O tempo andava passando bem devagar depois que eu e Alec havíamos entrado no escritório de Carlisle, ele não havia me dito nada coerente depois do “ é você ”, o que me deixava completamente frustrada. Felizmente, eu estava melhor nesse lance de vampirismo e conseguia terminar minhas tarefas na biblioteca mais rápido do que o normal e, com o tempo que me restava, eu ia ler algum livro ou apenas ficava sozinha. Alec me visitava na biblioteca quase todos os dias, assim como Jacob, o que não era nada bom. Jake sempre queria sair comigo, estar mais presente, etc. Minha raiva prevalecia, claro, mas quando ele me levava para passear tudo isso apenas evaporava, eu me sentia mais confortável e... Feliz.

Com Alec não era diferente. Depois do trabalho eu sempre tinha alguma coisa para aprender e ele era um ótimo professor, eu nunca conseguia ganhar dele. Depois de lutar, eu ia para o chalé tomar um banho e ele me encontrava numa rocha no alto da montanha, que dava uma visão completa da floresta. Eu precisava admitir que passar tempos com Alec era o que eu mais ansiava o dia todo, sempre que eu estava trabalhando eu sentia que ele estava lá em algum canto, e mesmo quando eu andava com Jacob meus pensamentos pairavam sobre ele. Era estranho quando acontecia. Jake estava percebendo também.

Tirando o fato de minha rotina um pouco perturbada, os assuntos com minha família andavam ruins também. Ah, na verdade não. Meus pais estavam passando mais tempo comigo e isso chegava a ser um problema, o que eu diria a Edward se ele descobrisse que Alec esteve na mansão? Depois de todo trabalho que tive para disfarçar seu cheiro! Apesar de que eu estava quase morta de curiosidade para entender por que eu era o problema de Alec, e não importava o quanto eu tentasse falar, ele jamais abriria a boca.

— Se concentre.

O que?

— Ãhm... Saia de cima de mim. – murmurei olhando para cima, Alec tinha me derrubado... De novo.

— Em que você tanto pensa?

— Como se você não soubesse a resposta! – falei exasperada, ele suspirou, estava tão perto que eu conseguia sentir seu hálito e seus cabelos em minha testa. Ele fechou os olhos e aproveitei sua distração, forcei seus ombros para trás e nos virei na grama, ficando por cima dele meio sentada, com as pernas abertas ao lado de seu corpo.

Ele tentou se erguer, se curvando para frente e consequentemente nossos lábios se tocaram por poucos segundos. O encarei, sem conseguir desviar o olhar de seus olhos vermelhos, lamentei por serem tão poucos segundos e me curvei para frente como num reflexo. O que eu estava fazendo? Eu já não me importava mais. Ele devia ter pensado assim, já que fizera a mesma coisa, e seria maravilhoso se alguém não estivesse me chamando, ou era apenas minha imaginação? Decidi ignorar, até que os chamados se tornaram gritos.

— Nessie! – pisquei algumas vezes e me sentei, Alec tinha um sorriso divertido nos lábios, até que me tirou de seu colo e nos ergueu em questão de um segundo.

— Da próxima vez, pode apostar que não estarei distraído. – ele disse com indiferença e passou por mim.

— Renesmee. – me virei para a tal voz, Jacob me encarava com os olhos em chamas, encolhi os ombros.

— Oi Jake – consegui murmurar, ele parecia aliviado – O que foi?

— Você e ele...

— Treinamento, oras – revirei os olhos – O que foi? – repeti a pergunta ansiosa, ele sorriu.

— Na verdade só estou aqui para te convidar para a festa de Sam.

— Me convidar para a festa dele? – perguntei confusa e escutei uma risada abafada, olhei por cima do ombro de Jacob, na ponta dos pés, e vi Alec escorado na parede da casa, revirei os olhos novamente.

— Sam e os Cullens nunca tiveram um bom relacionamento depois... Depois que você nasceu, é como uma oferta de paz.

— É claro, você vai levar para a festa de aniversário dele a pessoa que ele quis matar, não sei se me sinto bem com isso...

