A Filha da Sabedoria escrita por Annabel Lee
Notas iniciais do capítulo
Hello, guys!
Eu queria sentir ódio naquele momento. Deuses, como eu queria! Mas tudo foi substituído por uma angústia melancólica, um vazio, uma dúvida. Será que aquele mulher impotente e poderosa realmente me amava? Será que veio me visitar por que se importa comigo?
- O que você está fazendo aqui? - pergunto, mais seca do que esperava.
O sorriso de Palas Atena some, como se nunca tivesse existido. E não consigo lembrar nem um pouco dele. Aquele sorriso sarcástico, nunca maternal ou carinhoso.
O que eu esperava afinal? Ela nunca me respondeu. E agora ignora os outros filhos. Nunca me amou. E não vai me amar agora.
- Vim te pedir ajuda. Melhor, vim te implorar uma ajuda.
Implorar? Ela? Palas Atena, a deusa da estratégia e sabedoria. Patrona da capital grega hoje e sempre. A filha de Zeus mais poderosa que até o pai tentou mata-la antes de nascer...
- O que quer que eu faça?
Ela tira algo do bolso da calça e pressiona na mão. Não consigo distinguir o que é.
- Eles me mudaram, Alexia - estremeci ao ouvir meu nome daquela voz, agora exalando tanto ódio - eles tiraram meu lar de mim, minha pátria. Mudaram minha personalidade, meu nome, minha família. E até o que represento.
- Quem?
Atena fecha os olhos com força, como se sentisse dores. Deuses não podem sentir dores. São imortais, inalcançáveis. Como vão sentir o que tanto atormenta os mortais?
- Roma - ela responde como um grunhido.
Roma. Sempre. Será que tudo na minha vida leva a esta maldito lugar?
As coisas que Atena disse a alguns minutos começam a fazer sentido. Me atrevo a olhar em seu rosto e dar um palpite:
- Você quer dizer dos deuses. Eles te nomearam Minerva. Te fizeram uma simples deusa do artesanato. Tiraram a guerra de você, atribuíram toda a glória a Marte. Mudaram sua personalidade, seu nome e a mesma coisa com os outros deuses. Tiraram a pátria que tanto te amava de você. Você deixou a Grécia sozinha, assim como...
Paro de falar. O ódio começando a surgir e mostrar sua face. Notei que eu iria dizer: "assim como eu", senão me calasse. Atena pressionava o que quer que seja em sua mão como se cada palavra dita por mim a atingisse como uma espada.
Eu gostei de vê-la daquele jeito.
- E o que você quer que eu faça? - torno a perguntar.
Ela abre os olhos. Vermelhos e úmidos, e também cheios de raiva. Ela me fitou como se eu fosse a culpada. Como se eu pertencesse a Roma.
- Vingue-me - ela diz - siga a Marca de Atena. Mostre-me que é minha filha e que Apolo e suas profecias estão errados...
- Apolo? Espera, que profecias?
Ela não me escuta, continua falando. Ela põe o que estava em sua mão na minha e pressiona o que parece uma moeda contra a palma de minha mão.
- Siga a Marca de Atena - ela repete com os olhos distantes - me leve para casa. Tire Minerva de dentro do meu corpo e acabe com os romanos.
- Tirar Minerva do seu....?
- Por favor! - lágrimas começam a descer de seu rosto, por um momento seus olhos pareciam demonstrar o amor que tanto rezei para que ela provasse - por favor, minha filha.
Aquilo era o suficiente para me derrubar. Mas mantive-me de pé. Pressionei a mão dela e a moeda, confiante. Eu baniria Minerva, os romanos e tudo que impeça que ela seja, no mínimo, uma mãe que responda preces ou que pelo menos me lance um olhar como aquele.
Sim, eu faria de tudo.
- Eu o farei - digo.
A súplica e o carinho maternal se diluem do rosto de Atena rapidamente. Transformam-se em pura vingança e ódio. Não. Eu a quero de volta. Quero aqueles cinco segundos maternos de volta. Eu sei que foram sinceros... Eu sei....
- Você é minha filha - diz - vai saber como chegar até a Marca de Atena. Saberá como restaurar minha glória e como exterminar todos os romanos. Eu confio em você.
A frase final saiu tão dura e seca que mal pude me sentir agradecida com ela.
Atena desaparece. Deixando comigo apenas um peso de chumbo nas costas e uma moeda de prata na palma da mão.
Avalio a moeda. Prata, como já disse. Com um busto de Atena no verso e uma coruja na frente, ao lado da coruja haviam as letras gregas ΔθE - delta, teta e épsilon. Reconheci a moeda de imediato, assim como a sigla grega estampada na mesma.
Atena me dera um dracma ateniense, usada na capital grega dos tempos antigos e atuais - que adorava minha mãe mais que qualquer deus ou rei. A sigla ΔθE significa: dos atenienses.
Aquilo marcava minha busca e minha responsabilidade.
E foi então que eu me toquei: A Marca de Atena por toda Roma é incendiária...
É o que tenho que fazer. Queimar Roma, achar a Marca. E sozinha.
A filha da sabedoria caminha solitária...
Até agora temos um quarto da profecia resolvido. Seria essa a profecia que Atena mencionou? Talvez. Mas ainda não faz sentido. Por que Apolo mandaria uma profecia sobre mim, a filha de Atena mais ignorada pela mãe?
Pare de pensar, Alexia. Apenas faça!
Aperto a moeda com força e a coloco no bolso de minha calça. Pego meu arco e encho minha aljava com quantas flechas consigo. Vou até meu beliche e pego minha mochila cinza posta ao lado dele com cuidado, enfio o resto das 12 flechas extras lá dentro e um pouco de néctar e ambrosia - a comida dos deuses que cura seus filhos.
Pego minha faca de bronze celestial em cima da mesinha de cabeceira e a prendo no cinto da calça.
Avalio tudo o que coloquei e o que realmente necessito para minha pequena missão no Acampamento Júpiter.
A confusão quer se estabelecer em meu cérebro. Tudo aquilo d e profecias e missões pode me deixar maluca e por tudo a perder... Mas de duas coisas estou convicta, e só elas realmente importam:
Primeira: Os romanos são culpados de todas as merdas e desgraças que ocorreram na minha vida.
Segunda: Eu vou me vingar de cada um deles.
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