As Quatro Estações - Romione escrita por Verônica Souza


Capítulo 8
Inverno 8




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Eu não estava acreditando. Estava sentindo minhas pernas ficarem bambas. Saí descontrolado da porta.

– Você está bem? – A recepcionista se aproximou de mim.

– O que houve? – Uma enfermeira se aproximou.

– Eu não sei. Ele ficou nesse estado, parece que vai desmaiar.

Elas conversavam como se eu não estivesse presente. E eu não estava realmente. Minha cabeça estava a mil. Eu não parecia estar naquele mundo. Me sentei no banco que tinha ao lado da porta e fiquei com os olhos fixados no chão, totalmente em pânico.

– Pegue uma água pra ele. – A enfermeira disse para a recepcionista. – Hey, está tudo bem?

Eu não conseguia responder. Não conseguia fazer mais nada a não ser ficar com aquela imagem na minha cabeça. Eu só poderia estar ficando louco.

– Rony! – Era Iara. Ela se abaixou na minha frente e tocou o meu rosto. – Rony o que aconteceu?

Eu olhei para ela, mas não consegui dizer nada. Eu estava tremendo.

– Aqui. – A recepcionista me entregou a água.

– Beba Rony. Você está pálido. – Iara me aconselhou. – O que aconteceu com ele? – Ela perguntou à enfermeira enquanto eu bebia a água com dificuldade.

– Eu não sei. Ele pediu pra te entregar o celular e depois ficou desse jeito.

– Rony, você está melhor? – Ela perguntou olhando nos meus olhos. Olhei para ela e mais uma vez me lembrei da cena de minutos atrás. Hermione sentada na cama. Não era possível.

– Não pode ser. – Eu me levantei e comecei a andar de um lado para o outro.

– O que não pode ser Rony? – Iara me perguntou.

– Não pode... Eu estou ficando louco, Iara! – Eu parei na frente dela. – Estou ficando louco! Chame um médico porque eu estou ficando louco!

– Rony você não está ficando louco, agora pelo amor de Deus me diz o que aconteceu.

– Eu... Eu vi... Não... Não pode ser Iara. Eu não posso estar ficando louco.

– Quem você viu Rony? Me diz!

– Eu... Eu vi Hermione.

Ela me olhou como se eu estivesse realmente louco. A enfermeira e a recepcionista não entenderam porque não sabiam quem era Hermione. Mas Iara tinha a mesma cara de espanto que eu tive.

– Rony... Você deve estar cansado. Vá para casa e descanse.

– Não é possível Iara. Não é possível que eu tenha visto tão perfeitamente! Já tive alucinações antes, quem nunca teve? Mas nada comparado a isso!

– Mas Rony é impossível você ter visto ela.

– Mas eu vi Iara!

– Eu estou ficando com medo... – Ela me olhava séria.

– Não Iara, ela não era um fantasma. Ela era uma pessoa como eu, como você.

– Eu não estou entendendo nada. – A enfermeira disse. – Qual é o problema dele ter visto essa tal de Hermione?

– Hermione é a esposa dele... – Iara respondeu e depois olhou para mim ainda espantada. – Mas ela está morta.




***



Ouvir aquela frase sair da boca de outra pessoa me deixou mais nervoso ainda. Sim, ela estava morta, mas eu também sabia que não estava vendo coisas. E só tinha um jeito de descobrir isso.

– Ela está no quarto em que você estava. – Eu disse para Iara.

– O que? A paciente que estava em coma?

– Acho que sim.

– Não Rony... Impossível. Ela não tem família.

– Como você sabe?

Ela não respondeu. Ela estava assustada com toda aquela situação, mas eu também estava.

– Certo. Vamos até lá. – Ela disse.

– Não. Não posso... Simplesmente ir até lá.

– E por que não? Temos que tirar essa história a limpo.

– Agora até eu fiquei curiosa. – A enfermeira disse.

Olhei para as duas, e vi que era a única coisa que eu poderia fazer.

– Certo, mas vou olhar da porta.

– Ok. Vamos. – Nós paramos em frente à porta. Eu estava com medo de olhar e ter certeza. E se fosse realmente Hermione? Como eu iria reagir? Como explicar toda aquela situação? E se não fosse? Não sei do que eu tinha mais medo. – Vamos Rony! Olha!

Fechei os olhos e suspirei. Criei coragem e olhei pela janela da porta. E lá estava. Sentada na cama, totalmente confusa, a minha Hermione. Eu reconheceria aquele rosto angelical de longe. Definitivamente não estava ficando louco. Era ela. Com toda a delicadeza, com toda a perfeição, mesmo estando confusa e ligada a vários aparelhos.

