Mutant World escrita por Jenny Lovegood


Capítulo 38
À Flor da Pele


Notas iniciais do capítulo

Geeeente, me segura que esse capítulo ficou enorme! O maior capítulo da história até hoje! Eitaaaa! Hahaha, espero que gostem!

Música pro capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=Qv0Dd1KKWss&list=WL&index=47

(Sentimentalismo máximo com essa música hein? Hahaha)



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Os corpos de Lilá e Safira foram cobertos com um cobertor que Hermione tinha pegado em sua casa, quando ela e Rony enfrentaram a doutora Serena por lá.

Vítor Krum, o vampiro; Katniss, a garota do fogo e a mutante invisível que atacou Luna estavam mortos. O homem gelo que atacou Gina teve a má sorte de ser ricocheteado por seus próprios poderes, e então, ele congelou e se corpo se despedaçou no ar. Mais um morto. O vampiro que Harry enfrentou foi abruptamente morto pelas mãos do garoto; Harry não precisou decepar a cabeça do mutante para derrotá-lo.

Porém, a mulher espinho com quem Rose e Scorpius haviam lutado; o homem pesadelo que tentou atormentar Clove; a felina que desfigurou o rosto de Hermione; o homem lobo que lutou contra Rony e o homem elétrico que enfrentou Cato estavam apenas desacordados. Não mortos. Caso despertassem, seriam mais uma encrenca para o grupo, e disso eles tinham certeza.

Não podiam correr mais risco algum.

Com a ajuda de Harry, Rony terminava de arrastar os corpos mortos dos mutantes para o meio do matagal - os que estavam desacordados foram baleados na cabeça, assim, sem chance de se tornarem novamente um problema para o grupo-. A escuridão da madrugada cobria os vestígios de sangue da luta no chão.

– Você está bem? - Depois de arrastar os corpos para o matagal da ilha, Rony se aproximou de Hermione. Ela estava quieta e encolhida, sentava sobre a terra vermelha. Uma poça de sangue ao lado do corpo da garota não a deixava pensar em outra coisa, a não ser no acontecido da última hora. O ataque, as garras da pantera ferindo-a no rosto, os gritos, os tiros. As mortes.

– Na verdade não. - Ela foi sincera, não olhou o garoto. Rony deu a volta sobre ela, sentou no lardo esquerdo da morena, fugindo da poça de sangue no chão. Ele a fitou. O rosto de Hermione, que há alguns minutos sangrava, agora estava curado pelas mãos de Luna, a pele dela estava perfeitamente regenerada. Graças ao árduo trabalho de Luna, que estava fraca mas teimava em ajudar os amigos, os ferimentos de cada um foi sumindo pouco a pouco. Os ferimentos sumiram, mas os sentimentos não. - Ninguém está, não é?

– É. - Rony enfiou as mãos por entre os cabelos, respirou fundo. Deixou de olhar Hermione e encarou o chão embaixo de seus pés. Ele se sentia imensamente culpado. Sabia que tinha agido com frieza, atirou nos mutantes sem dó. Mas naquela hora, vendo os amigos feridos, vendo o sangue escorrendo sobre o rosto de Hermione, ele não conseguia pensar. Estava domado pela raiva.

– Posso sentir sua culpa. - Hermione disse, depois de vários segundos de silêncio entre eles. A morena o olhou, viu que ele permanecia de cabeça baixa. Suspirando, Hermione levou uma mão até os cabelos do garoto, acariciou-os lentamente. - Não fica assim.. - Ela pediu, enquanto sentia o coração apertado, já que as vibrações do corpo de Rony estavam fracas. Ele parecia derrotado.

– Eu não queria. - Rony disse, mordendo a boca. Ergueu o olhar e viu Hermione; ela continuava mexendo nos cabelos dele. - Eu sei, eu fui frio. Fui frio e cruel, mas..

– Não. - Ela balançou a cabeça negativamente, interrompendo-o. Olhando fixando nos olhos de Rony, Hermione tirou os dedos de entre os fios ruivos, então tocou o rosto dele. Com o polegar, a morena acariciou a bochecha do garoto. - Você fez o que tinha que fazer.

