Anelli Vongola escrita por reneev


Capítulo 10
O véu branco do pecador - parte 1


Notas iniciais do capítulo

capitulo dividido em duas partes.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/381605/chapter/10

Tudo era branco e gelado, o vento era forte e cortante, podia até se ver a cor dele, já que carregava flocos de gelo, congelando tudo por ali. Mas mesmo assim, seu corpo não tremia, caminhava com dificuldade, já que toda vez seus pés afundavam na espessa camada de neve formada, mas mesmo assim, se esforçava.

Não havia nada ali, e por mais que gritasse por alguém, tudo que se ouvia era seu eco e o barulho de uma avalanche em algum ponto. Se fosse fazer algo, era melhor procurar por alguém ou descobrir onde estava e porque estava lá. Parecia mais um sonho estranho do que qualquer outra coisa.

Outro vento cortante e debaixo de seus pés estava o que uma vez fora um lago. Ele se encontrava todo congelado, cercado por arvores que carregavam a neve branca sem reclamar. Pisou com cautela na água, vendo o fino gelo trincar, levando sue pé de volta onde estava.

O que lhe chamou a atenção foi o barulho de algo ser arranhado, e olhando mais adiante viu uma raposa ática tentando se equilibrar naquele gelo, suas garras arranhavam a camada solidificada, mas parou de se mover quando sentiu que era observada.

Entretanto aquele contato não durou muito, logo o gelo cedeu, começando a criar estriar e ir se repartindo. Formou-se um circulo por onde o animal estava e foi flutuando, batendo no que antes era uma coisa só, causando mais fissuras e deslocamentos.

O canino uivou e foi tentando saltar pelos outros blocos, acelerando ainda mais o processo de deslocamento, mas ele perdeu o equilíbrio em dado momento, caindo na água fria. Ele gritava, uivava alto e tentava voltar para a camada de gelo com suas unhas, mas aquilo só fazia com que se afundasse ainda mais.

O pequeno loiro arregalou seus olhos e sentia seu coração bater rápido, pulou naquelas camadas trincadas e foi correndo, sentindo tudo atrás de si se desfazendo. Parou na borda da calota mais próxima da raposa, mas ela já estava distante o bastante, mesmo assim se esticou todo, porém não a alcançou.

Seu ar faltou quando viu o animal se afundar, então fez o impensável. Pulou na água gelada.

Seus braços e pernas se moviam com dificuldade, ele não sabia nadar, na verdade, morria de medo de lugares com muita água. Ele tinha um trauma! Então por quê? Por que ele pulou na água que mais parecia mil agulhas lhe perfurando o corpo sem pensar? Por que não paralisou como todas as outras vezes?

Seria aquilo uma prova de que era um sonho? Será que a raposa representava alguém que ele queria salvar?

Já não enxergava mais nada. A luz não alcançava mais aquela região, mas mesmo assim continuou. Fechou seus olhos e esticou seu braço no ultimo esforço, sentindo o roçar de algo macio na ponta de seus dedos, fazendo com que abrisse os olhos novamente e desse um ultimo impulso para baixo, abraçando o corpo pequeno do animal.

Foi voltando para a superfície, só podendo contar com seus pés dessa vez, já que seus braços se encontravam ocupados no momento. Seu corpo foi ficando pesado, seus pulmões reclamaram, mas ver a luz outra vez lhe preencheu de esperanças.

Tratou de nadar mais forte, e assim, com seu ultimo folego, conseguiu alcançar a superfície. Jogou o canino em uma placa de gelo e subiu em seguida, tossindo e respirando com muita dificuldade. Seu corpo estava cansado, caindo deitado ali mesmo enquanto tentava recuperar o folego.

Foi então que percebeu que o animal não respirava mais. Assustou-se com aquilo e todo o cansaço pareceu sumir. Ajoelhou-se no gelo e trouxe a apossa mais próxima de si. Balançou ela e lagrimas insistiam em querer escorrer.

– Ei... acorde... Por favor... acorde... Eu prometo não te abandonar... Então pro favor... acorde...

Uma lagrima caiu no pelo branco e molhado, e em um ato desesperado, fez um boca a boca com o ser de outra espécie. Fez a massagem cardíaca que via centenas de vezes no filme e continuava a chorar. Abraçou o corpo gelado como ultimo recurso. Seus olhos ardiam e seu corpo tremia.

