O primeiro período acabou há alguns minutos e Neitan ainda não me contou o que houve com o olho dele. Estou aqui, sentada, ignorando o olhar matador de Nick Dylan que para me provocar, sentou do meu lado.

— Então, já sabe por que o meu irmão está com óculos de sol? - a voz dele era calma, não parecia que queria me chatear, mas ele mentira tanto tempo pra mim, não tinha como confiar.

— Não, mas suponho que você já saiba - respondi seca. Nick riu sem humor.

— Por incrível que pareça, não, quer dizer, não tenho certeza.

— Então por favor, me fale - ele sorriu de lado e depois ficou sério.

— O meu pai odeia quando eu e o Neitan não estamos juntos, digo, como irmãos. Contei o que aconteceu a ele e o quanto eu estava chateado - o sorriso dele era de satisfação, me deu náuseas de olhar - só me lembro de alguns gritos histéricos da minha mãe na sala pedindo por favor para que parasse, então, Neitan acordou assim. Você devia dar uma olhada nas costas dele ou no abdome, aposto que vai ter bastante o que cuidar.

As minhas mãos se fecharam em punhos, não estava acreditando no que acabara de ouvir. O pai do Neitan tinha feito aquilo, não era nem por causa da academia, é porque ele não podia revidar. Meu coração apertou e imaginei a desgraça que tinha acabado de lançar na vida de Neit. Eu tinha que arrumar aquela situação, não podia ficar daquele jeito. Se ao menos ele me contasse o que aconteceu, se abrisse comigo, poderia ajudar.

— O que você quer, afinal? - perguntei e Nick balançou a cabeça - fale logo, antes que eu mude de ideia.

— Não mudaria de ideia. Não quer que o Neitan se machuque - Nick sorriu. Me lembrei de como eu já gostei daquele sorriso, me contagiava e agora só conseguia sentir raiva.

— Nick, por favor - segurei a mão dele por impulso e não pareceu se incomodar - o Neitan não merece isso.

— Merece sim, Kamilla. Mas eu posso te ajudar, se quiser.

— Faço o que você quiser, mas não deixe ninguém machucá-lo - supliquei e Nick assentiu.

— Certo. Termine com ele, volte comigo e finja que não o conhece. Ignore-o por quanto tempo for necessário até que ele te odeie, então, você pode terminar comigo e viver a sua vida, desde que ela não tenha o Neitan. Estará seguro, eu prometo - ele tinha planejado tudo. O que eu poderia fazer? Me render àquele idiota, deixar o Neit ir sem mesmo ter chegado direito.

— Tudo bem - respondi. Senti meus olhos se encherem de lágrimas e desejei que aquilo fosse apenas um pesadelo - eu aceito.

— Ótimo - Nick sorriu - o seu prazo é até amanhã, caso contrário. Eu mesmo vou deixar as minhas marcas nele.

Meu corpo estremeceu e eu apenas assenti. A aula passou rápido demais, queria evitar ter que olhar pra ele mas assim que sai da sala, Neitan já estava me esperando com um meio sorriso e um pacote de donuts. Sorri ao vê-lo mas assim que Nick passou do meu lado, ouvi-o imitar o tic-tac de um relógio.

— Qual é a dele? - Neit franziu o cenho, dei de ombros.

— Vai saber - sorri para tentar convencê-lo mas não funcionou.

— Pode ir falando.

— Neitan, isso não vai dar certo. Nós, não podemos mais - ele colocou o dedo nos meus lábios, me interrompendo.

— Deixa eu adivinhar, você quer terminar - Neitan riu - o Nick te ameaçou, ou melhor, ameaçou à mim, te contou sobre o meu pai também?

— Contou. Por que você não me disse nada?

— Pra você ficar preocupada? Eu sabia que o Nick já iria fazer a parte dele, não precisava te encher mais com essas coisas. Os meus problemas não são seus, linda, relaxa - Neit estava calmo mas a sua boca estava em uma linha reta, como se recusasse a aceitar qualquer coisa que eu dissesse.

— É diferente quando esses problemas tem a ver com estarmos juntos, Neit. É claro que estou preocupada, não quero estragar a sua vida, eu só acho que não vale a pena por alguém que não te ama - aquelas palavras foram como um balde d'água nele, eu senti isso, mas Neitan era durão demais para concordar. Dizer que não o amava, doeu mais em mim do que nele mesmo.

