Sorria! escrita por UniversoInfinito


Capítulo 7
A ilusão do sorriso




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/378524/chapter/7

Fechar os olhos ao dormir é só o começo. O começo de uma aventura misteriosa. Geralmente não ligo para os sonhos, mas as minhas viagens constantes a outros mundos me despertam para uma nova realidade: a viagem pelo mundo dos sonhos.

— Vamos! Puxem! Com mais força! - diz o homem aos soldados.

Eles erguem uma enorme estátua de madeira, é um palhaço de farda, sério, com olhar rígido. Quando ela finalmente está de pé, alguém grita:

— Cuidado! Fogo!

A estátua está pegando fogo, e todos que a ergueram são queimados junto com ela. Qualquer um que não levasse a sério os gritos de aviso era queimado junto.

Corro desesperadamente. O local é como uma cidade fantasma. Escura, cinza, cheia de casas e prédios quebrados. Corro pelos escombros do que já foi uma grande metrópole. Corro para fugir daquele lugar horrível. Mas ele jamais acaba. Só fica cada vez pior. Como se quisesse me engolir. Então paro e olho para cima, o céu está vermelho. Sinto uma grande revolta dentro de mim.

— Não quero mais ficar aqui! Sonho, mude agora!!!

Imediatamente o céu se torna em um azul vivo e extremamente calmante. As nuvens brancas e suaves, se dissolvem no céu tão lentamente quanto o sutil chegar do sono. Ao baixar o meu olhar não vejo mais cidade, apenas uma colina verde com algumas poucas árvores aqui e ali.

— Como aqui é tranquilo… Tranquilo demais… A ponto de… incomodar.

— Cuidado ó filho! Com o Pargarávio prisco! - ouço uma voz recitar - Os dentes que mordem, as garras que fincam!

— Sei o que é isso gato - digo destemida - Não me venha tentando criar um pesadelo, já me bastam os meus momentos de vigília!

O gato de Cheshire surge sorridente de cima de uma árvore.

— Você já não vive um pesadelo? - diz o gato.

— Do que está falando? Agora estou dormindo. E não há nada que possa me ferir em um sonho, assim como nas minhas viagens em vigília.

— Falo de quando está acordada, mas não está. Quando pensa ser livre, mas não é.

— O quê?

— Quando pensa estar vencendo, mas nem viu que está perdida… - diz o gato sumindo.

— Gato! Espere!

E ele desaparece por inteiro, ou por cabeça, que era só o que estava presente há pouco tempo. O céu escurece, árvores secas de troncos retorcidos crescem ao meu redor, seus galhos cheios de pontas e ângulos duros se viram como se fossem me agarrar e me sufocar.

— Ahahahahahahaha!!! - um fantasmagórico sorriso ecoa pela floresta. É parecido com a voz do Chapeleiro.

Não estou assustada, é só mais um sonho. Provavelmente fruto das minhas buscas e frustrações.

— Nada aqui é real.

— Tem certeza? - diz uma voz por trás das árvores.

— Loki?

— O que é mais real, o que você vê, ou o que você acredita? - diz seu vulto passeando entre as árvores.

— Como assim?

— O que você acredita muda a realidade? Ou o que você vê é a realidade absoluta?

— O que eu vejo não significa nada… - digo pensativa - O que vemos não é o que as coisas são… É só o que podemos entender delas com o conhecimento que temos... Como as mentiras que você conta, mostrando cenas reais.

— Você não pode ver a realidade, então por que busca entendê-la? - diz sumindo entre as árvores, que engrossam e se tornam prédios de outra cidade sombria.

Ouço uma voz assustadora ecoando pelas ruas. Mais um maluco veio me ver:

 — Procurando um significado para a realidade? Vai se decepcionar quando descobrir… - diz sorrindo.

— Do que está falando?

Ele estava com uma cabeça na mão, era um homem adulto. Uma cabeça com os olhos abertos e o rosto manchado de sangue.