O som de água caindo lhe chamou a atenção, assim como algo se enchendo de ar afastou brevemente seus braços. Os olhos negros do animal encaram os seus azuis, e este lambeu seu rosto antes de se afastar e sair correndo.

O loiro sorriu de leve, mas todo seu corpo pesava, o obrigando a cair no gelo com os olhos fechados, sem sentir mais frio.

Acordou. Ali mesmo em seu quarto. Com um grosso cobertor lhe fazendo companhia. O rapaz de espreguiçou todo, assim como um gato, antes de se levantar.

O loiro estrangeiro abriu a janela sentindo o vento frio tocar seu corpo quente, fazendo com que se arrepiasse e voltasse a fechar os vidros. A meia abafava seus passos, que eram dados calmamente até o outro cômodo, onde um filhote de gato branco se encontrava tomando um pouco de leite e uma ave negra olhava o felino parecendo curiosa.

– Bom dia, Nero(1), Belyy (2)

O pequeno acariciou as penas escuras da ave, tomando cuidado para não tocar nos ferimentos do corvo, sentindo o animal albino com ciúmes, começando a se enroscar em suas pernas ronronando. Pablo abaixou-se e pegou o gato no colo, para logo em seguida coloca-lo no balcão, onde o outro animal estava.

Aquele apartamento era minúsculo, mas bom o suficiente para uma única pessoa. Ele pegou uma fruta na despensa e a abriu, deixando a ave degustando enquanto pegava um peixe na geladeira e dava ao felino, que começou a saboreá-lo.

Deixou aqueles dois para trás, voltando para o quarto começando a retirar suas roupas, procurando pelo uniforme escolar. Antes de sair de casa, prometeu a Sato que não se atrasaria para as aulas, o moreno quase o intimou para que fizesse isso, caso contrario, não permitiria que partisse.

O russo riu de leve, tentando entender porque não odiava as ações do mais velho. Começou a se trocar, olhando a calça em suas mãos. Ele suspirou e colocou a peça tão estranha para si.

X-X-X-X-X-X-X-X-X-X

Giulia abriu seus olhos devagar, não reconheceu a principio onde estava, mas logo alguém tapou a claridade da luz, se prostrando sobre ela e jogando uma luz em seu olho e depois no outro, começando a examina-la, então pôde entender a situação.

As lembranças da batalha foi voltando aos poucos, ela já não se sentia mais fraca, tanto que tapeou a mão daquele médico e sentou-se na maca pronta para sair dali. Em um sofá do quarto estava uma garota platina dormindo de pernas e braços cruzados. Mesmo dormindo ela parecia assustadora, já que carregava um semblante carrancudo, e isso fez a morena soltar um risinho, que pareceu ser o bastante para os olhos vermelhos se encontrarem com os azuis da paciente.

Ambas ficaram se encarando, até a platinada dar um sorriso sarcástico, que lhe era característico e se espreguiçar, chegando a se levantar do estofado.

– Vejo que a princesa acordou... juro que tentei dar um beijo de amor verdadeiro, mas as enfermeiras não deixaram.

Ela deu de ombros e soltou um suspiro, como se estivesse derrotada, mas a guardiã da tempestade apenas jogou um travesseiro na sua companheira de batalha.

– Senhorita Takashima –a voz grave do homem fez as duas garotas olharem para o médico, com semblantes nada contentes – Antes de te liberar preciso que faça alguns exames...

– exames? Estou perfeitamente bem!

– relaxa G... Todos tivemos que fazer...

E então a morena reparou direito na outra. Ela estava com o corpo todo coberto, mas toda vez que se movia parecia fazer uma careta de dor. Giulia começando a respirar fundo ao lembrar-se do guardião do trovão que levou um golpe na cabeça e um nas costas por sua culpa.

– E o Ryuji?

Aquele nome fez uma sensação de ciúmes percorrer o peito da platinada, que apenas revirou os olhos e foi se retirando do lugar.

– Morto, se tiver sorte.

Porque caso não estivesse, Misth se encarregaria de se livrar de qualquer possível concorrência.