— Obrigado por me lembrar dessa parte - Neitan deixou o pacote de donuts comigo e caminhou sem me esperar. Alguma coisa dentro de mim queria correr atras dele e dizer que tudo ficaria bem, mas isso não aconteceria.

Andei sem pressa para o 3º período e logo encontrei Lily me olhando com compaixão ao perceber a minha expressão de tristeza. Ela ia dizer alguma coisa mas eu balancei a cabeça e sentei ao lado dela na sala.

— Vai ficar tudo bem - falei pra mim baixinho e Lily sorriu.

— Claro que vai - me deu um abraço de lado e não conversamos durante toda a aula, que também foi rápida.

Andei sozinha pelo corredor mas a minha tentativa de paz particular foi interrompida pelo Bryan que me deu um empurrão de propósito. Ele fingiu que não era com ele e isso me fez rir.

— Eu sei que sentiu a minha falta - olhou para o chão e depois voltou a me empurrar, como os meus irmãos costumam fazer comigo, acho que ele podia substituí-los nessa cidade - e também que está encrencada.

— Bom saber que as notícias correm rápido por aqui - nos sentamos no refeitório e pude ver Neitan e Nick conversando, aquilo ia dar errado, eu tinha que ver o que estava acontecendo.

— Nem pense nisso - Bryan entrou na minha frente e segurou o meu braço para que eu não fosse até eles - eles só estão conversando sobre o jogo de amanhã.

— Agora você também está omitindo as coisas de mim? Que ótimo - fechei a cara e ele riu.

— Vão sair no soco daqui a pouco e Neitan não quer que você esteja lá - admitiu. Assenti e abri o pacote que Neit tinha me dado, comecei a comer. Eu tinha que enganar o Bryan, fingir que não estava preocupada, para que quando ele levantasse para encher a bandeja de comida, eu chegasse perto - vou pegar comida, você vem?

— Não, esses donuts estão ótimos - sorri. Era a minha deixa.

Assim que Bryan estava longe o suficiente para não poder me impedir, corri até a porta em que os dois sumiram, não demorou muito para encontrá-los.

— Sabe Neitan, achei que você sempre fosse o irmão cheio dos planos maléficos, mas aprendi muita coisa com você, então, obrigado - Nick disse soltando uma risada que ecoava no ginásio vazio. Bufei.

— Vai nessa - Neit sorriu de lado - você não sabe o que te espera.

— Ual, está me ameaçando agora? Acho que não está em condições para fazer isso - por que ele ficava desafiando o Neitan? Eu ia fazer o que ele pediu.

— Eu não posso fazer nada, mas se esqueceu, conheço todos os drogados da cidade, inclusive os punks, vão adorar saber que estão incomodando o nerd aqui - Neitan riu, não pude deixar de acompanhá-lo.

— Você não seria tão burro.

— O que quer dizer com isso? Ah é, você perdeu - Neitan virou as costas para o irmão e Nick puxou a mochila dele.

— A sua garota está bem, não está? - perguntou Nick e Neit ficou vermelho de raiva.

— Não se atreva a relar nela, idiota.

— Eu não machucaria quem amo - Nick disse cabisbaixo - mas a levaria embora para nunca mais ficar perto do cretino que você é.

Não entrei no ginásio porque não houve nenhuma briga, estavam até calmos. Virei as costas e voltei para o refeitório, ainda com medo daquela conversa. Os dois irmãos se odiavam por minha causa. Eu era um monstro.

Sentei na mesa onde Bryan, Jake e Lily me encaravam preocupados. Não disse nada, as lágrimas escorriam sem eu notar a presença delas. Senti alguém me abraçando por trás e reconheci aquele cheiro. Era o Neitan. Em outra ocasião eu me sentiria a pessoa mais sortuda do mundo, mas naquele momento não sabia mais o que pensar.

Quando Neit sentou ao meu lado e olhou para o meu rosto, limpei as lágrimas rapidamente e ele bateu a mão na mesa, me assustando.

— Ele acabou de assinar o próprio atestado de óbito - Neitan disse entre dentes - como ousa chantagear você?

— Neitan, eu já aceitei - disse olhando para os meus pés. Neit riu sem humor e nervosamente.

