My Kind Of Love escrita por Jessie Austen


Capítulo 15
Capítulo XV




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John arrumava sua mala sem emoção. Estava tudo pronto para seu check in no final da semana que antecederia sua viagem e faltava apenas guardar suas camisas xadrez e conferir novamente o passaporte e a passagem.

Hospedado desde que havia voltado de Bournemouth em um pequeno hotel localizado no centro, não havia se acostumado com aquele tipo de situação, com aquele tipo de solidão.

Quando seu interfone tocou, já estava terminando de ajeitar suas coisas para ir dormir.

– Para mim? Estou indo. Obrigado.

Desceu pelo elevador e ao chegar à recepção, avistou Sherlock sentado de cabeça baixa, mascando um chiclete nervosamente.

– Oi...- disse se aproximando.

Holmes se levantou encarando-o e parecendo alterado demais para conseguir falar.

– Boa noite, John. Desculpe pela inconveniência. Podemos conversar? Por favor. – pediu enquanto se encaravam.

– Sem problemas. - o loiro respondeu ainda muito surpreso.

– Podemos ir para fora?

– Claro.

Os dois saíram, e ficaram na calçada. Deveria ser por volta de duas da manhã e quase não havia mais ninguém na rua. A neve começava a cair e com o Natal se aproximando já era possível ver luzes decorando alguns estabelecimentos.

– Presumo que não estava dormindo. – o moreno comentou tentando respirar.

– Não. Não se preocupe...eu demoro pra dormir em hotéis, enfim. Como descobriu que eu estava aqui? – John perguntou cruzando seus braços.

Os dois se encararam por alguns instantes até que Sherlock disse:

– Foi fácil, brincadeira de criança. Eu...eu queria dizer que sinto muito por hoje à tarde.

– Oh. Sente mesmo?

– Sinto. Sinto muito por ter dito em voz alta que era burrice e uma estupidez sem tamanho a de querer ir para outro país. – Holmes respondeu fazendo John sorrir.

– Você é impossível.

– Você tem que reconhecer que é loucura e nada recomendável.

– Eu sei...mas, eu preciso. Eu...eu continuarei tendo acompanhamento médico...

– O melhor seria se você ficasse aqui. Comigo. Conosco. Com quem você conhece.

– Sherlock, eu tentei...mas eu não consigo. Eu vou acabar enlouquecendo...eu quero começar do zero. Eu só fui até sua casa hoje porque eu quis que soubesse, sei lá, parte de mim acreditava que você se importava com o que eu sentia...

– E eu me importo. Acredite.

– Eu sei! Eu percebi! E agradeço por isso.

–O motivo pelo o qual eu bati no Peter aquele dia e discuti hoje é muito claro, não é? Eu quero ficar com você... – declarou - Mas nada que eu disser ou fizer vai fazê-lo mudar de ideia e é isso que eu não consigo aceitar.

– Sinto muito. – o médico respondeu tristemente.

– Ao contrário de como eu agi hoje, eu respeitarei sua decisão a partir de agora. Antes de nos despedirmos, eu quero apenas que saiba duas coisas.

– Claro, sim...

Sherlock suspirou fundo e se aproximando de John, ambos se olhando até ele dizer:

– Eu te amo, John. Eu te amo demais e eu quero você. E continuarei querendo pelo resto da minha vida. A distância só me fez ter ainda mais certeza do que para mim já era muito claro. Ficar longe de você tem sido horrível, mas me fez rever sobre coisas que eu pensei que já estavam esclarecidas, encerradas, definidas. E quer saber? Não estavam e não estão. Continuarão assim até que você me aceite de volta. Eu realmente sinto muito por tudo, por ter mentido sobre a nossa briga antes do acidente, mas o que eu mais me arrependo mesmo foi ter me afastado de você...logo de você, John. Como pude? A pessoa que eu mais amo? Mas se ficar de longe é o preço que eu tenho que pagar, saiba que não aceitarei. Não enquanto eu sentir que você me quer também. E eu sinto tanto a sua falta. Sinto falta de nós...e de cada parte sua. Talvez eu não tenha sido a melhor pessoa para você, então eu quero apenas que saiba que se caso um dia me der uma chance, eu tentarei recompensar o que fiz de errado. – Sherlock declarou enquanto lágrimas caiam por seu rosto, não se importando, sequer percebendo já que era um alivio ter conseguido dizer tais palavras após tanto tempo.

– Sherlock...eu...- John tentou dizer.

– Não. Tem uma última coisa... – Holmes interrompeu.

Segurando o rosto de Watson ele aproximou seus lábios lentamente, beijando-o de maneira delicada e ainda assim intensa. John pensou em relutar, mas era impossível continuar imparcial a tudo aquilo. Suas mãos passaram pelos cachos de Sherlock que com este simples gesto o empurrou para a parede intensificando beijo enquanto seus corpos se pressionavam com força contra o outro, aquele conhecido choque passando por seus dedos, por suas línguas que agora provocavam um ao outro.