Meu coração disparou quando ela olhou para mim. O brilho dos olhos dela era o mesmo. Ela parecia perdida e longe, mas ela estava ali. Estava viva. Eu não consegui me segurar. Abri a porta e disparei para o quarto.

– Rony! – Iara tentou me segurar, mas não conseguiu. Me aproximei da cama e ela olhava para mim com medo, mas não se afastou.

– Hermione... – Sussurrei. Meus olhos se encherem de água e eu senti que meu coração ia sair do corpo. Ela olhava séria para mim, mas era ela. Com certeza era ela. Eu não sabia se a abraçava, se ajoelhava e chorava, ou se me beliscava para saber se tudo aquilo era realidade. – Hermione! – Eu estiquei minha mão para tocar a dela, mas ela a tirou, com medo.

– Rony... Vamos lá pra fora. – Iara segurou o meu braço.

– O que está acontecendo? – O médico entrou no quarto. O mesmo médico que me deu a notícia que Hermione tinha morrido. Com a raiva tomando conta do meu corpo eu corri até ele e o segurei pela gola de sua camisa. A enfermeira olhou assustada e Iara veio até mim tentando me segurar.

– POR QUE ME DISSE QUE ELA ESTAVA MORTA?

– DO QUE ESTÁ FALANDO? – Ele perguntou confuso.

– AQUELA MULHER ALI NA CAMA! É A MINHA ESPOSA! ELA É HERMIONE! PORQUE ME DISSE QUE ELA TINHA MORRIDO? QUEM EU ENTERREI HÁ UM MÊS ATRÁS?

– EU NÃO SEI O QUE VOCÊ ESTA DIZENDO.

– Rony, por favor... Solte ele.

Iara suplicou. Eu soltei a camisa dele, mas senti meu corpo queimando. Ele teria que se explicar.



***




– Eu realmente não entendo! – O médico falava para mim na sala dele. Iara estava parada na porta tão confusa quanto eu. E eu não parava de andar de um lado para o outro.

– Você me disse que ela estava morta. – Eu disse mais calmo.

– Mas ela estava! A mulher que dissemos ser sua esposa estava morta. Agora não entendo mais nada.

– Doutor, o Senhor não disse que essa mulher... A Hermione. – Ela me olhou quando mencionou o nome dela. – Ela estava sem nenhum documento quando a trouxeram?

– Sim. Não havia nada, nem documento, nada. Por isso não encontramos ninguém até hoje. Estávamos esperando para ver se ela saía do coma para começarmos a procurar a família dela.

– Rony, quando você veio no hospital aquele dia, tinha alguma coisa com a suposta Hermione?

– Sim, o doutor me entregou a carteira de motorista dela, mas a foto estava totalmente desgastada.

– Exatamente. – O médico disse. – Só conseguimos entrar em contato por causa do nome, que é o nome de casada. Que eu me lembre você não quis vê-la, certo?

– Não... Eu não quis. – Falei com remorso. Por que eu não tinha ido vê-la? Com certeza eu ia saber que não era Hermione.

– Agora a questão é: Quem era aquela moça? – Iara perguntou. – Rony você tem uma foto da Hermione aí?

– Tenho. – Eu peguei a minha carteira no bolso e tirei uma foto de Hermione. O médico se aproximou e olhou a foto.

– Não. Definitivamente não era a mulher que achamos que era a sua esposa. – Ele disse tenso. – Nunca aconteceu isso antes em toda a minha carreira.

– Eu deveria ter entrado naquele quarto. – Eu disse nervoso. – Se eu tivesse entrado, eu teria visto que não era ela.

– Rony, não foi culpa sua. Não foi culpa de ninguém. Aconteceu. Uma coisa muito improvável e que eu nunca vi antes, mas aconteceu.

– Temos que descobrir quem era aquela moça. – Eu disse. – Eu... Eu a enterrei. Ela devia ter família... Devem estar procurando por ela.

– Alguma coisa aconteceu de errado para termos confundido os corpos. Sua esposa verdadeira foi encontrada machucada, mas não no local do acidente.

– Sabe aonde a encontraram?

– O homem não disse onde ela estava. Disse que estava desmaiada e com ferimentos. Ela estava inconsciente. Nós a deixamos internada esperando que algum parente a procurasse, e então ela entrou em coma.

Imaginei tudo o que Hermione tinha passado. Machucada, sozinha, e depois inconsciente. Ela passou por tudo aquilo sozinha.

– Nunca tínhamos esperança que ela ia acordar. Na verdade, estávamos pensando em desligar os aparelhos na semana que vem.