X-X-X-X-X-X-X-X

Mesmo com todos dizendo para o portador da chama do céu que descansasse, inclusive seu pai, melhor dizendo: principalmente seu pai; Sato foi às aulas naquele dia. Seu braço foi completamente imobilizado e levou três pontos no ombro, e estava todo dolorido, mas mesmo assim se esforçou para comparecer as atividades escolares, mesmo que seu objetivo não fosse exatamente o estudo, mas sim ver se um certo ex morador de sua casa estava cumprindo o trato, e aquele era o primeiro dia depois da mudança, teria ver com seus próprios olhos.

Olhou o relógio assim que atravessou os portões, vendo que não se atrasou. Era estranho não chegar mais atrasado, ou ter que ir correndo carregando certo loiro. Sua respiração estava normal, e não ofegante, suas roupas estavam alinhadas, e não toda torta e amaçada por brigar com alguém e tentar segura-lo enquanto corria.

Sorriu minimamente com tais lembranças, começando a adentrar e procurar aquele que povoava seus pensamentos, mas nada encontrou. Pensou em ligar para ele, mas antes que pudesse alcançar seu celular, viu aquele belo loiro entrar e milagrosamente de calças.

Acabou sorrindo sem perceber e esperou o outro lhe notar. Reparou em como os olhos de cor clara ficaram duas bolas azuis ao lhe ver e vir correndo em sua direção parecendo preocupado. O pequeno loiro tocou em seu braço, fazendo com que o guardião do céu fizesse uma careta, levando o russo a se afastar um pouco, parecendo choroso.

– O que houve?

O moreno não podia dizer que ganhou aquele ferimento em uma batalha, mas ao mesmo tempo não queria mentir. Era uma confusão, tanto que a única coisa que ele fez foi rir um pouco e bagunçar os fios loiros.

– Eu fui bem descuidado.

Aquela resposta deixou o estrangeiro irritado, fazendo com que chutasse o futuro chefe da máfia, que acabou reclamando da dor e levando a mão que não estava imobilizada ao recente machucado. Entretanto, não pôde reclamar, já que viu as bochechas infladas, deixando o baixinho com uma maior aparência infantil do que ele já possuía.

– É só eu tirar meus olhos de você, e isso acontece?!

Suspirou irritado o loiro, que pareceu não insistir em uma verdade, mesmo não se contentando com a resposta há pouco. Ele sentou-se em um dos bancos espalhados pelo pátio e deixou sua visão presa no horizonte, não se incomodando em olhar o maior sentando-se ao seu lado.

– Conseguiu se acomodar bem...?

Tentou iniciar uma conversa o moreno, mesmo que estivesse um pouco desconfortável e querendo dizer para o russo voltar para debaixo dos seus olhos. Porém, com suas recentes atividades, era mais seguro mantê-lo distante, mesmo que esses pensamentos o entristecessem de uma forma que não sabia explicar. Já considerava aquele pequeno gato rebelde parte de sua vida, e mesmo que fosse por pouco tempo, o loiro fez uma bagunça tão grande em sua vida que era estranho voltar à calmaria.

Calmaria se desconsiderasse toda a parte da máfia, é claro.

– Não... o lugar está todo empoeirado... e tive que fazer comprar já que não tinha o que comer... E comer fora é bem caro.

Suspirou cansado o pequeno, trazendo os pés para o banco e abraçando suas próprias pernas, escondendo o belo rosto entre os joelhos. O moreno apenas o observava, para depois olhar para as arvores quase sem folhagem, mas as poucas folhas que sobravam, estavam completamente secas e marrões. Nem parecia que há poucos dias fazia um calor terrível causado por dois certos príncipes, da mesma forma que nem parecia o meio do outono, por causa das temperaturas tão mais baixas que o usual.

– Não encontrou nenhum short hoje?

Fez graça o portador da chama do céu, recebendo um tapinha em seu braço ferido, causando um contido grito de dor de sua parte. Olhou de soslaio para o menor, reparando que o braço que antes estava esticado para lhe atingir, tombou do lado seu torso, e como em câmera lenta, viu o corpo deste caindo.

Tudo que pode fazer foi tentar segura-lo com seu braço bom, e mesmo debaixo daquele grosso moletom, pode sentir o quão gelado este estava.

X-X-X-X-X-X-X-X-X

O céu brilhava forte acima de si, fazendo com que o milionário sentisse como se toda sua pele estivesse sendo queimada. Tentava procurar uma sombra, mas toda vez era empurrado por um mal humorado marujo, que lhe davam ordens de limpar algum lugar, mesmo que tivesse acabado de limpar estes.