Puxando-o ainda mais contra ele, Watson segurou o pescoço de Sherlock, deixando uma marca muito vermelha em sua pele pálida. Após se separarem, sem fôlego, Holmes encostou sua testa com força na do loiro, ambos com olhos fechados e em um sussurro, disse:

– É frustrante porque isso é o melhor que eu posso fazer e eu odeio estar fora do controle da situação. Então, John...por favor. Lembre-se de mim, não me importa quando isso acontecerá: daqui três anos, daqui cinquenta anos. Só não se esqueça para sempre do que vivemos. Do que somos um para o outro. Por favor. Lembre-se de mim. Por favor.

Se separando, Sherlock o beijou levemente uma última vez antes de se olharem. O médico completamente transtornado.

– Eu...eu acho melhor eu entrar agora. - disse.

– Claro. Obrigado por me receber. Faça uma boa viagem. Cuide-se. – Sherlock respondeu enxugando suas lágrimas e partindo, seguindo pela calçada sem olhar para trás.





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Quatro meses mais tarde...





Sherlock olhava cuidadosamente cada exame separado na mesa do laboratório da faculdade quando Mycroft entrou com dois copos de cappuccino.

– Meu irmão favorito! Trouxe para você...a quantos dias não se alimenta? – este perguntou sentando-se ao seu lado.

– Dois. Por quê?

– Oh, por nada! Ainda bem que cheguei antes de ver estirado aqui neste chão. Por que não vai dormir um pouco?

– Dormir? Não vejo necessidade.

– Certo...aceita um cigarro?

– Não. Eu parei. De novo. E desta vez para sempre. – Holmes respondeu sério enquanto olhava através do microscópio agora.

– Novidades sobre John Watson? – o Holmes mais velho perguntou interessado, e ouvir aquele sobrenome fez o coração de Sherlock doer.

– Você sabe que não. Ninguém teve mais contato com ele, acho que isso nem é mais possível. E muito menos necessário na atual circunstância.

– É...vocês terminaram definitivamente. Sinto muito. É sério, não estou brincando...apesar de tudo gostava de vocês dois juntos. Só o John para te aguentar mesmo.

– Eu sei muito bem disso. – o mais novo concordou mal humorado.

– Ei...que tal comida tailandesa, uh? Vamos? Eu pago...e tenho uma proposta para fazer!

– Fale ela aqui. Assim eu não perco o apetite. - ironizou.

– Pois bem. Trabalho para o governo, como bem sabe...

– Tecnicamente.

– Tecnicamente...e nós vamos agora cuidar de um caso na Rússia, “top secret”, para variar, que durará oito meses...é coisa rápida. E eu queria que você viesse comigo.

– Por quê? – Sherlock questionou.

– Porque eu adoro sua companhia! Por que você acha? Porque ninguém aguenta mais ver você curtindo fossa por aqui e porque eu realmente acho que vai fazer bem e você poderá me ajudar. Vamos, será bacana e eu prometo deixar os casos de assassinatos mais difíceis para você! O que acha?

Sherlock pensou por alguns instantes e encarando-o respondeu:

– Eu não sei.

– Você não sabe? Uau...esse cara mexeu com você mesmo. Paga-se muito bem...tudo de primeira classe.

– Eu não ligo para dinheiro e você sabe muito bem.

– Ok. Você sabe que uma hora ou outra precisará superar, Sherlock. Então...o que me diz?

– Essa tal missão na Rússia envolve misseis americanos e britânicos escondidos no continente africano?

– Oh yeah. Na mosca. – Mycroft sorriu tomando um gole de sua bebida quente.

– Eu aceito. Apenas porque não tenho mais motivos que me prendam aqui. – o detetive respondeu de maneira decidida após refletir por um tempo.





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Após um dia exaustivo, John havia finalmente se deitado. Trabalhando dias a fio em uma tenda abafada o fez crescer profissionalmente, mas principalmente como ser humano. Mas que era altamente estressante, ah isso era.

Naquela semana mal havia conseguido parar para se alimentar e agora queria apenas descansar, dormir pesadamente, sem sonhos. A última pessoa que pensou foi em Sherlock Holmes e no que ele estaria fazendo naquele momento. Em certo momento imagens sem sentido ou relação vieram à sua mente.



Uma festa à fantasia.

Ele nadando em uma competição e vencendo.

Sua mãe o abraçando e dizendo “meu filho se tornou médico!”.

Sherlock vestido de Spock em um lugar cheio de luzes.

Ele beijando Sherlock em uma espécie de terreno abandonado e completamente escuro.

Sherlock tocando Beatles no violino.

Ele rindo com a Sra. Hudson enquanto Sherlock tentava estudar de mau humor.

Ele e Sherlock tomando banho juntos.

Sherlock beijando-o na cama após receber um presente de aniversário.

Molly e Lestrade dançando perto da lareira na noite de natal.

Mycroft imitando Sherlock escondido dele.

Jim Moriarty estirado no chão da sala de sua casa muito luxuosa.

Sherlock deitado na cama do quarto onde havia crescido, chamando-o enquanto se despia lentamente.