– Não era pra ser daquele jeito. - Rebateu o ruivo, respirando fundo. Ele sabia que ela o entendia. Quando foi para atirar na mutante em chamas, o olhar de Hermione teve de aprová-lo. E ela o aprovou. Ela sabia o que ele faria, sabia que Rony dispararia aquele gatilho e mataria a garota, mas Hermione não hesitou em concordar. Era preciso que Rony a matasse. - Estou ardendo com sangues nas minhas mãos.

– Você não teve escolhas. - Hermione acalentou o garoto. Ele estava mal, a aura de Rony estava confusa. Hermione conseguia sentir. Era estranho, mas ela realmente conseguia sentir o que ele sentia. - Luna não teve escolhas. Nenhum de nós teve.

– Eu não conseguia pensar, sabe? - Rony tentou se explicar, na verdade estava desabafando. Sentia um peso sobre suas costas. - Foi tudo tão rápido. Eu queria que tudo acabasse, não queria que o pior acontecesse com nenhum de nós. - Fitando Hermione, o garoto sentia os dedos dela passeando por seu rosto. Era bom. Era extremamente confortante ser tocada por ela. - Eu não conseguia imaginar algo de ruim acontecendo com você. Eu tive medo de te perder.

– Mas eu estou aqui agora, não estou? - Hermione sorriu fracamente com a confissão que ouviu. Rony se arrastou no chão e se aproximou dela, ficaram frente a frente. Com as duas mãos, Hermione segurou o rosto dele, vidrou seu olhar no dele. - Eu tô aqui, olhando pra você. Tocando seu rosto, sentindo sua respiração. E você está sentindo a minha. - Rony assentiu, também não conteve um leve sorriso. - Pare de se culpar. Por favor, pare. Eu entendo você, entendo o que fez. Eu também não queria ter sangue nas minhas mãos, mas se precisasse, teria feito o mesmo.

– Era pra eu estar te consolando. - Rony viu Hermione sorrir de novo. - É sério, eu devia estar tentando te fazer ficar melhor.

– Eu vou ficar melhor se você ficar melhor. - Ela argumentou, e Rony enfiou as mãos entre os cabelos dela, segurando-a pela nuca. - Eu não quero que se sinta culpado por algo que você não teve culpa. Me entende?

– O que eu faria sem você? - Rony questionou, foi a vez dele sorrir. O mais surpreendente de tudo era que ela o transmitia paz. Uma imensa paz, era como se ela tivesse poderes para o acalmar. Olhando Hermione nos olhos, tocando a pele dela com os dedos, sentindo a respiração quente dela contra a dele, Rony podia jurar que aquele turbilhão de sentimentos ruins dentre dele começavam a se esvair. Então Rony teve a certeza que precisava de Hermione. Ele precisava dela mais do que tudo. - Por favor, não saia da minha vida. - Rony pediu, depois de vários segundos em silêncio, apenas observando a beleza da morena.

– Eu não vou. - Ela prometeu, sorrindo pra ele. - Muitas coisas ruins estão acontecendo, eu sei. E eu também sei que nada mais no nosso mundo é pra sempre. Mas você me faz bem. Na verdade, você me faz sentir várias coisas e eu não entendo isso. Não consigo controlar. Mas eu não quero que isso acabe.

Rony não sabia exatamente o que estava sentindo. Como ela, ele estava confuso e não conseguia controlar absolutamente nada. Mas Hermione o fazia absurdamente bem. Era como se um caminhão de coisas ruins fosse jogado sobre ele, todos os dias, a cada dia mais. Mas quando ela aparecia, quando ela retribuía aquele olhar intenso, e sorria daquela maneira magnífica, tudo ia embora. Todas as coisas ruins, tudo de ruim no mundo. Rony definitivamente não conseguia mais viver sem ela. E Hermione não admitia mais viver sem ele.

Quando o sorriso dela se misturou com o dele, os lábios se tocaram. Hermione não se moveu, Rony também não. Ela apenas acariciava o rosto dele, e ele, a nuca dela. As bocas se tocavam singelamente. Foi um momento terno, e nada precisava ser feito para que aquele momento terno ficasse ainda mais terno. Hermione estava com Rony, e seria pro que der e vier. Rony estava com ela, e moveria céus e terras pra com ela ficar. Afinal, quando a paz nos alcança em meio a tantos problemas, não podemos deixá-la escapar, não é?

Mas os problemas viriam de novo. E tudo ficaria pior. Precisavam decidir o que fazer, dar um jeito de sair da ilha.

Talvez pudessem atacar o laboratório.