Meu coração disparou. E se Hermione não tivesse acordado? E se eu não tivesse visto ela dentro do quarto? Ela poderia ter morrido... De novo.

– A moça que acharam que era Hermione... Ela também estava no outro carro então? – Iara perguntou.

– Provavelmente. Eu não estava no local, portanto não sei dizer como a encontraram. Só me disseram que tinha acontecido um acidente entre dois carros e um deles capotou.

– Eu fui ao local depois. O carro que tinha capotado era o da Hermione. – Eu disse.

– Não está fazendo sentido. Hermione deveria estar no local do acidente. - Iara comentou

– Talvez ela tenha tentado pedir ajuda ou algo do tipo.

– Mas alguém teria visto, não?

– Não se eles estavam ocupados demais checando se a outra mulher estava bem. Pelo que eu soube ela tinha atravessado o vidro do carro e caído entre os dois.

Uma imagem horrível veio na minha cabeça. Se tivesse sido realmente Hermione, a morte dela teria sido horrível.

– E essa tal moça deveria ter algo junto com ela. No carro dela deveria ter alguma coisa.

– Tudo o que encontraram foi a carteira de motorista. Mais nada.

– Hermione não costumava ir trabalhar com bolsa, a carteira de motorista ficava no carro. – Comentei.

– Então a outra mulher não estava com documentos. Estava dirigindo sem a carteira.

– Provavelmente.

Me lembrei de uma coisa naquele momento. O homem que foi até a loja, sua irmã desaparecida em um acidente de carro, não tinha nenhum documento. Mas seria muita coincidência. Lembrei que tinha guardado o papel que ele me deu com o telefone dele.

– Eu acho... Acho que sei quem era aquela mulher.




***




– Certo. Obrigado. – Iara desligou o telefone e olhou para nós dois. – Ele esta vindo. Vai trazer uma foto recente dela. Acha que consegue se lembrar Doutor?

– Eu me lembro de cada paciente que eu cuidei.

– Isso só pode ser brincadeira... Quantas vezes um erro desses acontece? – Perguntei tenso. – E tudo isso por coisas bobas. Eu poderia ter entrado e visto se era Hermione ou não. De alguma maneira eu poderia ter visto que não era ela. Mas eu não a vi desde quando cheguei nesse hospital. Eu não quis. Não quis nem deixar que abrissem o caixão.

– Rony... É quase impossível isso acontecer, mas acontece. – Doutor Alfredo deu leves tapas em meu ombro. – Sua esposa está viva meu caro. Você tem que comemorar.

– Mas ela nem ao menos se lembra de quem é. – Eu disse triste. – Como vou fazer para explicar para minha filha? E pra toda a família? Vamos ficar tão confusos quanto ela.

– Nós vamos te ajudar Rony. – Iara segurou a minha mão. – Eu vou te ajudar.

Eu sorri agradecido e apertei carinhosamente a mão dela.

– Se aquela mulher for realmente a irmã daquele homem... Vai ser um choque e tanto.

– Verdade. – Iara disse. – Vamos esperar para ver.

– Eu... Eu posso ir ao quarto dela?

Iara e Doutor Alfredo se olharam.

– Não sei se é uma boa ideia Rony. – Iara disse. – Você ainda está um pouco confuso e assustado, e ela não vai te reconhecer... Pode ser ruim...

– Eu estou preparado para isso. Só preciso... Vê-la.

– Está bem... Mas eu vou com você.


***





Iara abriu a porta do quarto e entrou. Eu esperei na porta, para que ela não se assustasse de novo com a minha presença.

– Oi. – Iara disse sorrindo.

– Oi. – Ela respondeu.

Ouvir a voz dela fez com que todo o meu corpo tremesse.

– Como você está?

– Acho que bem.

– Meu nome é Iara. Sou médica estagiária.

– Prazer.

Mesmo acabando de acordar de um coma, sem saber ao menos seu nome, ela continuava sendo um anjo delicado.

– Você deve estar bem confusa não é?

– Bastante.

– Bem... Vou começar dizendo o básico para você. O seu nome é Hermione. – Ela olhou para mim. – E aquele ali na porta é o seu marido.

– Marido? – Ela olhou para mim parecendo chocada.

– Sim. Ele está aqui para te contar e explicar algumas coisas.

– Eu prefiro que você faça isso.

Cruzei os braços ficando tenso. Ela não queria falar comigo.

– É que eu não te conheço, sabe. Só ajudei a cuidar de você. Ele sabe muito mais coisa sobre você, é melhor ele te explicar.

– Você pode ficar comigo enquanto ele me conta?

– Eu não vou te machucar! – Respondi ficando irritado.

