– E passar desodorante de spray faz mal pra camada de ozônio, ta ligada? Por isso eu sou assim, sempre livre. – O Hippie maluco e possivelmente drogado abriu os braços e um cheiro nada bom saiu das suas axilas. Esse cara é um porco fedido e estranho!

– Isso é fascinante. Agora me dá licença que eu vou procurar meu amigo, ok? – Levantei o mais rápido que pude e acenei para o Stark (Sim, o nome do cara era Stark.).

– Beleza colega. Mas não demora muito porque depois eu vou te falar sobre o nudismo. – Ele deu uma piscadinha pra mim. Ótimo, estou sendo paquerada por um hippie drogado que não usa desodorante e quer me ver pelada. Esse dia tem como piorar?

Mas é claro que sim!

Até agora eu não consigo acreditar que o Niko me trouxe pra esse luau ridículo! Isso aqui é extremamente patético. E o idiota ainda faz o favor de sumir com uma rapariga e me deixar sozinha no meio de malucos tarados por pequenas e doces meninas inocentes de 16 anos. Ok, talvez nem tãaaaaaaao inocente assim, mas eu ainda estava cercada de gente sem nenhum parafuso na cabeça. Sabe, quando o Niko disse que seria uma "surpresa" eu logo imaginei que ele me levaria a um lugar que ficaríamos sozinhos, conversando e quem sabe rolando até um possível beijo que é obvio que viria da parte dele até porque eu não tenho a mínima vontade de beija-lo. Sério. Mas nãaaaaaao, ele tinha que me trazer pra um lugar mais afastado da cidade com uma pequena lagoa e um mini píer onde uns adoidados da vida ficavam pulando e brincando na água feito crianças. E também tinha os hippies malucos como eu já havia dito. Tirando o alto cheiro de maconha, o lugar até que tinha seu charme. O sol estava se pondo e alguns meninos haviam feito uma pequena fogueira e em volta dela residia um grupo de pessoas que cantavam Imagine do John Lennon. Pelo menos bom gosto musical eles tem, isso ninguém pode negar, agora o que eu realmente quero saber é aonde o Niko se enfiou.

Será que ele ainda está com aquela garota? Será que ele ta se pegando com ela? Meu Deus, eu preciso salvar ele! Vai que ele pega alguma doença hippiestica (OI?!) da vida, ou AIDS, até mesmo câncer!

Desculpa às vezes eu exagero, mas o Niko consegue me deixar com os nervos à flor da pele! Como ele consegue ser tão irresponsável? Nossa, pareci a minha mãe agora. Calma, Katherine, concentração. Espanta esse espírito de mãe do seu corpo.

Ótimo, já estou enlouquecendo!

– Kath? – Ouvi uma voz familiar bem próxima de mim. Virei e dei de cara com o Fred.

– Fred! – Fui até a sua direção e lhe dei um soco no braço. Ele me olhou incrédulo e passou a mão no lugar atingido.

– Antes que você pergunte você merecia isso! Me deixou sozinha numa balada sabendo que eu era menor de idade e ainda por cima não foi atrás de mim quando eu estava bêbada! Que tipo de amigo você é?! – Comecei a atirar as primeiras palavras que surgiam na minha boca. Eu estava dramatizando um pouco porque não é como se eu nunca tivesse bebido antes, mas ainda sim o que ele fez foi de certo modo irresponsável. Meus pais deviam ter pensando duas vezes antes de ter me mando para cá, já que agora estou envolvida com dois delinquentes e um hippie safado.

– Poxa Kath, desculpa. Não sei o que me deu na cabeça pra te abandonar. – Fez uma carinha de cachorro pidão e eu quase acreditei nele. Quase. – Não tem nada que eu possa fazer pra me redimir? – Meu Deus, esse menino é um pervertido!

– Cai fora, Fred. Pra mim você não é mais o deus do sexo maravilhoso.