Mas seria uma armadilha ainda maior. Bellatrix provavelmente já sabia da morte de seus mutantes. Ah, com certeza ela sabia! As portas do laboratório se fecharam quando Rony disparou o último tiro contra o homem lobo - o último a ser morto -, e então, o grupo soube que a médica estaria furiosa. Bellatrix iria armar contra eles novamente, e o temor ficava no ar. Tudo poderia piorar naquele lugar, não poderia? Eles sabiam que sim.

Talvez pudessem usar os poderes de Scorpius. Afinal, a hipnose do garoto era de extrema valiosidade para eles. Se invadissem o laboratório, Scorpius poderia hipnotizar Bellatrix, e assim, conseguiriam fazê-la tirá-los da ilha. Mas estavam em um campo minado. Se chegassem a Manchester, e fossem vistos por algum humano, a policia rapidamente seria avisada, e então, não teriam escapatório. Poderiam se esconder, mas não pra sempre. Se fossem presos, seriam mortos. O pior daquela história toda era definitivamente a aliança entre os policiais e Bellatrix Lestrange.

Por que diabos eles tinham uma aliança? Um mistério que os mutantes definitivamente precisavam desvendar.

xx

– Consegue me olhar? - Gina já estava em pé ao lado de Harry há minutos. Apesar de disperso, ele tinha percebido que ela estava ali, observando-o por duradouros minutos. Harry não a olhava de volta. Ele sentia-se estranho. Frio. Mas não era uma frieza ranzinza, ele internamente sentia falta de calor. Sentia falta da chama de esperança que ele sempre teve e nunca perdeu, mas, depois daquela noite, parecia ter perdido.

– Não. - Quieto, Harry disse, desanimando Gina. Ela respirou fundo; ela pôde ouvir o som da respiração pesada dela. Sinal de que ela também estava perturbada.
– Não faz assim.. - Gina pediu, e tocou o braço do moreno. Harry continuou sem olhá-la, e ela continuou o olhando; isso durou mais alguns longos e inquietantes segundos. Gina sabia que ele não estava bem, mas ela também não se sentia nada bem. Se estava ali, insistindo para que ele a olhasse nos olhos, era porque estava precisando dele. - Olhe pra mim.. - Pediu mais uma vez. Mais uma vez o silêncio cortou o vento gélido da madrugada. Já estava quase amanhecendo. Quando Gina deu as costas para Harry, achando que o garoto queria mesmo ficar sozinho, ele segurou-a pela mão, impedindo-a de ir embora.

– Fica. - Harry encontrou o olhar de Gina quando ela ficou de frente. A mão dele ainda estava em contato com a dela. Suspirando, a ruiva apertou carinhosamente os dedos dele com os seus. - Fica aqui comigo. - Ele queria realmente que ela ficasse.

– Harry, eu sinto muito por nós. - Confessou Gina, depois de um tempo encarando as íris esverdeadas do moreno. - Por todos nós.

– Você fala como se estivesse desistindo. - Harry viu Gina encolher os ombros, ela soltou a mão do garoto.

– Você tá agindo como se já estivesse desistido. - Retrucou ela, ressentida. Mas Gina não podia culpá-lo. Nem se quisesse.

– Eu.. - Harry torceu os lábios, a ventania na mata bagunçou o cabelo do garoto. Era um charme dele ter os fios pretos despenteados, e esse detalhe não passou despercebido por Gina. Nada passava despercebido por ela mais. - Eu matei uma pessoa hoje.

– Não era uma pessoa. - Gina imediatamente tentou mudar aquele pensamento do garoto. Ela percebeu que ele estava repleto de culpa. - Era um mutante.

– Isso importa? - Harry riu em desdém, seu riso soou totalmente sem vida. Gina sentiu seu coração apertar. - Eu matei.

– Eu também. - Gina se lembrou do mutante petrificado. - Harry, eles nos atacaram. Queriam nos matar.

– Eu sei. - O moreno soltou uma respiração pesada; novamente, estava preso no olhar dela. - Mas eu matei alguém com minhas próprias mãos. Isso nunca vai sair da minha mente.

