As Quatro Estações - Romione escrita por Verônica Souza


Capítulo 9
Inverno 9




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– Eu não estou acreditando! – Gina disse assustada.

– Quais são as chances disso acontecer? Uma em um milhão? – Harry perguntou. – Rony, isso é um milagre!

– Eu sei Harry. – Respondi com as mãos suando.

– Com certeza é um milagre. – Minha mãe disse sorrindo. – Ela está viva! Temos muito que comemorar!

– Mais ou menos mãe... Ela ainda não se lembra da gente.

– Mas isso é o de menos. Só o fato de ela estar viva já é suficiente. Aos poucos nós vamos ajudando ela. – Ela olhou para nós. – Vou preparar um almoço especial. – Ela se levantou e foi até a cozinha.

– E como a Iara fica nessa história? – Gina perguntou. – Vocês tiveram um encontro não foi?

– Isso também está martelando na minha cabeça. – Coloquei as mãos no meu rosto. – Não sei o que eu faço. Eu estava começando a gostar dela, da companhia dela.

– Mas você não pode largar a Hermione e ficar com ela. – Harry disse.

– Eu sei Harry, eu sei. – Respondi um pouco nervoso. – Ela tem sito tão boa pra mim. Mesmo depois de tudo isso ela disse que quer ajudar Hermione. Disse que vai fazer o possível pra ela voltar pra essa família.

– Ela realmente é diferente.

– O problema é que ela se parece muito com Hermione. Tenho medo de só ter gostado dela por causa disso.

Gina e Harry se olharam.

– Eu vou contar para Rose... Não sei como vou fazer isso. – Eu me levantei.

– Ela é esperta, vai entender. – Gina sorriu para mim.



**




– Então a mamãe não está no céu? – Rose me perguntou com os olhos brilhando.

– Não princesa... É complicado pra você entender agora, mas ela não está no céu. Ela vai voltar pra gente logo, logo.

– E onde ela está papai? Eu quero ver ela! – Ela se levantou. – Vamos lá!

– Não filha, não podemos vê-la ainda... Ela ainda está no hospital.

– Por que papai? Ela tá machucada?

– Não... Mas ela está um pouco confusa. Temos que ajudá-la nesse momento.

– Então vamos ao hospital papai. Vamos conversar com ela.

Não conseguia dizer não. Como explicar tudo para ela?

– Acho que você devia levá-la até lá. – Harry apareceu na porta.

– Você acha? – Olhei para ele.

– Acho que seria bom para as duas.

– Vamos papai, por favorzinho.

Ela me olhou tão emocionada que eu não consegui dizer não.




**




– Certo filha, vamos estabelecer algumas regras. – Eu a peguei no colo quando entramos no hospital. – Nada de ficar fazendo perguntas para ela. E principalmente... Não quero que fique chateada com nada que ela te disser. Ela vai estar um pouco estranha do que você esta acostumada, mas isso é normal. Está bem?

– Certo papai, vamos logo!

Olhei para a recepcionista e ela me fez um sinal positivo, me reconhecendo. Seguimos em direção ao quarto e eu olhei pela janela. Iara mostrava um álbum de fotos para ela. As duas pareciam estar se dando bem. Hermione estava sorrindo e Iara também. Bati na porta e a abri. As duas olharam para mim e o olhar de Hermione parou em Rose no meu colo.

– Olá. – Eu sorri.

– Oi Rony! – Iara respondeu animada.

– Oi. – Hermione não respondeu com toda aquela animação.

– Estava mostrando umas fotos minha de quando eu patinava.

– Isso é bom. – Eu sorri e olhei para Rose. – Não vai dizer oi princesa?

– Oi tia Iara. – Ela olhou para Hermione. – Oi mamãe.

Um silencio constrangedor tomou conta da sala.

– Essa é Rose. – Eu me aproximei da cama. Hermione olhou para ela e sorriu um pouco forçada.

– Como vai Rose?

– Estou bem mamãe... E você?

– Eu estou... Bem também.