– Você me chama de deus do sexo? – Perguntou com um tom de risada em sua voz.

– Agora você não passa do tapado-lindo-idiota-e-amigo. Só amigo! – Continuei minha fala dando ênfase nas duas ultimas palavras e ele me encarou levemente desapontado. Acho que eu iria me arrepender amargamente por tratar o Fred somente como meu amigo, mas ele não parecia um bom partido para ser meu namorado ou algo do tipo.

– Mas você ainda me acha lindo. – Piscou um dos seus olhos e sorriu malicioso. Revirei os olhos, brava e cruzei os braços. - Ok. Só amigos. Saquei. Mas saiba que vai ser muito difícil ser amigo de uma gost- gata como você, Kath. – Sorriu de um jeito sincero, mas seus olhos ainda transpareciam a vontade de arrancar minha roupa na frente de todo mundo. Ignorei aquilo e sorri de modo compreensivo.

– Agora faça algo de útil e me ajuda a achar o Niko.

– Ah, eu vi ele atrás daquelas pedras ali. – Apontou para um conjunto de pedras gigantes e as mesmas não permitiam ver a passagem do outro lado.

– Valeu Fred. – Fui andando em direção as pedras e acabei esbarrando em Stark no meio do caminho.

– Ta indo pra onde, minha lua e minhas estrelas? – Que apelido horrível! Caramba. Mas não pude evitar de rir com aquilo.

– To procurando um amigo. - Respondi.

– Aquele que te trouxe até aqui? - Uma senhora de cabelos ruivos, magra e baixinha que usava vestes coloridas se aproximou de nós. Ela devia ter uns quarenta anos, mas seu rosto ainda possuía um toque de jovialidade. Seus olhos eram bem parecidos com os meus, azuis bem claros e bonitos.

Concordei com a cabeça e antes que eu conseguisse voltar a andar ela segurou minha mão e começou a encará-la de modo estranho.

– Mas o que voc – Tentei falar, mas Stark me interrompeu.

– Silêncio. Essa é a Carminia e ela tem o dom de ver o futuro das pessoas. Algo mágico. Divino. De outro mundo, tá ligada? – Stark disse com uma voz arrastada e sonhadora.

– Assim, só acho que você fumou demais, Stark. Esse negócio de ver futuro não existe. – Senti minha mão sendo puxada bruscamente e a mulher me encarou. Fiquei com um pouco de medo naquela hora e antes que eu pronunciasse alguma coisa ela começou a falar.

– Criança, tome cuidado. As trevas anseiam em atrapalhar amores puros e inocentes. Não o deixe ir embora. Não o abandone e fique alerta com os fantasmas do passado! Eles podem te assombrar da pior forma possível. – E logo depois ela foi embora na mesma rapidez que apareceu. Aquilo foi assustador! Essa mulher esta maluca, só pode. Drogaram a veia de um jeito legal.

Voltei minha atenção para o que realmente importava e encontrei Niko sentado bem próximo à continuação do lago por trás das pedras. Ele jogava algumas pedrinhas na água e as mesmas ricocheteavam três vezes antes de se afundarem. Me aproximei dele lentamente e me sentei ao seu lado.

– Está tudo bem? – O encarei e seu semblante estava sério, abatido. Seu lábio estava levemente contraído e suas sobrancelhas um pouco juntas, como se ele estivesse em um profundo pensamento.

– Eu costumava vir com meus pais aqui... Sabe, um pouco antes da separação. – Sua voz ficou trêmula por uns instantes e ele encarou a paisagem a sua frente, mas logo se recompôs. Ele parecia tão vulnerável naquele momento. Como se tivesse desenterrado uma memória boa, mas que de certa forma era pouco dolorosa. – Eu devia ter uns 10 anos e meu irmão Dimitri tinha 3. Eu lembro que meus pais brincavam conosco bem na beira do lago e aquilo me fazia feliz. Depois bom... Tudo mudou. Coisas aconteceram.