— Está de brincadeira, não é? - os olhos verdes dele brilhavam tanto que a única coisa que consegui fazer foi selar os nossos lábios, dando início a um beijo cheio de prazer, medo, insegurança e certeza. Iria resolver isso sozinha, falar com o pai deles, qualquer coisa, menos deixá-lo. Eu não conseguia abrir mão disso e sabia que estava sendo egoísta, mas não podia desistir dele.

— Não estava - admiti quando nos separamos por falta de ar - mas não posso desistir de você.

— Achei que não me amasse - ele sorriu e dei um tapa de leve no ombro dele.

— Não amo - suspirei - mas pode me ensinar a te amar.

Não sei descrever o sorriso que ele deu. Mas Neitan estava tão feliz que eu não pude deixar de chorar de felicidade. E pela primeira vez na vida, tive realmente a certeza que estava fazendo a coisa certa.

— Não chora - pediu limpando as minhas lágrimas - eu vou te ensinar com todo o prazer.

— Sei que sim - sorri e nos abraçamos. Vi o Nick nos olhar com raiva mas ignorei e queria que aquele abraço durasse pra sempre.

— Está a fim de ter os últimos períodos? - perguntou Neitan ainda sorrindo no meu ouvido - você já está praticamente em Harvard mesmo.

— Você também - beijei a bochecha dele - não estou não, o que tem em mente?

— Não sei - admitiu me soltando - qualquer lugar longe daqui.

— Eu topo.

— Mesmo? - fingiu estar surpreso, eu ri.

— Para. Sabe que estou falando sério.

— Eu sei - levantou e colocou a mochila nas costas, assim como eu - até amanhã, gente.

— É, até amanhã, gente - imitei a voz do Neit e o pessoal riu.

— Sabia que ia fazer a coisa certa - Lily sorriu e eu assenti.

Andamos calmamente pelo refeitório e aposto que metade dele queria saber o que estava acontecendo. Não ouvi nenhuma mentira durante o tempo que fiquei por lá, a não ser a verdade: eu tinha largado do Nick e agora estava com o Neitan. Tudo bem, não era bem isso, disseram que eu o tinha traído, mas filtrei só a parte que era verdade. Os próximos sabiam quem eu era e até o meu ex-melhor amigo Nick.

Não foi difícil sair da escola, éramos os nerds, então não se importavam se íamos ou não assistir as aulas. Durante o caminho até o estacionamento, alguns garotos que eu particularmente achava uns idiotas, nos parou para falar com o Neitan.

— Sabe que ninguém vai mais encostar o dedo em você, não é? Mesmo que seja o seu pai - um loiro, um pouco mais baixo que o Neitan disse sorrindo.

— Eu sei - Neit abraçou o garoto e deu um tapa de leve nas costas dele - vocês podem fazer um favor pra mim?

— Claro - responderam os 3 em coro.

— Preciso que o Nick fique longe dela, não importa aonde estiver, não o quero por perto, não dela. Mas quero que esteja perto de mim, sempre - Neitan estava sério e aquilo o deixava sexy. Ai Deus, corei internamente por pensar aquilo.

— Vai ser fácil - o mesmo loiro disse e piscou - prazer Kamilla, sou Henri, aceito em Harvard graças a esse babaca aqui.

— Sério? - sorri e senti orgulho do Neitan.

— Na verdade, todos nós fomos - um moreno alto disse - sou Bily. Só queríamos zoar quando entramos aqui, o Neit também, mas ele sabe separar e nos ensinou também.

— O que mais eu não sei sobre você? - perguntei.

— Mil tretas - o outro moreno disse e nós rimos - Kenedy.

— Kenedy - todos me encararam com um olhar de desconfiança, fiquei sem graça - ah, é o nome do meu irmão.

— Você tem irmãos? - Henri perguntou - o que a gente não sabe sobre você?

— Muita coisa, mas algumas, só o garotão aqui vai saber - pisquei para o Neitan e eles riram. Nos despedimos e subimos na moto.

Neitan dirigia sem pressa e abracei-o com mais força quando aumentou a velocidade. Não fazia a mínima ideia para onde ele estava me levando, mas não me importava. Paramos em um lugar que dizia: comunitário.

— O que é? - perguntei quando descemos da moto.

— Bom, eu soube por uma fonte confiável que você está querendo um cachorro há algum tempo - Neitan mordeu o lábio inferior e os meus olhos brilharam - nem preciso perguntar se é verdade.