Harry então, deixou de olhá-la. Os olhos de Harry correram pela mata, ele estava visivelmente sem rumo. Os ombros contraídos dele denunciavam seu desconforto; Harry não conseguia lidar com sua própria mente. Logo ele, o garoto que conseguia dominar um dos maiores desafios da ciência: a mente humana. Intrigantemente, Harry sentia falta de se comunicar telepaticamente. Desde que nasceu ele tinha aquele dom, e sempre que podia usava para se beneficiar. Mas, preso naquela ilha, sem conseguir usar sua telepatia, Harry sentia-se estranhamente incompleto.

Gina percebeu o tormento dele. Os olhos verdes que sempre transmitiam brilho estavam amargos, o sorriso nos lábios macios dele não existia. Aliás, Gina não o via sorrindo há algumas horas. De uma forma ainda mais intrigante, Gina sentia falta de vê-lo sorrir. Sentia falta de senti-lo. Sem controlar os instintos do coração, Gina o abraçou. Enlaçou os braços em volta do pescoço dele, procurou arduamente por algum contato com ele. No mesmo instante, sem descompasso, Harry abraçou o corpo da ruiva de volta. Céus, como ele se sentia leve com ela. Os cabelos lisos da garota tamparam a visão de Harry; esse se deixou levar pelo cheiro que a pele dela emanava.

– Tive medo de te perder. - Ele confessou, sua voz soou abafada em decorrência de seus lábios que estavam friccionados contra a pele do ombro dela. Gina sorriu. Não foi um sorriso ardente, mas foi suficiente para explicar que ela também sentiu o mesmo. E abraçando Harry naquele momento, ela estava tranquila; ele estava bem nos braços dela.

– Acha que eu vou sair da sua vida? - Ela o fez sorrir. Não pôde ver a curva nos lábios dele, mas sentiu a respiração quente dele bater contra sua pele. - Eu sei que tá difícil pra nós.. mas nós vamos sair dessa vivos. - Enquanto o acalmava - porque Gina realmente tinha aquele dom, e nem precisava de mutação pra isso. O calor que Harry tanto sentia falta, Gina trazia de volta pra ele, naquele abraço apertado -, as mãos da ruiva acariciavam lentamente os cabelos do moreno.

– Eu sei. - Então, Gina sentiu confiança nas palavras de Harry. Sem pressa, ele saiu do abraço com a garota, mas segurou-a pelo pescoço e manteve a extrema proximidade entre os dois. Os lábios estavam quase conectados, os olhares intensamente vidrados. - Nós vamos fugir desse lugar. Vamos provar pra todo mundo que somos do bem. Eu e minha irmã vamos poder ser livres. E eu nunca mais vou sair da sua vida.

– Nunca mais saia da minha vida. - Gina sorriu na mesma intensidade que ele, no mesmo compasso. Era bom ter aquela garota do seu lado, Harry sabia disso. Ela o acalmava, ela o trazia esperança, ela o fazia se sentir excepcionalmente vivo. Harry não podia mais deixar aquela garota. Presenteando-a com um beijo intenso, Harry naquele momento teve a certeza de que Gina era o seu calor.

xx

– Sua mãe está melhor? - Clove percebeu a presença de Cato quando ele se aproximou. Estranhamente, Clove sentia vontade de conversar com ele. O mais estranho era que ela estava precisando de Cato ali, com ela. Até mesmo se ele quisesse irritá-la. Clove não estava ligando.

– Está. - Cauteloso, Cato se sentou sobre a rocha de pedra, ao lado da morena. Ele estava esperando por insultos, ou o que quer que fosse lançado sobre ele para que ele saísse dali. Era evidente que Clove estava abalada, então, ela devia estar mais arisca e sem a mínima paciência para enfrentá-lo. - Luna a ajudou.

– Luna sempre salvando os nossos traseiros. - Cato riu com aquele comentário da garota. Era de extrema verdade, até porque, se não fosse Luna, todos do grupo - com exceção do garoto Malfoy, que tinha a habilidade se auto-regenerar - estariam ferrados cheios de ferimentos e sem condição de se manter em pé, por estarem há tempos sem comida e sem água.

– Você está bem? - Era o que Cato estava realmente interessado em saber. Encarando o rosto da morena fixamente, Cato esperava ter reciprocidade naquele olhar.

– Estou. - Clove mentiu, e sua voz firme tentou convencer ao máximo Cato de que aquilo era verdade. Afinal, Clove tentava convencer a si própria daquela mentira. Ela não estava bem. Confessando ela ou não, a garota estava precisando de atenção e de cuidados.