– Rony! – Iara me olhou.

Respirei fundo e me calei.

– Só prevenção. – Ela olhou para mim como se estivesse me provocando.

– Certo... Eu fico aqui. Então ele pode se aproximar?

– Pode.

Eu me aproximei devagar. Peguei a cadeira e a coloquei ao lado da cama, longe suficiente para que ela não se assustasse. Eu me sentei e olhei para ela. Aquela vontade incontrolável de abraçá-la, de dizer o quanto eu estava aliviado. O quanto eu estava feliz por ela estar viva. Não tinha explicação tudo que eu estava sentindo.

– Certo... Como Iara disse, seu nome é Hermione Granger, mas depois que nos casamos ficou Hermione Weasley. O meu nome é Ronald.

Ela ergueu as sobrancelhas, como se tivesse ouvido algo familiar.

– Você se lembra do meu nome?

– Não. – Ela respondeu rapidamente. – É que não é um nome muito comum...

– Você costumava me chamar assim quando estava brava. Mas na verdade todos me chamam de Rony.

– Continua incomum para mim.

A indiferença dela não estava fazendo efeito em mim. Talvez pelo fato de que eu estava completamente feliz.

– Nós temos uma filha... Rose.

– Uma filha? – Ela perguntou assustada.

– Sim... Ela tem quatro anos.

– Não sei se posso lidar com isso. – Ela olhou para Iara. – Eu tenho uma filha e não me lembro!

– Tudo bem Hermione. – Iara tentou acalmá-la. – Aos poucos nós vamos te ajudar.

Ela olhou para mim como se me esperasse continuar.

– Até então... Nós pensávamos que você estava... Morta.

– Morta? Por quê?

– Bom... É complicado explicar isso agora. Acho que você ainda não está preparada para saber da história. Mas eu estou aqui agora, e não vou te deixar. – Eu olhei nos olhos dela. – Vamos resolver tudo isso e você vai voltar para casa... Vai voltar para nós.

– Eu... Eu não sei se estou preparada para isso. – Ela disse abaixando a cabeça.

– Como assim?

– Não te conheço. Se te conheço não me lembro de você, e nem da sua filha.

– Nossa filha.

– Não... Ela é apenas a sua filha. Eu não me lembro dela, não me lembro de você.

– Rony... Ela precisa de um tempo para se acostumar com tudo isso.

– Claro, mas depois ela vai voltar para casa.

– Isso ela vai decidir depois. – Iara me olhou para que eu tivesse calma. Suspirei e me encostei à cadeira.

– Certo. – Respondi rapidamente.

– Iara... – A outra enfermeira entrou na sala. – Doutor Alfredo está chamando vocês.



***



– Esse é Rony Weasley. – Doutor Alfredo disse ao homem que parecia ansioso e confuso. – Esse é Yan.

– Muito prazer. – Ele disse apertando minha mão.

– Igualmente.

– Então... Podem me explicar de novo essa história?

– Bem... A esposa de Rony sofreu um acidente, um mês atrás. Trouxeram uma mulher em estado grave para cá, e encontraram a carteira de motorista da esposa dele próximo a ela, mas a foto estava desgastada. Entramos em contato com o Senhor Weasley e ele confirmou que era a esposa dele, mas o problema é que nós fomos tolos. Rony não quis entrar na sala para vê-la, e acreditamos que era a esposa dele durante todo esse tempo.

Ele deu uma pausa para tomar fôlego e para que Yan pudesse digerir tudo.

– Só que havia uma paciente em coma, que também tinha sofrido um acidente. Ela estava com ferimentos graves e ficou durante esse mês inteiro em coma. Mas hoje, por um milagre, ela acordou, e está ótima... Tirando o fato de que ela não se lembra nem do nome dela. Por uma ironia do destino, Rony é amigo da Iara, que me ajudava a cuidar dela. Por isso hoje Rony veio ao hospital e ficou em choque quando viu que a mulher que estava em coma era a esposa dele.

– Eu não estou entendendo... – Yan disse tenso.

– Acho que podemos resumir Doutor. – Iara disse o que eu estava querendo dizer.

– Bem... O fato é que agora não sabemos quem é a mulher que Rony enterrou como sua esposa. Levamos em conta que a mulher estava sem os documentos devidos e estava na hora do acidente.

Yan olhou assustado para nós três.

– Eu lembrei que você foi até a minha loja pedir informação sobre sua irmã. Guardei o seu telefone. – Eu me expliquei. – Disse que sua irmã estava desaparecida não é?

– Sim... Sim eu disse. – Ele olhou aflito. – Mas eu vim ao hospital, eu trouxe uma foto dela.

