A Filha da Sabedoria escrita por Annabel Lee


Capítulo 16
Um banho nada divertido!


Notas iniciais do capítulo

Maioria da fic se passará no Acampamento Júpiter, ao invés da Roma propriamente dita!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/381169/chapter/16

- Claro - é o que Júlio César responde.

Não confio nele. Nem um pouco. Nem mesmo pelo raro fato de ele estar sendo legal comigo. Ele é um líder. É feito para traçar estratégias, principalmente com quem não confia. E ele não confia em mim. Devo ser cuidadosa se quero descobrir alguma coisa sobre a Marca de Atena.

- Por que toda essa briga com os gregos?

Como eu suspeitava, ele não soube responder. Fez menção de dizer algo mais se calou. Espero. Alguma coisa ele falaria para explicar o que eu já sei...

- Sinceramente, Alexia, eu não sei.

- Incrível - respondo, tentando me controlar - você luta e nem sabe porque.

- Eles nos atacam...

- E por que atacam?

- Por que nos odeiam.

- E por que odeiam?

Ele fita as águas escuras do rio.

- Pode parecer, Alexia, mas eu não tenho a resposta para tudo.

- Mas deveria ter para essa pergunta. Por que os gregos odeiam os romanos? Ressentimento pelos romanos terem tomado a Grécia nos tempos antigos? Defesa pelas guerras atuais? Deve ter alguma coisa.

Aguardo que ele responda. Meus pés estão ficando frios, mergulhados no rio que ele fita. Mas ignoro isso rapidamente. Ele continua encarando o rio, como se ali tivesse uma resposta. Talvez eu fosse a única que já tenha feito essas perguntas.

- Há uma lenda - ele diz - que passa pelos pretores de Roma... sobre um artefato grego desaparecido. Acredita-se que foram os romanos que roubaram, buscando terminar com todo o esplendor que a Grécia ainda exalava.

BINGO!

- Que artefato? - pergunto, mas já sei a resposta.

- Não tenho certeza de qual seja. Dizem que pertencia à deusa Atena, a mais patriarca dentre os gregos. Aqui nós a chamamos de Minerva, embora ela nunca atenda nossas preces.

Fico calada. Mamãe amaldiçoa Roma com todas as forças divinas que consegue. Jamais responderia preces de romanos, ainda mais quando a chamam de "Minerva". E agora ela está uma louca. Abandonando a razão por causa dessa guerra.

E sobrara para mim acabar com tudo isso.

- Você é misteriosa - ouço Júlio comentar.

Me permito abrir um sorriso sarcástico.

- Misteriosa?

- Sim. Respondeu todas as perguntas que te fiz, mas ainda não sei nada sobre você!

- Sabe que eu fugi. Já não é suficiente?

- Talvez. Mas a forma que você luta... Esquece. Bobagem minha.

Balanço levemente os pés na águas, distraída. Então comento:

- Seu humor muda bastante.

Escuto sua risada.

- Verdade. Fico mais tenso quando estou cercado por semideuses e essas questões sobre a batalha. Ainda mais quando tenho Catherine por perto... Ela me perturba.

Não resisto e acabo rindo também.

- Eu gostei da sua espada - digo, mudando de assunto.

Ele tira a moeda de ouro do bolso e a fita, pensativo.

- É uma arma grandiosa. Passa de pretor a pretor, eu acho.

- Pode se transformar em quê?

- Machado. Espada. Lança. Algumas coisas estranhas que nunca vi... vai alternando com o monstro que luto. Já me acostumei com a incrível mudança. Ás vezes peço uma espada, e vem um machado. Mas a moeda sabe mais que eu...

- Assumir que alguém sabe mais que você é um grande passo para a sabedoria.

Olho para ele e vejo que está sorrindo.

- Minerva teria gostado disso.

Eu sei. Mas não o digo em voz alta.

- Está gostando da Quarta Coorte?

- São todos legais. Muito legais. Alguns andam me sufocando... acho que foi por isso que não dormi muito bem.

Ele fica em silencio um pouco, interpretando meu pedido silencioso para que ele diga porque não dormia. Observei seu rosto por um longo tempo até ele me responder:

- Eu estou cansado de pesadelos. Ás vezes escuto uma voz... antiga, afiada. Não sei porque mas ela vive pedindo para que eu a liberte de algum lugar...

- Não precisa me contar se não quiser.

- Não é um segredo de estado. São só pesadelos! - ele parecia querer convencer a si mesmo.

Ficamos quietos. Eu não havia notado, mas nossas mãos quase se tocavam... Como se isso fosse relevante, certo Alexia? De mãos dadas com o pretor de Roma! Da até vontade de gargalhar com todas as forças.

- Você é mesmo parente de Júlio César?

Júlio dá de ombros.

- Alguns dizem que sim. Mas eu sinceramente não sei. Não tenho muito contato com minha mãe. Belona.

- E seu pai?

Ele não responde.

Observo o horizonte. O sol não dava sinais de vida, mas a noite já não estava tão escura. Fico olhando para as montanhas de Oakland Hills. Parecem uma pintura, vistas da onde eu estava. Montes verdes contornando as paisagem como ondas.

Aquela visão era reconfortante. E, devo admitir, lembrava a Colina Meio-Sangue.

Está tudo absolutamente silencioso. Apenas escuto a minha respiração e a de Júlio César, considerando nossa proximidade. Não era uma coisa das muito boas.

Solto um longo suspiro. Já fiquei perto dele demais. Sinto estar entrando em território perigoso.

- Melhor eu voltar - digo, sem olhar nos olhos dele.

- É, eu também.

Me levanto e ele me ajuda.

Eu já ia falar um simples "tchau" e me retirar feliz, até escorregar feio e cair no lago. A água estava absolutamente fria e eu não sou das melhores nadadoras.... Tá. Eu sou uma nadadora péssima!

Tento me aproximar da margem mas eu só me afasto mais ainda. Nada de pânico, Alexia. O pânico pode acabar te afogando e você não pode morrer agora. Muito menos desse jeito tosco!

Júlio César mergulha na água.

- Calma. - ele diz - Alexia, se acalme.

Se acalma, porra!

Relaxo. Tento parar de ficar que nem um gato escaldado e deixo o pretor me levar para a margem.

- Você tá bem - ele pergunta, ainda abraçado comigo.

- To - respondo. Mas deve ter saído: t-t-t-t-t-t-t-r-o-o.

Ficamos em silêncio. Ainda abraçados. Eu fitando seus olhos azuis, incríveis e ele olhando para meu rosto com uma expressão que não consigo decifrar. Seus braços estão em volta de minha cintura e minha mão repousa em seus ombros.

Então eu me afasto.

- Hã... Tchau - eu digo.

E me retiro para o Compartimento da Quarta Coorte.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Filha da Sabedoria" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.