– Não precisa ser durona o tempo todo. - Então, Clove olhou Cato. Ela tentou decifrar os olhos dela, e como se fosse planejado, ele tentou desvendá-la do mesmo modo. Clove soltou um sorriso fraco e sem vida. Quando ela baixou os olhos, Cato respirou fundo, arrastou seu corpo na rocha áspera e se aproximou. Clove prendeu a respiração quando o percebeu tão próximo. - Sei que não está bem. - Ele disse, diminuindo o tom de sua voz, queria que ela o ouvisse sussurrar. Queria que ela percebesse que ele estava ali pra ela.

– É. - Mordendo os lábios e respirando fundo em seguida, Clove o olhou. Estavam lado a lado e os rostos próximos o suficiente para fazer o corpo da garota estremecer. - Scorpius disse que devíamos seguir a razão. Mas na prática é bem diferente.

– É difícil seguir a razão quando o coração tá falando mais alto, não é? - Cato colocou uma mecha do cabelo da morena atrás da orelha dela. Clove entreabriu os lábios, deixando sua respiração que começava a se tornar descompassada escapar livremente.

– Não estamos falando disso.. - Clove entendeu o duplo sentido da frase do loiro. Então, Cato esperou por uma reação dela, algo como um empurrão, ou um corte rápido daquele clima que surgiu entre os dois. Mas ela não fez isso. Continuou olhando-o nos olhos, respirando com dificuldade. Ela sentia como se estivesse com falta de ar, mas respirava normalmente.

– Não podemos falar disso? - Cato tocou o pescoço dela com as mãos. Sentiu Clove respirar fundo, e a respiração dela se misturou com a dele.

– Não precisamos falar disso. - De uma forma intrigante, Clove não conseguia controlar seus sentimentos.

Sempre foi uma garota explosiva, forte. Sempre agiu de cabeça quente. E quando estava perto de Cato, jurava sentir como se estivesse recebendo choques elétricos pelo corpo. Ela nunca havia se sentido daquela forma antes. Quando se beijaram pela primeira vez, Clove teve o prazer de desfrutar de sensações maravilhosas, sensações nunca conhecidas por ela antes. E de novo ela se sentia assim, ali tão próxima dele. Devia controlar. Devia lutar contra todos aqueles sentimentos. Mas ela se sentia tão leve. Desde que lutou naquela noite, sentia seu corpo pesado, seu coração apertado, machucando-a. Mas ele apareceu, e aquilo tudo mudou. Era isso. Quando Cato apareceu em sua vida, tudo tinha mudado. Ela tinha todos os sentidos do mundo para se fechar e ser fria; afinal, estava passando por coisas horríveis naquela ilha e naquele mundo mutante. Mas Cato era um sinal de paz em meio a tantas coisas ruins. Era estranho. E ao mesmo tempo, bom. Estranhamente bom.

– Então não vamos falar sobre isso. - No mesmo instante, Cato a beijou. Ela queria reagir, e ao mesmo tempo, não tinha a menor intenção de fazer isso. Todos poderiam estar vendo, eles podiam achar que ela fosse fraca. Mas Clove não ligou. Não se importou. Tudo o que importava naquele momento o sabor que os lábios de Cato transmitiam e as batidas rápidas no coração dela. Aquelas batidas significavam que ela estava viva. E seu coração estava batendo por ele. Enfiando as mãos pelos cabelos de Cato, Clove se entregou àquele momento.

xx

Scorpius observava Rose. Distante, o rosto da garota exibia uma fraqueza evidente. Ela estava fraca. Tinha se afastado exatamente para não demonstrar fraqueza. E Scorpius sentia uma estranha preocupação por ela naquela madrugada. Rose tinha lutado arduamente, bravamente, mas a cabeça da garota consequentemente ficaria confusa. Foi Scorpius quem matou a mulher espinho, Rose não conseguiria. Não por fraqueza, não por medo, mas por humanidade. Em meio a tanto sangue, tantos gritos e dores, Rose sentia-se completamente perdida. Ela não conseguia agir pela razão.

Scorpius sabia que ela precisava. Ele sabia que Rose precisava enxergar o mundo em que eles viviam de uma outra forma. Afinal, eles não estavam ali na ilha a passeio, para viver maravilhas. Precisavam ser frios e calculistas, ou então, não estariam preparados para o dia seguinte. Do dia de amanhã eles só tinham uma certeza: viver ou morrer.

