– Para de fazer esse barulho irritante com a boca! – Niko reclamou mais uma vez e se virou para me encarar.

– Eu to com frio. – Murmurei.

– E o que eu tenho a ver com isso?

– Absolutamente tudo! Foi o senhorzinho que me obrigou a nadar naquele lago cheio de vírus e bactérias e ainda peguei uma chuva do capeta, então não reclame porque estou sentindo frio. Será que você não tem sensibilidade nenhuma com as pessoas? Porra, me erra garoto! – Esbravejei e cruzei os braços com o olhar fixo na janela vendo as gotas de chuva pingando sobre o carro e os trovões estrondosos lá fora.

– Você fica tão bonitinha quando tá brava.

– QUE?!

– Nada. – Oh céus, porque o carro tão tem o mínimo de iluminação? Eu poderia jurar que ele ficou com vergonha. – Vai dormir.

– Não quero.

– Então quer fazer o que?

Terminar o que começamos lá no lago.

Se eu disse isso? HAHAHA, não. Foi só um surto psicótico momentâneo e já passou. Ou não. Ou sim. Ai caramba, não sei!

– Verdade ou desafio.

Uma sombra de dúvida parou em seu rosto, mas ele logo se ajeitou e ficamos frente a frente.

– Verdade.

– Cagão. – Revirei os olhos. E agora que pergunta eu faço pra ele? Pensa. Você gosta de mim? Não Katherine, não seja tola. Pensa. Quantas namoradas você já teve? Não, eu não quero matar algumas vagabundas. Pensa. – O que você acha mais sexy em uma menina? – O QUE? QUE TIPO DE PERGUNTA É ESSA JACU?!

Ah, já foi. A merda tá feita e o Niko está me olhando como se eu fosse uma idiota.

– Eu gosto da cintura da garota. É bom pra apertar quando... Bom, você me entendeu. – Deu uma piscadinha com o olho e um sorriso malicioso. Idiota sensual.

– Sua vez.

– Verdade ou desafio, senhorita Moore? – Aproximou seu rosto do meu como se quisesse me provocar. Conseguiu.

– Desafio. – Sussurrei de modo sexy, ou pelo menos o que eu considero como sexy.

– Tira uma peça de roupa. – Arregalei os olhos espantada e esperando ele dizer que aquilo não passava de uma brincadeira, mas quanto mais os segundos passaram mais sério ele ficava.

Me ferrei.

Olha, eu sei que sou idiota e minha consciência é zero naquele momento, talvez tenha perdido um pouco de QI, mas não tive muito orgulho do que fiz a seguir.

Ok, só um pouquinho.

Passei minhas mãos até a barra da camisa e a estiquei pra cima, tirando-a do meu corpo e jogando no banco da frente. Niko arregalou os olhos numa mistura de surpresa e desejo e foi analisando minuciosamente, dos pés a cabeça até que seu olhar finalmente se fixou no meu.

Sorri mais uma vez e voltei a atenção ao nosso pequeno e indecente jogo.

– Verdade ou desafio? – Niko perguntou.

– Mas tá na minha vez!

– Responde logo. – Como o clima estava muito bom (bom até demais) preferi não discutir com o Senhor Mandão e dar continuidade a brincadeira.

– Verdade.

– Medrosa.

– Só não quero ficar pelada aqui.

– Que pena. – Deu de ombros. – Quais são seus fetiches? – Eu queria saber da onde nós saímos de perguntas inocentes pra uma indecência total.

Seria muito pervertido da minha parte dizer que aquilo não me incomodou nem um pouquinho?

– Acho que... Elevadores, salas de aula e numa piscina. Também seria legal me vestir de enfermeira pra alguém, mas só no futuro. Futuro bem distante.

– Nem tão distante se depender de mim.

E assim um estranho silêncio se formou no carro mais uma vez. Aquilo me deixou sem palavras e olha que eu ficar quieta é quase impossível! Do tempo Jurássico. Mas o idiota conseguiu fazer com que eu ficasse com vergonha. Uma pimenta malagueta pra ser mais exata.

– Verdade ou desafio. – Sussurrei temerosa e nossos olhares estavam estáticos. Se duvidar eu podia ver as faíscas saindo dos mesmo.

– Verdade.

Bufei irritada. Qual o problema dele em pedir desafio? Eu quero que ele peça desafio.

– Pois bem. Uma coisa que você sempre quis fazer, mas nunca teve coragem.