– Isso está te machucando mamãe? – Ela perguntou apontando para os aparelhos ligados em Hermione.

– Rose, o que eu disse? – Olhei para ela.

– Desculpe. – Ela abaixou a cabeça.

– Não doem não. – Hermione sorriu. – Só me incomodam um pouco.

– E você não pode tirar?

– Desculpe... Eu pedi para ela não fazer perguntas... – Eu olhei para ela.

– Tudo bem... Não... Não posso tirar. Por enquanto. Só depois que estiver boa.

– Tomara que você fique boa logo mamãe, pra voltar pra casa. Eu sinto sua falta.

Pude ver que os olhos de Hermione se encheram de lágrimas. Rose costumava causar esse efeito nela sempre que dizia coisas daquele tipo.

– Rose... Que tal a gente ir tomar um refrigerante e depois voltamos? – Iara perguntou.

Rose olhou para mim esperando a minha permissão.

– Pode ir. – Eu sorri para ela e a coloquei no chão.

– Eu já volto mamãe. – Ela olhou para Hermione e foi para perto de Iara. As duas saíram da sala e eu me sentei na cadeira ao lado da cama.

– Ela se parece com você. – Ela me disse.

– Só um pouco... Depois que você a conhece melhor vê que ela se parece muito com você.

– É mesmo? Como o que?

– Bom... Ela tem um jeito delicado de fazer as coisas... É muito inteligente, muito mesmo. Ela é bastante calma... Coisa que com certeza não puxou de mim... É gentil... Todos gostam dela.

– Acho que nisso ela não se parece comigo.

– Por que não?

– Bom... Se todos gostassem de mim esse quarto estaria cheio.

Olhei para o quarto vazio.

– Bom Hermione... Todos querem respeitar a situação delicada em que você se encontra. Todos da minha família te adoram, e os nossos amigos... Bem... Eles ficaram mais do que felizes quando dei a notícia. Ficaram em choque, mas felizes. Se pudessem todos estariam aqui.

– Eu não sei se consigo acreditar nessa história.

– Do que está falando?

– Bem... Eu não me lembro de nada... Absolutamente nada... Nem mesmo o meu nome. Como vou saber que você não está inventando isso e querendo fazer com que eu acredite nessa história para você não ficar com a tristeza de ter perdido uma esposa?

Eu não estava acreditando. Ela achava que eu estava inventando tudo? Depois de tudo o que passei por ela?

– Você só pode estar ficando maluca...

– Não, não estou maluca.

– Hermione eu tenho fotos para comprovar. Tenho documentos. Tenho tudo! Como acha que eu posso mentir por isso?

– Bem... Você nem ao menos usa uma aliança.

Eu olhei para minha mão esquerda, realmente não estava com minha aliança. Por que eu tinha que ter tirado ela naquele dia?

– Eu tenho uma aliança Hermione.

– E por que não está usando ela?

– Por que... Por que... Oras isso não vem ao caso.

– Eu continuo não acreditando em você.

– Ótimo! Então não acredite. – Eu me levantei furioso. – Quer saber? Nem mesmo perdendo a memória você deixa de ser uma sabe tudo briguenta. Você sempre foi assim.

– Ótimo.

– Ótimo.

Virei de costas para ela e respirei fundo. Eu não poderia perder a paciência com ela naquela situação. Mesmo que ela tivesse sendo uma cabeça dura.

– Ela sabe de toda a história?

– Quem? – Perguntei ainda de costas.

– Rose.

– Contei em partes. Ela ainda não tem idade para saber os detalhes.

– Você tem cuidado dela sozinho?

– Minha irmã Gina me ajuda... Fica a manhã com ela e a leva para a escola. Eu só busco.

– Mas você que da comida para ela, da banho e tudo mais?

– Sim.

– Ela é muito educada.

– Sempre demos uma boa educação para ela.

– Olha me desculpe pelo que eu falei... É que tente me entender. É difícil acordar sem saber nada da sua vida e de repente alguém aparece dizendo que é seu marido. É como se eu tivesse um casamento arranjado.