– Você está fraca. - Depois de seguir seus instintos que teimavam em proteger Rose, o loiro caminhou até o outro lado da mata, onde a garota estava sentada sobre o chão frio, as costas repousadas em uma árvore de casca áspera. Os olhos dispersos dela só concluíram o que Scorpius supunha: Rose estava fraca.
– Me deixa sozinha. - Ela pediu, sua voz soou arrastada e baixa. Scorpius respirou fundo; se tinha uma coisa que ele não deixaria era ela sozinha naquela hora.

– Precisa se alimentar. - Agachando-se frente a Rose, Scorpius tocou as mãos da garota e a olhou nos olhos. Rose estranhou aquela preocupação. Estranhou mais ainda uma súbita chama de felicidade se iluminar dentro dela por ele demonstrar estar preocupado. Por que ela sentia coisas estranhas quando estava perto de Scorpius? - E se hidratar.

– Por que você se importa? - Rose era durona. Era tão nova, mas tão madura que ás vezes Scorpius se surpreendia. Mas quando ela queria ser marrenta, ele não tinha dúvidas de que ela conseguia ser,e como ninguém.

– Dá pra ver de longe a sua fraqueza. - Tentando levantar a garota, Scorpius percebeu que ela fez força para permanecer sentada. Ele respirou fundo novamente. Não queria se irritar, sabia que ela estava precisando de ajuda. Mas Rose conseguia deixá-lo irritado, de respiração acelerada, de corpo e cabeça quente, tudo ao mesmo tempo. Cada vez mais Scorpius tinha a certeza de que aquela garota o bagunçava por completo. - Rose, por favor, vamos.

– Por que você se importa? - Ela ergueu o tom de voz, quando Scorpius aproximou o rosto do dela. - Você não precisa cuidar de mim, não preciso da sua pena.

– Não estou com pena de você. - Rebateu ele, com seriedade. Rose estava parecendo uma criança de cinco anos, e Scorpius sentia uma estranha vontade de cuidar dela naquele momento.

– Não ligo pro que pensa. - Ela retrucou, desfazendo a troca de olhares. Ele perto demais era sinal de problema. Rose já vinha sentindo diferentes sentimentos pelo garoto, ela sabia disso. E por isso, tentava evitar ao máximo dar corda àquelas asas de imaginação. Ele não era o tipo de garoto que sentiria o mesmo. Não era?!

– E eu não ligo pra sua birra. - O loiro argumentou, procurou o olhar dela. Ela precisava olhá-lo nos olhos, entender que ele estava ali de bom grado para cuidá-la!

– Scorpius, ninguém tá te prendendo aqui. - Emburrada, Rose tentou empurrá-lo, mas Scorpius se manteve no mesmo lugar, e a proximidade entre eles não se quebrou. Ótimo, ela estava fraca demais pra fugir dele e de todos aqueles sentimentos.

– É, exatamente. Eu tô aqui porque eu quero. - Ele continuava sério. Tão sério que fazia Rose pensar que ele estava realmente sendo sincero. Mas ele não estava, não é?

– Vai embora! - Ela mandou, cuspindo as palavras. Scorpius mordeu a própria boca, respirou fundo. Como ela podia ser tão madura e ao mesmo tempo tão marrenta? - Você não se importa, ninguém se importa.

– Eu me importo sim! - O loiro retrucou, levou as mãos até o pescoço da ruiva, segurando-a.

– Não se importa! - Rose tentou tirar as mãos dele do contato com sua pele. Ele não podia provocar aquele turbilhão de sensações nela como ele fazia, ele não tinha o direito. Ele não podia brincar com ela. Ela não podia cair naquele jogo. Droga, estava confusa demais pra pensar! - Você matou aqueles mutantes sem dó. Como conseguiu fazer aquilo?

– Eu precisava! - Scorpius então percebeu que ela estava fugindo do olhar dele. Ela tinha se afastado porque condenou as atitudes do garoto como frias. Mas, se ele não tivesse feito, estaria Rose ali naquele momento, respirando contra o rosto dele? Estaria todos do grupo vivos, lutando por mais alguma chance para escaparem daquela realidade cruel? Scorpius não podia sentir culpa. Ele sentia, no fundo sentia uma culpa ardendo-lhe o peito, mas ele sabia que fez o que precisava. Ele agiu como devia!