— Me trouxe pra adotar um? - perguntei feito uma criança feliz e saltitante com seu brinquedo novo.

— Sim - ele sorriu e eu beijei-o de repente. Neitan sorriu entre o beijo e acabamos jogando os capacetes na grama. Neit colocou a mão direita na minha nuca e eu envolvi seu pescoço com os meus braços para não cair pela moleza que ele deixava nas minhas pernas, era o efeito que tinha sobre mim. Ficamos nos beijando e recusando a nos separar, percebi que estava ficando quente demais e fiquei com medo de alguém ficar nos observando. Separei dele sem selinho, somente rompendo o beijo.

— Desculpa - Neit olhou para baixo e parecia vermelho. Estava com vergonha, ficou tão fofo.

— A gente pode vir aqui outra hora se quiser - sorri de lado e ele balançou a cabeça.

— Que tipo de cara acha que eu sou? - perguntou com um sorriso brincalhão no rosto. Não entendi muito bem a pergunta mas mesmo assim respondi:

— O tipo que me atrai - faltou eu fazer uma dancinha de comemoração, eu tinha feito o garoto mais lindo de todos corar.

— Eu não tenho uma vida sexual ativa - deu uma risada como se aquilo o fizesse sentir melhor em se confessar pra mim. Fiquei paralisada por uns 5 minutos e a minha boca abriu um "O" perfeito ao ouvir o eco da voz dele na minha cabeça - Kamilla, isso não está ajudando muito.

— Você é real mesmo? Tem certeza? - ri não acreditando naquelas palavras mas tive que me concentrar para não deixá-lo ainda mais sem graça.

— Para com isso - sorriu de lado e pegou os capacetes no chão.

— Neit - chamei a atenção e ele só murmurou um "hum" meio desinteressado - olha pra mim.

— Fala - ele estava constrangido, coitado. Eu era muito insensível para essas coisas, mas ele tinha contado para mim, tinha que saber se fui a única saber daquilo.

— Nunca contou isso a ninguém? - perguntei encarando-o.

— Não - admitiu sem graça - na verdade, achei que não precisaria te contar mas assim fica meio difícil.

— Ainda bem que contou - dei um selinho nele - eu ia ficar muito chateada se não estivesse usando a minha melhor lingerie para a sua primeira vez.

— Milla - ele riu - pode parar.

— Estou falando sério - fiquei séria - isso é algo muito importante.

— O meu irmão não foi o seu primeiro, foi? - perguntou de repente e percebi a insegurança dele.

— Não - respondi simplesmente - você ainda não conheceu o meu pai, ele é bem liberal, então aproveitei o quanto pude.

— Olha, se você quiser, por mim tudo bem - ele disse como se não fizesse diferença mas o olhar dele me dizia outra coisa.

— Sou pervertida mas não viciada em sexo - ele soltou um sorriso malicioso e me deu um selinho demorado.

— Assim eu consigo te amar fácil - brinquei e Neit riu - já que estamos aqui, que tal darmos uma olhada?

— Acho melhor - ele disse para fugir do assunto, não reclamei, era uma coisa dele.

Quando entramos, fiquei maravilhada com tantos cachorros e gatos para adoção, um mais lindo que o outro. Andamos pelos corredores até pararmos perto de um filhote de husky siberiano, ele era todo branco e tinha o olho azul.

— Gostou desse? - Neitan perguntou sorrindo.

— Eu quero - fiz biquinho e Neit riu.

— Esse não está para adoção - ele disse me fazendo ficar decepcionada - não mais.

— Chato - cutuquei ele e acabei levando o husky que nomeei carinhosamente de Spike. Não sabia se a minha mãe ia gostar mas eu já tinha comentado sobre isso com ela.

— É lindo! - mamãe disse quando chegamos no hospital para mostrar a ela - amei, amei.

— Mãe - fiz cara de tédio - me dá, é meu.

— Não - ela deu com a língua e nós rimos. Todos do hospital gostaram. Me despedi da mamãe e ela colocou de novo a roupa de médica e sumiu no corredor. Nem se incomodou por eu ter fugido da escola.

Eu e Neitan passamos em uma casa de ração para comprar comida ao Spike e depois compramos a nossa comida, algo com muita proteína e saudável, leia-se suco de soja, arroz integral, carne de soja etc. Aquilo não tinha nada a ver comigo mas era bom.