— Ah, qual é, Nessie. É só uma festa de aniversário, uma festa, por diversão.

— Não sei o que comprar a ele – desisti de enrolações, como ele mesmo havia dito, era só uma festa. O que poderia dar errado?

— Não vai precisar de presente, eu te pego ás 8.

— O que? Não, é aniversário dele, você me encontra na entrada de La Push ás 8, sem discussão. – fiquei na ponta dos pés e beijei sua bochecha, ele me abraçou e sumiu na floresta. Olhei para a mansão, Alec não estava mais lá.

Parei e fiquei encarando a mansão, pensando em várias coisas ao mesmo tempo, mas principalmente a respeito da festa, em primeiro lugar, o que eu vestiria? Não passaram 5 segundos e Alice havia aberto a porta.

— Alguém precisa de ajuda com roupas?

...

Convencer Alice de que não era necessário ir a Seattle procurar roupas fora um processo muito longo, ela passou a maior parte da tarde comigo, experimentando roupas e penteados e, no final do dia eu estava exausta. Consegui dormir por 4 horas e quando acordei eu estava em meu quarto no chalé, minhas roupas arrumadas em cima de uma cadeira, agradeci por ter uma tia tão responsável.

O vestido era simples, todo preto com alguns detalhes dourados. Ele ia até metade de minhas coxas e era bem justo, mas de uma forma que me deixava confortável, os sapatos eram meio altos, mas fechados e discretos, assim como o vestido. Tomei um banho sem pressa, vesti a roupa fiquei me encarando no espelho, pensando no que poderia fazer com meu cabelo. O máximo que eu sabia fazer era uma trança, mas tanto faz, era uma festa na praia, eu não precisava ser o centro das atenções, muito menos me arrumar toda para causar uma boa impressão. Resolvi apenas fazer um coque, deixando minha franja e mais alguns fios de cabelo soltos, fiz uma maquiagem não muito extravagante e sai do chalé.

O Mercedes Guardian de minha mãe estava estacionado ali perto, eu estava quase entrando no carro quando escutei um barulho vindo das árvores.

— Gostei do vestido. - Alec estava atrás de mim, abafei um grito e fechei os olhos.

— Alec, você quase me matou de susto!

— Tanto faz.

— Eu... tenho que ir.

— Eu sei, boa festa com os caninos – sorri e me virei para o carro novamente – Cullen.

— Oi? – voltei a encara-lo, ele se aproximou de mim e ergueu o braço por cima de minha cabeça, tirando o grampo de meu cabelo, sentir os cachos cobrindo meus ombros era uma sensação boa.

— Bem melhor.

...

A festa estava muito agitada, nem parecia uma festa de aniversário, era mais um estilo boate. Jacob havia me levado para ver seus amigos de novo, Seth era meu favorito.

— Você está linda – disse Seth, sorri e fui abraça-lo.

— Onde está Sam? – perguntou Jacob, nos observando.

—Oh, ele saiu agora pouco junto com o Jared e o Embry, foram pegar mais bebidas.

— Mais?

— Mais. – Seth parecia envergonhado, como se quisesse nos dizer alguma coisa, e seja lá o que fosse, ele havia se controlado.

— Bem, a festa não pode esperar.

Depois de nosso breve encontro com Seth, ele me levou para conhecer o resto. Haviam rostos novos ali, além dos que eu já conheci aquela vez, haviam muitos outros, a matilha havia crescido, os novos lobos eram muito... Fofos. Nenhum deles nunca havia visto uma híbrida, eu era um pertence novo a eles, como um cachorro cheirando um poste, tirando as intenções e a parte atrativa. Jacob segurava minha mão com firmeza enquanto me guiava pela multidão.

Não tive noção de quanto tempo havia passado, Sam estava demorando demais, a maioria das pessoas estavam bebendo descontroladamente e eu já imaginava que isso não acabaria bem, Jake me mantinha longe de qualquer um “ engraçadinho ” que se aproximava, os novatos bêbados eram os mais engraçados nesse quesito, ele parecia com ciúmes mas eu estava apenas me divertindo. Até que Sam chegou.

