-Como eles morreram? – Minha vó me perguntou depois de um tempo, estávamos conversando colocando 19 anos de papo em dia, mas ela teve de fazer essa pergunta.

-Eu. Eu não sei direito – comecei, o que era verdade, eu não vi como eles morreram.

-Mas eu sei – Vincent anunciou aproximando-se de nós.

-E você acha que acreditaremos em você? Nós sabemos que é um Richards – meu vô disse ríspido.

-Não, ele sabe, Vincent, você vai falar a verdade? – o defendi, os olhos dele diziam que ele iria contar a verdade.

-Vou – ele olhou ao redor e pareceu incomodado com tanta gente – mas preferia contar essa história num lugar onde mais ninguém possa ouvir.

-E para que isso? Para nos atacar? – vovô questionou frio.

-Pare! Ele não vai fazer isso, tenho certeza que ele não os faria nenhum mal, não é? – me virei para Vincent para encara-lo ele tentava parecer indiferente, mas deu para perceber o discreto aceno de cabeça que ele me direcionou – vamos para o hotel, lá ninguém irá nos ouvir.

-Certo – Vincent tirou uma caneta do bolso interno do paletó e pegou um guardanapo e começou a escrever – estamos indo embora, esse é o endereço, podem vir amanhã ou depois da festa, estaremos esperando.

-Sim, venham por favor – me levantei e abracei meus avós – e não se preocupem, ficarei bem.

Vincent e eu saímos do salão e minutos depois os gêmeos apareceram com o Porshe.

Não demorou para que vovó e vovô aparecessem no hotel, fui pega-los na recepção e os conduzi até o quarto.

Não falamos muito, apenas nos acomodamos no sofá. Vincent ficou de pé na nossa frente e respirou fundo.

-Bem, para começar eu devo dizer que isso pode chocar bastante – ele avisou olhando para mim – Já faz algum tempo que eu e o Conselho da Associação temos nossos acordos.

Vovó e vovô não pareciam chocados, mas eu me surpreendi, quer dizer que aqueles velhos nojentos ficam confraternizando com o inimigo? Isso não é nada legal.

-Bem, foi num desses acordos que eles trouxeram uma proposta tentadora: Ajuda-los a se livrar dos melhores caçadores de Roma – ele passou seu olhar para os sapatos e respirou fundo – a proposta era simples: Criar uma situação que obrigasse os presidentes a mandar a Anabelle resolver.

Ele parou um instante e olhou diretamente para mim, seus olhos cinzas estavam sérios, porém tinha mais algo neles, mas não consegui reconhecer o que é.

-E quando ela chegasse, eu deveria estar a esperando. Enquanto isso mandaria alguns dos meus ‘subordinados’ começarem a atacar a Associação – ele voltou a desviar o olhar para o chão – depois disso eu deveria segurar a Anabelle até os presidentes estarem mortos.

Não sei se foi algo na voz dele, ou no seu olhar, talvez até nos dias em que convivi com ele, mas algo em mim não queria acreditar que foi ele o responsável pela morte dos meus pais – Vincent,   QUEM matou meus pais?

-Foi um membro do Conselho – ele respondeu ainda olhando para baixo – Belle, entenda que seus pais estavam trazendo problemas para eles, então um deles acabou errando o tiro – ele deixou a frase no ar e voltou a me encarar.

Não é preciso ser um gênio para entender que de acidental o tal tiro não teve nada. Da mesma maneira tudo fazia sentido, meus pais não seriam mortos assim tão facilmente lutando apenas contra dez vampiros, eles, que já venceram um nobre, não cairiam assim tão facilmente.

-Entenda que eles me ofereceram parar com os ataques aos meus vampiros e que ainda iriam matar apenas aqueles que invadem o meu território, mas o que matou seus pais não foi um vampiro.

-Isso explica porque eles não me deixaram ver os corpos deles – murmurei de cabeça baixa – Vincent, me responde uma coisa.

-O que quiser.

-Você se arrepende?

-Todos os dias – ele me respondeu sem conseguir olhar em meus olhos, mas eu sabia que ele falava a verdade, o tom de sua voz dizia tudo.

-Então quer dizer que meu John foi morto dessa maneira? Por que o conselho faria isso? – vovó se pronunciou com a voz fraca.

-Eu sei porque – comecei – papai e mamãe não obedeciam eles, eles foram a melhor coisa que já aconteceu na Associação, criaram o antídoto que funciona até nos mestiços e estavam querendo usa-lo para ‘curar’ qualquer vampiro que desejasse ser humano – eu parei para respirar fundo e não me deixar chorar – eles eram pessoas boas, mas também tinham o respeito de todos lá dentro, aposto que o Conselho estava com medo que eles virassem os caçadores contra Eles.

-O Chefe do Conselho é o Ruy, certo? – vovô perguntou com sua voz firme e séria, eu apenas balancei a cabeça afirmando – não me admira que um velho sedento de poder fez isso.

-Nunca deveríamos ter deixado eles irem para a Itália – depois disso a minha vó o abraçou e começou a chorar. Era difícil acreditar que alguém tão meiga como a vovó poderia ser mãe do meu pai. Acho que ele puxou meu vô.

-De certa forma eu também não me surpreendo que aquele velho esteja por trás disso – me pronunciei séria – ele merece uma lição.

Todos olharam para mim enquanto eu pensava no que fazer, foi então que eu lembrei de algo, a experiência que meus pais fizeram e que me deu minha visão melhorada. Virei para meus avós, esse plano TINHA que dar certo – vocês sabem fazer aquela destilação que meus pais fizeram?

-Sabemos, mas. – vovó começou mas eu não a deixei terminar.

-Vocês fariam para mim? Se eu ficar mais forte posso dar uma boa lição naqueles velhos nojentos corrompidos pelo poder – pus a maior quantidade de ódio na voz que pude ao falar daqueles velhos.

-Minha querida vingança não leva a nada – vovó falou bondosa.

-Não, deixe ela, ela precisa fazer isso, nós faremos e destilação – vovô olhou para mim com um sorriso – só vamos precisar do sangue de um vampiro.

-Eu dou meu sangue, não se preocupe – Vincent, que até aquele momento só ficara assistindo enquanto eu falava com meus avós, garantiu sorrindo.

Sorri agradecida para ele, nunca achei que poderia contar com um vampiro, mas ultimamente ele era minha única companhia, acho que posso com toda certeza dizer que ele é um grande amigo.