– Que coisas? – O fitei curiosa.

Niko se levantou e tirou sua camisa. Meu Deus, o que que é isso?!

Olhei espantada para ele e senti minhas bochechas ferveram quando ele tirou os tênis e a calça, pulando no lago em seguida. Ele voltou à superfície e ficou me encarando.

– Não vai entrar?

– Você está maluco, né?! Deve ter um bando de bactéria nessa água, vai saber o que já não passou por aí...

– Você vai vir por bem ou eu vou ter que ir até aí e arrancar sua roupa? – O fitei assustada e comecei a rir. Meu sorriso se desfez quando percebi que ele estava falando sério. Levantei sem muita disposição e tirei meus tênis, meu short e minha camisa logo depois. Senti minhas bochechas queimando quando vi que Niko me observava atentamente e seu olhar passava curiosidade e certa malícia. Encolhi meus braços ao redor do corpo e fui caminhando lentamente até a água.

– Ta fria! – Reclamei assim que senti a água batendo nas minhas coxas. Ia sair dali, mas Niko se aproximou e puxou meu braço fazendo com que nossos corpos ficassem bem próximos.

Senti todos os músculos do meu corpo se arrepiaram quando sua mão foi de encontro ao meu rosto e o acariciou levemente. Abaixei meu olhar sem muita coragem de encarar Niko, mas ele puxou meu queixo de um jeito bem delicado, me forçando a sentir seus olhos verdes queimarem os meus azuis. Aquilo parecia aquietar meu corpo inteiro e já não me importava com a água fria que nos rodeava. Pra falar a verdade o ambiente parecia estar bem mais... Quente.

Sua boca foi se aproximando cada vez mais da minha e seu olhar ainda ia de encontro ao meu. Um sorriso presunçoso saiu dos seus lábios antes que ele... Antes que ele...

Afundasse minha cabeça na água. Ficaram decepcionados? Acreditem, eu também fiquei.

– NIKO! – Tentei falar enquanto subi um pouco para a superfície antes que ele me afundasse de novo e se afundasse junto dessa vez. Ficamos nos encarando de baixo da água até que sua mão foi de encontro a minha cintura e me erguesse novamente.

Nossos olhares pareciam atraídos um ao outro e continuaram juntos enquanto ele escorregava suas mãos pelas minhas costas, me fazendo descer e o encarar mais uma vez. Antes que eu pronunciasse mais alguma coisa Niko se virou de costas e enlaçou meus braços em volta de seu pescoço. Contra a minha vontade (eu juro que não estava pensando com clareza na hora. Bom, só um pouquinho, mas bem pouquinho!), entrelacei minhas pernas ao redor da sua cintura e ele foi nadando comigo em suas costas.

Aquilo era ridículo e clichê!

Mentira, aquilo era muito legal! Tirando a parte de estarmos com roupas intimas, mas são apenas inocentes detalhes.

– Depois da separação alguém tinha que ficar com a guarda dos filhos já que eu e Dimitri somos menores de idade. Meu pai por ter uma boa condição financeira e ter ao lado dele advogados de primeira acabou ganhando a causa e consequentemente o direito completo sobre nós. – Ele continuou a falar sobre a família dele e a cada palavra eu conseguia sentir a sua dor, a sua aflição em falar do pai.

– Mas, tecnicamente, você ainda é menor de idade. Não deveria estar morando com o seu pai já que ele ganhou a guarda de você e do seu irmão? – Perguntei próxima ao seu ouvido e vi alguns de seus pelos se arrepiarem. Aquela não era a minha intenção, mas admito que gostei.