A atmosfera mudou completamente, todos ficaram loucos e eu... Bem, como eu me sentia?

— Jake, Jake, Jake – Sam cantarolou ao nos ver – Você a trouxe então.

— Sam – Jacob parecia estar tentando ficar sério, já que Sam quase não parava em pé.

— Feliz aniversário – murmurei no tom mais doce que pude, ele baixou seus olhos até mim e sorriu, relaxei instantaneamente.

— Ah, você. Eu lembro de quando era pequena, de quanto todos nós a odiávamos – ele começou a rir, outros lobos ali perto riram também – Puxa, Bella bem que podia ter te escolhido, não é, Jake? Aposto que nunca teria ficado com ela se não fosse o imprinting.

— Sam, cale a boca – Jacob disse sério, abri e fechei a boca duas vezes antes de conseguir dizer alguma coisa.

— Do que ele está falando?

— Nessie...

— O que é?

— Você não contou a ela? – Sam disse com sua falsa alegria, Jake o fuzilou com os olhos.

— Já chega, Nessie, vamos.

— O que você não me contou? – empurrei sua mão, que estava estendida e o encarei, olho no olho.

— Ela merece saber – Sam insistiu.

— Chega, Sam!

— Conte a ela, Jacob! Conte... – e então Jacob o empurrou, ele voou pelos ares, até que um enorme lobo negro pousou no chão. Todos pararam para nos encarar, eu não sabia para onde correr ou o que fazer, mas ficar com Jacob era a ultima opção que eu queria no momento.

— É melhor você ir, Nessie – ele suspirou, colocando seu braço em minha frente.

— Não, eu quero uma explicação! – o lobo negro avançou sobre nós, Jacob me empurrou contra a areia. Me levantei do chão a tempo de ver ele se transformando e avançando contra Sam. Ah, que maravilha.

Eles estavam mesmo fazendo isso? Ele havia feito o que fez? Eu não conseguia acreditar.

— Nessie, está ferida? – Seth apareceu de...Onde?

— Não, acho melhor eu ir para casa.

Me levantei e corri para longe dali na velocidade inumana, meus olhos ardiam com as lágrimas que eu estava me controlando para não derramar. Jacob conseguia ser tão idiota as vezes, e mais uma vez voltamos a estaca zero. As mentiras sempre ganhavam.

Comecei a dirigir o mais rápido que eu pude, para o mais longe dali possível.

— Parece que o cachorro fez alguma coisa errada – pisei no freio com tanta força que fiquei com medo de tê-lo quebrado – Por que parou?

— O que você está fazendo aqui?

— Não achei que estivesse em condições de dirigir.

— Desculpe, mas isso realmente não é da sua conta.

— Vem. – Alec saiu do carro e eu bufei, o seguindo.

— Para onde vamos? – resmunguei sem ânimo.

— Para onde mais você acha? – disse ele e logo entendi.

Corremos até a nossa montanha, a raiva parecia me deixar mais veloz, já que consegui acompanhar Alec sem ficar ofegante ou para trás. Durante o trajeto, me perguntei o que ele estava fazendo aqui. Talvez matar alguns lobos, ou algumas pessoas, era o que ele gostava de fazer. Uma parte de mim se acendeu, pensando que ele estava ali por mim, mas guardei esse pensamento no mesmo instante que eu o tive.

Assim que chegamos ao rochedo, eu me sentei com as mãos em meu rosto, suspirando profundamente. O que eu estava fazendo? Era para ser uma noite feliz, Jacob, eu, festas, bolo, essas coisas. Mas não, ele havia deixado tudo isso de lado por uma briga idiota, e por que? Porque ele estava escondendo coisas de mim, de novo!

— Então?

— Alec, não estou no meu melhor momento, a única coisa que eu quero fazer agora é... – parei de falar assim que ele me estendeu uma pedra, a luz da lua em seu rosto o deixava... Perfeito. Perfeitamente irritante, eu quase não conseguia encara-lo.

