PDV Carlisle

Vi os tons do céu de Forks mudarem à medida que a noite passava. Senti as brisas da praia tocarem minha pele, tão macia  quanto a pele de Esme. Era bobagem ficar pensando nela agora. Eu não devia.

Da última vez que deixei me levar por aquele sorriso, aquele rosto, aqueles olhos... Me magoei.

Eu queria ter levado um soco a ter que ver Esme me dizer aquilo. Eu não estava irritado, estava apenas magoado... E como sempre nessa história, perdido.

Melissa era minha prima e eu a considerava minha irmã mais velha. Mas eu a conheço. Muito bem. Quando queria algo, ou ela conseguia ou morria. Sempre dramática. Por um lado isso mostrava sua firmeza e perseverança.

Havia apenas uma pessoa a quem ela não dobrava. Eu. Aquele garotinho órfão de mãe, que todo mundo sempre queria encostar e apertar suas bochechas. Me lembro que quando saia comigo, Melissa devia ter seus 11 anos e era responsável por mim que tinha uns 9 anos. Ela me dava a mão para não me largar em hipótese nenhuma, tinha instinto materno desde aquela idade.

Crescemos e aparentávamos a mesma idade, mais ou menos 20 e poucos anos. Foi quando meu pai já estava mais velho e começou a tocar num assunto inesperado: Casamento.

Nunca pensei em como seria ser casado. Quer dizer, eu imaginava construir uma família, como qualquer homem. Mas eu só não sabia que poderia ser algo tão... polêmico.

Meu pai adorava Melissa, ela era sua afilhada. E ficava fazendo vários elogios dela para mim. Até que certo dia ele insinuou: “Ela daria uma ótima esposa.”

Eu e Melissa? Marido e mulher? Não! Minha prima era divertida e bonita, mas era minha prima! Sem contar que nossa família tinha um gênio forte, ou seja, nenhum daria o braço a torcer em uma relação.

E tudo voltou a... Esme. Com ela eu sabia que era diferente. Parecia que seu gênio também era forte, mas sua calma e delicadeza lhe dava vontade de ceder tudo para ela.

Até mesmo seu próprio coração.

PDV Jasper

- Isso não tá legal. – disse Alice se sentando ao meu lado no tapete da sala.

- Isso o que, Lice? – ela me olhou pensativa.

- Nossa família. – assenti. Eu sabia o que estava na mente de cada um dos meus irmãos. Não era só suas emoções conturbadas.

Cada um se torturava em particular, talvez devêssemos ter dado mais atenção ao Carlisle quando ele nos amava como filhos. E agora que ele não se lembrava de nós, é que começamos a ver o quanto ele era importante.

É o velho dilema: “só se dar valor quando perde”.

- Enfim, ainda acredito que ele vai voltar. – ela falou deitando a cabeça em meu ombro.

- É querida. Você vai ver, no final ele vai lembrar, e vamos vencer isso. Sempre vencemos. – ela levantou a cabeça e me olhou.

- Mas, Jazz... É que não é só isso. Não será tão simples assim. Dessa vez é diferente. – assenti suspirando.

- Porque não temos ele para nos guiar. – sussurrei.

- E tem Melissa. – seu tom se elevou um pouco. – ela é perigosa, a Esme tem razão. Eu vi ela se jogando no carro.

Melissa realmente era... Estranha.  Ela não se envolvia com nenhum de nós a não ser Esme e Carlisle. Todos sabíamos que a “relação” dela com Esme tinha um problema: Carlisle.

Uma o puxava para um lado e outra para outro. Elas estavam lutando entre si, por ele. Mas não sabem o quanto isso pesa nele mesmo. Ele ama as duas, de formas diferentes.

E por isso mesmo deve ser difícil estar no meio de algo assim, sempre tomando cuidado para que nenhum movimento que faça machuque alguém. Por isso ele se afastou. Um tempo pode ajudar.   

PDV Melissa

Saí do quarto investigando cada canto da casa. Pude ouvi-los comentarem noite passada sobre meu primo estar precisando ficar sozinho. Não totalmente sozinho.

Desci apressada e saí rápido. Alice e Jasper estavam na sala, mas nem me importei. Ninguém agora me importa. Se dependesse de Esme eu nunca teria uma chance como essa.

Entrei na mata e fui andando lentamente até achar o cheiro de... cachorro. Estava em La Push.

Andei mais um pouco e vi ele de longe, sentado na areia. Tão natural, tão Carlisle.

Andei lentamente pela praia e parei ao seu lado. Ele percebeu minha presença, mas continuou a olhar o mar.

- Vai passar o dia todo aqui? – perguntei.

- Talvez. Não queria sair daqui. – ele abaixou a cabeça. Me cortava o coração o ver tão deprimido.

 - O que aconteceu? – eu não podia esperar sua resposta. Ninguém me disse nada e eu também não quis saber. Não por eles.

- Esme e eu brigamos. – franzi a testa. Tinha que ser ela. Sempre atrapalhando. – ela disse que seria melhor desistir de mim. Isso foi...

- O fim. – o interrompi e ele assentiu.

Carlisle gostava dela. Eu sabia disso e apenas queria que ele fosse feliz. Mas ele seria feliz comigo. Eu o escutaria e faria de tudo que essa relação fosse a mais fácil possível.

Era besteira ficar pensando que ele estava apaixonado por Esme. Ele podia até estar, mas eu não ia deixar esse pensamento tomar conta de mim. E nem podia, se eu começar a pensar assim, vou me sentir culpada aí começo a ficar mole ... E eu não posso desistir.

Ele está triste agora, mas ao meu lado, será o homem mais feliz do mundo. Voltei depois de tantos anos, porque o amo e porque o quero para mim, preciso estar perto dele. Carlisle sempre foi o homem mais atencioso que já vi. Sei que tenho meus defeitos, mas perto dele, me sinto melhor, sou melhor.

- Só vou passear um pouco pela floresta, caçar talvez, até amanhã vou voltar. – ele sussurrou. Ele me abraçou. Escondi metade do meu rosto em seu ombro para relembrar seu cheiro antes que ele me soltasse.

- Se cuida. – e assim ele se foi. Fiquei o observando caminhar calmamente e desaparecer na floresta. Quem precisava observar o mar agora era eu. – Ainda vou te fazer feliz.