– Você foi frio. - Rose o acusou, falou olhando-o nos olhos. Scorpius respirou fundo mais uma vez. Baixou o olhar, respirou fundo de novo. Ele precisava fazê-la acreditar que não foi culpa dele. Ele não queria que ela o olhasse torto, o olhasse como se ele fosse um sem-coração. Ele tinha um coração. E o coração dele batia mais rápido quando estava com ela. Ele não aceitaria uma Rose fria com ele, em decorrência de um Scorpius frio como foi naquela noite.

– Rose, eu precisei. - Depois de um silêncio pairar no ar gélido daquele novo dia, Scorpius voltou a olhar a ruiva nos olhos. As íris azuis estavam indecifráveis. - Eu fiquei com medo, eu perdi a cabeça. Você tinha sido atacada, seus braços estavam feridos. Você não conseguia mais lutar. Eu sei, fui frio. Matei o vampiro, e depois atirei naquela mutante que nos atacou. Eu fiz isso porque eu não queria perder você. - Quando viu que ela iria se pronunciar, Scorpius tocou os lábios da ruiva com o polegar. Calou-a. - Não estou colocando culpa nenhuma em você, não entenda isso. E eu não sei porque estou falando essas coisas. A única coisa que eu sei é que tô preocupado com você. Você tá há muito tempo sem comer e sem beber, e isso não te faz bem. Merda, eu nem sei o porquê de estar tão preocupado assim.

– Não diz essas coisas. - Rose pediu, já tinha baixado sua guarda. Respirava acelerado contra o dedo de Scorpius, que alisava lentamente os lábios da garota. Rose sentiu o coração palpitar. - Não diz essas coisas e depois dê as costas pra mim, eu não quero ser o seu jogo.

– Você não é o meu jogo. - Scorpius olhou-a fixamente nos olhos. - Eu tô confuso assim como você, mas eu sei que seu coração tá batendo por mim. O meu também tá batendo e é por você. - Rose definitivamente estava balançada. Depois das palavras de Scorpius, teve a certeza disso. Na verdade, ela sabia o nome daqueles sentimentos. Admitisse ela ou não, estava se apaixonando. E seu olhar demonstrava isso. Não queria ficar submissa, mas Scorpius parecia tão sincero. Se ele não estivesse sendo, porque estaria insistindo tanto em cuidar dela? Estaria ele, sentindo o mesmo? Rose não podia saber. Só que não conseguia mais controlar nada dentro dela. O coração batia acelerado por ele, a respiração estava acelerada por ele, o tormento da luta agora tinha sumido da cabeça dele por causa dele.

Ela estava sendo cuidada por ele.

Subitamente os lábios se chocaram. Scorpius temeu uma má reação, mas Rose segurou o rosto do garoto com as mãos, acariciou a boca dele com a sua. Scorpius chupou os lábios da ruiva, suas mãos segurando-a pelo pescoço acariciaram a pele dela. Ela estava submissa. E Scorpius gostou de ter aquela certeza.

Quando se separaram, não disseram nada. Scorpius apenas sorriu de canto. Impulsivamente, Rose sorriu junto. Droga, ela tinha gostado mais ainda. Mesmo com sua fraqueza, o corpo da garota tinha reagido completamente àquele beijo. Então Rose soube que Scorpius era seu porto em meio às tribulações.

Sem esforço, Scorpius tirou o corpo de Rose de chão e caminhou de volta ao grupo; ela com os braços em volta do ombro dele, se apoiando.

– Temos comida? - Scorpius quis saber, quando se aproximou de Narcisa, Luna e Draco. Luna também demonstrava fraqueza, tinha a cabeça repousada no ombro de Draco. Apesar do incrível dom de cura da loira, infelizmente ela não conseguia usar aquele podere em benefício próprio. Não conseguia se curar de ferimentos, e em decorrência disso, seu corpo ainda estava ferido. Vestígios deixados pela noite que passou.

– Não. - Narcisa disse, preocupada. - Nem água.

– Pessoal! - Com um assovio, Scorpius chamou atenção dos mutantes, que pouco a pouco se aproximaram. Quando estavam reunidos, o loiro alertou-os: - Precisamos de comida e água. Rose está fraca.

– Luna também. - Draco deixou a garota sentada sobre a rocha e se levantou, encarou Rony. - Você não consegue materializar comida?