— Quebre a pedra – disse. Revirei os olhos e apertei a pedra o mais forte que pude, senti ela se desfazendo em meus dedos, mas não completamente. Ah, ótimo, nem quebrar uma pedra eu era capaz, que grande híbrida. Joguei a pedra longe com frustação.

— Hoje... Novamente, eles estão escondendo coisas de mim, Jacob me deixou de lado para discutir com Sam. Ele está escondendo alguma coisa de mim, por que eles tem que fazer as coisas serem tão complicadas?

— Ás vezes dizer a verdade pode fazer mais mal do que bem, Cullen.

— Não nesse caso, Alec. É sobre mim que eles estão falando, tomando decisões como se eu fosse obrigada a aceita-las, e você tem razão, eles nunca se importaram com o que eu vou achar – esperei alguma resposta irônica de sua parte, mas ele apenas se sentou ao meu lado, o que me deu coragem para continuar – É tão estranho, ultimamente eles estavam tentando de tudo para me agradar, e todos estavam mentindo sem preocupações, por que apenas a minha mente tem que ser aberta a todos? Eles podem saber o que eu penso, mas eu tenho que ser restrita de todo conhecimento, até de sua parte.

— O que? – ele perguntou surpreso.

— É isso mesmo, você. Você não quer me contar o que descobriu.

— A questão é que eu ainda não descobri nada de interessante, só por isso.

— Por favor – me levantei – Por que você está aqui? Não tem pessoas inocentes para matar? Ou ver toda essa preocupação minha é legal para você? Eu realmente não entendo, nós não podemos ser amigos, eu deveria odiar você... E você não dá a mínima para o que eu penso. – caminhei para longe dele, sem muita vontade.

E tudo se resumia a isso, incompatibilidade. Eu não era compatível com ninguém, não era digna de ninguém, se eu nem sabia quem eu era até pouco tempo, o que diria das coisas que eu ainda não sabia? Eu era apenas a sombra de uma pessoa.

— Droga, Cullen. – Alec se levantou e veio até mim, me virei para pedir desculpas e no outro instante eu já estava em seus braços e nós estávamos nos beijando. Ou eu estava beijando ele, ou ele havia me beijado, não importava.

Minhas mãos foram para seu cabelo, como desejei fazer no dia que o vi pela primeira vez, os fios, macios e sedosos se espalharam em meus dedos. Seus lábios ficam mais ansiosos colados aos meus, e o beijo ia de suave para intenso. Era errado, era muito errado, eu sabia disso, mas nada disso importava no momento, eu não queria que ele parasse. Fechei meus dedos em seus cabelos, me inclinando em sua direção, me apoiando nele como se eu precisasse dele. Seus braços me puxaram para mais perto e ele usou sua própria boca para abrir a minha, carinhosa e cuidadosa, gemi timidamente em seus lábios e me entreguei ao momento.

Nossas línguas se uniram numa dança lenta, não era para ser rápido, não. Eu estava embriagada, como se ele fosse a droga que eu não conseguia viver sem, todos os meus medos foram consumidas pelo desejo de mantê-lo próximo, eu poderia ficar assim, sentindo sua boca na minha para sempre.

Quando – infelizmente – meu ar acabou, nós nos afastamos, eu estava ofegante, meu coração galopando em meu peito e eu quase podia sentir o coração dele batendo também. Alec colou nossas testas e ficamos parados por alguns instantes, até eu conseguir finalmente me acalmar. Olhei para seu rosto sereno, seus lábios puxados num pequeno sorriso, seu olhar quase tão intenso quanto o nosso beijo fora, eu não queria acabar com aquilo.

Meus olhos pairaram sobre seus lábios e me perguntei o que aconteceria se eu resolvesse fazer o que eu estava com vontade de fazer, ele colou nossos corpos e toda a minha insegurança evaporou. Seus olhos vermelhos me examinavam com cautela, mas ainda sim era algo... Feroz. Alec estava ali, tão perigoso e sensual quanto o diabo, e eu estava prestes a cometer meu mais doce pecado.