– Quem olhou a foto? – Doutor Alfredo perguntou.

– A recepcionista. Disse que ninguém com aquele nome tinha dado entrada no hospital.

– Mas ela estava com o documento da minha esposa. – Eu disse.

– Então... Então quer dizer que a minha irmã...

– Sinto muito. – Eu disse sincero.

Ele se sentou nervoso, e eu o entendi. Já tinha ficado daquele jeito antes.

– O Senhor quer um copo de água? – Iara perguntou.

– Não... Não obrigado. – Ele disse olhando para nós. – Eu... Eu talvez já esperasse por isso. Quero dizer... Ninguém tinha notícias dela em um mês, e ela tinha sofrido um acidente. As chances disso ter acontecido era noventa em cem.

Nós ficamos em silencio.

– Só que... A maneira como isso aconteceu... É muito difícil. – Ele olhou para mim. – Imagino o que deve estar passando na sua cabeça. Ter enterrado a minha irmã pensando que era sua esposa.

Não consegui responder. O medo e a dor de ter pensado que perdi Hermione tomou conta de mim.

– Deve estar muito feliz nesse momento. – Ele deu um sorriso triste. – Fico feliz por você.

– Obrigado. – Eu respondi, também sorrindo.

– Tem uma foto da sua irmã? Só para termos certeza? – Doutor Alfredo perguntou.

– Sim... Está aqui. – Ele pegou a carteira e tirou uma foto, mostrando ao Doutor.

– Sim... É exatamente essa que eu atendi. – Ele olhou para mim e depois para Yan. – Sinto muito.

– Certo. – Ele suspirou, olhando a foto da irmã dele. – Agora pelo menos eu sei que ela está em um lugar melhor.

– Mas eu sugiro que faça um exame... Creio que vai querer enterrá-la em outro lugar...

– Sim... No tumulo dos nossos pais. – Ele passou a mão nos olhos.

– Aproveite e faça um exame, apenas para ter certeza.

– Certo... Vou providenciar isso amanhã.

Ficamos todos em silencio, respeitando toda aquela situação difícil.

– Eu... Já vou indo. Preciso avisar os amigos e alguns parentes. – Ele esticou a mão para mim e eu a apertei. – Obrigado.

– Não precisa agradecer. E eu sinto muito pela sua irmã, e pelo modo como soube da notícia.

– Tudo bem. – Ele soltou a minha mão.

– Obrigado Doutor, Doutora. – Ele olhou para Iara. – Até logo.

Ele saiu um pouco confuso da sala. Nós respiramos aliviados e menos tensos. Agora eu sabia como era para um médico dar uma notícia daquela, principalmente quando era confusa daquele jeito.

– Eu também vou indo... – Eu disse. – Preciso... Contar para o pessoal. Vai ser difícil explicar tudo isso.

– Boa sorte. – Doutor Alfredo disse para mim.

– Eu te acompanho.

Eu e Iara saímos da sala em silencio. Passamos pelo corredor e paramos em frente à porta do quarto de Hermione.

– Vai querer despedir?

– Melhor não. Ela deve estar cansada de ver o meu rosto por hoje.

– Dê um tempo a ela Rony. É muito difícil para uma pessoa saber tudo isso de uma vez.

– Eu sei... – Eu segurei a mão dela carinhosamente. – Você tem sido como um anjo pra mim.

– Não foi nada. – Ela disse envergonhada.

– Obrigado Iara, de verdade.

– Não precisa agradecer. Sabe que pode contar comigo. Vou tomar conta dela enquanto você esta fora.

– Eu sinto muito que as coisas tenham ficado tão confusas... Estávamos indo bem e...

– Rony, por favor, não diga essas coisas. – Ela apertou minha mão. – Estávamos nos dando muito bem... Estamos na verdade... Mas não vou obrigá-lo a escolher entre eu e ela. Confesso que eu estava começando a achar que poderíamos ter algo, mas nunca vou querer disputar com ela. Ela é sua esposa, e está viva. – Ela sorriu para mim. – E eu vou fazer o possível para que vocês voltem a ser uma família.

Realmente ela era um anjo. Era impossível acreditar que uma pessoa poderia ser tão compreensiva. Ela se parecia com Hermione mais do que eu imaginava. Despedi dela com um beijo no rosto e fui para o meu carro. Fiquei um tempo parado no estacionamento, pensando em tudo o que tinha acontecido. Que dia confuso. Pensei que estava começando a me dar bem com um novo relacionamento e descubro que minha esposa está viva. Minha Hermione. Viva. Comecei a sorrir incontrolavelmente. Agora eu definitivamente acreditava em milagres.


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