— Obrigada Neit - eu disse quando sentamos no chão da sala com o meu novo bebê no colo.

— Pelo o que? - perguntou ainda olhando para TV. Estava passando luta, não tinha como competir com isso.

— Ah nada não - sorri de lado e então Neitan fez uma coisa que eu nunca imaginei que algum garoto faria. Desligou a TV mesmo muito interessado, colocou o controle na mesa de centro e ficou de frente pra mim.

— Pelo o que? - repetiu a pergunta mas dessa vez os seus olhos encontraram os meus.

— Por tudo. Por acreditar em mim, pelo Spike, por me proteger, por me fazer sorrir - mexi a boca um pouco sem graça - por me amar.

— Você é perfeita - ele sorriu e me deu um selinho, ouvi meu cachorro dar uma latida em meu colo - Spike, por que você não explora a casa?

Eu ri. Neitan tirou ele do meu colo e logo o pequeno começou a andar pela casa, cheirando as coisas, torci para que não fizesse arte.

— Agora sim - eu disse animada.

Neitan sorriu, me colocou no sofá e depois sentou-me em seu colo. Demos início a um beijo calmo, que logo se tornou em um beijo rápido. As mãos dele suavam enquanto tocava a minha perna, sentia por causa do short curto. A respiração de Neitan estava descompassada e a minha também. Senti o membro dele ficar ereto embaixo de mim e gemi baixinho quando roçou em minha intimidade por cima do short.

— Neitan - eu disse entre o beijo - melhor a gente parar.

— Você não quer? - perguntou beijando o meu pescoço e me fazendo assentir - então não vou parar.

Lutei contra todas as minhas vontades e relaxei para diminuir o ritmo do beijo. Nos separamos com vários selinhos.

— Não é assim que funciona - eu ri sem humor - você tem que estar preparado.

— Não pareço preparado?

— Sim, mas a gente está passando por tantas coisas - me joguei no chão e ele sentou do meu lado.

— Ainda não entendi - admitiu com um sorriso de lado.

— Vou me esforçar para não machucar você, porque é muito especial para mim, mas eu falhei com o Nick, se isso acontecer com você, não vou me perdoar. Está cedo pra isso, entendeu agora?

— Ah, agora sim. Achei que eu não fosse bom o suficiente pra você - abaixou a cabeça e percebi ele rir.

— Engraçado. Eu acho sempre isso quando me vejo ao seu lado.

— Linda - demos mais um beijo e Neitan disse que tinha que ir embora.

Quando deu umas 20h, recebi uma mensagem de Neit pedindo para que fosse na praça perto da casa dele, estranhei mas respondi que iria.

Ele estava me fazendo tão bem. Eu sei que já tinha passado isso com o Travor e com o Nick mas com ele, era totalmente diferente. Não tinha como comparar. Talvez mamãe estivesse certa, alguns relacionamentos dão mesmo certo. E daí que estava com ele há somente um dia? Desde que o conheci, sabia que era diferente. Me encantei por aqueles olhos, o sorriso, a voz, as brincadeiras e idiotices, os beijos, as revelações, a inteligência. Tudo nele parecia ser feito a mão, de tão perfeito que era. Conseguiria amá-lo, eu vou conseguir.

Parei o carro um pouco afastado da praça e quando desci do  mesmo, vi uma rodinha com algumas pessoas, me senti atraída e cheguei mais perto.

— Veio ver o espetáculo? - Nick apareceu do meu lado do nada e aquilo me fez gelar.

— Espetáculo? - perguntei chegando na tal rodinha e meus olhos começaram a jorrar lágrimas.

— Você provocou isso - ele disse balançando a cabeça, chegou perto do meu ouvido - eu te avisei.

Eu não sabia o que fazer, tremia muito. Neitan estava no meio daquela roda, estava sendo chutado, espancado por uns 5 caras, era uma covardia. Se o Nick ficasse do meu lado eu o mataria, e não estava brincando.

— Já chega - ele gritou para os caras - por hoje.

Eles se afastaram e Nick piscou para mim, como quem dizia: eu venci.

Cheguei perto do Neitan ainda chorando. Ele estava jogado no chão e tinha sangue em volta dele. As costas dele estava cortada e algumas marcas de um doloroso soco inglês. O rosto estava intacto. Tentei levantá-lo e não obtive sucesso. Sem saber o que fazer, liguei desesperadamente para o Jake, ele disse que já estava vindo e não fiquei surpresa ao ver Bryan com ele.

