que acham que Fa Huo planeja fazer usando Hai Li? A cerimônia de casamento vai dar certo?
É o que vamos ver.

Até mais. o/