Foi arrastando suas pernas, assim como o balde cheio de água, e encontrou aquele capitão olhando para algo em sua palma da mão, parecendo completamente perdido em pensamentos, enquanto uma brisa quente ameaçava retirar seu chapéu e levantava seus longos fios negros.

Poderia ficar horas ali, esperando ser notado, mas os olhos azuis deste encontraram com os seus, e rapidamente o tal objeto admirado foi guardado e a sola da bota batia na madeira enquanto o maior caminhava em sua direção.

– Se continuar jogando tanta água assim e tantas vezes, a madeira vai estragar... Vou retirar de seu salario as reformas.

O capitão disse de forma calma, o que era extremamente raro, parecendo cansado. Até seu andar era arrastado, por pouco não caiu nas escadas, isso porque o colegial segurou-o ainda assustado por ver alguém tão forte quanto aquele homem naquele estado.

– Ei, aguente firme!

O mais velho apenas sorriu de canto e abaixou um pouco mais o chapéu, ocultando sua face.

– Me leve até meus aposentos...

E assim, o guardião da chuva foi escoltando o dono daquele navio até seu quarto, o depositou na cama e tratou de encher um copo de água, na qual uma garrafa se encontrava no criado mudo, oferecendo para o maior, que aceitou e foi bebendo tremendo muito, quase deixando o vidro cair.

Este deitou na cama, deixando o milionário o olhando assustado e perguntando o que estava acontecendo.

– Não estou morrendo... É só...

– Um mal estar?

Completou o mais jovem, enquanto retirava o copo das mãos do outro e depositando novamente no objeto de madeira. O capitão apenas sorriu de leve e virou-se novamente na cama encarando o portador da chama azul.

– Você é péssimo em tudo o que faz...

Aquilo irritou o estrangeiro, que já estava prestes a começar uma briga, mas o outro se adiantou enquanto fechava seus olhos e se ajeitava melhor no travesseiro.

– Não vou deixar que diga que esteve no meu navio se luta com tão baixo nível... Irei lhe treinar... E quando voltar para seu mundo... ninguém conseguira te parar...

Sorriu de canto, deixando o menor estupefato e petrificado. Não pôde ouvir nem dizer mais nada uma vez que foi carregado para os braços de Orfeu.

X-X-X-X-X-X-X-X-X

A sensação era de estar flutuando na água. Seu corpo estava leve e tudo estava escuro. Era difícil abrir seus olhos, como se estivesse entrando em um sono profundo. Seu corpo não reclamava e sua mente insistia em dizer como aquela sensação era boa.

Começou a sentir um forte cheiro de grama recém-cortada, assim como o barulho e o toque do vento, sentia uma luz fraca lhe aquecer a pele e atravessar suas pálpebras, que nem por isso se abriram.

A sensação de estar flutuando passou, e sentiu o pinicar das folhas, e algo macio. Parecia que sua cabeça estava apoiada em um colo, era quente e reconfortante.

Seus fios loiros foram acariciados, e uma voz doce e feminina soou, não reconheceu aquele timbre, mas não se importou ser uma estranha a lhe tocar. Tudo parecia um doce sonho, um daqueles em que não se quer acordar, como se lá fosse melhor que a realidade.

– Acorde Ryuji, estão precisando de você.

Sentiu um beijo em sua testa e novamente a percepção de estar flutuando, só que dessa vez em direção da luz.

Seus olhos bicolores se abriram rapidamente, como se estivesse assustado, mas logo teve que os fecha-los por causa da violenta claridade que estava aquele ambiente. Após uma relativamente rápida recuperação, olhou ao redor vendo uma sala branca e que estava em uma maca. Seu peito, braços e cabeça estavam enfaixados, o fazendo se perguntar como fora parar ali.

Mas logo a porta se abriu, entrando uma bela enfermeira, onde o guardião do trovão não pode deixar de sorrir e jogar uma de suas ‘’infalíveis’’ cantadas.

X-X-X-X-X-X-X-X-X-X-X

– Parece feliz... algo aconteceu?