— Não existe significado na realidade. Ela apenas existe.

— Não! Claro que há significado! Você é louco! Não pode falar sobre realidade! Tudo o que vê é distorcido!

— Eu quero - diz uma voz de menino - sempre ser criança e me divertir.

A voz vinha da cabeça na mão do Coringa, ele a mergulha em um balde cheio de água, a qual logo fica vermelha.

Bolhas de sangue saem da água cobrindo toda a vista da cidade. Rapidamente, nada mais pode ser visto, apenas um manto vermelho escuro cobrindo toda e qualquer visão. Um breu vermelho quase negro.

— É tudo uma tremenda ilusão. Nada disso é o suficiente para sorrir verdadeiramente. - diz a voz de Tony Stark.

Então o vejo, e a mim mesma me afastando dele, enquanto ele sai com o carro. Era o momento que me despedi dele naquela viagem. Ele sai com o carro e para em frente a uma casa. Lá ele participa de uma grande festa, onde bebe muito e paquera todas as mulheres que pode, e de lá sai, bêbado, dirigindo sério, sem um pingo de graça em seu rosto. Não há brilho algum ali.

Acordo com o corpo pesado, me viro na cama. É como se não dormisse há dias. Não consigo me lembrar direito o que aconteceu no sonho, mas me lembro das palavras “Ilusão” e “realidade”. O que é realidade? Será que a minha infelicidade é real? Será que a felicidade é uma ilusão, na qual as pessoas escolhem viver? O gato disse algo sobre eu viver num pesadelo. O que isso quer dizer?

— Você nunca vai acordar, então viva este sonho como puder.

Estas palavras vêm em minha mente, como se eu não tivesse acordado. Quem as teria proferido? Talvez nunca viesse a saber.

Colocando a mão na testa tento relaxar depois de uma experiência desagradável, a cabeça ainda está pesada. Não sinto alívio que se sente ao acordar de um pesadelo, é como se não houvesse diferença… É o que o gato disse. Esse incômodo, essa opressão, a mesma sensação de estar num pesadelo é o que eu sinto o tempo todo. Por isso os pesadelos não me assustam, nem a vigília me encanta. Nada brilha através dos meus olhos… Espera! “O que é mais real, o que você vê, ou o que você acredita?” lembro-me das palavras de Loki. Há portanto, uma diferença entre o que eu vejo e o que eu acredito? Eu acredito porque vejo, ou vejo porque acredito? Não importa onde eu vá, tudo parece sem graça, e sem brilho.

"Você é louco! Não pode falar sobre realidade! Tudo o que vê é distorcido!" Lembro-me das minhas palavras ditas ao Coringa. Mas então, como algumas pessoas conseguem ver brilho em tudo? E como pessoas como o Tony Stark, não veem brilho em coisas que são fantásticas para a maioria das pessoas? Sei que ele não deve ser assim assim o tempo todo, a maioria das pessoas tem seus altos e baixos. Mas viver em baixo o tempo todo tem feito eu me sentir presa como se nunca pudesse sair de um pesadelo… Mas sonhos são muito mais fáceis de manipular do que a realidade... Preciso sonhar de novo. Tenho que aprender a tornar o sonho algo agradável. Mas… o que seria esse algo? O que eu gostaria que a vida fosse? Como eu gostaria que fosse o meu sonho?

Pensando assim, não consigo achar uma resposta, e acabo por demorar a dormir. Não me lembro com o que sonhei depois disso naquela noite. Algo que não mexeu muito comigo, provavelmente. Devo ter ficado cansada demais para ficar consciente no sonho.

Acordo tarde, quase no final da manhã. Lembro-me da jornada do dia anterior.

— Tenho que resolver isso - penso.

Os sonhos podem ser uma ferramenta para conseguir encontrar o meu caminho. Esta noite. Farei algo diferente nos meus sonhos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sorria!" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.