Red escrita por A Menina que Roubava Palavras


Capítulo 15
15. A filha do nosso patrão


Notas iniciais do capítulo

Ahn, então... Oi.
Ééééé....
Aaahnn, bom, vejam pelo lado bom! Vou postar muuiiitos capítulos ♥



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Paul acordou depois de um sono agitado e muito desagradável, mas, assim que abriu os olhos, preferiu nunca ter feito isso.

Ele se encontrava deitado numa cama. Uma televisão pendurada na parede bem na sua frente falava sobre um trágico acidente que ocorrera mais cedo. Aquelas palavras apenas aumentavam a sua dor de cabeça. Percebeu que ao seu lado um homem vestido de preto o encarava impassível, ou pelo menos se esforçava em ser.

– Senhor... – Paul começou, mas foi interrompido por um gesto do homem.

– Ouça. – disse, reforçando suas palavras ao apontar o dedo para seu ouvido.

Nesta manhã de quarta-feira, o Hospital New Life sofreu um desastroso atentado. Durante a inauguração, um terrorista, infiltrado nas forças armadas do governo, instalou uma bomba que implodiu o prédio. Totalizando mais de mil feridos, dentre eles crianças, adultos e idosos, parentes e amigos estão inconformados com a perda dos entes queridos e com o dinheiro que, agora, não passa de destroços. Para mais informações...”

Eric desligou a televisão.

– Como está...

– O seu irmão e a outra agente estão bem. – ele viu a preocupação sumir dos olhos de Paul.

– Onde estou?

– Num hospital público – respondeu, sem indicar um ar de inferioridade.

– Por quê?

– Você foi trazido para cá, porque o reconheceram como um civil comum.

Isso indicava uma coisa: seu disfarce tinha dado certo, mas não valia nada agora, já que o intuito inicial de fazê-lo não teve êxito. Depois de alguns instantes de silêncio, o agente disse:

– Não foi um terrorista.

– Sabemos. – confirmou, se referindo à CIA. – Há uma quadrilha de importância internacional que controla o maior fluxo de tráfico do mundo. – ele não precisou continuar.

Paul entendeu o que estava acontecendo e ficou duvidoso em relação à intenção de quem provocou o desastre. Mas, pensando melhor sobre o assunto, chegou a conclusão de que, seja qual for seus objetivos, eles envolviam grande parte da população.

– Mas, agente – o Sr. Stark se aproximou da maca – O que importa agora não é isso... – ele começou meio sem jeito, pois não tinha experiências com assuntos que exigiam esse tipo de cautela – O senhor... precisa cuidar da sua saúde.

Paul franziu o cenho levemente. Era óbvio que ele precisava cuidar da sua saúde. Quando o hospital desabou, ele estava dentro dele. Foi um milagre ter sobrevivido. Então, como um clarão no meio da escuridão, algo iluminou sua mente, mas despedaçou seu coração. Sentiu uma náusea tão grande que pensou que iria apagar.

– O senhor não está insinuando que... – ele engoliu em seco quando seu chefe assentiu. Por um momento, achou que o chão iria desmoronar para dentro da terra.

– Agente, você... – Eric desviou o olhar por um momento – Você consegue sentir isso?

Os pés de Paul estavam descobertos e, por incrível que parecesse, ele não sentia frio na região. Sr. Stark pegou sua caneta que sempre levava dentro do bolso do paletó e desenhou uma figura abstrata na sola do pé esquerdo dele. O silêncio instalado no lugar era tenso e triste.

– Eu... – ele balbuciou, os olhos marejados – Eu... não... Eu não...

– Sinto muito – disse com um olhar sincero.

As lágrimas quentes desciam pelo seu rosto de Paul enquanto uma onda de medo invadia seu corpo. Sua respiração pesava, parecia que o ar tinha se tornado mais denso. Suas narinas ardiam quando tentava inalar. Começou a soluçar.

– Você será transferido para o hospital da CIA hoje mesmo para cuidarmos do seu caso.

Paul teve vontade de falar que não tinha solução para seu caso, mas ele sabia que aquilo seria um comentário totalmente carregado de pessimismo, pois, devido ao avanço da tecnologia, podia fazer fisioterapia com o acompanhamento de um médico, acupuntura e outras coisas. Ficou calado com um sabor amargo em sua boca.

Hesitante, Eric se retirou do quarto. Foi então que Paul se entregou realmente ao choro. Desesperado, ele não tinha escolha senão aceitar o fato. O barulho do choro se perdia na solidão do cômodo. Ninguém estava ali para ajudá-lo a engolir a notícia. Nessas horas, nem mesmo as lições que tinha aprendido com o seu trabalho, de nunca perder a esperança, de manter a calma mesmo quando a situação parecia um desastre sem tamanho serviam. Mas isso não se tratava do seu trabalho, era sua vida pessoal. Caso não estivesse em boas condições físicas, como poderia aproveitar os ensinamentos? Como poderia viver?

