My Kind Of Love escrita por Jessie Austen


Capítulo 7
Capítulo VII


Notas iniciais do capítulo

Dobradinha! ♥



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John olhou para sua terapeuta e olhou para o relógio. Fazia mais de vinte minutos que estava deitado no divã e não havia conseguido encontrar nada para dizer.

E o que poderia? Estava ali exatamente porque não se lembrava de absolutamente nada dos últimos cinco anos!

– Você tem que tentar. Então...me diga sobre seu namorado. – ela disse enquanto ajeitava seus óculos.

– Sherlock...ele é incrível. É assustadoramente genial e tem sido bacana poder morar com ele. Somos muito diferentes um do outro. Quero dizer, há algumas coisas na postura dele que eu não aprovo, mas...eu não sei. Talvez, se fôssemos iguais nós não estaríamos cinco anos juntos, certo? Ele é muito, muito bacana no final das contas.

– Ele tem ajudado em sua recuperação? Como tem sido?

– Sim...ele é extremamente esforçado. Às vezes até demais, me deixa sem graça. Apesar de ser discreto e tudo o mais, eu fico muito sem graça ainda...porque neste momento ele é só um cara, sabe? E é ainda muito diferente para mim. Eu não me lembro de absolutamente nada e isso é frustrante!

– Tenha calma, primeiramente. Você tem se esforçado e não há como acelerar o processo. Tem uma origem psicológica, portanto quanto mais forçar, mais levará tempo.

– Talvez. Mas eu me pergunto se um mês não foi o suficiente...quero dizer, eu preciso lembrar de qualquer coisa e...nem sonhos eu tenho! – John se desesperou.

– Ok. Me fale sobre como Sherlock te ajuda. – ela pediu.

– Bem, ontem fomos no Alfredo’s. Ele me contou que íamos muito lá no início do namoro. É um restaurante italiano no centro e é bem agradável. Nós sempre conversamos sobre coisas comuns e eu percebo que apesar dele ficar muito desconfortável quando pergunto algo íntimo, eu tenho a certeza de que ele poderia me responder tudo. E isso me machuca porque eu não posso corresponder. Então eu acabo não perguntando nada. – desabafou.

– John, sua preocupação é natural. Mas é necessário que você tente mais. Não digo que é necessário forçar situações ou fazer diversas perguntas, mas se permita. Se imagine sentindo algo ou se colocando no lugar dele ao menos.

– Eu jamais poderia brincar com isso...quero dizer, eu...Sherlock é muito legal e tem sido tão cuidadoso com tudo. Ele só voltou a trabalhar porque eu insisti. Ele queria ficar comigo, até eu lembrar! Isso é loucura...- disse após refletir.

– Ele tem tentado o máximo que pode, ele quis isso...que você retornasse para onde vocês estavam.

– Sim, mas...eu, eu não quero ser um peso. Quero dizer, ele se lembra dos últimos anos, mas sinceramente eu ainda estou vivendo minha fase vestibulando. É tão louco, mas na semana passada eu quis ligar para minha ex. Ela é casada agora! Eu...eu não sei mais o que dizer ou fazer.

Os dois então se olharam e a médica respondeu:

– Como eu já disse. Parte de seu problema é psicológico. Talvez você não queira se lembrar do que aconteceu antes do acidente.

– Mas por que eu faria algo assim?

– Talvez porque vocês estavam tão felizes que você tenha medo do que poderá vir a seguir. Ou o contrário.

– Não, talvez seja a primeira mesmo. Ele me contou que estávamos bem antes de tudo isso acontecer. – lembrou.

– E todo o restante do processo? Tem feito os exercícios? Tomado os remédios?

– Honestamente eu não tenho tomado os antidepressivos. Como médico eu sei que eles não são tão legais quanto parecer ser. Tenho me alimentado direito, mas quase não faço exercícios...- confessou.

– Então, eu peço que você comece o quanto antes a fazer alguma atividade física. Se ocupe, não fique apenas pensando sobre o que deve se lembrar. Se foque em outras coisas, um hobby talvez.

– Meu blog? – sugeriu.

– Sim, e outras coisas além do blog. Livros, caminhadas. John, você precisa se exercitar. Nossa sessão de hoje terminou, mas nos vemos na quinta. Passarei um livro para ler. Tente dormir também em horários regulares e qualquer alteração brusca de humor ou comportamento que perceber não deixe de me avisar, tudo bem?

– Claro, doutora. Obrigado. – John agradeceu pegando o livro e saindo.

Enquanto voltava pensou nas últimas quatro semanas. Sim, frustração era o que ele sentia. Sentia também falta de casa, seus pais. Sentia falta de algo que não se lembrava do que era. Era patético e reconhecia isso.

Sherlock havia viajado para o interior e só chegaria naquela noite. John gostava de ficar sozinho, assim poderia revirar as coisas tranquilamente, sem pressão. Quem sabe sua memória estivesse presa em uma carta, foto, livro, música, filme...dentro de uma gaveta?