– Isso já é complicado, quer dizer, eu era a complicação. O meu pai... Bom, ele nunca foi aquele pai perfeito, presente ou afetuoso. Mesmo sendo criança eu brigava com ele por não passar tempo suficiente com nossa família e até consegui desmarcar importantes reuniões que ele tinha. Ele nunca aprovou esse meu jeito que ele considerava rebelde então ele disse ao juiz que só queria a guarda do Dimitri e sumiu com o meu irmão por aí. Eu não o vejo a mais de cinco anos. – Se o local não estivesse tão mal iluminado, eu poderia jurar que vi uma lágrima escorrendo pelo rosto de Niko. Ou aquilo era só a água do lago, não sei, mas acabou me afetando de uma maneira indescritível. Ele sente falta do irmão e nunca recebeu o amor do pai. Aquilo devia ter sido horrível...

Virei meu corpo até ficar de frente a Niko e o abracei. Ele não retribuiu o abraço, mas eu não me importei. Dessa vez eu sabia o quão frágil e pequeno ele estava se sentindo e acredito que um abraço não era suficiente para consolar toda dor que ele sentia. Eu conseguia entender a relação dele com o pai porque é muito parecida com a minha entre Will e Emma. Não recebemos amor e consequentemente nos transformamos em seres rebeldes, confusos e até mesmo problemáticos. Mas ainda tinha algo em Niko que eu não conseguia decifrar. Talvez houvesse algo mais que ele não queria compartilhar comigo... Ou só é coisa da minha cabeça.

Afaguei seus cabelos suavemente e depois me afastei dele, mas ainda mantendo minhas mãos em seus ombros. Ele me fitou e pude perceber uma ternura em seu olhar. Algo estava diferente e a vontade de beija-lo começou a corroer minha cabeça. Dessa vez ele não poderia fugir de mim. Naquele seu olhar eu notei que ele poderia estar me desejando. Eu só queria que ele me tomasse pra si e não me largasse nunca mais.

Droga, o que está acontecendo comigo?

– NIKO, KATHERINE, CADE VOCÊS?! – Ouvimos uma voz masculina bem próxima e nos afastamos rapidamente.

– Fred, eles estão aqui. - Vi Stark apontar uma lanterna em nossa direção, porém ela se focava mais em mim e isso me fez lembrar que eu estava só de calcinha e sutiã.

– Que merda vocês tão fazendo ai? – Olhei para a silhueta do lado de Stark e vi um Fred com o olhar extremamente safado sendo direcionado a mim. – Quer ajuda pra vestir a roupa?

– Pode deixar que ela sabe de vestir sozinha! - Niko entrou na minha frente tentando tampar meu corpo. - Agora se vocês nos derem licença...

– Desculpa aí, casal. Já to indo. Mas Katherine, se precisar de alguma coisa...

– Vaza Fred! - O tom da voz de Niko estava extremamente bravo e autoritário. Fred e Stark trataram de sair rapidamente dali e Niko me guiou até a margem. Não pude deixar de dar uma boa checada em seu abdômen definido e os músculos dos seus braços, mas ele colocou a roupa e a graça acabou. Me vesti logo em seguida e fomos andando até a fogueira. A galera ia começar a cantar mais uma vez, mas certa chuva atrapalhou nossos planos. De uma hora para outra o mundo parecia que ia desabar então eu e Niko corremos até o carro e eu me joguei no banco de trás enquanto ele foi pro lado do motorista. Já estava de noite, umas onze horas pra fala a verdade e eu não conseguia acreditar como o tempo passou rápido enquanto estávamos conversando.

– Algum problema? – Perguntei enquanto olhava Niko já na quinta tentativa frustrada de fazer com que o carro andasse.

– O carro pifou. – Disse simplesmente e foi até o banco de trás se sentando ao meu lado. – Durma e não me encha o saco.

– Como assim ''durma e não me encha o saco''? Você não vai fazer nada pra nos tirar daqui?

– Já ta tarde e duvido que venha algum guincho a essa hora. Sugiro que você pegue no sono, mas se quiser ir até o capô do carro e ver o que está de errado por mim beleza. Só cuidado com a chuva. – Me olhou sarcástico e sorriu.

Algo me dizia que essa seria uma longa noite.