Eu me virei para ela e a encarei.

– Entendo. Te entender foi tudo o que eu fiz durante nossos anos de casado. O que eu não admito é que diga que eu estou mentindo para você. Eu nunca menti para você durante esses doze anos que nos conhecemos.

– Doze anos?

– Sim.

– Nossa... É... Muita coisa... – Ela sorriu sem graça.

– É sim.

– Nos conhecemos desde criança?

Eu me aproximei e me sentei novamente, me ajeitando na cadeira.

– Você quer que eu comece a contar a história toda desde o inicio?

– Por favor...



**





– Eu não sabia que você era tão neurótico. – Ela riu. Pelo menos uma coisa eu sabia que estava fazendo certo. Ela estava rindo.

– Bem... Digamos que um pouco. Mas eu tenho meus motivos. Você é linda e qualquer homem fica louco com você.

– Bem tenho certeza que não ficariam loucos comigo nesse estado.

– Até assim você continua linda.

Ela me olhou de um jeito que não olhava desde quando saiu de casa no dia do acidente. Ela desviou o olhar envergonhada, e eu me ajeitei na cadeira.

– E você e a Iara?

– O que é que tem?

– Vocês se conheciam quando eu acordei.

– É nos conhecemos na escola de Rose.

– Ela é muito gentil.

– É sim.

– Pensei que vocês eram namorados quando vi vocês juntos.

Eu sorri envergonhado. Decidi ser sincero com ela.

– Eu e ela saímos no dia que você acordou. Estávamos em um encontro quando ela recebeu a ligação.

– Vocês estavam em um encontro?

– Sim...

– Pensei que tinha dito que não conseguiu se acostumar com a minha falta.

– Eu não consegui... É que... Bem... Todos diziam que você não gostaria que eu ficasse sofrendo para sempre, e que gostaria de me ver seguindo a vida. Eu fiquei muito tempo resistindo a isso, mas quando finalmente decidi continuar minha vida tudo isso acontece. Eu não tive culpa Hermione, sabe... Eu fiquei realmente muito mal... Mas eu tinha que cuidar da nossa filha e...

– Você estava certo...

Ela me interrompeu.

– O que?

– Eu realmente não ia querer que você ficasse sofrendo. Ia querer que continuasse sua vida.

– Mas você não morreu Hermione, está aqui.

– Estou dizendo se tivesse morrido. Mesmo não me lembrando de você, acho que não gostaria de ver ninguém sofrendo por mim.

Eu fiquei em silencio olhando para ela.

– Você a beijou?

Minhas mãos começaram a suar. Eu não saberia mentir para ela. Nunca soube. Com certeza ia começar a gaguejar e ela desconfiaria.

– Uma... Uma vez.

– Você gostou?

Eu não sabia aonde enfiar a minha cara. Eu estava dizendo para minha esposa que tinha beijado outra mulher, e ela ainda estava me perguntando se eu gostei.

– Claro que eu prefiro os seus e...

– Perguntei se você gostou.

– Sim... – Olhei para ela e ela continuava do mesmo jeito. Não parecia decepcionada nem nada. – M... Mas só para me defender... Eu imaginei você...

– Típico de um homem dizer isso. – Ela riu. – Não se preocupe, não estou com raiva de você. Eu poderia estar se pelo menos me lembrasse de você. Mas eu não sinto nada. Não sinto ciúmes, não sinto raiva.

Senti como uma faca no meu peito. Eu sabia que ela poderia não sentir nada por mim mais... Mas ouvir aquilo da boca dela foi torturante.

– Acho que ela gosta de você.

– Hermione você está mesmo me dando conselhos amorosos? – Ri sarcasticamente. – Minha esposa me dando conselhos amorosos...

– Eu sou sua esposa só no papel... Nem te conheço.

– Mas vai se lembrar... Precisa se lembrar.

– Pra que? Você já estava acostumado a viver sem mim... Qual é o problema de continuar vivendo?

– Você percebe o que está dizendo? – Perguntei nervoso.