– Tem certeza que quer saber?

– Sim...? – Aquilo que deveria soar como afirmação acabou saindo como pergunta.

Niko estendeu seu corpo até o rádio do carro e o ligou. Tocava a nova música do Artic Monkeys, Do I Wanna Know.

(n/a: Coloquem a música pra tocar: http://www.youtube.com/watch?v=bpOSxM0rNPM -v- fafadinhos)

Have you got colour in your cheeks? (Você tem cor em suas bochechas?)

Do you ever get that fear that you can’t shift the tide that sticks around like summat in your teeth? (Você já teve esse medo de não poder mudar a maré que fica ao seu redor, como algo em seus dentes?)

Hide some aces up your sleeve (Escondendo alguns ases na manga)

– Mas o que... – Tentei argumentar, mas Niko colocou o seu dedo indicador na minha boca e a contornou levemente.

Nem preciso dizer o que aquilo fez com o meu estômago. Droga de borboletas.

– Você fala demais. – Sussurrou cada palavra conforme seu rosto se aproximou do meu. Nossas respirações estavam ruidosas e somente o ar frio do carro é que separava nossos rostos. Eu não sei de como fomos de lagoa, a chuva, até perversão dentro de um carro, mas quem se importa?

A música continuava como nosso plano de fundo e Niko começou a cantar bem baixinho enquanto continuava a me olhar...

– Have you no idea that you’re in deep? (Você não tem ideia de que você está no fundo?)

I dreamt about you nearly every night this week (Eu sonhei com você quase todas as noites esta semana)

How many secrets can you keep? (Quantos segredos você pode manter?)

Cause there’s this tune I’ve found that makes me think of you somehow (Por quê há essa música que eu achei que me faz pensar em você de alguma forma)

And I play it on repeat until I fall asleep (E eu a coloco pra repetir até eu dormir)

Não sei dizer ao certo o que sentia naquele momento. Aquilo de certo forma me colocou nas nuvens e eu estava completamente hipnotizada. Eu o desejava. Eu o queria.

Numa fração de segundos nossos lábios já estavam colados. No começo era algo leve, calmo e satisfatório, mas logo as coisas começaram a ficar mais urgentes. Ele separou nossos lábios e me aconchegou no banco do carro, se deitando sobre mim logo em seguida e segurando o peso do seu corpo com um braço enquanto o outro afagou meus cabelos e logo voltamos aquele beijo apaixonante. Mesmo eu estando em seus braços eu não conseguia acreditar que aquilo estava realmente acontecendo, como se fosse um doce e pervertido sonho e do qual eu temia que uma hora acabasse. Pra minha sorte um choque de realidade veio a minha cabeça e eu entendi que ele estava ali. Só meu.

Agarrei seus fios de cabelos de forma bruta e coloquei minhas pernas em volta da sua cintura. Isso parecia agradá-lo porque logo ele colocou sua mão sobre minha coxa e a apertou levemente. O beijo estava urgente, feroz. Fazer o que, a carne é fraca e eu não conseguia resistir aos encantos que aquele beijo estava me proporcionando.

Crawling back to you (Me rastejando de volta pra você)

Ever thought of calling when you’ve had a few?( Alguma vez pensou em me chamar quando estivesse por baixo?)

Cause I always do (Por que eu sempre chamo)

Maybe I’m too busy being yours to fall for somebody new (Bem baby eu estou muito ocupado sendo seu pra me apaixonar por alguém novo)

Now I’ve thought it through (E agora que eu pensei bem nisso)

Crawling back to you (Eu estou me rastejando de volta pra você)

O beijo foi causando um incrível calor dentro de mim, como se meu corpo não pudesse suportar tudo aquilo. Era uma combustão, um fervor que tomou posse da minha mente.

Quando o maldito ar se fez necessário nós ficamos nos encarando por longos minutos. Será que aquilo realmente aconteceu?

Mas é claro que sim.

Niko se deitou ao meu lado e virou meu corpo para que ficássemos cara a cara. Pegou sua jaqueta de couro e cobriu meu corpo, passando seu braço ao redor da minha cintura e naquele momento quente e clichê nós adormecemos.

It’s just I’m constantly on the cusp of trying to kiss you (É que eu estou constantemente à beira de tentar beijá-la)

But I dunno if you feel the same as I do(Mas eu não sei se você sente o mesmo que eu)

But we could be together if you wanted to (Mas nós poderíamos estar juntos se você quisesse)