Uma ruiva perguntou, enquanto se sentava em uma cadeira de metal, olhando a mulher a sua frente que tomava um café com um sorriso irritante e cantarolando uma música mais irritante ainda.

– Pareço? Que coisa!

Cantarolou a ultima parte, deixando as pernas em cima da mesa de metal, relevando as pernas cobertas apenas por uma meia fina preta e os saltos altos da mesma tonalidade. O vestido era curto e azul escuro, a única coisa que parecia aquecer aquela mulher, além da bebida, era o jaleco impecavelmente branco.

A outra nem se incomodou de perguntar o que havia ocorrido. Há tempos deixou de entender a morena a sua frente. Ela era uma ótima profissional, e enquanto aquela atitude maluca dela não atrapalhasse o andamento do trabalho, estava tudo bem deixar ela com uma cara de despreocupada e com roupas nada condizentes com sua posição.

– Sabe... Eu sinto que algo grande esta para acontecer.

Aquela frase chamou a atenção da ruiva, olhando para a outra com uma sobrancelha erguida. Às vezes se esquecia daquele lado meio profetizador da outra, a ultima vez que ela disse aquilo foi cerca de cinco anos atrás, e algo naquela empresa mudou. O pessoal mudou.

Seus olhos correram pelo campus, olhando o vai e vem dos profissionais, sentindo que a outra ainda lhe encarava. Soltou um suspiro e retirou um cigarro da caixinha e o deixou nos lábios, sem o acender.

– Então que seja algo bom...

A morena sorriu de maneira misteriosa. Ela nunca disse que seria bom.

X-X-X-X-X-X-X-X-X-X

Akio também estava ferido, mas nada que uma roupa grossa e longa não pudesse esconder, e com aquele clima, não seria nada difícil. Assim que pisou no colégio seus olhos alaranjados captaram a visão de seu futuro chefe com aquela loira que mexeu consigo logo no primeiro dia de aula, ela parecia desmaiada e o moreno assustado de mais tentando a segurar.

Foi caminhando a passos rápidos, buscando fazer com que menos pessoas percebessem o ocorrido. Prostrou um joelho no chão e tocou nas costas do estrangeiro, notando como ele estava gelado, e seus olhos se encontram com os do moreno. Ambos pareciam ter prendido o ar sem saber o que fazer.

– Vamos leva-lo para um lugar com menos pessoas...

Disse o moreno mais novo, mesmo que fosse mais alto. Levantou o corpo do loiro com extrema facilidade e foi caminhando carregando este, sendo seguido pelo dono das chamas do céu. Ambos nunca se falaram muito. Foram raras as ocasiões em que ficaram no mesmo cômodo, e quando isso ocorria, estavam todos reunidos, juntando com os mais velhos e da família.

Por mais que fosse ser seu guardião, preferia manter-se afastado. Era parte de sua personalidade se manter longe. Sentiu-se sendo observado, e encarou seu boss, com a tese franzida e os lábios crispados. Aquele em seu colo parecia ser realmente bem importante para o mais velho.

Seu corpo ia ficando cada vez mais gelado e pesado, mas antes que pudesse cair ou fraquejar, sentiu o peso ir sumindo, até notar que o mais baixo tomou o loiro de seus braços e foi caminhando de maneira determinada pelo corredor mais deserto do colégio, que por incrível que pareça, era o da enfermaria.

Estava há cinco meses sem um profissional nessa área, e as salas do lado eram abandonadas, sendo utilizadas como guarda volumes, as habitáveis se arruinaram na noite em que invadiram a escola, obrigando os alunos a se transferirem para outros andares.

O moreno de cabelos cacheados também se sentia sendo congelado. Suas mãos iam ficando azuis, e o ar que expelia era possível ser visto em forma de fumaça. Seu corpo reclamava, tremia e parecia fraquejar igual ao de seu guardião.

Foi quando sentiu o maior se aproximar, e dividir o peso do russo entre eles dois. Sorriu de forma calma e o depositaram no chão. Sato apertou o punho, não tendo certeza se sua guardiã do Sol já havia acordada para poder chama-la até ali e nem mesmo sabia se conseguiria carregar o loiro até onde ela se encontrava.

O mais velho recordava-se da sombra que saiu da box branca, de como ela congelou todo o colégio e fugia pelas ruas de Namimori, de como atingiu seu estimado amigo e de como este ficou gelado. De como o príncipe do Sol chegou e o salvou com aquele liquido amarelado... De como o loiro voltou á piorar alguns dias depois, sendo socorrido pela filha de mexicanos.