– Estou tentando há algum tempo, mas meus poderes estão fracos também. - Rony explicou, desanimado.

– Tá todo mundo fraco. - Hermione advertiou-os. - Estamos há muito tempo sem comida e sem água. Precisamos disso.

– Roupas novas também cairia bem. - Gina reclamou, já que o suéter que usava estava ensaguentado e empoeirado.

– Temos algumas roupas na mochila, mas comida não. - Hermione disse, seriamente.

– Precisamos caçar. - Harry deu sua melhor sugestão.

– Caçar? - Luna demonstrou surpresa, e então se levantou da pedra, mordendo a boca ao sentir dor em seu tornozelo esquerdo.

– Caçar. Aqui na ilha devem ter animais pequenos, e eles vão nos alimentar. E água, água é o mais importante. - Harry disse, sensatamente.

– Não! - Luna pareceu incrédula. Viu os amigos se entreolharem, estranhando. - Eu não vou comer animais!

– Não é hora pra ser fresca! - Clove retrucou, séria. - Precisamos sobreviver.
– Não vamos caçar animais! - Luna estava visivelmente revoltada. - Eu posso conversar com eles, eu entendo eles, não vou comê-los. - Então o grupo entendeu a revolta de Luna. Ela tinha a habilidade de conversar com os animais, consequentemente tentava protegê-los.

– Luna, tenta entender.. - Draco se aproximou da garota, tocou-a pela mão, mas Luna reunir suas forças e empurrou o corpo do garoto, saindo de perto do grupo no instante seguinte.

– Vai atrás dela. - Mandou Cato, quando viu o irmão respirar fundo e bagunçar o cabelo. Quando Draco se afastou do grupo, os amigos se olharam.

– Eu vou. - Hermione avisou, e levou as mãos até suas costas, procurando desamarrar o laço que prendia suas asas dentro do vestido sujo que usava.

– Nem pensar. - Rony discordou totalmente, e segurou os braços da morena.

– Rony, eu tenho asas. Posso voar, encontrar fácil alguma comida pra gente. Nós não temos opções! - Ela disse, olhando-o fixamente nos olhos.

– É perigoso. - Narcisa disse, receosa.

– É, por isso eu vou. - Cato então viu a surpresa no olhar de Clove; Rony largou os braços de Hermione e Narcisa entrou na frente de Cato.

– Sem chances, eu não vou deixar. - A matriarca proibiu o filho. Cato segurou os olhos da mãe.

– Eu sou rápido, e posso me regenerar dos ferimentos, lembra? - Viu Narcisa suspirar pesadamente, ela não queria concordar, mas ele estava certo. - Eu vou.

– Eu vou com você. - Clove segurou o garoto pelo braço, quando ele soltou a mãe e passou por entre os amigos. Quando os olhares se cruzaram, Cato balançou negativamente a cabeça.

– Não. - Ele viu que ela iria protestar, então segurou o rosto da morena com as mãos. - Não quero te meter em problemas, e se caso acontecer algo, eu posso sair correndo. Se estiver comigo, não vou te deixar pra trás.

– Ele tá certo! - Harry também não deixaria a irmã ir.

– Cala a boca, Harry. - Mandou a morena, rodando os olhos. Quando voltou a encarar Cato, o loiro beijou-a. Os lábios ficaram colados por algum segundo, e Clove baixou sua guarda. Ela precisava confiar nele.

– Eu volto antes que você perceba. - Cato tranquilizou-a, quando separaram os lábios. Clove respirou fundo. Mesmo em contragosto, assentiu. Quando se afastaram, Clove viu Harry de braços cruzados e testa franzia. Gina segurava uma risadinha.

– Depois nós vamos conversar camarada. - Harry alertou Cato, e o loiro rodou os olhos, imitando Clove.

Depois de pegar uma arma na mochila de Rony, e tranquilizar Narcisa que ele ficaria bem, Cato correu pra longe dali; os amigos não precisaram piscar para perdê-lo de vista.

Cato iria caçar.


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Notas finais do capítulo

Espero que a leitura do capítulo não tenha ficado muito cansativa..

Não foi um beijaço Scorose, mas foi um momento fofo né?

Capítulo sem correção ortográfica (por enquanto). Portanto, perdoem os erros, por favor!

Xx, Jen.



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