Sim, Holmes estava tentando o máximo que podia e isso o feria ainda mais. Admitia se sentir atraído pela presença do moreno, mas ele, estando tão sensível e instável como estava, poderia confiar em seus próprios sentimentos? E se sua mente tivesse pregando uma peça? Mais uma? Não, ele não queria machucar alguém que não escondia os seus próprios.

Abrindo seu notebook tentou assistir algo ou escutar um álbum dos Beatles, mas não conseguiu. Na pasta em que tinha coisas deles, reviu cada uma das fotos.

Gostava de todas, mas uma em particular o chamava atenção. Na verdade era bem simples e nada tinha de especial. Tirada pela Molly, segundo Holmes. Os dois não tinham visto, e John o olhava como se brincasse. O moreno estava bem concentrado no que fazia, mas ainda assim era perceptível notar um sorriso e Watson sempre se perguntava o que tinham feito ou dito para estarem daquela maneira engraçada, naquela pose tão unida.

As fotos apenas dos dois não davam mais de dez. Abriu seu blog e tentou escrever algo, mas foi completamente inútil.

Começou a mexer na configuração e aquilo o distraiu por um tempo. Viu todos os layouts e opções de cores. Por engano entrou na parte de rascunhos e acabou achando um texto de sua autoria de seis meses atrás. Seu coração disparou ao ver que o mesmo falava sobre algo pessoal e não profissional. Nele tinha escrito:

“Meu coração está batendo de uma maneira diferente

Já se foi tanto tempo

E eu não me sinto o mesmo

Meu coração está batendo de uma maneira diferente

Já se foi tanto tempo

Você vai sentir a minha falta? Como eu vou?

Quando não houver nada para ver? Como eu?

Me diga, como isso aconteceu?

E agora não há mais esperança para você e para mim

Você ainda acredita

Em você e eu?

Somos tudo o que poderíamos ser?

Está destinado assim?”



John suspirou ao perceber que era a letra de uma música. Procurando melhor, viu que se chamava “Missing” do grupo The XX. Apenas uma música e isso o deixou muito pensativo.

Por que ele teria deixado aquele rascunho? Ele e Sherlock poderiam ter brigado. Sim, deveria ser algo do gênero. Tentando não pensar mais no assunto, ele desligou o note e foi visitar a sra. Hudson e lá passou o restante da tarde, voltando para o apartamento apenas à noite.




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John acordou o barulho da chave virando na fechadura. Sherlock havia voltado.

Olhou para a janela, ainda de madrugada. Olhou para seu celular. 02h40. Levantando-se, colocou seu roupão e foi até a sala.

Todas as luzes estavam desligadas, mas avistou a janela escancarada e Sherlock estava sentado nela, fumando e olhando para o horizonte, com a iluminação fraca da rua brilhando em seu rosto claro e suas roupas muito escuras.

– Ei...oi. – disse de uma maneira que não o assustasse, mas Holmes jogou a bituca fora e se levantou, fechando a janela.

– Oi. Espero não tê-lo acordado.

– Não...eu, eu...tava lendo. – mentiu, mas não sabia o motivo.

– Oh. – o moreno respondeu percebendo a mentira.

– Então...como foi lá? Deu tudo certo?

– Sim. Sim. Eu terei que voltar na próxima semana, talvez não precise, Lestrade tentará resolver tudo.

– Legal.

– Como foram os últimos três dias? – Sherlock puxou papo.

– Foram razoáveis. Nada de mais. Hoje à terapia e me indicaram um livro. E eu aprendi a fazer tricô com a senhora Hudson hoje. – brincou e isso fez Sherlock sorrir.

– Eu...eu sinto muito se o cheiro do cigarro...eu sei que odeia. – Holmes disse sem graça.

– Oh, não. Tá tudo bem. Você não deveria fumar, sou contra – John sorriu – mas está tudo certo. É sua escolha. Eu sou médico e sei que o que esta fazendo é errado e o seu pulmão não merece, mas é sua escolha mesmo assim.

Os dois então se olharam e John percebeu que as feições do detetive se tornaram muito triste.

– Vou para meu quarto, tenho que desfazer minhas malas. – Sherlock decidiu, tentando disfarçar.

– Espere, o que houve? Eu disse algo? Por favor,fale...

– Não, é bobagem.

– Sherlock, é sério. Me conte logo. – John pediu se aproximando.

– É que eu parei de fumar depois que tivemos uma briga e você me disse exatamente essas palavras: “Mesmo eu sendo médico e sabendo do que eu falo, você não escuta! Seu pulmão não merece isso e você é esperto o suficiente para saber disso.” Depois daquele dia, depois destas palavras eu quis parar. Por você. – Holmes respondeu com um sorriso triste.

– Eu sinto muito, eu nunca poderia...- John tentou dizer.

– Não, está tudo certo. Só foi uma tolice da minha parte. – interrompeu.

Os dois se encararam muito de perto e John quis fazer alguma piada para amenizar o clima, mas não encontrou nada.

– Boa noite então. – o moreno disse saindo, seguindo para o final do corredor, deixando-o sozinho, apenas com seus pensamentos.














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