Ele olhou ao redor à procura do aparelho para chamar uma enfermeira. Queria entender melhor sua situação. Suas chances de recuperação, qualquer coisa. Então, sem mais nem menos, Paul se lembrou daquele quarto de hospital. Ele já tinha estado aqui antes. Mas quando?

A enfermeira apareceu. Enxugou as lágrimas rapidamente.

– Alguma coisa, senhor? – perguntou.

– Eu queria falar com o médico que está me acompanhando, por favor.

– Só um momento. Eu vou chama-lo. – ela ia se virando, indo em direção à porta quando ele interveio.

– Espera!

Ela parou abruptamente.

– Mais alguma coisa?

Paul a fitou por alguns segundos, tentando se lembrar daquele rosto.

– E um pouco de água também.

Ela assentiu e saiu do quarto mais rápido do que ele esperava. Agora tinha certeza. Já tinha estado aqui antes, mas não era ela quem estava deitado na maca. Era Megan.

[...]

No começo da tarde, Paul foi transferido para o hospital da CIA. O médico tinha lhe dito que suas chances de recuperação eram de quase cinquenta por cento. Ao mesmo tempo em que ele estava triste, estava feliz. Era um número grande, podia ser pior.

Quando se acomodou no seu novo quarto, a porta foi aberta de forma violenta.

– Paul! – Ian chamou pelo seu irmão.

Ele ainda estava vestido com a roupa do hospital. Assim que ficou sabendo da notícia, ele insistiu em ir visitá-lo. Tinha que estar no momento em que Paul iria receber a notícia, mas a enfermeira tinha dito que ele não podia sair da maca, pois ainda estava fraco e precisava descansar. Pobre enfermeira que não conhecia Ian. Megan acabou ouvindo a conversa sem querer, já que sua cama ficava ao lado da dele e não ficou surpresa quando o viu andando pela porta atrás de seu irmão. Ela somente pediu para que ele também falasse por ela.

Não foi preciso proferir nenhuma palavra. O simples fato da presença do outro fornecia o conforto necessário para enfrentar aquela situação. Eric, que estava presente no momento, ficou sem palavras diante da cena, tão pouco precisava falar alguma coisa. Seu trabalho ali já estava feito, mesmo que fosse o pior de todos: dar aquela notícia. Por isso, ele se retirou da quarto, deixando os dois irmãos a sós.

– Você vai sair dessa – Ian disse, com o mínimo tom de pena que conseguia. Do jeito que conhecia Paul, sabia que sentir pena dele não o animaria.

Ele enxugou as lágrimas antes de responder.

– Obrigado pela sua autoestima. É a única que tenho – deu um sorriso triste.

– Eu vou te ajudar. Você vai sair dessa. – repetiu. Ian não sabia ao certo se estava tentando consolar o irmão ou a si mesmo. – Megan também vai te apoiar.

– Não me leve a mal, mas eu queria ficar um tempo sozinho.

– Claro, claro. Entendo. – disse. Antes de sair pela porta, ele deu uma última olhada para Paul, que estava deitado, encarando o teto pálido e sem graça.

[...]

A semana que se passou foi a pior de todas para o trio. Paul tinha se mudado, depois de ter alugado seu flet, para a casa não muito grande de Ian. Sua sorte era que a casa possuía um quarto de hóspede ao lado da sala, já ele não podia subir escadas. Também tinha que ter ajuda para tudo: tomar banho, se arrumar, dormir, acordar... Eric Stark tinha dado a eles dois meses de repouso, mas perecia muito pouco para se recuperarem diante da situação em que se encontravam. Trabalho não faltava.

Com a queda do hospital, várias pessoas começaram a protestar e fazer greve por causa das perdas no desastre. Vândalos começaram a assaltar bancos, restaurantes e lojas de comércio, apoiados pelos desempregados que tinha vaga garantida no hospital. Não só a cidade, mas o estado de Nova York estava em pleno caos. Com certeza, mais tarde, todo o país estaria contaminado pela raiva e fúria das perdas. Em questão de um ano, o país entraria em uma situação de emergência se ninguém tomasse uma providência.

Paul aproveitou esse tempo sem fazer nada. Começou a pesquisar sobre a recuperação de paraplégicos, como era o tratamento, quanto custava... Uma coisa não saia da sua cabeça: o dia em que o bebê de Megan nasceu. Talvez isso fosse por causa da sua estagia no mesmo hospital em que ela pariu. Ele se lembrava de estar agoniado e ansioso na sala de espera. Na época, ela não era uma agente da CIA. Sorriu com essa lembrança. Ele e o irmão tinham que inventar desculpas, culpando o trabalho que não existia na verdade.

