As Quatro Estações - Romione escrita por Verônica Souza


Capítulo 10
Inverno 10 (POV HERMIONE)




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Acordei assustada. Não tinha conseguido dormir a noite inteira, e quando finalmente consegui cochilar, tive um pesadelo. Eu estava em um carro, e Rony estava ao lado. Outro carro bateu no nosso. Olhei para o lado e ele estava... Morto.

Meu coração disparava e eu me sentei na cama. Olhei em volta, reconhecendo onde estava. Iara tinha cedido o quarto de hóspedes para mim. Era uma ótima pessoa, a Iara. Nenhuma outra pessoa deixaria uma completa estranha morar em sua casa. Olhei para a janela  e a neve caía. Senti algo familiar olhando para ela, como se o inverno fosse a minha estação favorita.

Levantei da cama e fui até a estante de livros que havia ali. Tive a sensação de que sempre gostei de livros, embora não me lembrava de nenhum que tinha lido. Olhei os porta- retratos na estante, e reconheci Iara. Era tão graciosa, bonita, gentil... Parecia o tipo certo de mulher para qualquer homem se apaixonar. Não me impressionava Rony ter se apaixonado por ela. Na verdade eu não sabia se ele tinha se apaixonado, mas era provável que sim. Ninguém ficaria de luto para sempre, e ele mesmo confessou que estava saindo com ela.

Algo diferente percorreu o meu corpo. Tive a sensação de que eu estava com... Ciúmes. Não era possível. Eu mal o conhecia. E pelo pouco que conheci ele parecia extremamente irritante. Sempre querendo me proteger, aquilo era chato. Mulher nenhuma gosta disso.

– Oh, já está acordada. – Iara parou na porta do quarto. – Eu estava indo preparar o café.

– Não precisa se incomodar.

– Não será incomodo algum. Quer vir me ajudar? – Ela sorriu.




**



– Você precisa me ensinar essa receita! – Ela disse me observando fazer torradas com ovo.

– Eu... Na verdade não lembro como sei. Só sabia. – Sorri envergonhada.

– Ah, é claro... – Ela disse constrangida. – Me desculpe.

– Tudo bem... Não é tão ruim assim. Pelo menos sei que não preciso depender de ninguém para alguma coisa. – Eu tirei a torrada da frigideira e a coloquei em um prato, entregando para Iara. Nós nos sentamos-nos à mesa e eu comecei a comer.

– Hermione... Eu posso... Quero dizer... Acho que sou sua amiga, não é?

– Claro que sim. – Tomei um gole do café.

– Então acho que como amiga... Poderia te dar um conselho, não?

– Contando que eu não me lembro de nada da minha vida, acho que preciso viver a base de conselhos por enquanto.

– É que... Bem... É sobre você e o Rony.

Ouvir o nome dele fez o meu corpo tremer.

– O que tem ele? – Fingi não estar interessada.

– Ele realmente sofreu muito por você Hermione. Não sou a pessoa ideal para dizer isso, porque só participei de uma parte da vida dele até agora. E uma parte bem pequena. Mas nessa parte, durante esses dias que passei com ele, pude perceber que ele é extremamente apaixonado por você. Nunca vi alguém amar tanto uma pessoa como ele te ama.

– Amava. – Eu a corrigi.

– Não, ele ainda ama. Você não viu a felicidade que ele ficou quando soube que estava viva. Parecia que ele ia explodir de tanta alegria.

– Não parecia que ele estava tão triste assim quando eu “morri”... Ele teve um encontro com você. – Eu percebi que ela se envergonhou. – Por favor, não me entenda mal.

– Não... Tudo bem... – Ela sorriu. – Eu não vou mentir para você. Eu estava... Começando a me sentir bem perto dele. Mas Hermione, eu disse para ele e vou repetir para você. Eu não quero ficar entre vocês. Não quero tomar o seu lugar, e muito menos competir com você. Rony é o seu marido, independente do que aconteceu, independente do que você se lembra.

– Iara, eu agradeço a preocupação... Mas eu não me sinto confortável em ter um relacionamento com uma pessoa que mal conheço. Não se preocupe comigo. Eu sei que você gosta dele, está na cara.

Mais uma vez ela ficou envergonhada.

– Se é isso que você quer... Vá em frente. Pode ter certeza que eu não vou me chatear. Não posso ter ciúmes de alguém que eu não conheço.

– Isso não faz sentido Hermione...

– Ele também gosta de você. – Disse rapidamente.

– Você... Você acha?

– Claro. Ontem quando ele nos trouxe ele se despediu de você. Ele olha pra você diferente... Ele mal olhou para mim desde que o conheci.

Ela ficou em silencio.