O menor nem fazia parte da família e foi envolvido em tudo aquilo. Sato sentia-se responsável por aquilo, culpado, com raiva. Tudo ao mesmo tempo. Nem notou mais alguém se aproximando.

Mas o arqueiro percebeu, erguendo o olhar, vendo uma mulher loira piscar um olho e colocar um dedo sobre os lábios. O vestido era ridiculamente curto e colado no corpo, sendo branco com uma cruz vermelha estampada do lado esquerdo do peito, ficando estranho, já que o busto da mulher era enorme. Fora o zíper bem no meio, que estavam um pouco aberto, relevando uma parte do seio.

Ela parecia ter saído de algum filme pornô. As longas pernas ficavam ainda maiores por causa do salto altíssimo de cor vermelha, os cabelos eram longos e possuíam largos cachos. Foi inevitável para os dois morenos não entrarem em choque com aquela visão, mas ao vê-la se aproximando, seus corpos automaticamente se colocaram na frente do jovem desmaiado.

– ora ora... alguém esta passando mal... Venham rapazes! O levem para a enfermaria.

Sorriu e retirou do bolso uma chave, fazendo-a rir um pouco e ir caminhando em direção da dita sala, a abrindo e adentrando. Ao perceber que ninguém a seguia, colocou uma cabeça para trás e os chamou com uma mão.

Os membros da família Vongola se entreolharam, perguntando-se se era uma boa ideia levar alguém que estava congelado magicamente para alguém muito suspeito o examinar. Mas não restavam muitas opções, visto que o loiro começava a apresentar uma fina camada de gelo pelo corpo.

Ambos o carregaram até uma das macas e o depositaram lá, vendo a loira se aproximar e toca-lo na testa. Ela não parecia assustada, nem surpresa por ele estar tão frio.

– Meninos, poderiam pegar um cobertor no armário da sala ao lado?

Jogou para eles uma chave e sorriu. Novamente os olhos verdes se encontraram com laranjas e pediram licença antes de se retirarem para pegar o objeto.

A mulher pegou um banquinho e sentou-se ao lado da cama, olhando o jovem que estava ali congelando.

– Né... faz muito tempo que eu estou querendo te encontrar... e quando eu te encontro você já esta de partida? Ninguém nunca chorou por mim antes e foi você mesmo que prometeu que não me abandonaria... então por favor... acorde...

Os lábios avermelhados se encontram na pele branca do russo, estalando ali um beijo, precisando se erguer um pouco para isso. Então ela sorriu de leve, vendo o sol adentrar timidamente naquela sala.

Quando os dois morenos retornaram, não viram mais aquela mulher suspeita, e acharam estranho, já que ficaram poucos segundos fora e não viram ninguém no corredor. O que mais rápido se aproximou foi o arqueiro, tocando no estrangeiro e se assustou pela temperatura deste estar normal.

O chefe imitou seu companheiro de armas, também se surpreendendo. Ambos se encararam e o silêncio reinou mais uma vez.

X-X-X-X-X-X-X-X-X

Quando os olhos verdes se abriram, tudo o que percebeu foi o ventilador de teto rodando suas pás de forma lenta, e o barulho dos ponteiros do relógio se moverem bem devagar. Ergueu-se e olhou para o objeto proveniente de tal barulho, notando passar do meio dia, bem... Seu estomago bem que a avisou antes, ao roncar bem alto.

Ela corou, mesmo não tendo ninguém ali para que ela se embaraçasse, mas era constrangedor de qualquer forma. Seus pés tocaram o piso frio fazendo com que estremece de leve. Foi procurando pro um calçado, encontrando ao lado da porta um par de pantufas e logo tratou de calça-las antes de se retirar daquela sala branca.

Constatou que ali não era um hospital, e conforme foi andando acabou encontrando com a guardiã da tempestade e da névoa juntas conversando e tomando um café da maquina. Ambas a olharam e a cumprimentaram com um acenar de cabeça, fazendo a morena se avermelhar um pouco mais e imitar o gesto.