Com esses pensamentos presos em sua cabeça, Paul conseguiu, por meio dos programas privilegiados que sua profissão fornecia, entrar nos dados oficiais do hospital. Ele foi para a pasta de quinze anos atrás, na ala dos nascimentos. Procurou pelo nome de Megan e lá estava ela. Ele sorriu quando leu no documento que o bebê era uma menina. Ela tinha sido deixada no Orfanato Green Day. Estava escrito lá que sua mãe morreu no parto e seu pai era um desaparecido. Paul empurrou sua cadeira de rodas para trás. Ele conhecia o orfanato.

Sem perder mais tempo e com os pensamentos a mil por hora, fez a mesma coisa com o site do orfanato. Paul sabia que seu irmão tinha deixado o bebê no mesmo dia de seu nascimento. Foi a coisa mais cruel que ele tinha presenciado. Então, procurou nos cadastros do orfanato o dia, mês e ano em que o bebê tinha sido acolhido. Talvez fosse sorte, talvez fosse destino, mas na lista que estava com apenas um nome. Uma menina chamada Luce, nome dado pela funcionária que a achou na porta da residência, e ela tinha sido adotado nesse ano por um casal cujos nomes eram Anita e Eric Stark. Paul sentiu seu sangue gelar e os cabelos da nuca se eriçarem.

[...]

Outra semana havia se passado. O irmão mais velho de Ian ainda não tinha contado nada em relação a sua descoberta. Em consequência, sua consciência pesava cada dia mais. Ele não fazia a mínima ideia de como dar essa notícia a Megan, e tão pouco ela queria saber. Mais um motivo para Paul ficar confuso. Se ele não podia contar para mãe da criança, para quem mais contaria? Foi então que a solução apareceu bem na sua frente para preparar seu café da manhã.

Megan havia saído para tirar a gesso da perna direita, já que com um dos ossos do calcanhar tinha fraturado. Na casa, Ian e Paul saboreavam seus ovos mexidos com uma caneca bem quente de café. O silêncio era aconchegante, só para o irmão mais novo, pois o outro estava concentrado em organizar suas palavras para dar a notícia a Ian.

– Alguma coisa está te incomodando, Paul? – ele perguntou, notando a expressão tensa do irmão.

Para ganhar tempo, ele bebeu dois goles grandes de café, mas se arrependeu ao sentir o líquido queimando sua garganta e língua.

– Tem uma coisa que venho querendo contar, e parece que você é a única pessoa que tem condições de ouvir. – escolheu as palavras cuidadosamente.

– O que é? – Ian perguntou, preocupado.

– Quando eu fui socorrido, levaram-me para um hospital público, porque me confundiram como um civil comum – explicou. – Fiquei lá durante algumas horas do dia, mas foi o suficiente para eu me lembrar daquele lugar. Ian, - ele inclinou seu corpo para frente – eu estava na mesma sala onde Megan teve o bebê há quinze anos.

Ele viu seu irmão empalidecer. Mas Paul ainda não tinha chegado ao centro da questão.

– Durante esses dias, venho pesquisado muito na internet e, de repente, me lembrei do dia do hospital. Consegui, por intermédio dos programas da CIA, entrar nos documentos do hospital...

– Você ficou doido?! Isso é perigosíssimo!

– Eu sei, eu sei. Deixe-me continuar.

“Eu consegui acessar os cadastros de partos que aconteceram naquele dia, e o de Megan estava lá. Dizia as informações que o bebê tinha sido deixado no Orfanato Green Day.”

– Era uma menina, não era? – Ian perguntou sorrindo, mergulhado nas lembranças – Era uma menininha.

É uma menina. – Paul deu um sorriso de lado.

– Você não está dizendo que...

– Eu também entrei nos dados oficiais do orfanato, mas essa não é a pior parte, irmão. A filha de Megan foi adotada por um casal no início do ano.

– E o que tem de ruim nisso? - indagou.

– O pai adotivo da filha da sua namorada, Ian, é o nosso patrão.


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Notas finais do capítulo

Então, gente lindaaa
Eu ainda tô de férias e vou tentar me empenhar ao máximo para terminar a história.
Sabe, se vcs pudessem olhar minhas pastas, elas são LOTADAS de histórias incompletas, mas sei la, eu acho que sou simplesmente apaixonada por esta e não vou ficar em paz enquanto não termina-lá.
bjs, meus docinhos



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