A Filha da Sabedoria escrita por Annabel Lee


Capítulo 7
Uma Visita Nada Esperada


Notas iniciais do capítulo

O CAPÍTULO CONTERÁ SPOILERS DE MARCA DE ATENA!

Aproveitem...



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Controlei minha vontade de gritar assim que fitei os olhos esbugalhados da sacerdotisa morta. Seus olhos sem brilho ou cor me fitavam fixamente, não importa para qual lado eu me movesse. Seu sorriso mórbido não se alterou. Ainda me assustando.

Resolvi dar um passo a frente, trêmula.

- Qual é o meu destino? - eu pergunto para o cadáver, e sabia que aquilo iria me responder. Por qual outro motivo estaria sorrindo tão satisfatoriamente?

Uma fumaça verde saiu dos olhos da múmia, dançando no espaço que havia entre eu e ela. Aos poucos, imagens foram se formando. Todas confusas. Passando de um tridente do deus dos mares, para um imenso navio de guerra. Chegando, enfim, a um enorme que continha as palavras que ecoaram dentro dos meus ouvidos, que pareciam ser a voz do Oráculo:

- A filha da sabedoria caminha solitária...

A página do livro se virou. Contendo outra frase que o Oráculo dizia, como se o lesse (ou como se o livro se escrevesse a partir do que ela falava):

-... A Marca de Atena por toda Roma é incendiária...

Dessa vez uma imagem apareceu no livro. O Coliseu. Algo acontecia nele. Foquei meus olhos para que pudesse enxergar em meio a fumaça verde, mas nada pude identificar. Então a página do livro se virou novamente:

-... Gêmeos ceifarão do anjo a vida...

Não aparece a imagem de anjo, ou de gêmeos. Apenas um anel. Um anel de prata, com uma caveira desenhada no centro. A voz ancestral do Oráculo torna a falar assim que a página se vira:

-... Que detém a chave da morte infinita...

Uma porta. Ou seriam duas? A fumaça torna as imagens opacas e desfocadas. Mas consigo ver portas se abrindo e se fechando, provocando um rangido alto.

-... A ruína dos gigantes se apresente dourada e cálida...

Dessa vez não há imagens, o que me deixa mais confusa. Quem seriam os gigantes? Os Titãs? Afinal de contas, o Acampamento Romano fica próximos a eles? Teriam os dois alguma relação...?

A voz do Oráculo de Delfos chama minha atenção. E ele dá sua sentença final:

-... Conquistada por meio da dor de uma prisão tecida.

O livro se fecha. E a última coisa que vejo antes da fumaça se retrair para o sorriso mórbido do Oráculo, é sua capa. E escrito em letras douradas da grossa capa de couro do livro estão duas palavras:

Livros Sibilinos.

Tudo aquilo era confuso demais para mim. Tudo o que a múmia falou (e que estranhamente fazia par com o que o livro escrevia) parecia muito mais grandioso do que apenas uma richa entre gregos e romanos.

E se fosse um meio de acabar com a rixa...?

Impossível. O ódio que guardamos uns dos outros é cego e forte demais para que uma profecia confusa e um livro estranho possam impedir.

A filha da sabedoria caminha solitária...

Seria eu? Ou melhor... Seria eu nessa missão de espiã pelo Acampamento Júpiter?

Ou, como bem penso e raciocino, é algo muito maior do que isso?

Roma. Marca de Atena. Ruína dos Gigantes. Tudo é tão embaralhado quanto um quebra-cabeça que perdeu maioria de suas peças. Nunca ouvi dessa Marca de Atena... e por que ela queimaria Roma? (Embora a ideia não seja das piores..).

Gigantes... Existiam gigantes na mitologia. Não os Titãs. Os gigantes que a Deusa da Terra, Gaia, usou para vingar a derrota dos titãs, seus filhos.

Mas ainda não fazia sentido. Os gigantes (nem os titãs) se elevaram para que a ruína de ambos chegue.

E se for uma profecia para um futuro?

Mas, um futuro distante...

... ou próximo?

O olhar assustador da múmia faz com que meus pensamentos sejam interrompidos. Então, com os passos pesados e a enigmática profecia me assombrando, saio do porão da Casa Grande.

Quando estou de volta à varanda, encontro Quíron e o Sr. D na mesma posição de antes: jogando baralho, com a garrafa de vinho presa nas coxas de Dionísio.

Gabriel estava encostado na coluna, conversando com Thomas, e virou os olhos assim que pisei para fora da casa.

- Como foi? - ele pergunta - conseguiu alguma coisa?

Faço que sim com a cabeça, ainda impossibilitada de falar.

Thomas franze o cenho ao avaliar minha expressão.

- Más notícias?

Não respondo.

- Notícias confusas?

Confirmo.

Quíron vira o rosto para mim.

- Você não quer dividir a profecia conosco, minha jovem? - ele pergunta.

Balanço a cabeça negativamente.

Desço os degraus da varanda. Nem Gabriel, Nem Thomas me seguem.

Fico na dúvida de seguir para o Chalé de Atena. Estaria provavelmente vazio, afinal meus irmãos estão ajudando na patrulha de fronteira, e eu teria mais tempo para pensar na misteriosa profecia.

E em seu significado.

Me direciono ao chalé cinza com acabamento vinho, e uma coruja entelhada acima do número 6, quase me arrastando. E quando abro a porta tenho uma surpresa (que não sei avaliar se é agradável ou o extremo contrário).

Havia uma mulher de pé, avaliando um mapa que ficava preso na parede do Chalé. Um mapa de Roma.

A mulher tinha cabelos negros, presos num rabo de cavalo como os meus. Na verdade, ela parecia-se muito comigo. Tinha olhos cinzentos inquietos avaliando os detalhes do mapa. Sua postura era impecável e ereta. Vestia uma camisa branca simples e usava uma calça jeans, mas ainda ostentava grandeza.

Ela tinha uma faca longa presa ao cinto.

Ela se vira na minha direção. E sorri.

Seus olhos pareciam muito mais inquietos, agora que eu os fito diretamente. E havia um toque de... loucura.

- Saudações, Alexia - ela diz.

Fico tensa.

- Como sabe meu nome? - pergunto.

- Eu te conheço mais do que a maioria, devo dizer...

- E quem é você?

- Tão inteligente. Acho que você já sabe, não sabe?

Fito mais profundamente seus olhos cinzentos cor de tempestade, tentando achar outras respostas que nada tem haver com a pergunta que eu fiz a ela.

- Você é Palas Atena - eu digo convicta, controlando meu ódio nas palavras - deusa da sabedoria.

- E de muitas outras coisas, minha querida.

Ficamos em silêncio. E depois de um tempo Atena ergue a sobrancelha direita, esperando que eu faça uma pergunta que ambas sabemos qual é.

Esperando para responder o que tanto me perguntei todos esses anos.


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