Ele e Sherlock rindo dentro do carro com Mycroft dirigindo na frente.

Ele tentando beijar Sherlock enquanto tiravam fotos no centro de Londres.

Sherlock cuidando dele quando estava gripado.


John acordou em um pulo, suando e em prantos. Sim! Havia se lembrado de tudo.

O choro se tornou incontrolável quando se lembrou de Sherlock, da briga, do acidente e de tudo o que viveram depois dela. Se desesperou ao lembrar da distância que se encontravam naquele instante e pegando seu celular ligou para o moreno.

“Aqui é Sherlock Holmes. Já sabe o que fazer. Até mais.”

Enquanto tentava ligar mais imagens reapareciam em sua mente como um filme antigo. Todas as tentativas de se comunicar eram sem sucesso, todas caiam na caixa postal. Ligou para Sra. Hudson e para Molly e Lestrade e lembrou que no Reino Unido era a noite e portanto todos deveriam estar dormindo também.

– Que merda! Alguém! Alguém..por favor. Atendam!

Saiu do quarto improvisado no hospital onde estava morando em direção ao quarto do médico chefe. Tinha que voltar o quanto antes para Londres e precisava que fosse naquele instante.





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Watson teve sorte de ao chegar ao aeroporto, conseguir pegar um táxi rápido. Não havia conseguido falar com Sherlock ainda, mas em suas rápidas ligações já tinha avisado a Sra. Hudson e Molly que estava de volta.

Sentia-se tão emotivo, tão abalado, mas feliz. Finalmente tinha voltado para onde ele pertencia e para quem ele pertencia, principalmente.

Repassava tudo que tinham vivido nos últimos seis meses e sim, o detetive o amava ainda, isso tinha ficado claro.

– É aqui. Pode ficar com o troco restante, obrigado. – disse pagando o motorista assim que viu o famoso número 221B da Rua Baker.

Saiu do táxi com sua mala e apertando a campainha nervosamente, logo foi recebido pela Sra. Hudson que o abraçou muito forte.

– Que bom que você voltou, John! – ela comemorou.

– Estou feliz de ter voltado! Em todos os sentidos, Sra. Hudson! Onde ele está?

– Oh, querido...Sherlock não está aqui.

– Onde ele esta? Me diga que eu vou atrás dele...só vou deixar minha mala e colocar outro casaco e...

– Acalme-se John. Você terá que espera-lo de qualquer maneira, ele foi para a Rússia. Já faz umas duas semanas. Quase não entra em contato...sabe como ele é né?

– ...ele está na Rússia? Que diabos ele foi fazer lá?!

– Nem eu sei ao certo! Ele foi com o Mycroft. Você sabe, ele ficou muito abalado desde que terminaram. Apesar de não dizer ele ficou péssimo, era bem visível. Mas ele deve voltar daqui alguns meses se der tudo certo.

John sentiu suas pernas falharem. Havia então corrido tanto para nada. Era por isso que não conseguido falar com ele, talvez até tivesse mudado de número. E se tivesse conhecido outra pessoa? O médico não conseguia pensar direito com seu coração batendo tão depressa.

– Querido, quer que eu o ajude a subir suas coisas? – ela perguntou.

– Obrigado. Eu...vou deixa-las aqui no corredor e quando voltar eu levo, não se preocupe. Vou comer algo. – respondeu se afastando enquanto a mulher se despedia e entrava fechando a porta.

John respirou muito fundo e fechou os olhos. A rua estava agitada naquela noite de quinta. Seguiu então pela calçada sem vontade e em direção do primeiro restaurante que encontrasse. Neste instante ouviu uma voz familiar atrás dele e um pouco afastada. Estaria delirando?

– John...

Virando-se então o avistou no outro lado da calçada, de casaco preto, mãos no bolso e sorrindo de uma maneira tímida.

Watson não conseguiu conter as lágrimas ao perceber que Sherlock chorava e atravessou correndo sem nem ao mesmo se importar em olhar para os lados, chegando ao outro lado. Os dois trocaram um sorriso e agarrando-o o beijou de maneira urgente enquanto segurava seu pescoço. Sherlock se inclinou permitindo e o beijando de volta de maneira necessitada.

– Eu te amo...tanto. - John disse chorando assim que se separaram. – Meu Deus...como eu senti sua falta. Eu sempre fui louco por você, seu maluco.

Puxando-o novamente quase sufocou Sherlock com mais um beijo que fez os dois caírem na risada.

– Você voltou. Finalmente, John. – respondeu enquanto o loiro entrava em seu casaco, abraçando-o muito forte enquanto se olhavam.

– Eu nunca mais quero brigar com você. Nunca mais quero ficar longe de você...nunca mais, nem mais um segundo. – Watson respondeu beijando-o de novo de maneira carinhosa enquanto Sherlock o cobria com o sobretudo de maneira cuidadosa.

Sabiam que eles tinham muito o que conversar agora, muito o que fazer.


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Notas finais do capítulo

muito o que ~fazer~
ehehehe!
If you know what i mean...

Boa semana e até o próximo!