– Voltei! – Iara abriu a porta animada. Disfarcei olhando para o lado, tentando me acalmar. – E com ótimas notícias. Hermione vai ter alta hoje!

– Sério? – Ela perguntou parecendo animada.

– Sério! – Iara olhou para mim. – Não está animado Rony?

– Hum? Estou! Muito. – Forcei um sorriso.

– A mamãe vai voltar pra casa! – Rose disse animada.

– Não sei se ela vai voltar pra casa. – Eu olhei para Hermione.

– Como assim? – Iara perguntou confusa.

– Acho que ainda não estou preparada para encarar a realidade.

Ficamos em silencio. Eu virei de costas para ela, tentando não demonstrar minha decepção em ouvir aquilo. Iara ficou olhando confusa para nós dois.

– Bom... – Ela quebrou o silencio. – Acho... Acho que Hermione pode ficar um tempo na minha casa. Só até... Só até se acostumar com tudo isso.

– Mesmo? – Hermione parecia alegre com a notícia.

– Mesmo.

– De jeito nenhum! – Disse rapidamente. – Hermione tem uma casa! Não quero ser grosseiro com você Iara, e agradeço a ajuda, mas Hermione tem uma casa, gostando ou não.

– Eu acho que eu mesma posso decidir para onde eu vou. – Ela respondeu brava.

– Não pode. Não está em condições. – Eu disse sem olhá-la.

– Posso sim! Não é um simples pedaço de papel que vai fazer você mandar em mim!

– Rony... De verdade, eu não me importo. Acho que tanto você quanto ela precisam de um tempo para pensar. Eu moro sozinha, seria ótimo ter uma companhia.

– Iara, não precisa se incomodar... – Eu disse, mas ela me interrompeu balançando a cabeça e sorrindo.

– Não é um incomodo. Ficarei feliz em ajudar.

Vi que não tinha outra alternativa a não ser permitir aquela loucura.



**




Deixei Rose dormindo no banco de trás do carro, ela insistiu em querer me acompanhar, mas acabou dormindo durante o caminho. Tirei a mala de Hermione de dentro do porta-malas e a coloquei no chão. Abri a porta para Iara descer, e logo depois Hermione.

– Não é muito grande... Mas é bem aconchegante. – Iara disse sorrindo.

– É ótima! – Hermione disse gentilmente. Percebi que ela estava com um casaco muito fino, e estava realmente fazendo muito frio. Tirei o meu casaco e entreguei para ela.

– Não precisa...

– Não discuta. Pegue o casaco antes que você fique congelada.

Fui um pouco rude, mas não conseguia disfarçar quando eu estava bravo e magoado, e naquele momento era o que eu mais sentia. Raiva e mágoa. Hermione pegou o casaco e o vestiu.

– Coloquei o necessário na sua mala. – Eu a peguei novamente. – Tem roupas suficientes para um mês. Se quiser ficar mais tempo, eu trago o resto das suas roupas. – Eu peguei a mala e segui em direção à casa de Iara. As duas vieram atrás de mim e eu coloquei a mala no chão. – Já vou indo... Rose já está dormindo.

– Não quer entrar um pouco? – Iara perguntou.

– Obrigado... Mas eu preciso ir. Foi um dia confuso para a Rose. Obrigado por tudo Iara. – Eu me aproximei dela e a beijei no rosto. Me virei para Hermione e não fiz nada. – Então... Até logo. – Eu me virei e voltei para o carro.

Eu sabia que tinha sido o pior de todos os homens naquele momento, afinal, quem diz “até logo” para a esposa, sem ao menos dizer: “hey, me ligue qualquer coisa. Mande notícias, quando precisar de algo me peça”. Mas eu estava realmente muito bravo com Hermione, como nunca tinha ficado antes. Eu sabia que a culpa não era totalmente dela, mas o fato dela não querer ficar com a própria família me deixava irritado. Entrei no carro e tentei deixar minha mente longe daquele assunto. Rose já estava confusa demais com toda aquela história. E eu também.


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