— Aquele filho da mãe - Bryan bravejou enquanto ele e Jake levavam Neit para o carro.

— Eu vou matá-lo - disse tocando o rosto do Neitan quando colocaram ele deitado no carro.

— Kamilla - Neit disse quando finalmente abriu os olhos porque estava desacordado antes. As expressões do rosto dele não eram muito boas, imaginei a dor que sentia naquele momento. O abdomen perfeito dele estava com alguns vermelhos fortes e aquilo formaria uns roxos depois.

— Vou acabar com isso - eu disse me levantando e tentando sair do carro, mas mesmo todo machucado, Neitan conseguiu segurar a minha perna.

— Não! - gritou e depois soltou um grito abafado de dor pelo esforço feito.

— Só vou levar a sua moto - eu disse pegando a chave no bolso dele - pegar umas roupas pra você e conversar com o idiota do seu irmão.

— Que sexy - tentou sorrir e eu ri - uma pena não poder ver você dirigindo ela.

— Vamos ter outras oportunidades - selei os nossos lábios delicadamente e fui até a moto. Bryan levaria o meu carro na minha casa e depois a minha mãe daria uma olhada no Neit.

Subi na moto e realmente me senti sexy, ainda mais que eu estava de vestido, sorte ter colocado um short por baixo. Cheguei na casa do Neitan e fui atendida pela mãe deles, que foi extremamente educada, mais do que eu esperava.

— O Neitan vai dormir na minha casa - eu não sabia o que dizer - vim pegar umas roupas, tudo bem?

— Ele está bem? - ela parecia preocupada e eu balancei a cabeça em forma de negação.

— Vai ficar - assentimos juntas e ela me ajudou a pegar as roupas do Neit. Lembrei dos materiais da escola e coloquei tudo dentro da mochila dele, junto com as roupas.

Agradeci a ela pela ajuda e quando estava saindo da casa, vi Nick me olhar surpreso.

— Se relar mais um dedo nele - ameacei e ele parecia nervoso - eu mato você.

— Eu não relei - sorriu de lado.

— Foda-se - soltei já estourada - eu tenho pena de você. Ao invés de tentar me deixar ser feliz, estraga a minha vida cada dia mais. Se realmente me ama, me deixa ir.

— Eu não posso - franziu o cenho e virei as costas - você vai voltar a ser minha.

Ignorei as palavras dele e fechei a porta com pressa. Corri até à moto e dirigi rapidamente até a minha casa. Chegando lá, me deparei com a minha mãe cuidando do Neitan deitado no sofá e gemendo de dor.

— Você vai ter que me explicar - ela disse limpando os ferimentos dele.

— Eu vou.

Olhei para o Neitan e as lágrimas voltaram. Não conseguia vê-lo daquele jeito e era por minha causa. Egoísta.

Meu celular tocou e era o Nick. Eu não podia ignorá-lo, não depois do que tinha feito com o próprio irmão.

— Minha proposta ainda está em pé - a voz dele me irritava.

— Tudo bem - eu disse, não tinha mais o que fazer, resolveria isso.

— Me encontre no Charc daqui uns minutos.

— Estarei lá - respondi e ele desligou.

Voltei para a sala e vi Neitan com um olhar desconfiado.

— Você vai sair? - perguntou tentando sentar.

— Vou - respondi e olhei para o chão.

— Por favor me diga que não vai encontrar o Nick - o rosto dele era de dor, mas dessa vez não era física.

— Não vou encontrar o Nick, só conversar - dei de ombros. Eu disse o que ele queria ouvir e meu coração apertou ao ver o esforço dele tentando chegar perto de mim, caiu umas duas vezes.

— Kamilla, não faz isso - pediu e eu sabia que ele não me perdoaria por aquilo.

— Sinto muito, não aguento te ver assim - lágrimas escorreram silenciosamente pela minha face e também as vi no rosto dele.

Sai de casa sem vontade alguma e dirigi sem pressa ao Churc, uma lanchonete perto de casa. Encontrei Nick assim que sai do carro e nem me importei em cumprimentá-lo, ele não teve oportunidade de dizer nada, eu só disse:

— Eu aceito.

E foi ali que começou o meu pior pesadelo.