Seu estomago roncou outra vez, causando nas outras duas risadas de maneira contida. Certamente Akira se enfiaria em um buraco se este existisse, mas tudo o que recebeu foi um tapinha em suas costas da platinada, que carregava seu sorriso sarcástico de sempre, e a morena sorrindo de maneira divertida.

– Acho que esse será um almoço só para garotas.

Falou de maneira maliciosa a dona do anel da névoa enquanto empurrava as duas morenas pelo corredor.

X-X-X-X-X-X-X-X-X

Os olhos alaranjados do chefe da máfia se abriram reconhecendo aquele lustre caro sobre sua cabeça. O idoso sorriu de leve e virou a face para seu lado esquerdo, notando os que restavam de seus guardiões, fora Reborn e Talbot. Tsuna levou sua mão até seu estomago, notando uma faixa ali, e tentou se erguer para ficar sentado no colchão e abaixou a cabeça um pouco envergonhado.

– desculpe por preocupar vocês...

– Dame-Tsuna...

Reborn suspirou e bateu na cabeça de seu aprendiz com Leon transformado em leque. Yamamoto que estava apoiado na parede de braços cruzados sorriu de leve, e todo o clima pareceu melhorar ao verem tal cena que era tão comum no passado se repetir, como se o tempo nunca houvesse passado. Mesmo que seus cabelos brancos dissessem o contrario.

– acho que não podemos mais adiar.

Aquela fala fez todos se calarem e olharem na direção Bianchi. Reborn ajeitou seu chapéu, escondendo a face e deixou ambas as mãos em seus bolsos da calça. Todos que não era da família Vongola foram se retirando aos poucos, menos o velho Talbot, ficando apenas o chefe, seu treinador, a guardiã da névoa e seu marido, e o guardião da chuva. Ryohei estava na Itália investigando os tais portais e Hibari, que não estaria ali de qualquer forma, mas no presente momento estava caçando como louco os responsáveis pelo desaparecimento de Dino.

– Amanhã à noite faremos a cerimonia de passagem do chefe.

X-X-X-X-X-X-X-X-X

Nevava do lado de fora, a camada de gelo estava tão alta que certamente bateria na cintura de um adulto e sufocaria uma criança. Não se via uma única alma naquela cidade, mesmo que fosse semana do Natal, mas os donos da casa não pareciam se preocupar. A noite ia caindo, mesmo que estivesse escuro há horas, e só uma pessoa naquele casarão se encontrava acordada.

Ela tomava uma caneca de chocolate quente enquanto observava os flocos de gelo serem levados pelo vento. Ela não estava com frio, a lareira estava acessa e sua blusa parecia ser bem quente, assim como os longos fios castanhos, além de enfeita-la, lhe aqueciam as orelhas também. Seus grandes olhos verdes se fecharam brevemente quando ouviu uma rajada de vento passar por detrás de si e as luzes piscarem brevemente, até mesmo as chamas da lareira hesitaram, mas logo voltaram a queimar, mais forte do que antes, quando a bela mulher virou-se com seus olhos já abertos.

– Deveria ganhar um premio de melhor jogadora de pique-esconde

Zombou a recém-chegada, enquanto caminhava olhando tudo ao redor. Ela deixou cair seu sobretudo de pele branca e pegou um dos bombons que estavam guardados em um jarro de vidro antes de se jogar em uma das poltronas da sala e soltar um gemido baixo pela macies que era estar ali e o gosto divino do doce.

– E que ótimo bom gosto, devo admitir.

A dona da casa nada falou, apenas tirou os pés da invasora de sua mesinha de centro, sentindo ser observada, mas tudo o que fez foi sentar-se no sofá vago e ficar encarando a outra morena, só que esta era portadora de belos olhos azuis.

– Você fica bem de cabelos castanhos.

Sua voz era melodiosa e calma, mas logo seus olhos voltaram a se fechar e a solver sua bebida. Ouviu um estralar de dedos, e de quente, virou um cubo de gelo seu chocolate derretido, fazendo a dona da casa suspirar e abandonar sua caneca na mesa de centro, e passar a encarar a outra com a calma de outrora.

– Eles sabem?

Perguntou a dona de olhos azuis, vendo a outra sorrir de forma triste e negar com a cabeça, e foi sua vez de suspirar e se afundar no estofado. Aquele lugar era quente e aconchegante. O cheiro de sua companheira era bom, ela sempre cheirou como a primavera em seus dias mais gloriosos, assim como nunca a viu perder a graça, nem mesmo se aborrecer.