– Sou muito agradecida a tudo que você está fazendo por mim Iara... Mas não tente fazer eu e o Rony dar certo... Porque não vamos dar. Eu quero recomeçar a minha vida.

– Mas vocês tem uma filha...

– Sim, e isso é algo que preciso resolver logo. Não posso deixar uma criança de quatro anos no meio de toda essa confusão. Mas independente disso... Terei uma relação apaziguada e amigável com ele. Nada além disso.

Terminei de tomar o meu café e a encarei.

– Acho que você deveria chamá-lo para sair.

– O que? – Ela parecia perplexa.

– Eu atrapalhei o encontro de vocês...

– Não Hermione... Não tem nada a ver e...

– Vocês merecem um encontro para colocarem tudo isso na mesa. Precisa dizer a verdade para ele, tudo o que sente... E ele tem que fazer o mesmo.

– Isso é inaceitável Hermione...

– Por favor, Iara... Eu me sentiria melhor. – Peguei o telefone ao meu lado e entreguei para ela.

Ela o encarou por alguns segundos, e então o pegou.

– Eu não sei se quero fazer isso...

– Você quer... Se você não ligar, eu ligo.

– Não... Tudo bem... Eu ligo.

Peguei a agenda para ela e a entreguei. Ela discou o numero dele e esperou, olhando para mim.

– Não tem ninguém em casa, viu só? – Ela cochichou.

– Continue esperando. – Cochichei de volta.

– Não, Hermione!

– Iara!

– Não está em cas... Alô? Rony? – Ela sorriu. – É Iara. Não... Hermione está bem. – Ela fez um gesto para mim como se dissesse “eu avisei.” – Está tudo ótimo... Não se preocupe. Estamos tomando café da manhã. Ela fez torradas incríveis. Sim... Ela se lembrou, não é incrível?

– Para de falar de mim! – Cochichei para ela.

– Er... Rony, na verdade... Eu te liguei para... Er... Será que você não... Não gostaria de... Sair comigo na sexta à noite? Quero dizer... Só para conversarmos...

Ela fechou os olhos temendo que ele dissesse não, mas logo depois os abriu, sorrindo.

– Mesmo? Que... Ótimo! – Exclamou contente. – Sim... Às sete está ótimo. Combinado. Ah, diga pra ela que estou mandando outro. Ah, digo sim... - Ela olhou para mim e mexeu os lábios. Entendi que ela perguntava se eu queria falar com ele. Neguei com a cabeça rapidamente. – É que... Ela está... Terminando de preparar o café. Está no fogão. Sim... Claro, eu mando sim. Até mais Rony. Outro. – Ela desligou o telefone e colocou a mão no coração. – Hermione, você é louca!

– Viu só? – Eu sorri para ela. – Eu disse que ele gostava de você.

– Eu pensei que ele não ia aceitar. Meu Deus ele pode estar pensando que eu sou uma aproveitadora.

– Não está, pode ter certeza disso.

– Ele mandou um beijo pra você. – Ela disse divertida. Me levantei e coloquei as vasilhas na pia. – Não vai dizer nada?

– Dizer o que?

– Rose também mandou um beijo.

– Muito gentil da parte deles.

– Hermione você vai se esconder até quando?

– Não estou me escondendo.

– Claro que está! Mais dia menos dia você terá que conversar com Rose. Explicar tudo para ela. Ela é apenas uma criança... Até entendo você não querer ter uma relação com Rony, mas Rose não merece isso.

– Não quero puni-la. Só estou esperando um tempo. Não posso conversar com ela se eu mesma estou confusa ainda.

– Por que não fica com ela na sexta?

– É uma possibilidade. Podemos ver isso.

Ela se levantou e me deu um abraço. Estranhei, no início, mas depois retribui.

– Ele estava certo sobre você. Você é realmente um doce. Fico feliz por ter uma amiga como você.

Não respondi. Apenas ficamos abraçadas por um tempo. Ela soltou o abraço e sorriu para mim.

– Vou tomar um banho, tenho que ir para a faculdade. – Ela saiu da cozinha, me deixando sozinha.

Eu sentia que estava fazendo a coisa certa. Sentia que ela era realmente uma ótima amiga, e que poderíamos nos dar bem. Eu sabia que no fundo ela e Rony eram um casal perfeito, que ele gostava dela e ela gostava dele. Mas por que eu me sentia tão triste e magoada? Por que alguma coisa dentro de mim me fazia ter vontade de gritar e chorar? Dizer para ele não me abandonar, não desistir de mim? Eu não sabia o que aquilo significava. Eu não sabia o que era estar apaixonada. Talvez aquela sensação fosse normal para alguém que perdeu a memória. Eu não poderia simplesmente ser apaixonada por ele. Eu nem me lembrava dele. Não fazia sentido. Mas por que eu sentia tanta vontade de chorar?


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