– Irá contar?

– Eu tive um sonho...

E aquilo chamou a atenção da maga do gelo, que voltava sua atenção para a outra, seus olhos verdes brilhavam e em sua volta ia ficando dourado. Era sempre uma boa visão aquilo, assim como tinha a impressão de ver assas nas costas da morena.

– Onde eu morria.

Aquilo fez o sorriso da loira natural se desmanchar e ficar petrificada. Não podia contestar, nem brigar. Aquela mulher a sua frente não sonhava, ela previa o futuro e este sempre se concretizava, não importava as vezes que se tentasse muda-lo, às vezes, era esse querer mudar que causava aquele destino.

– E o que fará a respeito disso? Você tem filhos com um mortal que não sabe de sua origem... Saiu de nosso mundo há anos e nunca foi encontrada, bem... até hoje... e se eu fui capaz de te encontrar, os outros também serão...

– E é justamente por isso que morrerei.

Ela não parecia triste, nem mesmo revoltada. Falar aquilo era como comentar que no dia seguinte iria chover, tão sem sentido. Mas a geradora de frio conhecia aquela mulher a tempo o bastante para saber como ela estava destruída por dentro, tempo o bastante para saber que ela não estava preocupada consigo, mas sim com aqueles com quem ela criou um vinculo.

– Por favor Monise (3), quando eu me for... esconda meus filhos... De a eles sua proteção.

A morena de grande beleza abaixou sua cabeça, em uma suplica muda, fazendo a maga do gelo começar a congelar tudo ao seu redor, apagando o fogo da lareira enquanto seus olhos se mergulhavam em lagrimas.

– E como quer que eu faça isso, Cora (4)?

A morena riu um pouco, fazendo com que o gelo fosse se derretendo e as flores que antes estavam murchando, voltando à vida.

– Há muito tempo ninguém me chamava assim... Já havia até me esquecido desse nome.

Ela sorriu e pegou as mãos da outra entre as suas, olhando dentro de seus olhos gelados, voltando a falar:

– Eu conto com você...

– Tenho licença para fazer qualquer coisa?

Outro sorriso, e a representante do inverno sentiu algo surgir em suas mãos, mas não pode ver o que era, já que ainda era segurada pelas cálidas mãos da maior.

– É por isso que você é minha irmãzinha.

Recebeu um beijo em sua testa, que lhe fez sorrir e desaparecer dali.

Uma voz infantil se fez ouvir, fazendo aquela bela moça virar-se para trás e sorrir ainda mais com aquela visão. Sua pequena cria estava bocejando e coçando os olhos azuis, em sua mão carregava um coelho de pelúcia e seus pés descalços pareciam não sentir frio.

– Com quem falava mamma?

– Com o inverno meu querido, Pablo... com o inverno.

E essa primavera pegou o pequeno loiro em seus braços e beijou sua testa o carregando de volta para seu leito, onde seu gêmeo ressonava no mundo dos sonhos ainda.

Os cabelos castanhos logo se tornaram loiros ao serem balançados pelo vento frio, ela sorriu minimamente com a cena, olhando o que jazia em sua palma da mão, sorrindo um pouco mais antes de desaparecer com a neve.

Uma urze branca(5).


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

1-Nero é preto em italiano
2-Belyy (o som da palavra) é branco em russo
3- Despina era temida por ser uma deusa das sombras relacionada a fenômenos invernais como as geadas. Por muitas vezes foi dita tendo o nome de Monisi (do "monos" que significa "só" ou "único" e "fronisi" que significa "inverno" ou "nevasca" , "inverno solitário")
4- Na mitologia grega, Perséfone é a deusa das ervas, flores, frutos e perfumes. Perséfone antes de ser raptada pro Hades se chamava Koré (Cora ou Coré em sua forma latinizada).
5-No significado das flores, a urze branca quer dizer proteção.
É isso~~
Como o capitulo ficou muito longo e com várias partes com suspense, decidi dividir ele em duas partes, mas ele está todo pronto, então muito em breve postarei a segunda parte :) o próximo capitulo já esta sendo feito, então me aguardem kkk
Não se esqueçam de comentar
Bjs
Sz



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Anelli Vongola" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.